VIII-Innocentini-Brasil-1 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DO RIO PARDO NA REGIÃO DE RIBEIRÃO PRETO Sebastião Lázaro Bonadio Graduação em Administração de Empresas pela Universidade de Ribeirão Preto UNAERP - Brasil. Mestrado em Tecnologia ambiental pela Universidade de Ribeirão Preto - UNAERP Brasil. Técnico Ambiental da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental CETESB Brasil Cristina Filomena Pereira Rosa Paschoalato Engenheira Química pela Universidade de Mogi das Cruzes. Mestrado e Doutorado em Hidráulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos - EESC-USP. Professora do Programa de Pós-graduação em Tecnologia Ambiental da Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP) - SP Brasil Reinaldo Pisani Júnior Engenheiro Químico, Mestre e Doutor em Engenharia Química pela Universidade Federal de São Carlos, Professor do Programa de Pós-graduação em Tecnologia Ambiental da Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP) - SP Brasil Murilo Daniel de Mello Innocentini (1) Engenheiro Químico, Mestre e Doutor em Engenharia Química pela Universidade Federal de São Carlos, Professor do Programa de Pós-graduação em Tecnologia Ambiental da Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP) - SP - Brasil Endereço (1) : Rua José Missali, 192, Planalto Paraíso, São Carlos - São Paulo - Brasil. CEP: 13562-060. Tel: (5516) 3603 6784. e-mail: muriloinnocentini@yahoo.com.br RESUMO É fundamental que os recursos hídricos apresentem condições físicas e químicas adequadas para a utilização dos organismos vivos. Assim, disponibilidade de água significa que ela está presente não somente em quantidade adequada em cada região, mas também que sua qualidade seja satisfatória para a necessidade dos organismos que dela dependem. Pensando na qualidade das águas do maior rio que banha a cidade de Ribeirão Preto - SP, este trabalho de pesquisa pretendeu avaliar a qualidade das águas do rio Pardo, em um trecho aproximado de 50 quilômetros. Para a realização do trabalho foi escolhido o período de fevereiro a outubro de 2004, com periodicidade bimestral de coleta de amostras. Foram escolhidos 4 pontos de coleta, somados aos 2 pontos da Rede Básica de Monitoramento de Águas Superficiais da CETESB, o que perfez um total de 6 pontos, que foram utilizados como base para avaliar a qualidade das águas do rio Pardo, principalmente após a implantação das Estações de Tratamento de Esgoto no município de Ribeirão Preto. Para cada ponto de coleta foram avaliados 33 parâmetros, os mesmos utilizados pela CETESB para avaliar a qualidade das águas superficiais do Estado de São Paulo. Os resultados indicaram que de modo geral a água do rio Pardo no trecho avaliado encontra-se em boas condições de qualidade, atendendo em quase todos os parâmetros os padrões da Resolução CONAMA 357/2005. Os únicos parâmetros que apresentaram condições alteradas foram o alumínio, ferro, fósforo total e coliformes termotolerantes. Palavras- chave: recurso hídrico, saneamento, qualidade da água, poluição.
