Tratamento Percutâneo das Cardiopatias Congenitas Célia Fátima Anhesini Benetti Gerente de Enfermagem Serviço de Hemodinâmica do HCor São Paulo - SP
Tratamento Percutâneo das Cardiopatias Congênitas Célia Fátima Anhesini Benetti Gerente de Enfermagem Serviço de Hemodinâmica do HCor São Paulo - SP
Cardiopatias Congênitas As cardiopatias congênitas são anomalias resultantes de defeitos anatômicos no coração ou na rede circulatória, que comprometem a estrutura e/ou a função. São doenças presentes ao nascimento, mesmo que detectadas tardiamente. Resultam, na maioria das vezes, do desenvolvimento embriológico alterado de determinada estrutura ou da insuficiência de tal estrutura em obter o seu desenvolvimento completo, a partir de estágio inicial do tecido fetal.
Cardiopatias Congênitas: Fatores de Risco Vários fatores estão associados a uma incidência maior que a normal: Fatores pré-natais: Infecções virais maternas: rubéola, sífilis Desnutrição Diabetes materna Lupus eritematoso sistêmico materno Idade materna acima de 40 anos Medicamentos (Talidomida, Isotretinoína, Lítio, Fenitoína) Uso de drogas ou uso abusivo e crônico de álcool
Cardiopatias Congênitas: Fatores de Risco Fatores genéticos Ter um irmão ou genitor com defeito cardíaco congênito Ter uma aberração cromossômica ex: Síndrome de Down Nascer com outras anormalidades congênitas (alterações na conexão entre as cavidades entre si e com o grandes vasos) ex: ectopia cordis, dextrocardia, mesocardia.
Incidência Segundo a OMS, a incidência de cardiopatias congênitas varia entre 0,8% nos países mais desenvolvidos e 1,2% nos países mais pobres. O valor médio de 1% é habitualmente aceito para o Brasil e demais países da América Latina. Isso significa que cada grupo de 100 nascidos vivos, uma criança é portadora de doença cardíaca congênita. Nascem anualmente cerca de 3.358.000 crianças, das quais 33.580 são portadoras de cardiopatias congênitas. É a terceira causa de morte em recém-nascidos. Fonte: Datasus, 2005
Incidência É uma das principais causas de morte no primeiro ano de vida. Existem doenças mais benignas, como a CIA com sobrevida confortável ate a segunda ou terceira década,como também doenças como a TGV, em que a sobrevida ao primeiro ano de vida sem intervenção é impossível.
Prevenção Apenas 15% das cardiopatias tem sua causa determinada. Dessa maneira, em 85% das situações não há medidas preventivas. A não-exposição a possíveis agentes agressores; são naturalmente medidas preventivas: - exames radiológicos; - certos medicamentos como a Talidomida; - mães portadoras de infecções como a Rubéola Diagnóstico precoce, como estudo dos cromossomos de células do líquido amniótico e a Ecocardiografia fetal. A detecção precoce permite um acompanhamento diferenciado da gestação e o planejamento das medidas pós-parto.
Diagnóstico RX de tórax: revela aumento das câmaras ou dos grandes vasos, desvios do eixo cardíaco. ECG: presença de arritmias, sobrecargas atriais ou ventriculares. Ecocardiografia fetal com doppler: permite verificar o desenvolvimento e função do coração a partir do segundo e terceiro trimestres. Ecocardiografia com Doppler no recém nascido: padrão ouro para o diagnóstico Estudo hemodinâmico: indicado para anomalias não identificadas no Eco, ou quando não é possível fazer uma diferenciação nítida entre doença cardíaca e pulmonar.
Tratamento Assegurar melhores condições de sobrevida. Tornar a função cardíaca normal ou mais próxima do normal. Criar condições para reversão de alterações secundárias, pulmonares ou cardíacas. O momento exato para o tratamento depende do: - tipo e da natureza da cardiopatia - da presença e a severidade dos sintomas - potencial de determinar alterações secundarias reversíveis.
Histórico - Tratamentos 1933 - primeiro relato de um procedimento cirúrgico em criança: fechamento de PCA. Década de 40 inicio das cirurgias de lesões extra cardíacas, com bons resultados. 1945 primeiro relato de uma cirurgia cardíaca paliativa.
Histórico - Tratamentos Década de 50 surge a técnica extra corpórea: permite o desenvolvimento de novas técnicas cirúrgicas para as lesões intracardíacas. Década de 60 marca o sucesso do tratamento cirúrgico das lesões mais simples em pré escolares e lactentes.
