COMPORTAMENTO DE CORPOS HÍDRICOS NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DO MUNICÍPIO DE PALMAS TO, VERIFICANDO O EFEITO DA SAZONALIDADE Liliana Pena Naval (*) Doutorada pela Universidad Complutense de Madrid em Engenharia Química, professora Adjunta do Curso de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Tocantins Brasil. Fued Abrão Junior Universidade Federal do Tocantins - UFT Endereço: (*) Arse 12; QI 48; Lt. 11; Al. 19. CEP:77.- - Palmas TO - Brasil. Tel: (63) 218-818 Fax: (55)-63-218 822 e-mail: liliana@uft.edu.br RESUMO A sazonalidade influência no comportamento dos corpos hídricos. Neste contexto, a perturbação causada pela ação antrópica no meio natural tende a sofrer variações em sua intensidade de acordo com a estação climática. Palmas, capital do Tocantins possui diferentes sistemas aquáticos margeando e/ou cortando total ou parcialmente seu plano diretor. A região em que a Capital está localizada apresenta duas estações bem definas, uma chuvosa e uma outra seca. Tendo em vista esta distinção torna-se necessário o conhecimento do comportamento dos seus mananciais com o intuito de garantir uma melhor gestão dos mesmos. O presente trabalho objetivou monitorar o comportamento sazonal de corpos d água que recebem a influencia da cidade de Palmas TO., por meio da analise de parâmetros físico-químicos adrede selecionados que permitissem constatar a ocorrência ou não do carreamento de sedimentos das áreas adjacentes. Os dados obtidos demonstraram significativo aumento nas concentrações de sólidos totais, sólidos totais dissolvidos, nutrientes e diminuição da transparência na maioria dos pontos amostrados. A partir de tais constatações foi possível concluir que a sazonalidade, como era de se esperar, vem influenciando diretamente no comportamento dos corpos hídricos da cidade de Palmas, porém devido a grande variação em alguns dos valores encontrados, supõe-se que vem ocorrendo à degradação da vegetação riparia e a ocupação desordenada das áreas adjacentes na maior parte dos sistemas aquáticos amostrados. PALAVRAS-CHAVE: Sazonalidade; Corpos d Água; Comportamento. 1. INTRODUÇÃO Tucci (22), relata que o desenvolvimento urbano brasileiro tem produzido aumento significativo na freqüência das inundações, na produção de sedimentos e na deterioração da qualidade da água. Isso se dá, em grande parte, devido à supressão da vegetação, compactação e impermeabilização do solo nas encostas, pois a água das chuvas ao encontrar uma superfície nestas condições não consegue infiltrar e escorre superficialmente levando consigo camadas do solo e diferentes tipos de poluentes possivelmente presentes, os quais serão carreados e depositados nos corpos d água adjacentes. Em geral, este carreamento é provocado pela erosão superficial por água e traz conseqüências negativas aos corpos hídricos, tais como: aumento dos sedimentos em suspensão, aumento da taxa de sedimentação, aumento do material dissolvido, aumento da carga de fundo e aumento do material orgânico. Estes por sua vez, serão responsáveis pela mudança no regime hidráulico e na morfometria do corpo hídrico, diminuição da radiação solar nas camadas mais profundas, diminuição do oxigênio dissolvido, prejuízos ao abastecimento industrial, domestico e a navegação e ainda poderão servir de substrato a microorganismos patogênicos. Palmas é banhada por corpos hídricos de natureza lêntica e lótica. A região em que a capital esta inserida possui valores médios de chuva que variam de 1.5 mm a 2. mm, aproximadamente. São observados dois períodos bem distintos; um chuvoso, de outubro a março, com 85% da precipitação anual, e outro, seco, de abril a setembro. A evaporação média anual varia de 1.1 a 1.7 mm e as temperaturas médias anuais variam de 26 a 27 ºC (THEMAG, 1996).