INTRODUÇÃO O Brasil possui uma das mais extensas e densas redes hidrográficas do mundo. No entanto, esse potencial, irregularmente distribuído, mostra sinais que descaracterizam a água como um bem renovável em algumas regiões brasileiras, especialmente naquelas mais povoadas. Na região de Ribeirão Preto, Estado de São Paulo, já se verificam problemas de escassez de água em diversas cidades, devido ao consumo humano e principalmente para atender as necessidades cada vez mais crescentes do setor agrícola. Embora o abastecimento de água para consumo humano em Ribeirão Preto seja totalmente feito através de poços profundos, o alto consumo em algumas regiões tem causado o abaixamento do nível do lençol em até 30 metros. Como conseqüência, estima-se que em breve, a captação de águas do rio Pardo, principal recurso hídrico da região, será inevitável para suprir as necessidades humanas e industriais. A Bacia Hidrográfica do rio Pardo abrange diretamente 39 cidades, sendo 9 em Minas Gerais e 30 em São Paulo. Seus afluentes tanto da margem direita como da esquerda são de pequeno porte, com extensão em geral não muito superior a 30 km, com exceção do rio Mogi-Guaçu (IPT, 2000). O rio Pardo é classificado de acordo com a Resolução CONAMA 357/2005 e o Decreto Estadual 8468 (1976), como água doce Classe 2. A área de drenagem do rio Pardo é de 35.414 km 2, sendo que 8.818 km 2 pertencem à área do Pardo propriamente dito (Figura 1). Figura 1. Localização da bacia do rio Pardo no Estado de São Paulo (Relatório Zero IPT 2000). O rio Pardo recebe contribuições de esgotos sanitários sem tratamento de 14 pequenos municípios antes de receber os esgotos sanitários da cidade de Ribeirão Preto. Até o ano de 2000, a cidade, com cerca de 500 mil habitantes, lançava todos os esgotos gerados sem qualquer tipo de tratamento diretamente no ribeirão Preto, afluente do rio Pardo, causando grandes impactos na biota e contribuindo com alta carga de matéria orgânica biodegradável, responsável por significativa demanda do oxigênio nos cursos de água. A Prefeitura de Ribeirão Preto então transferiu para a iniciativa privada a construção de Estações de Tratamento de Esgotos (ETEs), visando retirar toda a carga poluidora oriunda dos efluentes domiciliares, comerciais e industriais. Até o ano de 2004, a cidade de Ribeirão Preto passou a tratar cerca de 56% do seu esgoto. Em 2
decorrência do início de operações das ETEs, criou-se uma expectativa de que a água do rio Pardo sofreria uma melhora considerável em sua qualidade. Dentro do contexto apresentado, o objetivo deste trabalho foi avaliar a qualidade das águas do rio Pardo, na região de Ribeirão Preto, em uma extensão aproximada de 50 km, e verificar as alterações de qualidade decorrentes de fontes de emissão domésticas e industriais. As coletas foram realizadas nos meses de fevereiro, abril, junho, agosto e outubro de 2004. Foram realizadas comparações dos parâmetros analisados para os dados coletados no trabalho e aqueles monitorados pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB) em 2 pontos ao longo do trecho do rio, entre os anos de 2000 a 2004. MATERIAIS E MÉTODOS Para este trabalho, os pontos de análise ao longo do rio Pardo na região de Ribeirão Preto foram escolhidos com base em suas localizações, acessibilidade de trânsito, facilidade para realização das coletas, proximidade de lançamentos de efluentes domésticos, industriais e de regiões de diluição desses lançamentos. Assim, decidiu-se pelos pontos de amostragem destacados no mapa da Figura 2 e na Tabela 1, nos quais foram realizados os levantamentos de dados de