Procº de insolvência n.º 6.896/11.3 TBMTS 6º Juízo Cível Insolventes: PAULO ALEXANDRE SOUSA NOGUEIRA E MARIA DO CÉU ATAÍDE SOUSA VAQUEIRO Tribunal Judicial de Matosinhos RELATÓRIO O presente RELATÓRIO é elaborado nos termos do disposto no artigo 155º do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas CIRE. A Nota Introdutória: Para a elaboração do presente relatório foram efectuados trabalhos de pesquisa informativa nos serviços públicos: finanças e conservatórias, tendo sido efectuada deslocação à Rua Monte da Mina, n.º 4420, 2.º direito, na freguesia de Leça do Balio, concelho de Matosinhos, morada em que os insolventes efectivamente residem, desde Julho de 2011. Pela parte dos insolventes, que acompanharam o arrolamento de bens, foi prestada a colaboração solicitada e necessária à elaboração do presente Relatório, sendo certo que grande parte dessa informação constava já dos autos. Conforme informação constante do auto de arrolamento de bens, os parcos bens móveis existentes na habitação são todos imprescindíveis ao dia a dia do agregado familiar, não tendo por outro lado qualquer valor comercial, atento o seu estado de uso e conservação, pelo que não se procedeu à sua apreensão. - 1 -
O objectivo do presente Relatório, segundo o disposto no artigo 155º do CIRE, é apenas o de servir de ponto de partida para uma apreciação do estado económicofinanceiro dos insolventes. In casu, os dados obtidos permitem-nos cumprir o desiderato legal, sem restrições. O presente processo iniciou-se com requerimento apresentado pelos próprios insolventes, os quais reconhecendo a sua frágil situação económica, requereram a declaração da sua insolvência, que veio a ser decretada por douta sentença proferida a 03 de Novembro de 2011, entretanto já transitada em julgado. Os insolventes são casados entre si sob o regime da comunhão de adquiridos. No momento, e tal como nos foi informado, e por nós constatado pelos contactos e pesquisas efectuadas, os insolventes auferem os seguintes rendimentos: O insolvente marido exerce a função de vigilante na empresa PROSEGUR COMP. SEGURANÇA, UNIPESSOAL, LDA., auferindo um vencimento ilíquido mensal de 641,93 ; de notar que incide uma penhora sobre o seu salário, pelo que, actualmente, o insolvente apenas recebe o valor líquido mensal de 485,00. Por sua vez, a insolvente mulher exerce a profissão de operadora ajudante 1, na sociedade DIA PORTUGAL SUPERMERCADOS (MINIPREÇO), auferindo um salário ilíquido mensal de 526,00. Os insolventes não têm filhos fruto do seu casamento, contudo, a insolvente mulher é mãe de 3 filhos de relações anteriores, a saber, INÊS FILIPA VAQUEIRO PEREIRA, CAROLINA PATRÍCIA VAQUEIRO FERNANDES e JOÃO MANUEL VAQUEIRO FERNANDES, com 8, 4 e 6 anos de idade, respectivamente; por seu lado, o - 2 -
insolvente marido é pai de ANDRÉ FILIPE GONÇALVES NOGUEIRA, de 7 anos de idade, o qual se encontra a residir com a mãe. O agregado familiar é composto pelos insolventes e pelos três filhos da insolvente mulher, encontrando-se todos a residir na habitação supra mencionada, a qual é arrendada a ANTÓNIO SOARES DA SILVA E MULHER, pela renda mensal de 325,00. Pelo que nos é dado a conhecer, os insolventes não têm saldos bancários, nem PPR s, nem participações sociais, nem veículos automóveis ou outros activos, além dos parcos bens móveis existentes na habitação. Ponto um Análise dos elementos incluídos no documento referido na alínea c) do nº 1, do artigo 24º do CIRE: Os documentos conhecidos são os que se encontram nos autos, a que acresce a documentação entretanto recebida com as reclamações de créditos. Até ao momento não foram juntos os documentos contabilísticos/fiscais comprovativos dos rendimentos auferidos pelo casal insolvente nos anos de 2008 e 2009, tendo apenas sido junto aos autos a demonstração de liquidação de IRS referente ao ano de 2010. Ora, da análise desse documento, constatamos que o rendimento anual bruto auferido pelo casal nesse ano foi de 12.436,85. Da análise dos documentos existentes, verifica-se o montante das obrigações vencidas e a situação de incumprimento generalizado com que se deparam, actualmente, os insolventes. - 3 -