A insolação média anual varia em torno de 2.4 horas (media de 6,6 horas/dia de brilho solar, o mês de julho apresenta máxima insolação, com valores mensais em torno de 32 horas (média de 1,3 horas/dia). O mês de janeiro, período de intensa atividade chuvosa, o valor médio é da ordem de 15 horas (4,8 horas/dias). (THEMAG op.cit). A vegetação predominante na área de inserção do Município é representada por três regiões fitofisionomicas: Savana Arbórea, Savana Arbórea Densa (Cerradao) e Savana Parque (RADAMBRASIL, 1981). A Geomorfologia é composta por duas unidades geomorfológicas muito diferentes: Depressão e o Planalto Residual do Tocantins (RADAMBRASIL 1981; Ranzani, 22). Em relação às classes solos encontrados na região, Ranzani (22) lista as seguintes: Latossolos representados por solos muito profundos, bem drenados, muito permeáveis e porosos, em avançado estagio de intemperização; Neossolos solos com ausência do horizonte B; Plintossolo - compreendem solos com restrição á percolação da água; Cambissolos - solos constituídos de material mineral; Gleissolo solos permanentemente ou periodicamente saturado com água, ou artificialmente drenado. Como antes colocado, o desmatamento e a ocupação das encostas dos corpos hídricos provocam a deterioração da qualidade da água e o aumento da produção de sedimentos, sendo que este último é fortemente influenciado pela ação das chuvas. Tendo em vista a grande distinção entre as duas estações climáticas, com intenso aumento da precipitação durante o período chuvoso é de fundamental importância o conhecimento do comportamento dos corpos d água a fim de se garantir uma gestão adequada preservação e manutenção destes mananciais. Neste contexto, o presente trabalho teve como objetivo estudar o comportamento sazonal de corpos d água que recebem a influencia da cidade de Palmas TO., por meio da analise de parâmetros físico-químicos que permitissem constatar a ocorrência ou não do carreamento de sedimentos das áreas adjacentes. 2. MATERIAIS E MÉTODOS Os estudos foram desenvolvidos em áreas representativas de diferentes corpos d água que sofrem a influencia da cidade em questão. As amostragens foram realizadas no período de janeiro a agosto de 23 tendo periodicidade mensal. Para a realização das coletas seguiram-se as recomendações da CETESB (1987). As determinações dos parâmetros analisados; oxigênio dissolvido, transparência, turbidez, sólidos totais e sólidos totais dissolvidos, seguiram os métodos descritos no Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater 2ª edição (AWWA/APHA/WEF, 1998). As coordenadas geográficas de cada ponto amostral e o corpos hídricos que elas correspondem, estão indicadas na tabela 3. Tabela 2: Parâmetros físico-químicos analisados. Parâmetro Técnica TDS Leitura direta Sólidos Totais Seco a 13 15ºC/Balança analítica e forno de secagem. Turbidez Leitura direta, Turbidímetro Transparência Disco de Secchi Oxigênio Leitura direta, Oxímetro DBO Frascos múltiplos Ortofosfato Amino Acid espectrofotômetro HACH, modelo DR- 4 U Nitrato Nessler espectrofotômetro HACH, modelo DR- 4 U Condutividade Leitura direta, Condutivímetro ph Leitura direta
Tabela 2 Localização geográfica dos pontos amostrais. Nome Área de Referência Coordenadas Geográficas Longitude Latitude LP1 Ribeirão Taquaruçu -48 19' 31,89357'' -1 17' 16,76596'' LP2 Córrego Prata -48 22' 22,941'' -1 13' 23,385'' LP3 Reservatório Ponte / Praia da Graciosa -48 22' 2,4248'' -1 1' 59,55597'' LP4 Córrego Brejo Cumprido -48 21' 46,33929'' -1 1' 2,4286'' LP5 Córrego Água Fria -48 21' 4,98547'' -1 9' 17,1742'' 3. RESULTADOS Tabela 3 Concentrações obtidas para OD, transparência e sólidos totais. OD (mg/l) Transparência/Secchi ST (mg/l) (m) Estação Estação Estação Chuvosa Seca Chuvosa Seca Chuvosa Seca LP1 7,35 8,53,67 1,25 276 96 LP2 5,4 6,63,86,89 156 72 LP3 6,1 6,95,8,87 8,46 66,66 LP4 6,58 7,66,76,56 21,33 213,33 LP5 7,41 7,34,58,97 126,66 149,33 As concentrações de oxigênio dissolvido apresentaram um leve aumento durante o período seco podendo esta ter sido ocasionada pela produtividade fotossintética e pela turbulência provocada pelos fortes ventos que acompanham esse período. A transparência da água, em geral, apresentou os maiores índices durante a estiagem. Em relação à concentração de sólidos totais, os pontos LP1 e LP2 apresentaram significativo aumento na estação chuvosa enquanto que o ponto LP3 este aumento também ocorreu, porém em menores valores. Isso leva a constatação que ambos sistemas sofreram influencia do carreamento de sedimentos das áreas marginais. Os pontos LP4 e LP5 indicaram menor variação o que leva a supor que os mesmos apresentam encosta melhor preservadas e menor ocupação das áreas adjacentes. 1 8 6 4 2 Turbidez - chuvoso Turbidez - seco TDS - chuvoso TDS - seco Figura 1 Valores médios de TDS e turbidez Conforme explicitado na figura 1, as concentrações de sólidos totais dissolvidos (TDS) foram significativamente maiores em todos os pontos durante o período chuvoso, indicando o carreamento de sedimentos em função do possível desmatamento das encostas e da ocupação desordenada do solo.
