O FENÔMENO DA MORTE NO COTIDIANO DA ENFERMAGEM² Cardoso Homero¹; Sasso Jane¹; Strahl Mariane¹; Gracioli Silvana¹; Leandro Diniz¹; 1 Acadêmicos do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil 2 Trabalho de Pesquisa _UNIFRA RESUMO O presente estudo propõe-se discutir o impacto da morte de pacientes no cotidiano dos profissionais de enfermagem. Percebe-se que existe alguma resistência em mencionar este tema em pesquisas e até mesmo durante o curso de graduação de enfermagem, o que implica em um despreparo dos futuros profissionais que são orientados a cuidar da vida e do bem-estar do paciente e não da sua morte. Este estudo foi desenvolvido através de uma pesquisa teórica e discute as repercussões psicológicas da morte do paciente, o sofrimento, sentimentos de frustração, tristeza dos profissionais de enfermagem. Também será mencionado a atuação do enfermeiro diante da família enlutada. Palavras-chave: Morte; Enfermagem; Pacientes. 1
INTRODUÇÃO O profissional da saúde, seja ele um enfermeiro ou não deve estar preparado para encarar a morte no decorrer da sua profissão e precisa compreende-la e não somente explicá-la, por isso é importante preparar o candidato no curso de graduação, dando-lhe a preparação psicologica e suporte emocional para superar estes momentos. Estamos vivendo um período de grandes descobertas na medicina como, a clonagem de alguns animais, descobertas de fórmulas que possibilitam maior longevidade e avanços nos tratamentos das doenças, drogas mais potentes. Contudo, o homem não consegue desvendar a morte. O mundo ocidental transformou a morte em tabu. Ela costuma ser escondida das crianças e banida das conversas do dia-a-dia simplesmente pelo fato de que os sentimentos que a morte faz aflorar são intensos, portanto, seu nome não deve nem mesmo ser pronunciado. Por si só ele já causa medo, fuga e espanto (Bernieri; Hider, 2006). Encontramos nos hospitais aparelhos de alta tecnologia que são utilizados para manterem o organismo do paciente em funcionamento e profissionais treinados para manipulá-los, porém sem preparo para assistirem as necessidades do paciente, em iminência de morte, e de sua família que procura entender tudo que esta acontecendo. As máquinas prolongam a vida dos doentes, mas não os ajuda no processo de morrer, como dar apoio psicológico, fazendo entender tudo que esta acontecendo em seu organismo neste momento, ha necessidades dos profissionais de serem mais humanos e não tecnicistas ou que cumpram seu trabalho diário somente operando máquinas deixando o afeto o carinho e o tempo para escutar, explicar e esclarecer dúvidas e medo que tanto o paciente como o familiar 2
necessitam, nestas poucas ou prolongadas horas de sofrimento. Parece-nos que é tempo de refletir e entender a morte como parte da vida, um acontecimento acompanhado de dor, de perda, que é vivido por qualquer ser humano e deve ser respeitado como um momento de sofrimento para quem vivenciá-lo. A dificuldade em superar a perda é inexplicável tanto para a família quanto para o enfermeiro que presencia vários momentos, da vida do paciente em uma unidade hospitalar ou em qualquer outro, muitas vezes os clientes passam por momentos torturantes, tanto físicos, como mental, com raiva do médico ou de qualquer outra pessoa, só pelo simples fato de ele estar doente. Momentos de tristeza, depressão só de saber, em seu interior, que não tem mais cura, angustiados, cada dia é contado por vitória. Seus momentos de lucidez e de enxergar a beleza da noite e do dia estão chegando ao fim, isso se conseguir ver. Tudo isso transparece ao enfermeiro que muitas vezes sabe que o quadro clínico ou que o prognóstico do paciente é muito difícil, com doença em fase avançada, o sofrimento, a pressão psicológica, angustia, desespero, fracasso terapêutico e o esforço pela cura, que estes profissionais procuram, tornam-se nítido, pois parece que todo seu esforço foi desperdiçado e ainda deve ter forças para superar e também dar consolo aos familiares, que esperam ansiosos, sempre por boas notícias, mesmo sabendo que é irreversível, não acreditando muitas vezes no que o médico ou enfermeiro dizem a respeito do quadro. Para a família