MARCAS DA LÍNGUA FALADA NO GÊNERO DISCURSIVO PREGAÇÃO RELIGIOSA

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Transcrição:

MARCAS DA LÍNGUA FALADA NO GÊNERO DISCURSIVO PREGAÇÃO RELIGIOSA Angélica Prestes Rosas (PIBIC//UENP) angelica-prestes@outlook.com Letícia Jovelina Storto (orientadora) Centro de Letras, Comunicação e Artes - Campus Cornélio Procópio - Universidade Estadual do Norte do Paraná leticiastorto@uenp.edu.br Resumo O objetivo desta pesquisa é analisar as marcas da Língua falada presentes na pregação. O método empregado é o empírico-indutivo e a análise de conteúdo. Como corpus de pesquisa, foram estudadas três pregações coletadas na página eletrônica do YouTube, pertencentes aos seguintes pastores Edir Macedo, Silas Malafaia e Valdemiro Santiago, sendo um texto de cada pastor. O aporte teórico empregado é o da Análise da Conversação. Desse modo, são utilizados estudiosos como Preti (1997), Heine (2012), Storto (2015), Galembeck (2009a, 2009b) e Rodrigues (1997). As análises demonstram que as pregações são textos pertencentes à modalidade da língua falada, visto que se realizam oralmente, apresentam um espaço temporal compartilhado com os interlocutores, com os quais se busca um envolvimento, além de haver planejamento local linguístico-discursivo. Palavra-Chave: Língua falada. Pregação. Discurso Religioso. Fundamentação teórica Como o objetivo deste estudo é analisar as marcas da língua falada presentes em um gênero textual oral da esfera religiosa, fundamenta-se nos aportes teóricometodológicos da Análise da Conversação e em estudiosos como Preti (1997), Heine (2012), Storto (2015), Galembeck (2009a, 2009b) e Rodrigues (1997) para definir o texto falado e suas características. Heine (2012) define o texto oral como uma produção linguístico-semiótica, pois é preciso desviar-se da dicotomia entre os elementos paralinguísticos (elementos não verbais de comunicação) e elementos linguísticos (código linguístico). Dessa forma, o texto oral não é formado somente por códigos linguísticos, mas é também constituído a partir de estratégias específicas, como hesitações, interrupções, correções, processamento textual, repetições, digressões, meneios de cabeça etc. De acordo com Galembeck (2009), no que se refere à construção da língua falada, é preciso considerar que as unidades de fala ocorrem com a presença de fenômenos típicos da elocução formal espontânea como: pausas, truncamentos, alongamentos. Sendo assim, não se encontra na fala a disposição visual característica da escrita, em que os parágrafos são normalmente indicados por um adentramento (alínea) e as frases tem o seu começo marcado por letra minúscula e o final mais frequentemente por ponto final.

