A agropecuária e o. Charles C. Mueller. Geraldo Martha Jr. Universidade de Brasília. Embrapa Cerrados

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Transcrição:

A agropecuária e o desenvolvimento sócioeconômico recente do Cerrado Charles C. Mueller Universidade de Brasília Geraldo Martha Jr. Embrapa Cerrados Savanas: desafios e estratégias para o equilíbrio entre sociedade, agronegócio e recursos naturais, Brasília 14/10/2008

Objetivos da apresentação: Discutir as ramificações socioeconômicas da expansão recente de agropecuária moderna no Cerrado.

Focalizamos aqui partes do sub-conjunto do core do cerrado de maior incidência de uma agricultura moderna, dinâmica, de impressionante expansão recente. Esse subconjunto inclui não apenas zonas de ocupação recente; na verdade, uma parte considerável da área focalizada foi aberta faz algum tempo.

Base conceitual: Apoiamo-nos no conceito de frentes de expansão agropecuária: frentes que se expandem e se retraem no interior do espaço socialmente produzido da fronteira agropecuária. A noção de fronteira agropecuária adotada é a de Donald Sawyer. Fronteira é, basicamente, um espaço socialmente construído, com o potencial para o desenvolvimento de atividades agropecuárias.

A realização desse potencial é feita mediante frentes de atividade formas concretas de empreendimentos econômicos. Resultado da ação humana, uma frente de atividade pode impactar de forma expressiva as condições naturais originais de partes do espaço potencial.

Fatores que atuam nessas mudanças: Fundamental: Investimentos em infra-estrutura de transportes, tornando mais acessíveis partes da fronteira. Expansão de mercados de produtos e de insumos. Para o Cerrado, vem sendo muito importante o crescimento interno e internacional da demanda por commodities agrícolas e de carnes.

Mudanças tecnológicas. Um caso notório é o das tecnologias desenvolvidas pelo sistema EMBRAPA para o Cerrado. Políticas de desenvolvimento regional. Exemplo para o Cerrado: o POLOCENTRO. Demais políticas agrícolas (crédito, preços mínimos, etc.) Políticas macroeconômicas, com efeitos que podem ser tanto positivos como negativos sobre a expansão de frentes agropecuárias.

A expansão agropecuária e o Cerrado Como resultado de um complexo de mudanças nas políticas para a agricultura brasileira e de condições de mercado favoráveis, a agropecuária no Cerrado tornou-se um setor moderno, em rápida expansão. Esta evolução teve uma fase de auge entre 1999 e 2005. Neste período houve impressionante crescimento da produção e das exportações do agronegócio brasileiro, acompanhados por significantes aumentos de produtividade. E a agricultura do Cerrado participou com destaque deste processo; como resultado, a expansão de frentes agrícolas em partes da região se acelerou.

Tiveram fortes incrementos, de forma particular, os cultivos da soja, do milho e do algodão. Em 2006 e 2007 houve pausa no surto de commodities, que chegou a gerar algum pânico, mas ele foi novamente retomado nos últimos anos.

Quanto a pecuária bovina, uma atividade tradicional no Cerrado, os grandes aumentos ao longo do primeiro qüinqüênio do século XXI na produção e nas exportações de carne bovina, podem dar a impressão de que tenha sido de elevada prosperidade do setor. Entretanto, houve tendência nitidamente decrescente nos preços reais da arroba do boi gordo no período, acompanhado de aumentos de custos de produção.

Carne Bovina - Custos de Produção e Preços Pagos aos Produtores Rurais Fev/2003 a Dez/2007 (Base 100 = Fevereiro/2003) 150 47,5% 140 130 +39,9% +23% 120 110 70 fev/03 abr/03 jun/03 ago/03 out/03 dez/03 fev/04 abr/04 jun/04 ago/04 out/04 dez/04 fev/05 abr/05 jun/05 ago/05 out/05 dez/05 fev/06 abr/06 jun/06 ago/06 out/06 dez/06 fev/07 abr/07 jun/07 ago/07 out/07 dez/07 100 100,00 90 80 Custo Operacional Efetivo Custo Operacional Total Preço Pago ao Produtor Fonte: CNA e CEPEA/ESALQ-USP

A situação do segmento, inclusive no Cerrado, se agravou em razão de ganhos modestos de produtividade no período. A partir de 2006 o valor da arroba do boi gordo e de outros produtos da pecuária bovina voltou a reagir, em um novo ciclo de alta. Mas esta fase do ciclo da pecuária bovina está fora do nosso período de análise.

A ocupação agrícola do Cerrado: situação no início dos anos 1990 Merece destaque o estudo do IPEA do início da década de 1990 coordenado por Aércio Cunha. Esse estudo constatou que então havia parcela substancial do Cerrado, com condições favoráveis de acesso aos mercados dinâmicos do país, já fortemente antropizada.

Incluía partes do Triângulo Mineiro, do sudoeste e do centro de Goiás, do sul de Mato Grosso do Sul, e do sudeste de Mato Grosso. Outra área de agropecuária dinâmica identificada, foi o espaço que circunda o Distrito Federal tanto em Goiás como no oeste de Minas Gerais. Sendo de abertura mais recente, dispunha mais terras não ocupadas e apresentava proporção menos elevada área dos estabelecimentos não antropizada.

