AS DISPOSIÇÕES DA LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL COMO INSTRUMENTO DE CONTROLE DO DINHEIRO PÚBLICO Moisés Matté 1 Elisângela Batista Maciel Rodrigues 2 INTRODUÇÃO O presente trabalho tem por objetivo analisar as contribuições trazidas pela Lei Complementar Federal nº 101/00, denominada de Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) para a contabilidade pública do Município de Caxias do Sul e, de modo particular, avaliar de que forma ocorre a gestão e a fiscalização do dinheiro público por tal ente administrativo, com a aplicação da referida Lei, desde sua entrada em vigor até os dias atuais. Trata-se de um mecanismo legal de controle do gasto público, que não se restringe apenas a impor limites e condições para o gestor público, mas que contempla o orçamento como um todo, ao estabelecer diretrizes para sua elaboração, execução e avaliação. Para tanto, esta proposta justifica-se à medida que a LRF estabelece uma série de normas ligadas às finanças públicas, direcionadas para a responsabilidade na gestão fiscal, corrigindo riscos e desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas. Com tal exposição, espera-se tornar claras as mudanças ocorridas a partir da Lei de Responsabilidade Fiscal, na gestão do dinheiro público no Município de Caxias do Sul, confrontando os dispositivos legais aos aspectos que podem ser melhorados na prática da contabilidade pública. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Tem-se assim que a investigação irá fundamentar-se na legislação pertinente, dando ênfase à Lei da Contabilidade Pública, nº 4.320, e à Lei de Responsabilidade Fiscal, nº 101, tendo como foco o atendimento às proposições formuladas para o problema de pesquisa, abordando, obrigatoriamente, conceitos de termos específicos correspondentes à matéria, como administração pública, contabilidade pública, demonstrações contábeis e a própria Lei de Responsabilidade Fiscal. 1 Aluno do Curso de Ciências Contábeis da FSG. 2 Professor a Orientadora do TCC
Araújo e Arruda (2009) definem administração pública como um conjunto coordenado de funções capazes de atender interesses coletivos da população visando ao bem estar social. No Brasil, a administração pública divide-se em três esferas: União, Estados, incluindo o Distrito Federal, e os Municípios e seus atos invariavelmente obedecem aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, de acordo com art. 37 da Constituição Federal. Os princípios constitucionais estabelecem regras de conduta para os órgãos públicos, porém a sua aplicabilidade só é possível dentro de um conjunto de atos administrativos, entre os quais se incluem aqueles praticados pela contabilidade pública, um dos instrumentos de controle da execução orçamentária. A contabilidade pública brasileira é regulamentada pela Lei nº 4.320/64, cuja finalidade é a gestão dos recursos públicos, ou seja, de acordo com o art. 75 da referida Lei, seu objetivo é a execução orçamentária, a qual compreenderá a legalidade dos atos que resultem em arrecadação de receita ou realização de despesas. Kohama (2009) explica que a contabilidade pública segue um plano de contas nacional, com escrituração no sistema orçamentário, financeiro, patrimonial e compensado. Na visão do autor, os serviços de contabilidade são organizados de forma a permitir o acompanhamento da execução orçamentária, a composição patrimonial, o levantamento dos balanços gerais, a análise e a interpretação dos resultados econômicos e financeiros de determinado período. De modo que as demonstrações, além de ser uma exigência da Lei nº 4.320/64 atendem outras disposições, tais como a LRF, foco dessa pesquisa. A Lei nº 101, de 04 de maio de 2000 abre perspectivas para uma nova fase na administração pública brasileira. Com a Lei a sociedade passa a ter alguns dispositivos de eficiência e racionalidade nas práticas públicas. Ao longo da história vários gastos sem propósitos claros, e sem qualquer planejamento objetivo levaram os entes da federação ao endividamento para muito além de limites toleráveis. Despesas não condizentes com as atividades fins do Estado, dinheiro desviado através de esquemas de fraudes e corrupção aumentaram de forma quase sempre impune em nosso País. Assim, tornou-se inadiável a busca por novas práticas de gestão governamental, que pudessem atender as expectativas da sociedade, visando o bom uso dos recursos públicos. O principal objetivo da Lei 101 consta no art. 1º, que consiste em estabelecer normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal, que por sua vez, o parágrafo primeiro desse mesmo art. define responsabilidade na gestão fiscal da seguinte forma:
