Evidências científicas no terceiro setor Follow-up Dianova Portugal

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Transcrição:

Evidências científicas no terceiro setor Follow-up Dianova Portugal Resumo Para que servem as evidências científicas no terceiro setor? O presente artigo procura responder a esta questão central a partir de uma argumentação sustentada num estudo de follow-up realizado na comunidade terapêutica Quinta das Lapas da Associação Dianova, Portugal. O estudo das trajetórias de integração de ex-dependentes após processo terapêutico realizado naquela comunidade entre 1999 e 2009, permitiu identificar alguns aspetos críticos no processo de reinserção social. São estes aspetos que aqui discutimos, defendendo que desta análise e discussão devem resultar mudanças com impacto ao nível da melhoria dos serviços de tratamento e reinserção, mas também ao nível das políticas públicas relacionadas. Contribuindo, deste modo, para uma reintegração social mais eficaz de pessoas em situação de vulnerabilidade e, em consequência, para a promoção da coesão social. Palavras-chave: reintegração; evidências científicas; melhoria dos serviços Introdução Trajetórias, da dependência à integração - estudo de trajetórias sociais de toxicodependentes após processo terapêutico foi um projeto de investigação desenvolvido no âmbito do CIES-IUL e financiado pela FCT (PTDC/CS- SOC/099684/2008). Este estudo assumiu-se como um contributo para compreender e explicar a complexa realidade da reintegração social de dependentes de drogas, após a passagem por um processo de desintoxicação e tratamento numa comunidade terapêutica. Para tal, estudamos os utentes da comunidade terapêutica Quinta das Lapas, da Associação Dianova, Portugal, que haviam completado o processo terapêutico entre 1999 e 2009. Após uma análise prévia dos processos de admissão de todos os ex-utentes com processo terapêutico concluído, foi elaborado um inquérito por questionário, aplicado telefonicamente a todos os que possuíam ainda contacto válido e aceitaram participar, num total de 63. Neste artigo apresentamos e discutimos os resultados questionário, destacando os dados que remetem para as dificuldades sentidas por estes sujeitos, ex- 1

utentes da comunidade terapêutica referida, durante a sua reintegração, bem como a existência de alguns fatores associados a essas dificuldades. Follow-up Dianova dificuldades de reintegração O inquérito por questionário aos ex-utentes da comunidade terapêutica Quinta das Lapas da Associação Dianova, Portugal com processo terapêutico concluído entre 1999 e 2009, foi aplicado entre 20 de setembro de 2010 e 20 fevereiro 2011 (N=63). Na sua estrutura, este questionário contempla um bloco de questões referentes às dificuldades de reintegração que são agora analisadas e discutidas com maior destaque. Concretizando, o questionário permitiu identificar dificuldades de sociabilidade, isto é, de se relacionar socialmente com outras pessoas ou, num campo mais pessoal, dificuldades em criar novas amizades; dificuldades de integração no mercado trabalho; e ainda dificuldades de ordem financeira. No sentido inverso, era também possível identificar situações em que não se tinham sentido qualquer tipo de dificuldades. As medidas descritivas desses indicadores encontra-se na Tabela 1. Destacamos o facto de a situação mais frequente ser a declaração de que não tinha sido experienciada qualquer tipo de dificuldade. A segunda situação mais frequente foi a dificuldade em desenvolver relações interpessoais. Com pesos residuais, emergem as dificuldades em desenvolver novas amizades, em conseguir emprego e as dificuldades de ordem financeira. Tabela 1: Dificuldades de reintegração N % Relações interpessoais 11 17,5 Criar novas amizades 3 4,8 Conseguir emprego 5 7,9 Financeiras 4 6,3 Nenhumas 17 27,0 Nota: possibilidade de respostas múltiplas, com a exceção do item nenhumas, que implicava resposta exclusiva Posteriormente, pretendeu-se conhecer quais os fatores que estariam associados a estas dificuldades sentidas no processo de reintegração. Para tal, foi corrida de forma exploratória, uma matriz de correlações. Uma vez que os itens criar novas amizades, conseguir emprego e dificuldades financeiras foram respondidos por um número muito reduzido de participantes, não foram contemplados na análise de correlação. Nesta análise formam consideradas todas as variáveis disponíveis na base de dados. As correlações significativas apresentam-se na tabela 2. 2