Foi constatada, também, a expansão de frentes de atividade agropecuária em áreas como o sudoeste de Minas Gerais e do oeste da Bahia. Mas o estudo mostrou que existiam, imensas áreas de ocupação incipiente ou não ocupadas no Cerrado. Deficiências de infra-estrutura de transportes limitavam a intervenção humana nessas áreas.

O bioma do Cerrado segundo o IBGE

Visão a partir do Censo Agropecuário de 1995/96

Uso da terra e proporção da área em estabelecimentos e antropizada no Cerrado 1996 USO DA TERRA EM ESTABELECIMENTOS Área (milhões de hectares) Área total em estabelecimentos 131.6 ÁREA ANTROPIZADA 73.4 Área em lavouras 13.1 Área em pastagens plantadas 49.2 Área em matas plantadas 1.9 Terras em descanso 2.7 Terras produtivas não utilizadas 6.4 % da área dos estabelecimentos antropizada 55,7 % da área geográfica antropizada 35,8 % da área geográfica em estabelecimentos 64,3

Em 1996 a ocupação de áreas em estabelecimentos no interior do Cerrado diferia bastante. Por exemplo, em Mato Grosso, existiam áreas como a microrregião Rondonópolis (MT), de ocupação virtualmente consolidada, e áreas como as microrregiões Alto Teles Pires e Parecis, de acentuada expansão de frentes agropecuárias, que ainda dispunham de muita terra a ocupar. Semelhantemente, a microrregião Sudoeste de Goiás era área de ocupação consolidada, enquanto o Oeste de Minas Gerais ainda dispunha de terras para a expansão agropecuária.

O padrão de uso da terra no interior dos estabelecimentos também se apresentou diferenciado em 1996. A microrregião Alto Teles Pires, de Mato Grosso, por exemplo, era área predominantemente agrícola. Já o Sudoeste de Goiás, ainda era área de predomínio da pecuária de corte, embora já com uma razoável produção de lavouras.

É preciso registrar um ponto agora: se focalizarmos apenas a evolução da área cultivada no Cerrado estaremos subestimando muito o dinamismo da sua agricultura. A agricultura da região apresentou consideráveis aumentos da produção por unidade de área; e isto até em casos de lavouras menos dinâmicas. Essa evolução resultou de forte penetração do desenvolvimento tecnológico, que continua a ocorrer até hoje.

E o outro esteio da economia agrícola da região, a pecuária bovina? Os dados dos Censos mostram que, de 1975 a 1996, o efetivo de bovinos no Cerrado aumentou expressivos 91,7%, passando de 24,9 milhões para 47,8 milhões de cabeças. Outros dados (IBGE, PPM) revelam que, entre 1990 e 2005, o rebanho bovino da região cresceu 34,5%, de 72,7 milhões para 97,1 milhões de cabeças.

Para comportar essa expansão do rebanho houve aumentos significativos na área de pastagens plantadas de maior capacidade de suporte. Esse incremento explica, em boa medida, o aumento na taxa de lotação das pastagens do Cerrado entre 1970 e 1996, de 0,6 cabeças a 1,1 cabeças por hectare segundo estimativas de Geraldo Martha Jr..

Mas um incremento menor recentemente parece indicar que, ou a implantação de pastagens cultivadas vem ocorrendo em um ritmo mais lento, ou que está se acelerando a degradação de pastagens estabelecidas; contribuem, talvez, ambos esses fatores. Manejos inadequados do sistema solo-planta forrageira-animal, em adição a gerenciamentos ineficientes do negócio explicam o fato de que, atualmente, mais de 60% das pastagens cultivadas do Cerrado cerca de 35 milhões de hectares, apresentam algum grau de degradação.

Isto sem dúvida contribuiu para a rápida implantação de lavouras, particularmente no período 1999-2005, em que o os preços destas aumentaram muito, em forte contraste com o declínio dos preços dos produtos da pecuária bovina.

Em suma, não se pode negar o extremamente positivo o papel da expansão de frentes agropecuárias no Cerrado, tanto no suprimento do mercado interno do País como na geração de divisas. Mas quais terão sido os impactos socioeconômicos mais abrangentes dessa expansão?

Impactos socioeconômicos da evolução recente da agropecuária em áreas de agricultura dinâmica do Cerrado

INFORMAÇÕES USADAS: trabalhamos basicamente com fontes de informações, em nível de município. Demos ênfase ao período 1999-2005, de grande prosperidade da agricultura comercial e de relativo encolhimento da pecuária bovina. Na análise foram usados: Estimativas da Produção Agrícola Municipal (PAM) e da Produção Pecuária Municipal (PPM) do IBGE para o período 1990-2006. Dados dos censos demográficos e das contagens de população (1996;2007}. Dados do Produto Interno Bruto (PIB) municipal e correlatos calculados pelo IBGE, disponíveis para todo o período 1999-2004. Os índices de custo de transporte municipal calculados pelo IPEA. Os Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) municipais de 1990 e 2000. Os dados do Censo Agropecuário de 2006 não estavam disponíveis.

Focalizamos uma área limitada dos 204,7 milhões de hectares do Bioma Cerrado. Identificamos as microrregiões (da classificação do IBGE) de agropecuária dinâmica, e aquelas incipientes, mas promissoras, e pesquisamos diversas informações. Estas nos permitiram constituir regiões dinâmicas específicas do Cerrado para a pesquisa.