1. A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada e transparente, em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas, mediante o cumprimento de metas de resultados entre receitas e despesas e a obediência a limites e condições no que tange a renúncia de receita, geração de despesas com pessoal, da seguridade social e outras, dívidas consolidada e mobiliária, operações de crédito, inclusive por antecipação de receita, concessão de garantia e inscrição em Restos a Pagar. (LEI 101/2000, Art. 1º, 1º). Diversos pontos da LRF reforçam a ação planejada e transparente da administração pública. Ação planejada nada mais é do que aquela baseada em planos previamente estipulados e, no caso do serviço público, sujeitos à apreciação e aprovação do poder legislativo. Três são os instrumentos de planejamento dos gastos públicos previstos no art. 165 da CF: o Plano Plurianual PPA, a Lei de Diretrizes Orçamentárias LDO e a Lei Orçamentária Anual LOA. Por sua vez a transparência será alcançada através do conhecimento e da participação da sociedade, assim como pela ampla publicidade que deve ter os atos e fatos ligados à arrecadação de receitas e à realização de despesas pelo poder público. Com essa finalidade diversos mecanismos estão amparados pela LRF, entre eles: a participação popular na discussão e elaboração nos planos orçamentários (PPA, LDO, LOA); as prestações de contas e o respectivo parecer; a emissão de demonstrativos do relatório periódico de gestão fiscal e de execução orçamentária, tudo com o intuito de dar maior transparência às ações governamentais. A prevenção de riscos deve estar presente em todo o processo de planejamento. Sempre que houver desvios em relação ao planejado é necessário eliminar os fatores que deram causa. Logo, a Lei de Responsabilidade Fiscal tem o intuito de fazer com que os administradores executem com mais responsabilidade o que é aprovado no orçamento, visando à utilização racional e transparente de recursos públicos. METODOLOGIA Os procedimentos metodológicos servem para delinear a pesquisa acadêmica, cujo objetivo é obter respostas para o problema de estudo. Isso é feito de tal forma, que o delineamento da pesquisa implica em escolher um tema para conduzir a investigação, de modo que há uma relação direta entre o problema concebido, estruturado, explorado e seus resultados (BEUREN, 2009).
Gil (2010, p. 27) explica que toda a pesquisa tem seus objetivos, que tendem, naturalmente, a ser diferentes dos objetivos de qualquer outra. No entanto, em relação aos objetivos mais gerais, ou propósitos, as pesquisas podem ser classificadas em exploratórias, descritivas e explicativas. Esta pesquisa constitui-se do tipo exploratória, pois dentro da sua elaboração foi necessário explorar as atividades contábeis do Município de Caxias do Sul. Em relação à técnica de abordagem utilizou-se o método qualitativo, que de acordo com Beuren (2009) é uma técnica que permite análises mais profundas sobre o tema escolhido. No que se refere à coleta de dados, este estudo foi desenvolvido a partir do método documental, que teve por base, os anexos da LRF, denominado de Relatório de Gestão Fiscal RGF, do Município de Caxias do Sul, além da legislação pertinente à matéria, entrevista escrita com servidores do próprio Município (contabilistas) e o estudo de caso, como instrumentos capazes de responder de forma válida ao problema proposto. Conforme Marconi e Lakatos (2008), coleta de dados é uma das técnicas decisivas para a pesquisa, podendo-se dizer que a maior parte de suas fontes escritas ou não escritas são quase sempre a base do trabalho de investigação. E, finalmente têm-se como técnicas de análise de dados, a análise de conteúdo e documental, que serviram para confirmar os objetivos deste trabalho, e colocar em evidência o que há de mais relevante frente o problema de pesquisa (GIL, 2010). APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS Tendo em vista o objetivo geral da pesquisa, de analisar as contribuições da contabilidade pública, no controle e planejamento das finanças públicas, a partir da criação da Lei de Responsabilidade Fiscal, no âmbito do Município de Caxias do Sul, foi possível observar que, por meio dos dispositivos contidos na LRF, o gestor público está sendo obrigado a planejar suas ações de forma mais adequada e racional, buscando o controle eficiente de todas as suas contas para que, ao final de cada exercício, consiga manter o equilíbrio entre receitas e despesas. Desde então, a administração pública teve que planejar suas ações e respeitar os limites impostos pela Lei. As peças orçamentárias representadas pelo Plano Plurianual PPA, pela Lei de Diretrizes Orçamentárias LDO e pela Lei Orçamentária Anual LOA ganharam ênfase e passaram a ser executadas com maior rigor, evidenciação e transparência, por meio