localização geográfica, utilizando-se o GPS Sistema de Posicionamento Global, modelo GARMINN 12 Personal Navigator, sendo que o próprio pesquisador foi o responsável pela coleta, preservação e transportes das amostras para os laboratórios. As amostras de água do Rio Pardo foram coletadas em quatro pontos ao longo do trecho determinado para a realização da pesquisa, além dos dois outros pontos que já fazem parte do estudo periódico da CETESB. As amostras foram coletadas com auxílio de balde de inox de 5 L de capacidade e um coletor do tipo Batiscafo. As metodologias analíticas foram baseadas em APHA (1998, 20ª edição), com ensaios realizados no Laboratório de Recursos Hídricos da UNAERP. Foram avaliados 33 parâmetros físicos, físico-químicos e bacteriológicos, periodicamente monitorados em todo o Estado de São Paulo pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB). Os resultados foram comparados ao estabelecido na Resolução CONAMA 357/2005. 6 - Pte Pontal/Cândia 5 - Captação Us.Bazan Sentido do rio 3 - Pte Jard./C. das Posses 2 - Pte Rib./Jardinópolis 4 - Balsa Us.Sto Antônio Foz rib.preto 1 - Clube de Regatas Figura 2. Mapa da área de estudo e pontos escolhidos de amostragem. 3
Tabela 1. Localização e extensão dos pontos de coletas no trecho de análise. Trecho Deslocamento Distância Distância (m) acumulada (m) 1 ao 2 Regatas / Rodovia Anhanguera 13.882 13.882 2 ao 3 Anhanguera / Jardinópolis Cruz das Posses 7.241 21.123 3 ao 4 Jardinópolis Cruz das Posses / Balsa 10.209 31.332 4 ao 5 Balsa / Ponto de captação da Bazan 11.879 43.211 5 ao 6 Bazan / Rodovia Pontal Cândia 5.971 49.182 RESULTADOS E DISCUSSÕES A determinação da vazão volumétrica de um rio tem grande importância na avaliação de seu grau de contaminação. Neste trabalho, os dados de vazão volumétrica do rio Pardo não foram medidos diretamente, mas foram obtidos através de uma consulta ao site do Centro de Tecnologia Hidráulica da Universidade de São Paulo (CTH/USP), Relatório Anual de Vazões. Os resultados indicaram um aumento de vazão nos meses de fevereiro e abril, devido a uma incidência de chuvas intensas no período (Figura 3). Nos demais meses nos anos amostrados, os dados indicam a tendência das estações climáticas da região (inverno seco e verão chuvoso), com exceção dos meses de fevereiro e abril de 2001, que ocorreu uma grande seca, culminando inclusive com o racionamento de energia elétrica imposto pelo Governo Federal. 400 Fev Abr Jun Ago Out 350 300 vazão (m³/s) 250 200 150 100 50 0 2001 2002 2003 2004 Período de coleta Figura 3. Vazão do rio Pardo durante os anos de 2001 a 2004. Os valores obtidos para a concentração de ferro no período de 2001 a 2004 para os pontos 1 e 6 e para o ano de 2004 em todos os pontos do presente trabalho estão mostrados nas Tabelas 2 e 3. A concentração máxima de ferro estabelecida pela Resolução CONAMA 357/2005 para rios classe 2 é de 0,3 mg/l. O ferro é um dos elementos químicos que atuam como micronutriente para as plantas e é necessário ao metabolismo animal em concentrações adequadas, podendo, entretanto, ser tóxico quando administrado em doses elevadas. A presença de ferro nas águas superficiais é atribuída, principalmente, à decomposição de rochas ricas em ferro e no carreamento dos solos resultantes dessa decomposição. Sendo elemento abundante na superfície terrestre, o ferro é normalmente encontrado nos corpos de água para onde é transportado, principalmente pelas chuvas, por meio da lixiviação do solo. 4