São as seguintes essas regiões dinâmicas: Região I: centro-noroeste de Mato Grosso, zona de agricultura dinâmica, de ocupação recente Região II: microrregião Canarana, ocupada nos anos 70 e 80 via incentivos fiscais para a Amazônia Legal. Região III: sudoeste de Goiás, sudeste de Mato Grosso e nordeste de Mato Grosso do Sul. Área de ocupação antiga mas de forte expansão agrícola recente. Região IV: área de expansão agrícola mais ao leste do Cerrado (centro-leste de GO e sudoeste de MG); e área pecuária do centro-sul de MS.

Região V: a mesorregião do Triângulo Mineiro (MG). Região VI: zona de vigorosa expansão recente do oeste da Bahia A fim de estabelecer contrastes com a zonas dinâmicas mais antigas, formamos uma região ainda de fronteira, mas de certo dinamismo. Tratase da: Região VII: zona incipiente do norte de Goiás, do Cerrado de Tocantins e do sudoeste do Maranhão e do sul do Piauí.

As regiões do estudo

Desempenho recente da agricultura e da pecuária das sete regiões. Área (1996, 2005 e 2006) e taxa de crescimento (1996 a 2005) de lavouras temporárias; efetivo (2000 e 2005) e taxa de crescimento (2000 a 2005) de bovinos. Lavouras temporárias (ha) Variação Efetivo de bovinos Variação 1996 2005 2006 96-05, % a.a. 2000 2005 00-05, % a.a. Região I 1.746.998 4.582.219 4.458.840 10,71 1.983.468 2.263.971 2,65 Região II 99.252 703.715 673.361 21,76 1.287.042 1.578.851 4,09 Região III 4.156.467 10.662.834 9.731.879 10,47 12.386.379 12.746.088 0,57 Região IV 1.576.105 3.169.050 3.096.368 7,76 7.852.670 8.755.414 2,18 Região V 811.704 1.468.994 1.467.048 6,59 5.420.251 5.442.079 0,08 Região VI 627.171 1.350.639 1.337.605 8,52 726.113 810.291 2,19 Região VII 281.705 1.133.722 1.114.169 15,47 3.156.173 3.808.513 3,76 Total 9.299.402 23.071.173 21.879.270 10,10 32.812.096 35.405.207 1,52

Alguns destaques: Em 1996, a área em lavouras temporárias das regiões dinâmicas (9,3 M ha) não foi muito inferior a de todo o Cerrado neste ano (13,1 M ha), de acordo como o Censo. No conjunto das 7 regiões, a área em lavouras temporárias cresceu, entre 1990 e 2005, a elevada taxa média anual de 10,1%, com desempenho superior das Regiões I (centronoroeste de Mato Grosso), II (Canarana, MT), III (sudoeste de Goiás, noroeste de MS e sudeste de MT) e VII (zonas incipientes). Ampliou-se a concentração do cultivo no interior da zona dinâmica. Em 1996, as regiões I (centro-noroeste de MT) e III (sudoeste de GO, noroeste de MS e sudeste de MT) respondiam por 63,5% da área total em lavouras das sete regiões; em 2005, essa participação aumentou para 66,1%, não obstante o dinamismo da agricultura das demais regiões.

Como resultado de quedas de preços em 2005 e 2006, houve redução de cerca de 1,2 milhões de hectares entre estes dois anos, nessas regiões. Quanto ao efetivo de bovinos no período difícil 2000-2005, o número e animais da zona dinâmica do Cerrado como um todo, cresceu apenas 1,5% a.a. entre 2000 e 2005. Nas regiões de ocupação consolidada, a pecuária vem nitidamente cedendo espaço a outras atividades. Mas mesmo em outras partes da zona dinâmica, os crescimentos dos efetivos de bovinos foram modestos.

Avaliação do desempenho econômico da região dinâmica do Cerrado no período Trabalhamos com os dados de PIB per capita, descontada a inflação, obtidos da agregação para as regiões dinâmicas, do PIB per capita municipal estimados pelo IBGE (dados disponíveis para o período 1999-2004). A Tabela adiante apresenta a evolução do PIB per capita real das microrregiões da zona dinâmica (valores expressos em preços de 2004), bem como as taxas de crescimento do PIB per capita real para todo o período 1999-2004.

Cerrado, regiões dinâmicas, PIB per capita, 1999-2004 Evolução em termos reais do Produto Interno Bruto per capita (1999-2004) Crescimento 1999 2004 % Região I - Centro-Norte MT, zona de rápida expansão recente 1. Alto Teles Pires 12,082.7 25,209.7 108.6 2. Parecis 17,491.2 28,755.6 64.4 3.Aripuanã (parte) 6,244.4 9,369.5 50.0 4. Arinos (parte) 9,223.7 15,191.8 64.7 5. Sinop (parte) 7,930.9 12,568.0 58.5 6. Tangará da Serra (parte) 7,303.5 7,573.0 3.7 Região II - Centro-leste MT 1. Canarana (parte) 6,500.54 13,487.18 107.5 Região III - Sudeste de MT, nordeste de MS e sudoeste de GO 1. Primavera do Leste (MT) 17,457.07 17,806.72 2.0 2.Rondonópolis (MT) 6,976.02 10,557.42 51.3 3. Alto Araguaia (MT) 9,863.76 29,320.19 197.3 4. Tesouro (MT) 5,360.21 10,788.73 101.3 5. Sudoeste (GO) 8,472.88 14,099.87 66.4 6. Meia Ponte (GO) 6,897.35 10,931.01 58.5 7. Vale do Rio dos Bois (GO) 8,003.04 10,639.58 32.9 8. Quirinópolis (GO) 6,873.64 9,199.58 33.8 9. Alto Taquari (MS) 9,901.37 11,482.34 16.0 10. Cassilândia (MS) 17,195.77 17,005.57-1.1