Histórico - Tratamentos Década de 70 introdução das técnicas de hipotermia profunda, o que torna possível a correção da grande maioria das cardiopatias em lactentes. Década de 80 criação e aperfeiçoamento de novos equipamentos e técnicas, o melhor conhecimento da fisiopatologia e os protocolos mais sofisticados no pós operatório permitiram estender os benefícios da correção cirúrgica à neonatos. 2000 O desenvolvimento do cateterismo intervencionista.
Novas Perspectivas de Tratamento das Cardiopatias Congênitas A partir dos anos 2000, o aperfeiçoamento do cateterismo intervencionista juntamente com o advento de novas técnicas e dispositivos, ampliou as possibilidades terapêuticas, proporcionando uma mudança radical no cenário das cardiopatias congênitas.
Tratamento Percutâneo Inicialmente introduzido por King e Mills na década de 70, o procedimento evoluiu com vários aperfeiçoamentos dos dispositivos. Em 1997, surgiu o dispositivo Amplatzer, formado por uma malha de fios de Nitinol, com a forma de duplo disco e com uma cintura de 4mm. Devido à alta resistência, maleabilidade e memória da liga de metal, pode-se estirar a prótese em sistemas de entrega de baixo perfil, o que revolucionou o tratamento.
Tratamento Percutâneo Indicações Portadores de CIA tipo ostium secundum e forame oval patente; Sintomáticos ou não; Devem apresentar bordos do tecido maiores que 5mm nas margens do defeito próximas ao seio coronário, valvas AV, veia cava superior e veia pulmonar superior direita; Presença de hipertensão pulmonar; História de isquemia cerebral transitória ou AVC isquêmico.
Complicações Mais Comuns Cefaléia - é a reação adversa mais frequente, em alguns casos ela é de grande intensidade pode durar semanas. Arritmia pode surgir nas primeiras semanas, geralmente em CIAs grandes e em adultos. Embolia sistêmica - raramente ocorre e é relacionada à formação de trombo na prótese. Embolização da prótese retirada da prótese através de cirurgia ou mesmo na Hemodinâmica dependendo da experiência do grupo. Perfurações
Descrição do Procedimento Anestesia geral; Monitorização transesofágica; Cateterismo D e E; Ultrapassagem do sistema carregador; Angiografias de controle s/n; Retirada do sistema carregador; Retirada dos introdutores; Recuperação pós-anestésica; Alta hospitalar no dia seguinte ao procedimento após Ecocardiograma de controle.
CIA e CIV Fisiopatologia e Tratamento
CIA Comunicação Interatrial Lesão que ocorre entre os átrios D e E. Consiste na presença de um orifício no septo interatrial. Causa um shunt da esquerda para a direita, ocasionando aumento de fluxo de sangue as câmaras direitas e para o tronco pulmonar. A magnitude do shunt depende do tamanho da CIA e da complacência ventricular, sendo que estes shunts podem ser grandes, o que faz com que as pressões no lado direito sejam elevadas o AD e o VD oferecem pouca resistência ao enchimento e a válvula/anel tricúspide alarga/dilata.
CIA Comunicação Interatrial As câmaras direitas bombeiam o fluxo proveniente das veias cavas inferior e superior, e também recebem o fluxo proveniente do shunt E D, causando aumento do volume sistólico D. Esse aumento de volume pode causar aumento e sobrecarga das estruturas cardíacas à D e conduzir à hipertensão pulmonar, devido ao hiperfluxo de sangue. Sinais e Sintomas: Arritmias atriais Dispnéia, cansaço e intolerância ao exercício Infecções de vias aéreas baixas Cianose Trombos paradoxais.
Tipos de CIA Ostium Primum (20 a 30% dos casos) Ostium Secundum (60 a 70% dos casos)
Tipos de CIA Seio Venoso Forame Oval Patente
Tipos de Próteses para CIA Starflex Amplatzer Helex
Prótese Amplatzer PFO
CIA Ocluída com Amplatzer
CIA Ostium Secundum
CIV Comunicação Interventricular As CIVs podem ser pequenas e restritivas, a grandes e sem restrição, isoladas ou múltiplas, perimembranosas ou musculares. Sinas e sintomas: Cansaço à amamentação; Cianose Infecção respiratória ICC Ganho de peso deficiente, atraso no desenvolvimento.
CIV Comunicação Interventricular Consiste na presença de um orifício que comunica o ventrículo D com o E. A magnitude do shunt dependerá de vários fatores, entre eles o tamanho da CIV e da resistência vascular pulmonar. Estes governam a direção do shunt através do defeito e a consequente manifestação dos sintomas.
