ROBERTO A. REIS - Advogado

Documentos relacionados
DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR

Pós Penal e Processo Penal. Legale

INQUÉRITO POLICIAL. Art. 4º ao 23 do CPP

PERSECUÇÃO PENAL INVESTIGAÇÃO CRIMINAL ACUSAÇÃO CRIMINAL

Improbidade Administrativa Guilherme Kronemberg Hartmann

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Pós Penal e Processo Penal. Legale

INQUÉRITO POLICIAL E SISTEMAS DE INVESTIGAÇÃO PRELIMINAR

Conteúdo: Inviolabilidades Constitucionais: Inviolabilidade do Domicílio; Inquérito Policial: Conceito; Natureza Jurídica; Características.

Pós Penal e Processo Penal. Legale

Breves considerações sobre as recentes alterações do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil. César Dario Mariano da Silva Promotor de Justiça - SP

DIREITO CONSTITUCIONAL

É ca c r a ac a t c e t r e iz i ad a o p l e a l co c n o c n e c n e t n r t aç a ã ç o d po p d o e d r e na n s

APROVA CONCURSOS. Prof. Wisley. PC SP Polícia Civil do Estado de São Paulo/Investigador. Aulas 01 e 02 Direito Processual Penal INQUÉRITO POLICIAL

Aula 02. Turma e Ano: Processo Penal Jurisprudência / 2016 Matéria / Aula: Jurisprudência / 02 Professor: Elisa Pittaro Monitor: Lívia Dias Bria

OBRA: GUILHERME DE SOUZA NUCCI-MANUAL DE PROCESSO PENAL E EXECUÇÃO PENAL EDITORA RT OBRA: EUGÊNIO PACELLI DE OLIVEIRA CURSO DE PROCESSO PENAL EDITORA

Legislação Específica

Professor Sandro Caldeira Inquérito Policial

DIREITO CONSTITUCIONAL

PRINCÍPIOS PROCESSUAIS PENAIS SISTEMAS PROC PENAIS e LEI PROC PENAL. Profª. Karem Ferreira Facebook: Karem Ferreira OAB

MARATONA EOAB XXVII EXAME. PROCESSO

DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA DIA 04/05/2015. Docente: TIAGO CLEMENTE SOUZA

SENADO FEDERAL. PROJETO DE LEI DA CÂMARA Nº 72, DE 2018 (nº 5.791/2016, na Câmara dos Deputados)

Professor Sandro Caldeira Inquérito Policial

Direito. Processual Penal. Inquérito Policial

D E C I S Ã O. denominada Operação Rosa dos Ventos, indeferiu os pedidos de deslocamento do paciente até o escrito de advocacia de seus defensores.

O JUIZ SÉRGIO MORO DESAFIA ATÉ SÚMULA VINCULANTE!

Provas Juiz não pode proferir uma sentença condenatória somente com base nas provas coletadas na fase investigatória (art.

Continuação - aula princípios

A ampla defesa no inquérito policial

Mini Simulado GRATUITO de Direito Processual Penal. TEMA: Diversos

CARÁTER SIGILOSO E "VALOR PROBANDI" DO INQUÉRITO POLICIAL

INQUÉRITO POLICIAL. Base legal: artigo 5º do Código de Processo Penal CPP: Cabe ressaltar que:

Direito. Processual Penal. Princípios

COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A PROFERIR PARECER AO PROJETO DE LEI Nº 4850, DE 2016, DO SR

XXIII EXAME DE ORDEM PROCESSO PENAL PROF CHRISTIANO GONZAGA

NOÇÕES INICIAIS NOÇÕES INICIAIS

BuscaLegis.ccj.ufsc.br

SESSÃO DA TARDE PENAL E PROCESSO PENAL PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO, AMPLA DEFESA E DEVIDO PROCESSO LEGAL. Prof. Rodrigo Capobianco

Inquérito Policial Esquematizado - PF

Professor Sandro Caldeira Inquérito Policial aula 02

INQUÉRITO POLICIAL EXERCÍCIOS LEGISLAÇÃO JURISPRUDÊNCIA

PRINCÍPIO = começo; ideia-síntese

BuscaLegis.ccj.ufsc.br

DIREITO PROCESSUAL PENAL PROF. CRISTIANE DAMASCENO 1ª FASE DO EXAME DA OAB


INQUÉRITO POLICIAL. Todos os testes possuem explicação sobre a resposta correta. a) O inquérito policial é a peça inicial da ação penal.