As obrigações conhecidas até ao momento, provêem essencialmente da falta de pagamento de créditos pessoais, empréstimos e cartões de crédito, contraídos junto de diversas instituições bancárias e parabancárias; existe ainda uma dívida à Segurança Social, no montante de 2.374,34, referente à falta de pagamento de contribuições no período de Outubro de 2009 a Outubro de 2010, correspondente a dívidas da responsabilidade da insolvente mulher enquanto trabalhadora independente. Existem ainda créditos relacionados pelos insolventes que não foram ainda reclamados, sendo expectável que o venham a ser até ao término do prazo para a apresentação de reclamações de créditos. Saliente-se, conforme já acima referido, que o vencimento mensal do insolvente marido está penhorado no âmbito do processo judicial n.º 6.450/08.7 TMSNT-B, a correr termos pela 1.ª Secção do Tribunal da Comarca da Grande Lisboa-Noroeste, Juízo Família e Menores de Sintra, no qual é requerente MARIA DE FÀTIMA BORDALO GONÇALVES, ex-mulher do insolvente marido, sendo que a quantia reclamada naquele processo se refere a prestação de alimentos à filha do ex-casal. Os insolventes não relacionaram o crédito da alegada credora, pelo que desconhecemos quais os valores que já foram pagos naquele processo e quais os valores em atraso. * Existem dívidas relacionadas, reclamadas e provisoriamente reconhecidas no montante total de 23.192,60, sendo que ainda se encontra a decorrer o prazo para apresentação de reclamações de créditos. De facto, verificamos que os créditos indicados (e que se pressupõe corresponder ao passivo total dos insolventes), não é muito elevado. - 4 -
Contudo, tendo em conta os rendimentos auferidos pelos insolventes, a composição do agregado familiar (do qual fazem parte três crianças em idade escolar), a existência de acções judiciais instauradas contra os mesmos, e as elevadas taxas de juros cobradas no tipo de contratos indicados, concluímos que o passivo indicado é inadequado à débil situação económica em que actualmente se encontram os insolventes. Ora, analisado o auto de arrolamento de bens (negativo), é mister concluir que o passivo acima referido é manifestamente superior ao activo, pelo que a situação de insolvência é, em nossa opinião, irreversível. Ponto dois Análise do estado da contabilidade dos devedores e opinião sobre os documentos de prestação de contas dos insolventes: Trata-se da insolvência de pessoas singulares, que não estavam obrigadas a prestação de contas de acordo com o exigido para as sociedades comerciais, pelo que parte do disposto no presente artigo não é aplicável. Requeremos informações complementares ao Serviço de Finanças respectivo, sendo certo que, até ao momento, não recebemos qualquer resposta. No entanto, das pesquisas efectuadas pela signatária, conclui-se que não existem bens sujeitos a registo na titularidade dos insolventes. Conforme já anteriormente referido, da demonstração de liquidação de IRS do ano de 2010, verifica-se um rendimento anual bruto de 12.436,85, isto para um agregado familiar composto por 5 pessoas, os insolventes e os três filhos menores da insolvente mulher. - 5 -
Ponto três Indicação das perspectivas de manutenção da empresa devedora, no todo ou em parte, e da conveniência de se aprovar um plano de insolvência: De acordo com o acima exposto, não é de aplicar a primeira parte deste normativo, pois inexiste qualquer estabelecimento comercial ou industrial. Por outro lado, não é de propor qualquer plano de insolvência, já que os insolventes não apresentam rendimentos actuais que permitam a elaboração de Plano, e o nível de endividamento existente, não se compadece com um qualquer Plano de Insolvência, pelo que, a proposta de Plano de Insolvência é desajustada à realidade e inviável. Os insolventes apresentaram pedido de exoneração do passivo restante (tendo junto aos autos os respectivos certificados de registo criminal), sobre o qual nos pronunciaremos na altura devida, nos termos do disposto no artigo 238.º, n.º 2 do CIRE. B Solução proposta: Face ao exposto, propõe-se: Não haver lugar à proposta ou apresentação de qualquer plano de insolvência; O encerramento do presente processo, nos termos do disposto nos artigos 39º e 232.º do CIRE, sem prejuízo da apreciação do pedido de exoneração do passivo restante apresentado, sobre o qual a signatária se pronunciará, nos termos do disposto no artigo 238º, n.º 2 do CIRE e sem prejuízo também da sentença de graduação de créditos, caso venha a ser deferido o requerimento de exoneração do passivo restante. - 6 -
C Anexos juntos: Um Inventário; Dois Relação Provisória de Créditos. P.D. A Administradora da Insolvência, - 7 -