Cerrado, regiões dinâmicas, PIB per capita, 1999-2004 (continuação) Evolução em termos reais do Produto Interno Bruto per capita (1999-2004Crescimento 1999 2004 % Região IV - Leste de GO, oeste de MG e centro-sul de MS 1. Entorno de Brasília (GO) 3,084.92 4,036.77 30.9 2. Catalão (GO) 8,514.98 20,867.02 145.1 3. Pires do Rio (GO) 4,886.00 7,775.44 59.1 4. Unaí (MG) 6,027.69 8,273.17 37.3 5. Paracatú (MG) 6,979.98 7,871.26 12.8 6. Dourados (MS) (parte) 9,160.42 9,465.75 3.3 7. Campo Grande (MS) 7,740.57 7,654.52-1.1 Região V - Triângulo Mineiro: zona de ocupação antiga 1. Uberaba 12,766.09 15,513.28 21.5 2. Uberlândia 12,471.06 13,235.17 6.1 3. Araxá 12,773.02 15,340.54 20.1 4. Patrocínio 8,114.99 7,418.35-8.6 5. Frutal 12,851.42 15,201.46 18.3 6. Ituiutaba 7,645.97 9,092.54 18.9 7. Patos de Minas 7,295.50 7,394.73 1.4

Cerrado, regiões dinâmicas, PIB per capita, 1999-2004 (continuação) Evolução em termos reais do Produto Interno Bruto per capita (1999-2004Crescimento 1999 2004 % Região VI - zona de expansão recente no oeste da Bahia 1. Barreiras 8,562.60 13,217.61 54.4 2. Santa Maria da Vitória 2,632.88 4,103.31 55.8 Região VII - Zona incipiente, norte de GO, de TO, do MA e do PI 1. Porangatú (norte GO) 4,919.61 7,898.27 60.5 2. Dianópolios (TO) 2,151.75 2,618.88 21.7 3. Gerais de Balsas (MA) 2,754.45 7,174.72 160.5 4. Chapada das Mangabeiras 2,023.91 5,089.60 151.5 5. Alto Parnaíba Piauiense 2,115.74 3,940.56 86.2 6. Alto Médio Gurgeia (PI) 1,749.32 2,240.39 28.1 7. Jalapão (TO) 1,676.21 2,218.24 32.3 8. Porto Nacional (TO) 3,044.66 4,437.55 45.7

Destaca-se, na Tabela, o crescimento do PIB real per capita das regiões onde foi maior a expansão dos setor de lavouras. Assim: São muito altas as taxas de crescimento da maioria das microrregiões das Regiões I e II de Mato Grosso. Além disso, na maioria das microrregiões de ocupação antiga do centro-sul do Cerrado, Regiões III e IV, uma acentuada expansão de lavouras também se refletiu em fortes aumentos PIB per capita. Já as microrregiões voltadas para a pecuária bovina e que não se redirecionaram para lavouras, tiveram taxas de crescimento do PIB modestas ou negativas no período 1999-2004.

Caso aparentemente paradoxal: o crescimento menos acentuado do Triângulo Mineiro. Mas há uma explicação. Primeiro, há o fato de que suas microrregiões já tinham níveis elevados de PIB per capita no início do período. Depois, a economia da região, bastante diversificada, sentiu os impactos da conjuntura pouco dinâmica dos setores industrial, comercial e de serviços do país. Para ilustrar, em 2004: As participações da agropecuária no valor adicionado de Uberaba e Uberlândia duas microrregiões importantes do Triângulo Mineiro, foram de apenas 11,9% e 9,8%, respectivamente. Em contraste, nas microrregiões Alto Teles Pires e Parecis, de Mato Grosso, de fortes incrementos do PIB real per capita, as participações da agropecuária no valor adicionado total foram de 63,4% e 64,7%, respectivamente.

Quanto a Região VII, de agricultura incipiente, todas suas microrregiões tiveram crescimento de PIB real per capita entre 1999 e 2004, mas mesmo em 2004 seus PIBs reais per capita eram bastante modestos. Mas sobressaem os crescimentos muito elevados das duas microrregiões do Maranhão, beneficiadas por uma rede de transporte mais desenvolvida. As demais microrregiões desta Região, ainda enfrentavam sérios problemas de infra-estrutura, o que dificulta a expansão das suas agriculturas e gerou crescimentos econômicos menores.

Fatores no crescimento do PIB real dos municípios da região dinâmica Para analisar os principais fatores no crescimento econômico das regiões dinâmicas no período, efetuamos um pequeno exercício estatístico. Trata-se de uma análise de regressão, na qual a variável explicada é a taxa de crescimento do PIB real per capita dos municípios das sete regiões entre 1999 e 2004. Trabalhamos com variáveis explicativas em nível de município referentes a períodos relevantes para a evolução recente da agropecuária da região.