sempre existe esperança de um novo dia, do doente ter reagido, cada sinal apresentado mesmo que normal de iminência de morte é de alegria para a família. É, nestes casos, que os parentes não aceitam que a morte esta perto, torna-se ainda mais difícil de consolar pós-luto, não há nada que o enfermeiro diga que vai fazer com que estas pessoas superem a perda, a dor, a sensação de desespero, depressão, angustia e tristeza, parece que os profissionais da saúde não fizeram nada para ajudar a ele (paciente) a viver, ficam perguntando-se por quê? Por quê? Eu queria estar perto! Não me deixe tão cedo, ainda preciso de você... A depressão que ocorre na família pós a perda de um ente querido é caracteriza por um momento de grande tristeza, dor intensa, episódios de depressão, culpa, raiva, 3
ansiedade, falta de prazer e solidão que normalmente precisam de ajuda para voltarem à vida normal. E em alguns casos os familiares amparam-se na enfermagem, esta dor é tão forte que o profissional, deve estar preparado psicologicamente para entender este momento tão difícil, assim poder dar apoio psicológico a estas pessoas. Segundo Ross (1997), os pacientes passam por 5 estágios antes de morrer.primeiro estágio: seguido de negação e isolamento, que são mecanismo de defesa temporário do Ego contra a dor psíquica diante da morte, a intensidade e duração desses mecanismos de defesa dependem de como a própria pessoa que sofre e as outras pessoas ao seu redor são capazes de lidar com esta dor, segundo estágio a raiva devido a impossibilidade do Ego manter a negação e com isso, os relacionamentos torna-se problemático e todo o ambiente é hospitalizado pela volta de quem sabe que vai morrer, o terceiro estágio a Barganha, neste momento deixase de lado a negação e o isolamento, percebendo que a raiva também não resolveu então neste estágio que geralmente fazem promessas a Deus, sempre dedicando à igreja tudo por sua vida, o quarto estágio, entra em depressão, quando toma consciência de sua debilidade física quando já não conseguem mais negarem suas condições de doentes, quando suas percepções da morte são claramente sentidas e no quinto estágio começa a aceitação, ele já não experimenta o desespero e nem nega sua realidade. Este é um momento de repouso e serenidade antes da longa viagem, os familiares também podem passar por estes estágios de aceitação quando um parente esta doente e que não tem cura. A assistência dos pacientes ao morrer, requer um conhecimento e entendimento da morte e do morrer, que faz parte da vida, que um dia nascemos e morreremos, para buscar este conhecimento e que este assunto não venha trazer prejuizos emocionais para os profissionais, se faz necessário que ainda no período de formação acadêmica, os futuros profissionais sejam preparados para conviverem com este fato ao longo de sua profissão. (Oliveira; Amorim, 2008). 4
O sofrimento das pessoas que compõem a equipe de Enfermagem parece ser muitas vezes mascarado pelo cumprimento de rotinas. Este sofrimento decorrente do envolvimento emocional da equipe, perante o paciente e a patologia que o mesmo apresenta, sendo a morte um "descanso e alívio", e assim são julgados muitas vezes pelo senso comum de "frieza" sobre os fatos tristes que ocorrem no dia-a-dia do hospital. Horta (1975). Trata-se de um trabalho que muitas vezes trará muita tristeza, mas é preciso ter muita sensibilidade e vários mecanismos de defesa, para suportá-lo, e não serem erroneamente considerados "atos de frieza" e para isso devem sim demonstrar sentimentos e principalmente assistência humanista. De acordo com Susake (2006), os profissionais de saúde acabam muitas vezes afastando-se da situação em que o paciente encontra-se devido serem somente preparados para a manutenção da vida não para encarar o processo do morrer, sendo expressos sentimentos de frustração, tristeza, perda, impotência, estresse e culpa. Em geral, o despreparo leva o profissional não saber lidar com este assunto e muitas vezes estes sentimentos de dor e perda são sentidos pelos profissionais, mas os mesmos não querem demonstrar para não serem julgados pelos colegas de não serem fortes o suficiente para enfrentar este fato, guardando