Direito processual penal Conceito e finalidade

Direito Processual Penal. Aula demonstrativa. Prof. Aurélio Casali

CONSULTA Nº /2014

DIREITO CONSTITUCIONAL

REINALDO ROSSANO LÉO MATOS INFORMÁTICA EXERCÍCIOS QUADRIX LINUX DIREITO PROCESSUAL PENAL

DIREITO PROCESSUAL PENAL

MPU Processo Penal Investigação Criminal Armando Júnior

Noções de Direito Processual Penal - PF Prof. RODRIGO DAMASCENO Aulas: 1 a 6

1. Sobre as medidas cautelares pessoais no processo penal, é correto afirmar que:

INQUÉRITO POLICIAL - V TERMO CIRCUNSTANCIADO - ARQUIVAMENTO

EXMO. SR. MINISTROHERMAN BENJAMIN DO E. TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL. Ação de Investigação Judicial Eleitoral nº

DIREITO AMBIENTAL. Tutela processual civil do meio ambiente e instrumentos extrajudiciais de proteção. Inquérito civil Parte 4


DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR

O exame da investigação pelo advogado, sob a ótica da Lei /2016

Sistema Probatório Brasileiro e a Atuação do Juiz no Processo Penal

Prof. Dr. Vander Ferreira de Andrade

Conselho da Justiça Federal

QUESTÕES. 11 O inquérito pode ser instaurado mediante requisição do Ministério Público.

SUMÁRIO. Manuais das Carreiras-Brene-Lepore-Manual Delegado Policia Civil-4ed.indb 9 23/05/ :52:28

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº, DE 2017

Excelentíssimo Senhor Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DA 13ª VARA FEDERAL CRIMINAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE CURITIBA-PR:

LEGISLAÇÃO DO MPE. Lei nº 8.625, de 12 de Fevereiro de 1993 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público) Parte 4. Prof.

CJEB - Curso Jurídico Prof.ª Elaine Borges Prática Penal

Direito Processual Penal

DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR

Pós Penal e Processo Penal. Legale

PROCESSO PENAL. Profª Priscila Souto

Aula 2: Inquérito Policial. Prof. Ma. Luane Lemos. São Luis,

CEM CADERNO DE EXERCÍCIOS MASTER. Direito Processual Penal. Período

Princípios do Processual Penal

EDUARDO FARIAS DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL

Mãe, Bacharel em Direito, Especialista em Direito Penal e Processo Penal, Advogada, Professora, Palestrante.

DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR Ação Penal Militar

26/08/2012 PROCESSO PENAL I. PROCESSO PENAL I Relação com os outros ramos do direito

Professor Wisley Aula 03

SUMÁRIO A ǧ.! A A ǧ

QUESTIONÁRIO DE REFERÊNCIA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS FACULDADE DE DIREITO

CURSO DE GESTÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA E PRIVADA CADERNO DE QUESTÕES INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL

CPI PODERES DE INVESTIGAÇÃO

PROCESSO ADMINISTRATIVO

DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR

QUESTÕES DE CONCURSOS FISCAL DE RENDAS ICMS/RJ

DIREITO PROCESSUAL PENAL

OBS: IMPRIMIR ATÉ SLIDES 16 INQUÉRITO POLICIAL. Art. 4 ao Art. 23 do CPP.

MODERNO PANORAMA DO INQUÉRITO POLICIAL PROF. HENRIQUE HOFFMANN

DIREITO CONSTITUCIONAL

Noções de Processo Penal Inquérito Policial. Professor Daniel Sini

DIREITO ELEITORAL. Processo Penal Eleitoral. Prof. Rodrigo Cavalheiro Rodrigues

Transcrição:

Rio de Janeiro, 23 de junho de 2015. Exma. Sra. Presidente da Comissão de Direitos Humanos do IAB Dra. MARCIA DINIS Ref. Ao PL. 6705/2013, de autoria do Deputado Arnaldo Faria de Sá que amplia os poderes do inc. XIV, do art. 7º; e acrescenta o inc. XXI, do mencionado artigo, da lei 8906/94 (Estatuto da advocacia). O mencionado PL 6705/2013, tem a seguinte redação: Art. 7º (omissis...) XIV examinar em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, auto de flagrante e de investigação de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos que seja física ou digitalmente, sob pena de incorrer abuso de autoridade, inclusive pelo fornecimento incompleto e ou retirada de peças já incluídas no caderno investigativo. Sendo que nos casos sigilosos, será necessária a apresentação de procuração.(os grifos são para realçar o que foi acrescido pelo projeto)... XXI assistir, sob pena de nulidade, aos seus clientes investigados, durante a apuração de infrações, bem como o direito de apresentar razões e quesitos, e