Variáveis explicativas empregadas: O valor do PIB real per capita de cada município, do ano de 1999 (a preços de 2004, corrigido pelo IPCA). O crescimento médio anual da área com lavouras temporárias entre 1996-05, em cada município. Esse período é maior do que o da variação do PIB per capita, para captar os efeitos não só da extraordinária expansão agrícola entre 1999 e 2005, como também da acentuada expansão ocorrida na década de 1990. Crescimento anual do efetivo de bovinos entre 2000 e 2005, para captar o efeito da evolução, no período, da pecuária bovina. Densidade de bovinos (cabeças por ha da área municipal) em 2000, traduzindo os efeitos da escala da pecuária bovina no início do período, sobre a determinação do PIB real municipal.

Taxa média anual de crescimento demográfico entre 1996 e 2007 (os anos da contagem do IBGE). Densidade demográfica (habitantes/km 2 ), em 1996, o ano da 1ª contagem. Proporção do valor adicionado municipal total de 2004, gerado por atividades não-agrícolas (dos setores industrial e de serviços). Visou captar os efeitos de atividades não-agropecuárias sobre a evolução do PIB per capita. Índice do custo de transporte municipal, calculado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), para captar a influência do custo de escoamento da produção na geração do PIB per capita dos municípios da região.

Variáveis dummy para ver se existiram diferenças significativas entre as economias das sete regiões do estudo, não captadas pelas variáveis acima. Com relação às variáveis dummy, a area tomada como base de comparação foi a Região III (sudoeste de GO, nordeste de MS e sudeste de MT). Consideramos as seguintes dummies regionais: D1 Dummy região centro-noroeste de MT. D2 Dummy de Canarana MT. D3 Dummy Entorno do DF, leste de GO, oeste de MG e centro-sul de MS. D4 Dummy do Triângulo Mineiro D5 Dummy Oeste da Bahia D6 Dummy zonas incipientes (partes do norte de GO, de TO, do MA e do PI).

Trabalhamos com 332 observações, referentes aos municípios das sete regiões. O nível de corte de significância dos coeficientes das variáveis foi de 5%. Os resultados estão na tabela que se segue.

Variáveis explicativas Coeficiente t PIB real per capita, 1999 (preços de 2004) -0,0004-0,79 Crescimento anual da área em lavouras, 1996-05 0,776 2,44** Crescimento anual do efetivo de bovinos 2000-05 0,574 0,69 Densidade de bovinos em 2000-38,948-2,83** Crescimento demográfico, 1996-2007 -3,328-1,69* Densidade demográfica, 1996 0,690 1,96** Proporção do valor adicionado 2004 não agrícola -1,157-2,78** Índice de custo de transporte municipal (IPEA) -0,0349-3,45** Dummy região centro-noroeste de MT 59,236 2,42** Dummy da microrregião Canarana 38,163 1,59 Dummy entorno do DF e sudoeste de MS -26,704-2,84** Dummy Triângulo Mineiro -49,714-4.96** Dummy região oeste da Bahia -3,401-0.29 Dummy zonas incipientes (GO,TO,MA,PI) 23,253 1,19 Níveis de significância: **, 1%; *, 5%. R 2 = 0,2355

Variáveis explicadas não significantes: PIB real per capita de 1999. Crescimento anual do efetivo de bovinos 2000-05 Neste último caso, pode parecer paradoxal o fato de que a variável densidade de bovinos foi significante. Mas há uma explicação.

Variáveis com relação direta Crescimento Área em Lavouras Crescimento PIB per Capita Densidade demográfica Crescimento PIB per Capita

Variáveis com relação inversa Densidade de bovinos Proporção do V.A. não agrícola Índice de custo de transporte Crescimento PIB per Capita Crescimento PIB per Capita Crescimento PIB per Capita

Variáveis com relação inversa Caso que merece atenção: Crescimento dapopulação 1996-07 Crescimento PIB per Capita Parece contrastar c/ a relação positiva da densidade demográfica. Lembrar que PIB per capita = PIB/População

E as variáveis dummy? As variáveis dummy das regiões Canarana, do oeste da Bahia e das zonas incipientes não foram significantes. Ou seja, as condições básicas dessas regiões não diferiram, essencialmente, das da Região III, sudoeste de GO, nordeste de MS e sudeste de Mato Grosso.

As variáveis dummy Já o coeficiente da dummy da Região I, centro-noroeste de MT se mostrou significante e positiva, indicando que as condições básicas foram superiores ali as da Região III, sudoeste de GO, nordeste de MS e sudeste de Mato Grosso.

As variáveis dummy As variáveis dummy da Região entorno do DF e sudoeste de MS, e Triângulo Mineiro, foram altamente significantes mas com sinal negativo. Isto significa que nestas, as condições básicas foram inferiores às da Região III. Tal resultado tem, provavelmente, a ver com as maiores urbanização e complexidade econômicas das duas regiões. Recordar o desempenho pobre da indústria e dos serviços no período.

Em suma, os resultados da regressão indicam que o momento propício para a agricultura da região no período 1999-2004, gerou taxas consideráveis de crescimento. Mas esta agilidade tem o potencial de suscitar, em resposta a estímulos mais fortes, efeito indesejado da expansão de frentes de atividade no sentido de áreas frágeis não ocupadas do bioma Cerrado. Um dos resultados da regressão ressalta o papel da infra-estrutura de transporte. Investimentos em infra-estrutura podem melhorar muito o desempenho da economia da zona dinâmica do Cerrado, mas é importante lembrar que, se mal planejada, a infra-estrutura pode vir a gerar pressões sobre áreas naturais dotadas de certa fragilidade.