Um primeiro bloco diz respeito a duas variáveis relacionadas com o mercado de trabalho: a passagem por situações de desemprego após o tratamento, a duração desses períodos de desemprego. Um segundo bloco diz respeito a fatores de avaliação do tratamento. O argumento que se propõe, é que grande parte da avaliação que os sujeitos fazem do tratamento depende das dificuldades experienciadas e que a montante dessas dificuldades existem outros fatores importantes de explorar. Tendo em conta que, para além da avaliação do tratamento os dois únicos fatores relevantes foram os relacionados com o mercado de trabalho e que, o número de respondentes a declarar ter tido dificuldades é muito menor. Tal obriga a que respostas mais subjetivas sejam analisadas com alguma precaução e que sejam, sempre que possíveis validadas com indicadores mais objetivos. Tabela 2: Matriz de correlações Relações interpessoais Nenhuma dificuldade Desemprego após o tratamento -0,092 0,232(*) Duração dos períodos de desemprego,364(**) -0,100 Avaliação - desempenho dos técnicos -,358(**) 0,186 Avaliação - resultados do tratamento -0,171,288(**) Avaliação - funcionamento geral da instituição -,489(***) 0,103 Avaliação - apoio à reinserção após a saída da comunidade -,281(**) 0,164 * p 0,1, ** p 0,05, *** p 0,01 Após a análise exploratória da matriz de correlações, uma análise bivariada permite perceber mais claramente o sentido das relações encontradas. A figura 1 permite verificar que as dificuldades sentidas nas relações interpessoais se encontram relacionadas com períodos de desemprego médios de 30 meses. Enquanto os inquiridos que declararam não terem sentido dificuldades em relacionarem-se com as outras pessoas estiveram em média 12 meses desempregados. Figura 1: Duração média dos períodos de desemprego de acordo com as dificuldades de relacionamento interpessoal 3

35 30 25 20 15 10 5 0 Não sentiu dificuldades nas relações interpessoais Sentiu dificuldades nas relações interpessoais Um segundo nível de análise permite verificar que as dificuldades sentidas nas relações interpessoais parecem ter impacto na avaliação do tratamento que é feita pelos exutentes (figura 2). Neste sentido, é evidente que o primeiro grupo, os que declaram não terem sentido dificuldades nas relações interpessoais, a avaliação é claramente superior. Dito de outro modo, a perceção de satisfação global com o tratamento é mais elevada no grupo dos sujeitos que referem não ter tido dificuldades nas relações interpessoais do que no grupo dos sujeitos que referem dificuldades a esse nível. Aqui interessa explorar no futuro se estas dificuldades de relacionamento se encontram a montante ou a jusante do tratamento. 4

Figura 2: Avaliação do tratamento de acordo com dificuldades de relacionamento interpessoal, % 100 90 80 70 60 50 Muito satisfeito Satisfeito Indiferente Insatisfeito Muito insatisfeito 40 30 20 10 0 Desempenho dos técnicos Funcionamento geral da instituição Apoio à reinserção após a saída da comunidade Não sentiu dificuldades nas relações interpessoais Desempenho dos técnicos Funcionamento geral da instituição Apoio à reinserção após a saída da comunidade Sentiu dificuldades nas relações interpessoais De seguida, analisamos os fatores relacionados com a ausência de dificuldades. De todos as variáveis existentes na base de dados, a existência de períodos de desemprego foi a única com uma correlação significativa com este indicador. Tal revela a centralidade da acessibilidade ao mercado de trabalho para uma autoavaliação positiva em termos de dificuldades de reintegração. Figura 3: Ausência de dificuldades no processo de reintegração e existência de períodos de desemprego após alta clínica, % 5

100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Passou por períodos de desemprego Não teve qualquer tipo de dificuldades Não passou por períodos de desemprego Teve algumas dificuldades Por fim, analisa-se o impacto que esta ausência de dificuldades tem na avaliação que os sujeitos fazem do tratamento. Embora a tendência geral de ambos os grupos seja para avaliarem positivamente o tratamento, é no grupo que declara não ter tido qualquer tipo de dificuldades que essa avaliação é mais satisfatória. Verificamos a partir destes dados que a avaliação que os sujeitos fazem do tratamento depende em grande medida do modo como decorre o seu processo de reintegração, sendo a integração no mercado de trabalho um fator importante para determinar as opiniões formadas a jusante. De futuro poderá ser interessante explorar um modelo de mediação em que a avaliação depende das dificuldades manifestadas, mas tendo como mediador situações mais concertas como o desemprego ou o tempo de desemprego. Figura 4: Avaliação geral do tratamento de acordo com a experiência de dificuldades 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Teve algum tipo de dificuldades Não sentiu qualquer tipo de dificuldades Muito satisfeito Satisfeito Indiferente Insatisfeito Muito insatisfeito 6