requisitar diligências. (inciso acrescido pelo projeto ao mesmo artigo) Trago à douta apreciação da comissão o referido PL, que visa por normatização definitiva ao desempenho da advocacia, na fase preliminar dos procedimentos investigativos. A matéria, ainda que insculpida em nossa Lei Fundamental, mesmo nos dias de hoje, tem sido objeto de tormentoso entrave no relacionamento advocatício com os meios de persecução penal; principalmente, como tem sido notado, na atuante participação do MP, ainda na fase investigativa. Como é de sabença comum, o exercício da advocacia não constitui privilégio ao desempenho do advogado, mas direito público subjetivo que todo cidadão deve ter. Não deve ser interpretado em favor da discricionariedade, em desfavor da cidadania. Com efeito, assim expressa o inc. LV, do art. 5º, da Constituição ao referir se às garantias e aos princípios fundamentais, nela inscritos; verbis: Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes. Por força do dispositivo Fundamental acima transcrito, não resta a menor dúvida que o legislador constitucional optou pelo que os doutrinadores do instrumental penal chamam de processo acusatório. No citado sistema, acusação e defesa, estão situados no mesmo nível, em homenagem ao princípio do contraditório, da ampla defesa e porque não, do devido processo legal. O sistema vigente em nosso Código de Processo Penal, de 1941, também chamado de Código Rocco, adota o chamado princípio penal inquisitório, com nítida influência fascista. Além do poder discricionário, a autoridade policial se pauta pelo autoritarismo do sigilo e o inquérito pelo princípio da verdade real, nele contido.

Não há defesa nem contraditório. Pois o Estado é soberano em face do investigado. Seria desnecessário dizer os incontáveis obstáculos enfrentados pelos patronos dos indiciados/ investigados. Por outro lado, a realidade mostra uma nítida presença, cada vez mais acentuada, do órgão acusador na fase investigativa indicando provas. Não raro revestidas de sigilo contra o investigado, em evidente prejuízo à defesa. A fase policial do procedimento de incriminação ganha autonomia e importância maior de acordo com o grau de exclusão e segregação social (logo de distância social máxima) do acusado (cf. Salah Hassan Khaled Junior, citando Misse, in Revista Eletrônica da PUCRS.) A Constituição Cidadã, de 88, pondo fim ao Estado inquisitorial, consagrado pelo CPP declarou textualmente que aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa... Portanto, seguindo o contido na Lei Maior, é indiscutível que o ordenamento jurídico pátrio, adotou o sistema acusatório, mesmo nos procedimentos administrativos e ou policiais, assegurando contraditório e ampla defesa (cf. art.5º, da CF). Erigido à condição de princípio Fundamental pétreo; como contrariar o postulado constitucional em prestígio ao sistema inquisitorial, ainda vigente? Assim, não é por outro motivo, que certo seguimento da doutrina insiste em afirmar que entre nós vige o sistema chamado processo penal misto ; como forma de ajustar o princípio do processo penal de Rocco (inquisitório), com o chamado processo acusatório consagrado pela CF. Tal critério visa estabelecer um meio termo entre os dois sistemas em prejuízo da ampla defesa e do contraditório.

O processo penal acusatório de viés humanista e igualitário coloca o Estado acusador e o acusado no mesmo nível de forças na busca da prova, desde a fase procedimental. Não há segurança jurídica onde não existe contraditório: daí a necessidade do advogado em todas as fases do inquérito, que também pode ser investigativo e probatório em favor do investigado. No sistema acusatório a gestão da prova está nas mãos das partes: é democrático. Não só no processo pode haver uma estrutura dialética, onde as provas poderão ser apreciadas em igualdade de condições, senão também na fase investigativa. No processo penal acusatório, adotado pelo nosso Estado de Direito Democrático (acusação defesa juiz), estão assegurados os sagrados postulados de ampla defesa, contraditório, devido processo legal e julgamento justo prolatado por juiz natural. A súmula vinculante nº 14 do STF. Dispõe: É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão de competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa Por isso, os procedimentos punitivos jurídico penais inquisitoriais, devem ser banidos das práticas punitivas ilegais do processo penal, em face do que dispõe a Constituição e agora em acatamento ao decidido na citada súmula.

Destarte, entendo que os acréscimos propostos pelo PL.6705/2013, ao Estatuto da Advocacia, impõe linhas definitivas ao que estabelece a Constituição Federal. Dou parecer favorável ao mencionado projeto, sugerindo que o mesmo seja apreciado em caráter de urgência. É o parecer que submeto à apreciação da comissão. RIO DE JANEIRO, 23 de junho de 2015. ROBERTO A. REIS Advogado, membro da Comissão de Direitos Humanos do IAB. o