A dimensão social e suas relações com a expansão agropecuária do Cerrado

O verdadeiro desenvolvimento de uma região resulta da combinação do crescimento econômico, com melhor distribuição de renda, com mais e melhor educação e saúde, com o aperfeiçoamento da democracia e com padrões adequados de conservação ambiental. Com a deficiência de informações que existe, considerar tudo isto para o Cerrado é tarefa complicada; mas tentamos ir além de avaliação centradas apenas em indicadores econômicos. Examinamos a expansão demográfica da zona dinâmica do Cerrado e o comportamento do Índice de Desenvolvimento Humano no seu interior. Discutimos, também, os impactos de questões distributivas relacionadas à estrutura fundiária a Região.

Avaliação do crescimento demográfico da região A Tabela a seguir, apresenta as taxas médias anuais de crescimento demográfico das sete regiões e de suas microrregiões, entre 1996 e 2007. Contém, também, a densidade demográfica dessas áreas em 1996 e em 2007.

CERRADO, REGIÃO DINÂMICA, DADOS DEMOGRÁFICOS, 1996-07 Crescimento demográfico Densidade demográfica taxa média anual 1996-07 (%) Densidade 96 Densidade 07 Região I - Centro-Norte MT, zona de rápida expansão 1. Alto Teles Pires 6.6 1.3 2.7 2. Parecis 5.4 0.7 1.3 3.Aripuanã (parte) 2.2 1.0 1.2 4. Arinos (parte) 4.1 0.9 1.4 5. Sinop (parte) 3.5 0.9 1.4 6. Tangará da Serra (parte) 3.9 4.3 6.5 Região II - Centro-leste MT 1. Canarana (parte) 1.8 1.6 1.9 Região III - Sudeste de MT, nordeste de MS e sudoeste de GO 1. Primavera do Leste (MT) 7.4 3.1 6.9 2.Rondonópolis (MT) 1.8 8.7 10.6 3. Alto Araguaia (MT) 2.6 2.1 2.7 4. Tesouro (MT) -0.6 2.1 1.9 5. Sudoeste (GO) 2.4 5.5 7.1 6. Meia Ponte (GO) 1.4 14.1 16.5 7. Vale do Rio dos Bois (GO) 0.9 7.1 7.9 8. Quirinópolis (GO) 0.2 5.0 5.1 9. Alto Taquari (MS) 1.1 2.4 2.7 10. Cassilândia (MS) 2.5 3.2 4.2

CERRADO, REGIÃO DINÂMICA, DADOS DEMOGRÁFICOS, 1996-07 Crescimento demográfico Densidade demográfica taxa média anual 1996-07 (%) Densidade 96 Densidade 07 Região IV - Leste de GO, oeste de MG, partes do centro-sul dems 1. Entorno de Brasília (GO) 2.5 18.3 24.1 2. Catalão (GO) 1.7 7.2 8.6 3. Pires do Rio (GO) 0.8 8.4 9.2 4. Unaí (MG) 0.9 4.7 5.2 5. Paracatú (MG) 1.6 5.0 6.0 6. Dourados (MS) (parte) 1.9 10.8 13.2 7. Campo Grande (MS) 1.9 22.9 28.4 Região V - Triângulo Mineiro, zona de ocupação antiga 1. Uberaba 2.0 28.5 35.6 2. Uberlândia 2.5 33.5 43.9 3. Araxá 1.4 11.7 13.6 4. Patrocínio 1.1 14.3 16.2 5. Frutal 2.4 7.8 10.2 6. Ituiutaba 0.3 15.2 15.6 7. Patos de Minas 1.2 20.1 22.9

CERRADO, REGIÃO DINÂMICA, DADOS DEMOGRÁFICOS, 1996-07 Crescimento demográfico Densidade demográfica taxa média anual 1996-07 (%) Densidade 96 Densidade 07 Região VI - zona de expansão recente no oeste da Bahia 1. Barreiras 3.1 3.5 4.9 2. Santa Maria da Vitória 0.01 4.4 4.4 Região VII - zonas incipientes, norte de GO, TO, MA e PI 1. Porangatú (norte GO) -0.3 6.8 6.5 2. Dianópolios (TO) 0.7 2.3 2.5 3. Gerais de Balsas (MA) 2.7 2.6 3.5 4. Chapada das Mangabeiras (M 0.8 3.4 3.7 5. Alto Parnaíba Piauiense 1.6 1.4 1.6 6. Alto Médio Gurgeia (PI) 1.5 2.6 3.1 7. Jalapão (TO) 0.8 1.2 1.3 8. Porto Nacional (TO) 4.4 7.7 12.5

Chama atenção o modesto crescimento demográfico, mesmo nas microrregiões de forte crescimento econômico e de acentuada expansão agropecuária. Em comparação a taxa de crescimento médio do Brasil, de 1,6% ao ano entre 1991 e 2000, as microrregiões da Região I, em Mato Grosso, de extraordinária expansão econômica, tiveram taxas de crescimento, entre 1996 e 2007, aparentemente elevadas, com a média para toda a região de 4,8 % a.a.. Mas, foi muito acanhado o seu incremento absoluto de população. Toda essa enorme região, do centro-noroeste de Mato Grosso, tinha apenas 233,4 mil habitantes em 1996, e sua elevada taxa de crescimento demográfico, entre 1996 e 2007, significou um incremento de apenas 163,8 mil habitantes.