Tipos de CIV Perimembranosa Muscular Subarterial Perimembranosa (70% dos casos) parte da borda é formado por tecido fibroso do septo membranoso Muscular (5-20% dos casos) borda toda de tecido muscular Subarterial (5-30% dos casos) parte da borda está em contiguidade com o tecido fibroso das valvas arteriais
Fechamento de CIV Muscular
Próteses Amplatzer para CIV (cintura mais larga)
Prótese para CIV Perimembranosa
Outras Intervenções nas Cardiopatias Congênitas
Atriosseptostomia Patologias mais envolvidas TGA Atresia tricúspide Atresia pulmonar / septo ventricular íntegro Atresia pulmonar / septo ventricular aberto Conexão anômala total de veias pulmonares CIA restritiva (< 5 mm) causando hipoxemia grave
Atriosseptostomia Objetivos Ampliação da CIA ou FOP por rotura do septo Diminuição do gradiente de pressões AE AD Aumento da saturação arterial de O 2 Estabilização clínica
Atriosseptostomia com Balão de Rashkind
Tipos de Próteses para PCA
PCA - Umbrella
PCA - Coil
PCA - Amplatzer
Outras Técnicas Utilizadas Técnicas em uso Mecânica Laser Radiofrequência Patologias mais envolvidas Atresias Pulmonares Transposições das grandes artérias Tetralogia de Fallot Coartação da aorta
Atresia Pulmonar + SVI (perfuração com radiofreqüência e dilatação com balão)
Estenose pulmonar crítica do neonato Lesões Obstrutivas
Lesões Obstrutivas Estenose de artéria pulmonar esquerda (dilatação com balão)
Lesões Obstrutivas CoAo (dilatação com balão)
Lesões Obstrutivas EAo crítica do neonato (dilatação com balão)
Estenose Pulmonar Convencional
EAo valvar convencional (dilatação com balão)
CoAo(Implante de Stent)
Estenose de Artérias Pulmonares PO T 4 F (implante de stents)
Balões Destacáveis
Stent Tronco Pulmonar (cirurgia de Jatene)
Stent Artérias Pulmonares (cirurgia de Jatene)
Stent Artérias Pulmonares (PO T 4 F)
Stents Tubo Extra Cardíaco (cirurgia de Fontan)
A Criança Tem maneira própria de pensar, sentir, e reagir; toma decisões, encontra soluções e até assume responsabilidades. É um ser humano que possui corpo, mente, espiritualidade e valor próprio, portanto tem o direito de conhecer a verdade, ter privacidade e ser respeitada
A Hospitalização É uma fonte de ansiedade para a criança e para os familiares. Situações desconhecidas e/ou dolorosas são experiências difíceis para todos. O afastamento do seu ambiente, as mudanças impostas abruptamente por pessoas desconhecidas, dificultam muito o atendimento, podendo comprometer o resultado do tratamento proposto.
A Hospitalização Desta forma, é fundamental a união dos familiares e da equipe multidisciplinar, usando bom senso e permitindo a flexibilidade necessária para que as regras sejam seguidas sem prejudicar o tratamento ou amedrontar a criança É preciso que os profissionais, em cada área de atuação, ofereçam o melhor de si e com isso, minimizar as ações estressantes da hospitalização
Casuística do Hospital do Coração Aproximadamente 550 casos 99% de sucesso - 1% - shunt residual de 1 a 2%, sem repercussão clinica Complicações: - 01 caso de infecção - 02 casos de embolização - 01 caso de tromboembolismo
Considerações Finais Os bons resultados, o alto índice de sucesso do procedimento, o pequeno tempo de internação hospitalar e o alto grau de satisfação dos pacientes, fazem com que o fechamento percutâneo da CIA, PCA e CIV do tipo muscular seja cada vez mais empregado. Em relação a CIV do tipo perimembranosa, em virtude do alto índice de sucesso da cirurgia cardíaca e a baixa mortalidade há vários anos, o método só se justifica se mantiver o mesmo êxito da cirurgia e apresentar menor morbidade e menos complicações.
Considerações Finais O tratamento de várias doenças cardíacas na sala de hemodinâmica tem sido possível devido à maior disponibilidade de materiais cada vez mais adequados e melhores. O fechamento percutâneo de defeitos septais tende a ser cada vez mais adotado.
De nada adianta de aparelhos enfermagem. sofisticados,tecnologia avançada, se não houver planejamento, organização, capacitação e humanização da equipe de enfermagem.
Obrigada! Obrigada!!! Célia Fátima Anhesini Benetti cbenetti@hcor.com.br