AGRAVO DE INSTRUMENTO N 0 642.090-0/2 GUARULHOS Agravante: Manuel Maria Costa Carvalho Agravada: Josefina de Oliveira AÇÃO DE DESPEJO POR FALTA DE PAGAMENTO C.C. AÇÃO DE COBRANÇA. VERBAS DE SUCUMBÊNCIA. Tendo os fiadores apenas sido cientificados dos termos das ações cumuladas, não estão legitimados a sofrer execução das verbas condenatórias impostas pela sentença que as acolheu, porque o título executivo judicial representado por aquela decisão não foi contra eles lançado, mas somente contra a inquilina. FIADORES. NÃO INCLUSÃO NO PÓLO PASSIVO. O pedido referiu-se a retomada da res locata pela caracterização do inadimplemento e a cobrança de alugueres e dos acessórios, apenas contra a Locatária. Os fiadores não foram citados nem integraram a relação processual. Não lhes foi resguardado o direito à ampla defesa e ao contraditório. São partes ilegítimas para esta ação, não podendo responder pelas verbas de sucumbência. Voto n 0 4.286 Visto. MANUEL MARIA COSTA CARVALHO interpôs Recurso de Agravo de Instrumento contra decisão do MM. JUÍZO DE DIREITO DA 10 a VARA CÍVEL DA COMARCA DE GUARULHOS,... indeferindo... a execução dos fiadores para que pagassem a sucumbência... (folha 3), proferida na Ação de Despejo por Falta de Pagamento, em fase de execução, que move contra JOSEFINA DE OLIVEIRA, partes qualificadas nos autos. O recurso foi processado com efeito devolutivo e o Agravante cumpriu o disposto no artigo 526 do Código de Processo Civil. A Agravada não foi intimada para resposta (sem patrono constituído). - 1 -
É o relatório. Quando alguém abona obrigação de outrem para com o seu credor, caso o devedor não a cumpra ou possa cumpri-la, dá-se o contrato de fiança, que é acessório, distinto da locação, mas não exclui a responsabilidade do garante pelas obrigações resultantes desses contratos. O artigo 62, inciso I, da Lei n 0 8.245, de 18/10/91, que regula a locação predial urbana, permite a somatória dos pedidos de retomada e de cobrança. A questão da legitimidade dos fiadores no pólo passivo da Ação de Despejo por Falta de Pagamento c.c. Ação de Cobrança de alugueres e acessórios, constitui ponto controvertido na doutrina e na jurisprudência desde a edição da Lei n 0 8.245, de 18/10/91. Em favor (legitimidade) existem três correntes, embora com entendimento jurídico diferenciado. Uma argumenta que o artigo 62, inciso I, da Lei n 0 8.245, de 18/10/91, como regra específica, excepciona a geral do artigo 292 do Código de Processo Civil, admitindo o fiador como litisconsorte; outra, por razão de economia processual, uma vez que o fiador pode livrar-se de futura execução, sub-rogando-se no crédito do locador com a purgação da mora; a última que diz tratar-se de pedidos sucessivos. Aqueles que sustentam tese contrária (ilegitimidade) escoram-se nos problemas técnicos. Não encontram soluções para os óbices e/ou entraves processuais criados por conta da admissão do garante, v.g. execução do despejo contra quem figura apenas na relação jurídica acessória (fiança). O tema foi objeto de discussão em sessão plenária desta E. Corte, que deliberou pelo posicionamento inserto na Súmula n 0 28: "O fiador tem legitimidade passiva para a cobrança que o artigo 62, I, da lei n 0 8.245/91 autoriza se cumule ao - 2 -
pedido de despejo por falta de pagamento 1 ". Em princípio, admitida a cumulação segundo a orientação edificada no verbete, os fiadores poderiam ser chamados a responder pelos encargos do perdimento. Mas no caso concreto há impedimento formal à pretensão. O pedido referiu-se a retomada da res locata pela caracterização do inadimplemento e a cobrança de alugueres e dos acessórios, apenas contra a Locatária. Os fiadores não foram citados nem integraram a relação processual. Não lhes foi resguardado o direito à ampla defesa e ao contraditório. São partes ilegítimas para esta ação, não podendo responder pelas verbas de sucumbência. O caput do artigo 214 do Código de Processo Civil, dispõe que para a validade do processo é indispensável a citação inicial do Requerido. "A realização da citação é pressuposto de existência e a citação válida é pressuposto de regularidade da relação