Nas microrregiões das demais Regiões, as taxas de crescimento demográfico no período 1996-2007 são, com poucas exceções, bastante modestas; em muitos casos, elas estão mesmo aquém da taxa média para o Brasil. As exceções são, geralmente, casos especiais, como o da microrregião Entorno de Brasília da Região IV, que registrou crescimentos e densidade demográficas relativamente elevados, por razões que pouco tem a ver com a expansão agropecuária.

Impressiona, também, o vazio demográfico que ainda persiste na zona dinâmica do Cerrado, mesmo após décadas de expansão agropecuária. Considerando a densidade demográfica do Brasil como um todo (21,5 habitantes/km 2 em 2007), a única região que se aproxima da média nacional e em algumas de suas microrregiões a excede é a do Triângulo Mineiro, uma área há muito incorporada ao núcleo dinâmico da região centro-sul do país. Nos demais casos, isso só ocorre em umas poucas microrregiões, geralmente as de municípios da capital ou uma ou outra cidade média, ou ainda, como no caso da microrregião Entorno de Brasília, próximas a áreas metropolitanas. Na grande maioria dos casos, o que se vê é pouca gente habitando extensas áreas geográficas. Não escapam disso, com poucas exceções, as microrregiões das Regiões III e IV, de ocupação antiga.

É enorme o contraste da expansão demográfica da zona dinâmica do Cerrado, em resposta ao surto agrícola das duas últimas décadas, com a do Paraná, em resposta ao surto cafeeiro iniciado na década de 1940 e que atingiu seu auge na década seguinte. Na época em que se iniciaram seus surtos de expansão de frentes agrícolas, tanto o Paraná como as regiões de maior dinamismo agrícola da área que focalizamos no Cerrado, apresentavam enormes áreas pouco povoadas; mas o surto agrícola do Paraná logo gerou uma explosão demográfica o que longe esteve de ocorrer na região que focalizamos.

Esse contraste se explica pelas diferenças na intensidade de mão-de-obra dos dois surtos agrícolas, em conjunção com a estrutura da posse da terra altamente concentrada em boa parte do Cerrado. Uma das vantagens oferecidas à agricultura moderna nas áreas dinâmicas do Cerrado é justamente a possibilidade de formar grandes estabelecimentos agrícolas dotados de topografia ideal para a mecanização. Os surtos agrícolas recentes do Cerrado se caracterizam por elevado emprego da mecanização e pelo uso limitado de mão-de-obra; e esses surtos atingiram, justamente, partes do Cerrado de baixa densidade demográfica e, por sua natureza, acabaram não atraindo pelo menos não de forma expressiva população de outras partes do país.

Em suma, não se pode negar a considerável contribuição da expansão de frentes agropecuárias, nas últimas décadas, para o desenvolvimento do Cerrado. Mas em termos de absorção de mão-de-obra e de criação de oportunidades em um país com índices ainda elevados de desemprego e subemprego em regiões de alta densidade demográfica, os resultados se apresentam bem menos espetaculares.

Mudanças sociais sob a ótica do Índice de Desenvolvimento Humano Focalizamos, com base no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M), calculado pelo PNUD, aspectos da evolução socioeconômica da área em estudo. Trata-se de um índice composto: é construído pela média de três indicadores: um refletindo a dimensão econômica, um indicador de educação e um indicador de saúde. Essa média é normatizada para ter valor entre zero e a unidade. Um índice próximo de zero reflete condições extremamente ruins (nenhum desenvolvimento humano); e um índice próximo da unidade reflete condições altamente adequadas (desenvolvimento humano máximo).

Como são necessários dados desagregados dos Censos Demográficos para construir o IDH municipal, infelizmente só existem estimativas para 1991 e para 2000. Mas elas permitem comparações importantes. Temos que ter em vista que, embora o surto agrícola recente seja mais espetacular, faz algum tempo que frentes agropecuárias vêm se deslocando com certo vigor em grande parte da zona dinâmica do Cerrado. Geraram, assim, impactos sobre o desenvolvimento humano de boa parte das regiões focalizadas.

A tabela a seguir contém a média ponderada do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) das microrregiões da zona dinâmica do Cerrado, nos anos 1991 e 2000; o crescimento percentual do IDH em cada microrregião entre esses anos; e o maior e o menor IDH de municípios de cada microrregião. Como referência, o IDH do Brasil foi de 0,766 em 2000 (IDH médio a alto).

Média ponderada do Índice de Desenvolvimento Humano IDH de microrregiões das zonas de agricultura dinâmica do Cerrado -- 1991 e 2000. IDH 1991 IDH 2000 Cresc. % IDHmax. 00 IDHmin. 00 Região I - Centro-noroeste MT, zona dinâmica de rápida expansão recente 1. Alto Teles Pires 0.717 0.797 11.2 0.824 0.718 2. Parecis 0.718 0.781 8.8 0.810 0.724 3.Aripuanã (parte) 0.668 0.751 12.4 0.757 0.749 4. Arinos (parte) 0.688 0.751 9.2 0.754 0.740 5. Sinop (parte) 0.705 0.762 8.1 0.772 0.748 6. Tangará da Serra (parte) 0.591 0.679 14.9 0.679 0.679 Região II - Centro-nordeste MT 1. Canarana (parte) 0.652 0.747 14.6 0.777 0.673 Região III - Zona de ocup. consolidada, sudeste MT, nordeste MS e sudoeste GO 1. Primavera do Leste (MT) 0.736 0.803 9.1 0.805 0.800 2.Rondonópolis (MT) 0.700 0.777 11.0 0.791 0.699 3. Alto Araguaia (MT) 0.674 0.792 17.5 0.804 0.786 4. Tesouro (MT) 0.652 0.750 15.0 0.791 0.695 5. Sudeste (GO) 0.692 0.781 12.9 0.834 0.710 6. Meia Ponte (GO) 0.704 0.785 11.5 0.812 0.717 7. Vale do Rio dos Bois (GO) 0.664 0.749 12.8 0.779 0.685 8. Quirinópolis (GO) 0.680 0.765 12.5 0.783 0.735 9. Alto Taquari (MS) 0.678 0.770 13.5 0.808 0.723 10. Cassilândia (MS) 0.715 0.795 11.1 0.826 0.775