Tabela 2. Valores obtidos de ferro total (mg/l) em consulta à CETESB no período de 2001 a 2004 para os pontos 1 e 6. REGATAS - Ponto 1 PONTAL/CÂNDIA - Ponto 6 Período 2001 2002 2003 2004 2001 2002 2003 2004 Fev * 2,81 * 3,14 * 6,71 * 4,60 * 3,32 * 3,44 * 4,36 * 4,36 Abr * 2,76 * 1,48 * 2,52 * 1,95 * 3,50 * 2,24 * 3,39 * 1,98 Jun * 0,51 * 0,69 * 1,36 * 1,77 * 0,85 * 1,07 * 1,45 * 2,58 Ago * 0,46 * 0,66 * 0,91 * 1,07 * 0,46 * 1,12 * 1,53 * 1,07 Out * 0,94 * 0,52 * 0,57 * 1,34 * 0,78 * 1,09 * 1,37 * 2,07 (*) Valores de ferro acima do máximo permitido pela CONAMA 357/2005. Tabela 3. Valores obtidos de ferro total (mg/l) para todos os pontos analisados em 2004. Período Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 4 Ponto 5 Ponto 6 Fev/04 * 4,60 * 6,17 * 6,82 * 6,74 * 8,00 * 4,36 Abr/04 * 1,95 * 1,75 * 1,65 * 2,03 * 2,01 * 1,98 Jun/04 * 1,77 * 1,73 * 1,78 * 2,00 * 2,18 * 2,58 Ago/04 * 1,07 * 0,77 * 0,80 * 0,87 * 0,87 * 1,07 Out/04 * 1,34 * 2,19 * 2,76 * 2,94 * 2,89 * 2,07 (*) Valores de ferro acima do máximo permitido pela CONAMA 357/2005. É importante destacar que o solo da região circunvizinha ao rio é originário de derrames basálticos que originou o latossolo roxo, rico em ferro (com média de 27075 mg/kg), conforme citado no Relatório de Estabelecimentos de Valores Orientadores para Solo e Águas Subterrâneas (CETESB, 2001). Os valores encontrados neste trabalho estão acima do padrão estabelecido pela Resolução CONAMA 357/2005 para rios classe 2. No entanto, nota-se que esta situação é decorrente de uma introdução natural de ferro através do carreamento do solo, inexistindo uma fonte pontual específica de origem industrial ou doméstica. Neste caso, nenhuma medida legal pode ser tomada pelos órgãos fiscalizadores. Apesar disso, a utilização da água com essas características para consumo humano deve ser precedida de um tratamento em uma ETA Estação de Tratamento de Água, de modo a atender aos padrões de potabilidade estabelecidos pela Portaria 518 (Ministério de Estado da Saúde, 2004). Os valores obtidos de concentração de alumínio no trecho do rio Pardo no período de 2001 a 2004 para os pontos 1 e 6 e para o ano de 2004 para todos os pontos, estão mostrados nas Tabelas 4 e 5, respectivamente. O valor máximo estabelecido pela Resolução CONAMA 357/2005 para rios classe 2, é de 0,1 mg/l. Na água, o alumínio é complexado e influenciado pelo ph, temperatura e a presença de fluoretos, sulfatos, matéria orgânica e outros ligantes. A solubilidade é baixa em ph entre 5,5 e 6,0. O aumento da concentração de alumínio no corpo d água está associado com o período de chuvas e, portanto, com alta turbidez; conseqüentemente o alumínio diminui no corpo d água à medida que se distância a época das chuvas. Tabela 4. Valores obtidos de alumínio (mg/l) em consulta à CETESB no período de 2001 a 2004 para os pontos 1 e 6. REGATAS - Ponto 1 PONTAL/CÂNDIA - Ponto 6 Período 2001 2002 2003 2004 2001 2002 2003 2004 Fev * 2,03 * 2,03 * 8,29 * 7,54 * 2,03 * 2,17 * 5,26 * 6,27 Abr *2,12 * 0,42 * 1,99 0,92 *1,86 * 0,63 * 3,09 * 1,24 Jun * 0,17 *0,34 * 0,82 * 1,15 * 0,29 * 0,44 * 0,58 * 1,91 Ago * 0,21 * 0,21 * 0,59 * 0,72 * 0,20 * 0,52 * 0,84 * 0,83 Out * 0,28 * 0,32 * 0,17 * 0,90 * 0,28 * 0,74 * 0,23 * 1,24 (*) Concentrações de alumínio acima do máximo permitido pela CONAMA 357/2005. 5