processual 2 ". A mera notificação dos garantes serviu apenas 1 - Referências: Incidente de Uniformização de Jurisprudência 518.615-01/7 - Pleno - Rel. Juiz AMÉRICO ANGÉLICO - J. 20.10.98. Ap. s/ Rev. 511.915-2ª Câm. - Rel. Juiz ANDREATTA RIZZO - J. 16.03.98; Ap. s/ Rev. 453.898-1ª Câm. - Rel. Juiz RENATO SARTORELLI - J. 22.04.96; AI 475.524-1ª Câm. - Rel. Juiz MAGNO ARAÚJO - J. 11.11.96; Ap. s/ Rev. 505.006-2ª Câm. - Rel. Juiz PEÇANHA DE MORAES - J. 15.12.97; AI 488.452-2ª Câm. - Rel. Juiz PEÇANHA DE MORAES - J. 28.04.97; Ap. c/ Rev. 472.868-3ª Câm. - Rel. Juiz JOÃO SALETTI - J. 04.03.97; Ap. s/ Rev. 50..637-3ª Câm. - Rel. Juiz ACLIBES BURGARELLI - J. 25.11.97; EI 472.586-4ª Câm. - Rel. Juiz RODRIGUES DA SILVA - J. em 24.06.97; Ap. c/ Rev. 496.176-4ª Câm. - Rel. Juiz MARIANO SIQUEIRA - J. 30.09.97; AI 424.334-8ª Câm. - Rel. Juiz NARCISO ORLANDI - J. 16.02.95; Ap. s/ Rev. 523.636-8ª Câm. - Rel. Juiz RENZO LEONARDI - J. 23.07.98; Ap. s/ Rev. 503.362-11ª Câm. - Rel. Juiz MENDES GOMES - J. 15.12.97; Ap. s/ Rev. 506.900-11ª Câm. - Rel. Juiz MENDES GOMES - J. 26.01.98; AI 488.055-11ª Câm. - Rel. Juiz ARTUR MARQUES - J. 07.04.97; Ap. s/ Rev. 474.445-11ª Câm. - Rel. Min. ARTUR MARQUES - J. 27.01.97; 478.282-11ª Câm. - Rel. Juiz CLÓVIS CASTELO - J. 27.01.97; AI 497.555-11ª Câm. - Rel. Juiz JOSÉ MALERBI - J. 04.08.97; AI 468.208-12ª Câm. - Rel. Juiz GAMA PELLEGRINI - J. 05.09.96; AI 507.253-4ª Câm. - Rel. Juiz CELSO PIMENTEL - J. 09.09.97; Ap. s/ Rev. 507.303-2ª Câm. - Rel. Juiz VIANNA COTRIM - J. 09.03.98; Ap. S/ Rev. 513.215-2ª Câm. - Rel. Juiz ANDREATTA RIZZO - J. 16.03.98; Ap. s/ Rev. 497.657-2ª Câm. - Rel. Juiz FELIPE FERREIRA - J. 24.11.97; AI 493.999-2ª Câm. - Rel. Juiz FELIPE FERREIRA - J. 12.05.97; AI 484.802-3ª Câm. - Rel. Juiz RIBEIRO PINTO - J. 15.04.97. Aprovada em sessão do Tribunal Pleno de 13.04.99. Publicação feita nos termos do artigo 479 do C. P.C. e artigo 116 do R.I. deste E. Tribunal. 2- NELSON NERY JUNIOR e ROSA MARIA ANDRADE NERY, "Código de Processo Civil Comentado", RT, 2ª ed., nota 3 ao art. 214, pág. 631. - 3 -
para cientificá-los do que ocorria com o objeto da fiança. Pelo princípio da sucumbência a atuação da lei não deve representar uma diminuição patrimonial para a parte em cujo favor se efetiva. Já o princípio da causalidade orienta para que aquele que deu causa à propositura ou à instauração de ação judicial ou incidente processual, deve responder pelas despesas daí decorrentes. A coisa julgada propaga seus efeitos exclusivamente em face das partes do processo onde se encontra constituída 3. Tendo os fiadores apenas sido cientificados dos termos das ações cumuladas, não estão legitimados para sofrer execução das verbas condenatórias impostas pela sentença que as acolheu, porque o título executivo judicial representado por aquela decisão não foi em direção a eles lançado, mas somente contra a inquilina. O direito de execução que o Agravante tem contra os fiadores não decorre do título judicial consistente na sentença proferida no pedido de retomada, mas, sim, do contrato de locação onde foi estabelecida a fiança, que é título executivo extrajudicial. Na execução de sucumbência em ação ordinária de despejo, em que o título é judicial, não podem ser arrestados bens do fiador, que, a despeito de ser devedor solidário, o é por título extrajudicial 4. Execução proposta contra fiador. Inclusão de verbas de sucumbência de anterior ação de despejo, de que não foi parte, impossibilidade, ainda que cientificado daquela ação. Aplicação do artigo 472, primeira parte, do Código de Processo Civil 5. A falta de citação do fiador, para a ação de despejo por falta de pagamento, o exime da responsabilidade dos encargos da sucumbência, remanescendo, apenas, a dos alugueres e acessórios, além da multa contratual 6. Em face ao exposto, nega-se provimento ao 3 - Código de Processo Civil, artigo 472. 4-2º TACivSP - AI 455.982-8ª Câm. - Rel. Juiz NARCISO ORLANDI - J. 7.3.96. 5-2º TACivSP - AI 629.296-10ª Câm. - Rel. Juiz SOARES LEVADA - J. 24.5.00. 6-2º TACivSP - Ap. c/ Rev. 574.375-11ª Câm. - Rel. Juiz MENDES GOMES - J. 17.4.00. - 4 -
recurso. IRINEU PEDROTTI Relator - 5 -