Segundo Chafe (1979 apud RODRIGUES, 1997, p.21), a fala ocorre aos borbotões, ou seja, unidades de idéias, ou significativas, com um contorno entonacional típico, e limitada por pausas e a passagem de uma unidade para outra se dá de maneira rápida, tornando o processo de fala mais veloz que o da escrita. Além disso, na LF, ocorrem as rupturas e é constante a presença de repetições de palavras e frases. (CHAFE, 1979, apud RODRIGUES, 1997, p.21). Nesse viés, Rodrigues (1997) afirma que a LF apresenta três aspectos que possibilitam esclarecer sua existência e caracterização. Primeiramente, a fala não apresenta um planejamento antecipado, porém há a existência de um planejamento local. Em seguida, na fala, há presença de um espaço e/ou tempo comum partilhado entre os interactantes. Por fim, nela, o envolvimento dos participantes entre si e com o tema da conversação é fundamental. Portanto, essas três características (planejamento local, espaço/tempo compartilhado e envolvimento) funcionam como uma oportunidade para que a produção da LF aconteça. Como consequência, a partir desses três elementos, surgem os demais típicos da língua falada, como marcadores conversacionais, o monitoramento da interação, paráfrase, truncamentos, correções e outros (STORTO, 2015). Além disso, a língua falada é realizada socialmente, por meio de uma interação em que existem pelo menos dois participantes; assim, os dois interactantes participam do planejamento do texto conversacional (STORTO, 2015). Portanto, a LF é uma atividade momentânea, que se difere da escrita, pois não existe a possibilidade de reescrever o que foi dito. Materiais e métodos O método empregado nesta pesquisa é o empírico-indutivo (GALEMBECK, 1999), já que os textos analisados são retirados de situações reais de interação. Além disso, as conclusões derivam da observação das ocorrências. Também se emprega a análise de conteúdo como método. Como corpus de trabalho, são examinadas três pregações religiosas publicadas e divulgadas na internet e disponíveis na página do YouTube. Os textos, transcritos segundo as normas do projeto NURC/SP publicadas em Preti (1997), foram produzidos por conhecidos pastores, são eles: Edir Macedo, Silas Malafaia e Valdemiro Santiago. Analisase uma pregação de cada pastor. A escolha desses locutores deve-se à sua importância no cenário nacional e de as igrejas que representam estarem entre as principais do Brasil. Além disso, são considerados os três pastores mais ricos do país (FORBES, 2013). Resultados A pregação apresenta elementos característicos da língua falada como: a paráfrase, as repetições, os truncamentos, os marcadores conversacionais etc., que são utilizados para facilitar a coesão e a coerência do texto falado religioso e ajudar no entendimento dos fiéis. Podemos perceber esses elementos no excerto a seguir: Excerto 1 EDM.:... ninguém aqui merece coisa alguma de ti... muito menos eu meu senhor... mas eu tenho certeza... de que... a maldiçã:::o... não existe sem causa conforme diz a tua palavra... e a CAUSA dela... se dá... por conta da de-so-be-di-ên-cia... da re::::beldia...

Pr.: Edir Macedo Pregação 04 - L. 289-291 Na LF, o planejamento e a realização verbal, segundo Rodrigues (1997), ocorrem de maneira simultânea ou praticamente simultânea, pois deixam clara a sua marca de organização, como percebemos no exemplo do excerto 1, em que temos pausas (marcadas pelas reticências), repetições, momentos de elevação do tom de voz (representados na caixa alta), de silabação (de-so-be-di-ên-cia), marcadores discursivos ( ah, então ) e a menor ocorrência de conectivos. Isso acontece, pois é o discurso e não a sintaxe que faz a junção desses elementos no texto oral, no qual existe uma superioridade da coordenação sobre a subordinação (CAMPOS, 1989). A pregação é uma interação assimétrica, já que possui um condutor, o pastor, e cabe a ele conduzir o tópico discursivo e o ouvinte, no caso os fiéis, os quais só contribuem com participações episódicas ou secundárias (PRETI, 1997), como mostra o caso a seguir, em que o pastor Edir Macedo interage com os fiéis, os quais lhe respondem por meio do marcador conversacional amém : Excerto 2 EDM.: você... tem... determinado isso de todo o seu coração de mudar a sua vida a partir de agora.. a partir de agora sua vida já está transformada... ((fiéis))... agora é se é hipocrisia a sua vinda aqui à frente... então... saiba de antemão... profeticamente... não vai acontecer nada... mas profeticamente se é sincera a sua entrega... profeticamente você está abençoado... porque... os nossos pecados... são perdoados todas as vezes... que nós... com sinceridade... falamos com Jesus... amém?... FIÉIS.: amém... Pr.: Edir Macedo Pregação 04 - L. 306-312 No excerto 2, o pastor ao utilizar o amém tem como objetivo o monitoramento da fala. Storto (2015) aponta que na pregação são empregados marcadores prototípicos, isto é, reconhecidos como próprios desse discurso, pois de acordo com o uso desses marcadores, o falante avalia a atenção e o interesse de seu público. Exemplos desses marcadores são amém, glória e aleluia, os quais, quando empregados, sofrem algumas ramificações. Por exemplo: Glória a Deus, Glória ao Pai, Glória ao Senhor, Glória ao Espírito Santo, aleluia Senhor e em nome de Jesus, misericórdia (STORTO, 2015). Todavia esse último é apenas utilizado quando o fiel possui alguma dúvida, principalmente na procura por textos bíblicos (STORTO, 2015). Para que a pregação ocorra, é preciso que haja uma interação social, por essa razão, é necessário o envolvimento entre os participantes (STORTO, 2015). Heine (2012) aponta que, para se manifestar o envolvimento de forma produtiva, é necessária a ocorrência dos pronomes pessoais eu, me, nós, a gente, tu, você etc. Por exemplo, no excerto 2, em que o pastor emprega o pronome de 2ª pessoa do singular (você). Segundo Rodrigues (1997), perguntas e respostas também estabelecem marcas do envolvimento dos falantes, ou mais que isso, são uma das formas do mecanismo típico da construção do texto conversacional. Diante disso, as perguntas e respostas são frequentes na pregação e, por conseguinte, mais uma marca de envolvimento entre os interlocutores, como podemos notar a seguir: Excerto 3