Conclusão Em conclusão, consideramos que os resultados apresentados e discutidos neste artigo permitem ilustrar a importância das evidências científicas no terceiro setor. Na medida em que nos permite desocultar aspetos críticos do processo de reintegração de extoxicodependentes após conclusão do processo terapêutico, a síntese da investigação aqui apresentada pretende evidenciar que a atenção a esses aspetos terá impactos positivos nas práticas de reinserção, nos serviços no âmbito dos quais essas práticas são desenvolvidas e até nas políticas públicas que enquadram tais serviços e práticas. A eficácia dos serviços e práticas do terceiro setor beneficia, deste modo, dos resultados da realização de investigação e de uma discussão ampla e, sempre que possível, comparada dos seus resultados. As pressões que cada vez mais se fazem sentir sobre os financiamentos públicos (e outros) aumentam a necessidade de garantir a sua aplicação rigorosa e eficaz. Já em 2010 o Relatório Anual do OEDT alertava para o facto dos serviços prestados no âmbito das dependências estarem cada vez mais ameaçados por cortes orçamentais, com grande impacto nas comunidades (onde se incluem ex-consumidores, profissionais, sociedade civil ). Ou seja, somos confrontados com um momento paradoxal em que medidas de austeridade causam cortes na oferta de respostas eficazes precisamente na altura em que a sua necessidade parece aumentar e ganhar visibilidade. Este estudo e outros têm vindo a demonstrar intervenções compensadoras do ponto de vista económico, na medida em que tendem a reduzir a despesa com os problemas associados ao abuso de substâncias psicoativas a nível social, de saúde, criminal Sobretudo em momentos de contensão económica é particularmente importante garantir que a despesa é direcionada para intervenções de eficácia comprovada este é um problema que tem afetado persistentemente o terceiro setor. Neste sentido, o desenvolvimento de abordagens exigentes e a adoção de estratégias inovadoras e adequadas beneficia se decorrer de abordagens comprovadamente eficazes, porque não existem respostas únicas ou possíveis de standardização (OEDT, 2015). Referências Henriques, Susana; Pedro Candeias (2015). Socio-demographic characteristics and consumption patterns of drug users syntesis of outcome research at a TC for a 10 year range, Therapeutic Communities the International Journal of Therapeutic Communities, The Consortium for Therapeutic Communities, Volume 36 (2) 50-61 (ISSN 0964-1866) http://www.emeraldinsight.com/doi/abs/10.1108/tc-03-2014-0013. 7

Henriques, Susana; Pedro Candeias (2015). Preditores à taxa de resposta em estudos de follow-up a consumidores de drogas: uma meta-análise. CIES e-wp Nº 199/2015. (ISSN: 1647-0893) - http://cies.iscte.pt/np4/?newsid=453&filename=cies_wp199_candeias_henriques.pdf Henriques, Susana; Pedro Candeias (2014). Trajetórias de integração social de dependentes estratégias e políticas, In Atas do VIII Congresso Português de Sociologia. 40 Anos de Democracia(s): Progressos, contradições e Prospetivas. 14-16 de abril. Évora, Universidade de Évora (ISBN: 978-989-97981-2-0) http://www.aps.pt/viii_congresso/actas.php?area=actas&m=1&lg=pt Henriques, Susana; Pedro Candeias; Rui Martins (2013), Trajectories, from addiction to reintegration a ten years follow up study, In Rowdy Yates; Petr Nevsimal (Eds), 14 th Conference of EFTC on Rehabilitation and Drug Policy, Prague, Galén, p.35 (ISBN: 978-80-7492-070-7). Henriques, Susana; Pedro Candeias; Rui Martins (2013). Recuperação & Reintegração três etapas na análise da reinserção social de ex-toxicodependentes após processo terapêutico. In Manuel Pinto Coelho; Filipa Coelhoso (Orgs.), I Congresso Internacional do ISCE sobre Drogas e Dependências Recuperar é possível, Mangualde: Edições Pegaso / ISCE, 117-136. OEDT Observatório Anula da Droga e da Toxicodependência (2015). Relatório Anual 2015: Tendências e evoluções, Luxemburgo: Serviço das Publicações da União Europeia. OEDT Observatório Anula da Droga e da Toxicodependência (2010). Relatório Anual 2010: a evolução do fenómeno da droga na Europa, Luxemburgo: Serviço das Publicações da União Europeia. Notas Biográficas: Pedro Candeias Licenciado e Mestre em Sociologia pelo ISCTE-IUL. Doutorando em Sociologia no ICS/Universidade de Lisboa, com bolsa atribuída pela FCT. Foi, entre 2010 e 2013, bolseiro do projeto Trajectórias, da dependência à reintegração. Susana Henriques Doutorada em Sociologia, professora auxiliar da Universidade Aberta e investigadora no Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES-IUL) e na plataforma de investigação Unidade móvel de Investigação em Estudos do Local (ELO). Tem estado envolvida em diversos projetos de investigação no domínio das substâncias psicoativas. Tem apresentado comunicações em eventos de caráter científico e tem várias publicações nesta área. 8