Tabela 5. Valores obtidos de alumínio (mg/l) para todos os pontos analisados em 2004. Período Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 4 Ponto 5 Ponto 6 Fev/04 * 7,54 * 11,0 * 12,0 * 12,1 * 13,2 * 6,27 Abr/04 * 0,92 * 0,73 * 0,69 * 0,96 * 1,02 * 1,24 Jun/04 * 1,15 * 1,52 * 1,54 * 1,65 * 1,91 * 1,91 Ago/04 * 0, 72 * 0,48 * 0,47 * 0,48 * 0,60 * 0,83 Out/04 * 0,90 * 1,60 * 2,11 * 2,39 * 3,01 * 1,24 (*) Concentrações de alumínio acima do máximo permitido pela CONAMA 357/2005. Conforme observado nas Tabelas 4 e 5, a concentração de alumínio excedeu em todas as amostragens o valor máximo estabelecido pela Resolução CONAMA 357/2005. Na Tabela 4, as maiores concentrações ocorreram nos meses de fevereiro, principalmente nos anos de 2003 e 2004, indicando a probabilidade de ter ocorrido carreamento de solo durante o período de intensas chuvas. Por outro lado, as menores concentrações, ainda acima do padrão, foram observadas em junho, agosto e outubro, tipicamente um período de estiagem. Não houve nenhuma tendência clara quanto à variação anual na concentração, entre a entrada e a saída do trecho do rio Pardo analisado. Do mesmo modo que ocorre no ferro, o latossolo roxo apresenta uma grande quantidade de alumínio (média de 34025 mg/kg), conforme citado no Relatório de Estabelecimentos de Valores Orientadores para Solo e Águas Subterrâneas (CETESB, 2001). Na Tabela 5.51, observa-se que não ocorreram grandes variações na concentração de alumínio ao longo do trecho avaliado, o que caracteriza a inexistência de uma fonte pontual de introdução de alumínio no rio. Os valores encontrados neste trabalho estão acima do padrão estabelecido pela Resolução CONAMA 357/2005 para rios classe 2. No entanto, nota-se que esta situação é também decorrente de uma introdução natural de alumínio através do carreamento do solo para o rio, inexistindo uma fonte pontual específica de origem industrial ou doméstica. Similarmente ao ocorrido com o ferro, nenhuma medida legal pode ser tomada pelos órgãos fiscalizadores. Nas Tabelas 6 e 7 são mostrados respectivamente os valores obtidos de coliformes termotolerantes para o período de 2001 a 2004 nos pontos 1 e 6 e para o ano de 2004 em todos os pontos amostrados de 1 a 6. O limite máximo estabelecido pela Resolução CONAMA 357/2005 é de 1000 NMP/100 ml de coliformes termotolerantes para rios de classe 2. Tabela 6. Valores obtidos de coliformes termotolerantes (NMP/100mL) em consulta à CETESB no período de 2001 a 2004 para os pontos 1 e 6. REGATAS - Ponto 1 PONTAL/CÂNDIA - Ponto 2 Período 2001 2002 2003 2004 2001 2002 2003 2004 Fev * 8000 * 3000 * 13000 * 1100 * 90000 * 5000 * 13000 * 4900 Abr * 3000 * 3000 300 * 4900 * 17000 * 11000 * 8000 * 33000 Jun * 8000 * 8000 * 1700 700 * 23000 *17000 * 8000 * 2300 Ago 350 - * 1700 * 3300 * 1100 * 30000 250 * 4900 Out * 8000 * 80000 * 3000 790 * 3000 * 23000 * 1700000 * 7900 (*) Concentrações de coliforme termotolerantes acima do máximo permitido pelo CONAMA 357/2005. Tabela 7. Valores obtidos de coliformes termotolerantes (NMP/100 ml) para todos os pontos analisados em 2004. Período Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 4 Ponto 5 Ponto 6 Fev/04 * 1100 * 2300 * 1300 * 1700 * 1300 * 4900 Abr/04 * 4900 * 4900 * 7000 * 11000 * 3300 * 33000 Jun/04 700 * 1300 * 1300 * 4900 * 1700 * 2300 Ago/04 * 3300 130 * 7900 * 7900 * 4600 * 4900 Out/04 790 * 1700 * 17000 * 13000 * 7900 * 7900 6
(*) Concentrações de coliformes termotolerantes acima do máximo permitido pela CONAMA 357/2005. As bactérias do grupo coliforme são consideradas as principais indicadoras de contaminação fecal. O grupo coliforme é formado por um número de bactérias que inclui os gêneros Klebsiella, Escherichia, Serratia, Erwenia e Enterobactéria. Todas as bactérias são gran-negativas manchadas, de hastes não esporuladas que estão associadas com as fezes de animais de sangue quente e com o solo. As bactérias coliformes termotolerantes reproduzem-se ativamente a 44,5ºC e são capazes de fermentar o açúcar. O uso das bactérias coliformes termotolerantes