VAL.: o que você passou não mas o que Jesus passou por sua causa eu sei... o que Jesus passou por minha causa eu sei também... e isso é suficiente... lembra daquela parábola?... o credor... incompassivo?... você lembra... lá na... (Carneiro Leão) lembra da mensagem?... o credor incompassivo... que não tinha compaixão... cê sabe o que ele fez?... ele... o credor... Pr.: Valdemiro Santiago Pregação 08- L. 52-56 No excerto 3, o pastor Valdemiro Santiago interage com os fiéis para que tenham a sensação de que a pregação é direcionada ao espectador/público e, assim, sintam-se inseridos e parte daquele meio. Porém, as perguntas realizadas são retóricas, pois não há uma troca de turno conversacional e não se objetiva que os fiéis de fato respondam ao que lhes é perguntado. Nesse caso, as perguntas servem também para chamar a atenção dos interlocutores, deixá-los interessados. Para Storto (2015), essas perguntas são realizadas de maneira incisiva, com a finalidade de conduzir o fiel a concordar com o falante. Considerações Finais Em síntese, a organização linguístico-discursiva na pregação é elaborada no momento da interação, pois, se fosse o contrário, haveria uma situação de escrita oralizada, ou seja, de uma leitura de um texto em voz alta, o que não ocorre (STORTO, 2015). Sendo assim, todas as peculiaridades apresentadas, em que temos uma conversação assimétrica, um planejamento temático, repetições, pausas, alongamentos, entre outros e por fim todos os aspectos demonstrados acima são típicos da língua falada. Desse modo, a pregação se caracteriza como um gênero textual falado. Referências BARROS, Diana Luz Pessoa de. Procedimentos de reformulação: a correção. In: PRETI, Dino (Org.). Análise de textos orais. 3.ed. São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, 1997, p.129-156. CAMPOS, Odette Gertrudes Luiza Altman de S. A língua falada: características gerais. In: IGNÁCIO, Sebastião Expedito (Org.). Estudos gramaticais: publicação do Curso de Pós- Graduação em Lingüística e Língua Portuguêsa, ano III, n. 1. Araraquara, São Paulo: UNESP, 1989, p.202-216. FORBES. The richest pastors in Brazil. (17/01/2013). Disponível em: <http://www.forbes.com/sites/andersonantunes/2013/01/17/the-richest-pastors-in-brazil>. Acesso em: mar. 2013. GALEMBECK, Paulo Tarso. Língua falada: processos de construção. 2009a. Disponível em: <http://www.filologia.org.br/xcnlf/2/07.htm>. Acesso em: maio 2016. GALEMBECK, Paulo Tarso. Processos de construção de textos falados e escritos. 2009b. Disponível em: <http://www.filologia.org.br/xiv_cnlf/tomo_2/1565-1577.pdf>. Acesso em: maio 2016.

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