BOTRYTIS: COMO EVITAR SURPRESAS DESAGRADÁVEIS

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Transcrição:

BOTRYTIS: COMO EVITAR SURPRESAS DESAGRADÁVEIS ELODIE PROFFIT - Chambre d agriculture du Vaucluse, BERNARD GENEVET - Chambre d agriculture du Gard Extracto de artigo publicado na revista Guide de la vinification rhodanienne n. 7, Julho 2003 1 Este extracto, resultante de um artigo sobre as condições climáticas muito desfavoráveis do Outono de 2002 na região meridional de Côtes du Rhône, tem por objectivo recordar como conseguir a sanidade das parcelas mesmo em condições favoráveis ao desenvolvimento de Botrytis cinerea, nomeadamente pelo controlo do vigor das vinhas (da fertilização azotada limitada, promoção de cobertura vegetal do solo) e pela realização da desfolha e tratamentos específicos. Convém, antes de mais, recordar as consequências nefastas da podridão cinzenta sobre a vindima (Esquema 1). Os efeitos são múltiplos: rendimento em uvas e em mosto diminuído, mas, sobretudo, baixa qualitativa muito nítida nos vinhos. Cor fraca, estrutura diminuída, vinhos frágeis que, de facto, serão sobrecarregados com SO 2 e, em casos extremos, aromas particularmente desagradáveis (perda do frutado, presença de aromas fénicos, iodados, canforados,...) 1 Institut Rhodanien, 2260 route du Grès, 84100 Orange, France. Tel : +33 (0) 490 11 46 00, Fax : +33(0) 490 11 46 10 www.institut-rhodanien.com contact@institut-rhodanien.com

Esquema 1: revisão das consequências nefastas dos ataques de Botrytis sobre a vindima Uma palavra-chave: a prevenção O que fazer em situação de calamidade? Sobretudo prever o seu aparecimento e privilegiar medidas profilácticas para diminuir ao máximo as possibilidades de ataque dos bagos pelo fungo. Em primeiro lugar, é absolutamente necessário recorrer a todas as formas de diminuir o vigor das cepas. O objectivo é evitar a concentração da vegetação (muitas vezes devido aos entre-nós) e favorecer o desenvolvimento de pequenos cachos em condições de bom arejamento. Desde a implantação de qualquer vinha, deverá ser evitado associar sectores húmidos e castas sensíveis. Da mesma forma, a escolha do material vegetal deve orientar-se para porta-enxertos e/ou clones pouco vigorosos. Mas o que fazer na vinha já implantada? Primeira etapa: não efectuar fertilizações azotadas O mais simples e menos oneroso é limitar a fertilização azotada. Para uma produção de qualidade, a vinha apenas raramente necessita de um suplemento de azoto, para além daquele que naturalmente encontra no solo. Uma ideia concreta sobre os efeitos nefastos de uma fertilização azotada inapropriada é dada pelos resultados de ensaios realizados. Gráfico 1: Efeito do azoto sobre o estado sanitário Uma aplicação, mesmo que moderada, de 35 U/ha (100 kg/ha de azoto amoniacal 33) triplica a percentagem de ataque relativamente à testemunha! Mas, mesmo perante esta conclusão, haverá situações em que seja necessário efectuar uma fertilização azotada? Sim, nos casos, raros, de vinhas muito pouco vigorosas e com uma dose que não exceda 30U/ha. Uma solução melhor: cobertura vegetal De qualquer forma, a limitação da fertilização azotada raramente produz um efeito rápido sobre a redução do vigor. Num grande número de situações de sensibilidade aos ataques de Botrytis, as disponibilidades do solo em azoto são suficientemente elevadas e a vinha apresentará sempre um vigor elevado. Nestes casos, apenas a implantação de uma cobertura vegetal

permitirá limitar a quantidade de azoto disponível para as cepas. O que se verifica então? Dada a concorrência exercida pelas outras plantas, o desenvolvimento vegetativo das cepas e o vigor (medido pelo peso de um sarmento) diminuem sensivelmente. Assim, a vegetação é menos aglomerada e a circulação de ar é melhorada, favorecendo um microclima seco que dificulta a instalação de Botrytis. Por outro lado, dada a diminuição sensível do peso dos cachos (podendo esta atingir 40% em relação à testemunha), o risco de os bagos fissurarem, logo desde o fecho do cacho, são muito limitados. No final, o impacto da Botrytis é muito reduzido; o Gráfico 2 permite evidenciar que pode ser obtida uma vindima com uma qualidade sanitária satisfatória mesmo em anos como o de 2002. Assim, porquê evitar a utilização desta técnica que, para mais, permite a obtenção, em diversas situações, de ganhos qualitativos (precocidade, mais cor, vinhos mais estruturados,...). Gráfico 2: Influência da cobertura vegetal sobre o estado sanitário da vindima Desfolha e tratamentos específicos como último recurso A desfolha, bem como os tratamentos específicos contra a Botrytis, apenas devem ser aplicados após terem sido tomadas algumas precauções indispensáveis: Evitar ferir os bagos, os ferimentos são portas de entrada para o fungo. Assim, o controlo do oídio e, sobretudo, da traça é a condição necessária para o sucesso. Controlar o vigor, a aglomeração dos cachos e da folhagem, como indicado anteriormente. O Gráfico 3 mostra que a aplicação de anti-botrytis permite reduzir de forma significativa a intensidade do ataque. Entretanto, de modo a beneficiar totalmente da eficácia dos produtos, é necessário tratar ambos os lados da paliçada, tendo por alvo os cachos. A poda em verde pode melhorar a penetração do produto nos cachos.

Gráfico 3: Comparação de diferentes técnicas de luta contra Botrytis (CA 30-1999) É necessário recordar que os tratamentos à base de cobre, CCD (carbonato de cobre), cal e folpete têm uma eficácia muito variável sobre a Botrytis (Gráfico 4 e 5). A poda em verde permite igualmente diminuir a intensidade de ataque de Botrytis: uma poda em verde sobre as duas faces da paliçada é mais interessante que aquela realizada apenas sobre uma das faces (Gráfico 3). Gráfico 4: efeito dos tratamentos á base de cobre sobre Botrytis cinerea

Gráfico 5: efeito dos tratamentos á base de CCD e cal sobre Botrytis cinerea Para além disso, do mesmo modo que para a protecção química, para conseguir a melhor eficácia da desfolha, esta deverá ser realizada na fase da alimpa, tendo o cuidado de não ferir os bagos (o tratamento será então pior que a doença) Existem já diversas máquinas de desfolha que permitem a obtenção de resultados satisfatórios e uma redução importante dos custos de intervenção relativamente à operação manual. Actualmente, o viticultor dispõe de um conjunto de técnicas que permitem evitar a degradação rápida da vindima. Estas técnicas são complementares e devem estar ligadas à condução da vinha. Muitas vezes, a acção correctiva é privilegiada, com resultados por vezes decepcionantes. As acções de fundo tais como a promoção de uma cobertura vegetal do solo são muito mais eficazes. As vantagens da cobertura vegetal para a condução da vinha são várias, combatendo sempre a podridão cinzenta o que conduz a uma melhoria qualitativa dos produtos e permitindo uma resposta global aos actuais problemas de mobilização do solo.