para indicar poluição sanitária mostra-se mais significativo que o uso da bactéria coliforme total, porque as bactérias fecais estão restritas ao trato intestinal de animais de sangue quente. Pelas Tabelas 6 e 7, observa-se que em praticamente todos os períodos analisados, os valores de coliformes ficaram acima do limite estabelecido pelo CONAMA 357/2005. Os elevados valores são provenientes dos esgotos gerados principalmente no município de Ribeirão Preto. Entretanto, a Tabela 6 mostra que no início do trecho (ponto 1) já existe um alto valor de coliformes, pelo fato do local estar à jusante do ponto de lançamento de efluentes tratados pela Estação Caiçara, além da ocorrência de contribuições à montante de vários municípios que lançam seus esgotos em afluentes do Rio Pardo. Existe também a contribuição do córrego do matadouro, que é afluente do lado direito do rio Pardo entre os pontos 1 e 2, que transporta todo o esgoto sanitário do município de Jardinópolis, e a contribuição do esgoto gerado em Cruz das posses, entre os pontos 2 e 3. Por outro lado, a Tabela 7 nos mostra que no ponto 6 os valores continuam elevados devido à contribuição recebida pelo rio Pardo do afluente ribeirão Preto que transporta em suas águas parte dos esgotos não tratados e os esgotos já tratados. O sistema de tratamento da ETE é biológico de nível secundário. Não tem como rotina a etapa de desinfecção para remoção de coliformes. É compreensível, desta forma, que com todas essas contribuições dos afluentes do rio Pardo, a concentração de bactérias termotolerantes esteja alto no trecho em estudo. Entretanto, existem processos de desinfecção para redução da presença de microorganismos patogênicos, podendo ser físicos por radiação UV (ultravioleta) ou químico com uso de cloro e seus derivados. Os processos de radiação são eficientes, não deixam resíduos, porém têm custo elevado. Já os processos que utilizam o cloro formam subprodutos indesejáveis. O cloro, quando em contato com a matéria orgânica, pode causar a formação de compostos orgânicos halogenados, tais como: trialometanos, ácidos haloacéticos, clorohidrato, haloaldeídos e haloacetonitrilas. Os trialometanos têm sido associados a vários problemas de saúde, inclusive câncer. Caso seja necessária a captação de água do rio Pardo para abastecimento, recomenda-se que após tratamento seja aplicado o cloro para desinfecção, atingindo assim os padrões determinados pela Portaria 518 do Ministério da Saúde. Outro parâmetro que mostrou índices alterados nas análises foi o fósforo, que aparece em águas naturais devido principalmente às descargas de esgotos sanitários, bem como proveniente de fertilizantes, pesticidas, química em geral, conservas alimentícias, abatedouros, frigoríficos e laticínios, apresentam fósforo em quantidades excessivas. A presença de fósforo no meio aquático também pode ser proveniente da intemperização de rochas e também de processos de erosão de solos agrícolas, como é o caso do rio Pardo, já que o uso de fertilizantes é muito comum em suas áreas circunvizinhas. Um dos fertilizantes mais usados que contém fósforo é o monoamônio-fosfato (MAP). Os valores de concentração obtidos no período de 2001 a 2004 para os pontos 1 e 6 (média de 0,811 mg/l), e para o ano de 2004 para todos os pontos (média de 0,037 mg/l) foram considerados altos quando comparados com o valor máximo estabelecido pela Resolução CONAMA 357/2005 para rios classe 2, cujo valor é de 0,025 mg/l. As possíveis causas da presença de fósforo seriam o lançamento de esgotos no rio, em maior quantidade pelo município de Ribeirão Preto, e o carreamento de fertilizantes do solo, que é largamente utilizado no plantio da cana-de-açúcar. Porém a interpretação dos resultados indica também a ação de fontes pontuais nas extremidades do trecho analisado. Verificou-se, de modo geral, uma boa qualidade das águas do Rio Pardo ano de 2004 dentro do trecho analisado. O Quadro 1 resume a situação dos parâmetros de qualidade avaliados. 7