A turbidez apresentou maior variação no ponto LP1 enquanto que nos demais pontos as concentrações, em ambos períodos climáticos, foram relativamente semelhantes.,1,8,6,4,2 3 2,5 2 1,5 1,5 Ortofosfato - Chuvoso Nitrato - Chuvoso Ortofosfato - Seco Nitrato - Seco Figura 2 Valores médios de ortofosfato (PO 3-4) e o nitrato (NO - 3) O ortofosfato (PO 3-4) e o nitrato (NO - 3) são diretamente disponíveis para o metabolismo biológico, sem necessidade de conversões as formas mais simples. A resolução CONAMA nº2/86 limita respectivamente, para corpos d água classe 2, as concentrações de,25 mg/l e 1 mg/l. Os dados obtidos para estes dois parâmetros foram, conforme figura 2, maiores durante o período chuvoso em mais da metade dos pontos amostrados. Sendo que os pontos LP1 (Ribeirão Taquaruçu) e LP2 (Córrego Prata) apresentaram os maiores valores. 2 1,5 1,5 Chuvoso Seco Figura 3 Valores médios de DBO A DBO representa a quantidade de oxigênio do meio que é consumida pela respiração aeróbia, na oxidação da matéria orgânica existente no meio. Os valores de DBO encontrados (figura 3) se mostram maiores durante o período seco, a exceção foi o ponto LP2 o qual apresentou maior concentração no período chuvoso. Deve-se considerar que o aumento no volume das águas tende a promover a diluição da matéria orgânica o que conseqüentemente influencia o consumo de oxigênio.
Concentração (µs/cm) 7 6 5 4 3 2 1 Seco Chuvoso Figura 4 Valores de condutividade elétrica A condutividade representa a propriedade de conduzir corrente elétrica apresentada por um sistema aquoso contendo íons. Os valore obtidos para o parâmetro condutividade (figura 4) apresentaram pouca variação em relação às estações climáticas. O ph variou de 7,3 (LP3) a 7,43 (LP1) durante a estação chuvosa e de 7, (LP4) a 7,24 (LP1) no período de estiagem. 4. CONCLUSÃO Foi observado que os corpos d água que banham a cidade de Palmas, em especial aqueles relacionados aos pontos LP1 e LP2, vem sendo influenciados de forma significativa pela sazonalidade uma vez que os parâmetros analisados apresentaram grandes variações entre o período seco e chuvoso. Isso pôde ser constatado por meio do aumento nas concentrações dos parâmetros; sólidos totais, sólidos totais dissolvidos, nutrientes (PO 3-4 e NO - 3) turbidez e diminuição da transparência durante a estação chuvosa. A partir de tal constatação, conclui-se que possivelmente em função do mal estado de preservação das encostas dos corpos d água monitorados e das atividades antrópicas desenvolvidas nestas áreas, vêm ocorrendo o carreamento de sedimentos provenientes das áreas adjacentes. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AWWA/APHA/WEF. (1998) Standard methods for the examination of water and wastewater, 2 th edition. Washington. CETESB. (1987) Guia de coleta e preservação de amostras de água. 1 ed. São Paulo. CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente (1986). Resolução CONAMA nº 2, de 18 de junho de 1986. RADAMBRASIL (1981) Programa de Desenvolvimento Nacional. Levantamento de Recursos Naturais. Vol.22. RANZANI, Guido. (22) Solos e Aptidão agrícola das terras do município de Palmas Tocantins. Palmas: UNITINS. THEMAG Engenharia e Consultoria LTDA. & CELTINS Centrais Elétricas do Estado do Tocantins. (1996) UHE Lajeado Relatório de Impacto sobre o meio ambiente.
TUCCI, Carlos E. M.; BRAGA, B.; PORTO, M. (22) Monitoramento de Quantidade e Qualidade das Águas. In: REBOUÇAS, Aldo da C.; BRAGA, B.; TUNDISI, J.G. (Organizadores). Águas Doces no Brasil Capital Ecológico, Uso e Conservação. 2. ed. São Paulo: Escrituras.