dentro de si toda esta dor. Para Moreira (2006),os profissionais encaram a morte como um mecanismo de defesa e proteção contra o sofrimento, no processo de morrer os profissionais acabam ignorando, banalizando ou até mesmo tornando rotineira, mantendo um distanciamento e endurecimento de seus sentimentos perante a situação. Alguns estudos mostram que os profissionais da saúde, devem realizar seu papel profissional, apoiando os familiares que acabaram de perder um ente querido, tendo atitudes muitas vezes simples, como ficar ao lado destes e deixá-los expressar todo o tipo de sentimentos. O importante é o profissional estar ao lado e sempre à disposição das pessoas, naquele momento tão difícil e doloroso.tanto a enfermagem como outros profissionais da área da saúde, devem ser preparados sempre, através das escolas, que poderão dar suporte a esses futuros profissionais, para que eles possam ser capazes de lidar com seus próprios sentimentos e usá-los 5
de modo humano, oferecendo uma assistência de enfermagem qualificada, dando suporte emocional para quem está necessitando, deixando de lado assuntos, como crenças religiosas e preconceitos sobre a morte. O profissional deve passar a ver o indivíduo sempre com respeito, oferecendo um trabalho humanizado dando apoio psicológico e emocional para que seus últimos momentos de vida sejam de muita tranqüilidade e dignidade (Bernieri; Hirdes, 2006). O profissional de saúde é finito como todo e qualquer ser humano, e também passa por profundos dilemas existenciais quanto ao enfrentamento e vivência da morte em seu cotidiano de trabalho. Na maioria das vezes, esse profissional, ainda como acadêmico, não foi estimulado ou preparado a refletir sobre a morte e o morrer, podendo ser pego de surpresa pelo pesar, e mais, não oferecer uma assistência de qualidade, não conseguindo assistir a pessoa que está morrendo e/ou sua família, em razão da morte se configurar como momento de grande sofrimento e fracasso da ação principal em manter a vida (Carvalho et al, 2006). As dificuldades, enfrentadas pelos enfermeiros perante a morte inicia-se com o despreparo durante a academia, onde muito pouco ou nada é comentado a este respeito. Quando o profissional se depara com um paciente em estágio final e sua família, muitas vezes não sabe como agir, afastando-se do local e assim dificultando muito seu trabalho. (Carvalho et al, 2006). CONSIDERAÇÕES FINAIS Através deste trabalho concluímos que quando lidamos diretamente com a morte do outro passamos a imaginar a nossa própria morte. Percebemos o quanto estamos despreparados para enfrentar a perda, mesmo sabendo que a morte é uma das poucas certezas, que temos. Somos sensíveis perante o fato, mas como esta é 6
inevitável devemos lutar pelo nosso paciente, dando-lhe carinho, atenção e auxiliando-lhe em suas necessidades, isto é o mínimo que podemos fazer, este gesto é até capaz de prolongar o tempo de vida do paciente, sempre agindo com atitude ética e profissional. Os artigos estudados relatam quanto o profissional acadêmico, recém formado tem dificuldade de discutir o tema morte, estando despreparado para falar e agir frente o paciente e sua família, ficando, perplexo e distante do paciente em eminência de morte, dificultando suas decisões e abordagens. O enfermeiro que lida diretamente com paciente terminal devem estar preparados tanto o psicológico, quanto emocionalmente para presenciar a morte como também lidar com o luto dos familiares. REFERÊNCIAS BERNIERI, Jamine; HIRDES, Alice. O preparo dos acadêmicos de enfermagem brasileiros para vivenciarem o processo morte-morrer. Texto contexto - enferm., Florianópolis, v.16, n.1, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php? script=sci_arttext&pid=s010407072007000100011&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em:15/10/2010 KUBLER-ROSS, Elisabeth Sobre a Morte e o Morrer. 4.ª ed. São Paulo: Livraria Martins Fontes, 1991. CÂNDIDO, Juliana. Enfermagem. Acta paul.enferm.. São Paulo, v.19, n.2, jun. 2006. artigos.netsaber.com.br/.../artigo_sobre_a_morte_sob_a_ótica_da_enfermagem. www.facenf.uerj.br/v16n2/v16n2a17.pdf. 7
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