Quadro 1 Panorama geral da qualidade da água do rio Pardo no trecho analisado. Vazão Cádmio Nitritos Cor da água Chumbo Nitrogênio NKT Temperatura da água Mercúrio Zinco Oxigênio Dissolvido Cromo Total Níquel Demanda Química de Oxigênio Nitratos Manganês Demanda Bioquímica de Oxigênio Resíduo Total Cobre Condutividade Elétrica Potássio Ferro total Turbidez Sódio Alumínio ph Surfactantes Coliforme Termotolerante Resíduo filtrável Fenóis Fósforo Total Nitrogênio amoniacal Cloreto total Parâmetros dentro do padrão da Resolução CONAMA 357/2005 Parâmetros com problemas ocasionais Parâmetros com problemas freqüentes CONCLUSÕES O objetivo proposto neste trabalho foi avaliar a qualidade das águas do rio Pardo entre o Clube de Regatas de Ribeirão Preto e a Ponte da Rodovia Vicinal Pontal/Cândia/SP em uma extensão de 50 quilômetros, com coleta de amostras e análises de 33 parâmetros. Os resultados indicaram que de modo geral a água do rio Pardo no trecho avaliado encontra-se em boas condições de qualidade, atendendo em quase todos os parâmetros os padrões da Resolução CONAMA 357/2005. Os únicos parâmetros que apresentaram valores de concentração sistematicamente acima dos padrões estabelecidos pela legislação foram o alumínio, ferro, fósforo total e coliformes termotolerantes. A concentração do oxigênio dissolvido esteve dentro do padrão, indicando que após implantação das ETEs no município de Ribeirão Preto ocorreu uma melhora no trecho inicial logo após o recebimento do ribeirão Preto, afluente que recebe os efluentes em parte tratados e parte ainda não tratados. Há necessidade de buscar uma maior eficiência por parte dos produtores rurais no uso adequado de fertilizantes e no manejo do solo, visto que parte do solo e de nutrientes são perdidos, o que implica em prejuízos econômicos e perda da qualidade da água do rio. É necessário que a Prefeitura de Ribeirão Preto conclua a implantação dos interceptores de esgotos, para que todo o esgotos domésticos gerados na bacia do ribeirão Preto, seja encaminhado para a ETE, contribuindo desta forma para melhorar ainda mais a qualidade das águas do rio Pardo, fonte futura de captação de água para abastecimento humano REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. CONAMA CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução CONAMA nº 357/2005 (Publicado eletronicamente e acessível como: www.conama.gov.br/conama). Acessado em 20/04/2005. 2. CETESB. Relatório de estabelecimento de Valores Orientadores para Solos e Águas Subterrâneas no Estado de São Paulo. 2001. Dorothy C. P. Casarini et al. São Paulo: Cetesb. 2001, pg 48. 3. INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO IPT. 2000. Relatório Zero - Diagnóstico da situação atual dos recursos hídricos e estabelecimento de diretrizes técnicas para a elaboração do Plano de Bacia Hidrográfica do Rio Pardo. São Paulo: CBH-PARDO/FEHIDRO (IPT. Relatório, 40.670). 4. APHA AMERICAN PUBLIC HELT ASSOCIATION. Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater. 20ª ed. Washington, 1998.6. MALAVOLTA, E. Sobre a utilização agrícola do resíduo de cinza de caldeira, CNA-Centro de Energia Nuclear na Agricultura, USP, In: Parecer para Cargill Citrus Ltda, Piracicaba, 2001, 17 p. 8