dos demonstrativos do Relatório Resumido da Execução Orçamentária, com publicação periódica. Particularmente sobre o Município de Caxias do Sul, foco do presente trabalho, foi possível constatar que o mesmo atua de acordo com a Lei, de forma eficiente, na ação planejada e transparente, na prevenção de riscos e correção de desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas, no cumprimento de metas de resultados entre receitas e despesas. CONSIDERAÇÕES Em razão de se tratar de uma entre as possíveis interpretações sobre as disposições da Lei de Responsabilidade Fiscal como instrumento de controle do dinheiro público, não se pode ter as presentes considerações apresentadas nesta monografia como definitivas. Trata-se, portanto, do resultado de várias leituras sobre a matéria e que necessitam de um encerramento. Desde a entrada em vigor da Lei, restam evidentes as mudanças na área governamental e na mentalidade do gestor público brasileiro, já que foram criados dispositivos voltados para a responsabilidade na gestão fiscal e para o equilíbrio das contas públicas. Levando-se em consideração os aspectos gerais da Lei, pôde-se constatar que a mesma se firmou como importante instrumento de controle governamental e que a contabilidade pública ganhou mais responsabilidade, de forma que as demonstrações por ela geradas passaram a dar suporte aos relatórios da Lei nº 101/00. Particularmente sobre o Município de Caxias do Sul, foco do presente trabalho, foi possível constatar que o mesmo atua de acordo com a Lei, de forma eficiente, na ação planejada e transparente, na prevenção de riscos e correção de desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas, no cumprimento de metas de resultados entre receitas e despesas, bem como vem proporcionando a obediência dos limites e condições estabelecidos. Observou-se, deste modo, que a LRF atingiu a maioria dos aspectos a que se propôs, conferindo maior transparência aos atos governamentais, planejamento e equilíbrio entre as receitas e despesas. Espera-se, no entanto que ao cumprir todas as normas, os entes da federação consigam de forma permanente equilibrar suas contas e ao mesmo tempo aumentar as disponibilidades de recursos para investir em programas de desenvolvimento econômico e social.
Finalmente, pode-se inferir, diante do exposto, que a LRF deixou como herança efetiva uma estrutura jurídico-administrativa e contábil concreta capaz de atender aos princípios constitucionais com que foi proposta e de consolidar-se como legítimo instrumento de controle do dinheiro público. REFERÊNCIAS ARAÚJO, Inaldo; ARRUDA Daniel. Contabilidade Pública: da teoria à prática. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. BEUREN, Ilse Maria (Org.) Como Elaborar Trabalhos Monográficos em Contabilidade: teoria e prática. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009. BRASIL, Secretaria do Tesouro Nacional. Manual de Demonstrativos Fiscais: aplicado à União, Estados, Distrito Federal e Municípios / Ministério da Fazenda. 4. ed. Brasília, 2011. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 8 ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2004. CAXIAS DO SUL, Secretaria Municipal de Gestão e Finanças. Contas Públicas. Disponível em: < http://contaspublicas.caxias.rs.gov.br/index.php>. Acesso em: 30 mar. 2012. GIL, Antonio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. KOHAMA, Heilio. Contabilidade Pública: teoria e prática. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2009. LEI Nº 101, DE 05 DE MAIO DE 2000. Disponível em: <http://www.tesouro.fazenda.gov.br/legislacao/download/contabilidade/lei_comp_101_00.pdf >. Acesso em: 21 mar. 2012. LEI Nº 4.320, DE 17 DE MARÇO DE 1964. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4320compilado.htm> Acesso em: 21 mar. 2012. MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de Pesquisa. Planejamento e execução de pesquisa. Amostragem e técnicas de pesquisa. Elaboração, análise e interpretação de dados. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2008. Palavras-chave: Responsabilidade Fiscal. Contabilidade Pública. Administração Pública. Transparência.