Média ponderada do Índice de Desenvolvimento Humano IDH de microrregiões das zonas de agricultura dinâmica do Cerrado -- 1991 e 2000. IDH 1991 IDH 2000 Cresc. % IDHmax. 00 IDHmin. 00 Região IV - Zona consolidada, leste de GO, oeste de MG e centro-sul de MS 1. Entorno de Brasília (GO) 0.671 0.742 10.6 0.795 0.664 2. Catalão (GO) 0.709 0.795 12.1 0.818 0.733 3. Pires do Rio (GO) 0.684 0.781 14.2 0.788 0.760 4. Unaí (MG) 0.651 0.769 18.1 0.812 0.659 5. Paracatú (MG) 0.665 0.748 12.5 0.760 0.721 6. Dourados (MS) (parte) 0.718 0.769 7.1 0.788 0.702 7. Campo Grande (MS) 0.761 0.808 6.1 0.814 0.723 Região V - Zona pioneira de ocupação do Cerrado: Triângulo Mineiro 1. Uberaba 0.756 0.825 9.1 0.834 0.750 2. Uberlândia 0.735 0.797 8.4 0.830 0.683 3. Araxá 0.724 0.795 9.8 0.803 0.774 4. Patrocínio 0.710 0.781 10.0 0.799 0.745 5. Frutal 0.712 0.790 11.0 0.803 0.716 6. Ituiutaba 0.727 0.799 9.9 0.818 0.753 7. Patos de Minas 0.714 0.797 11.6 0.813 0.748

Média ponderada do Índice de Desenvolvimento Humano IDH de microrregiões das zonas de agricultura dinâmica do Cerrado -- 1991 e 2000. IDH 1991 IDH 2000 Cresc. % IDHmax. 00 IDHmin. 00 Região VI - Oeste da Bahia 1. Barreiras 0.583 0.680 16.6 0.723 0.569 2. Santa Maria da Vitória 0.524 0.643 22.8 0.683 0.611 Região VII - Zonas Incipientes, norte de GO, micros de TO, do MA e do PI 1. Porangatú (norte GO) 0.641 0.737 15.0 0.761 0.648 2. Dianópolios (TO) 0.558 0.655 17.4 0.694 0.608 3. Gerais de Balsas (MA) 0.549 0.653 18.9 0.696 0.580 4. Chapada das Mangabeiras (MA) 0.519 0.614 18.3 0.638 0.595 5. Alto Parnaíba Piauiense 0.509 0.616 21.1 0.647 0.576 6. Alto Médio Gurgeia (PI) 0.542 0.628 15.9 0.684 0.583 7. Jalapão (TO) 0.521 0.628 20.5 0.677 0.567 8. Porto Nacional (TO) 0.677 0.768 13.4 0.800 0.616

Em suma, a expansão de frentes agropecuárias da zona dinâmica do Cerrado parece ter sido fator importante em acarretar melhoras nos indicadores de desenvolvimento humano das unidades geográficas que a compõem. É importante ressaltar que isto aconteceu antes do período 1999-2005 o do recente surto agrícola que impactou marcadamente parcelas expressivas da região.

Considerações sobre os efeitos distributivos da estrutura de posse da terra na zona de agricultura dinâmica do Cerrado Fizemos referência à questão fundiária quando tratamos das diferenças da expansão demográfica no Cerrado em relação ao Paraná. Vamos ressaltar brevemente aqui alguns exemplos os impactos distributivos da estrutura fundiária da nossa região. Não pudemos contar com os dados de estrutura fundiária do Censo de 2006, mas como esta geralmente só muda muito devagar, são ilustrativos dados do Censo de 1995/96.

Estrutura fundiária de duas microrregiões do Cerrado, segundo o Censo Agropecuário de 1995/96 ITEM > de 100 ha 100 1000 ha 1000 a 10000 ha > de 10000 ha Alto Teles Pires (MT) % do No. 41,2 29,1 25,8 3,9 % da área 3,3 11,4 11,4 73,9 Sudoeste de GO % do No. 39,1 36,9 23,2 0,8 % da área 3,6 18,6 62,5 15,4

Examinando outros casos, constatamos que é muito elevada a concentração do acesso a terra na região. O grande crescimento da renda decorrente do surto agrícola iniciado em 1999 e que, com uma breve interrupção, continua até o presente, vem sendo distribuído a relativamente pouca gente. São óbvias as ramificações sobre o progresso social dessa estrutura concentrada de acesso à terra.

Conclusão: será sustentável o desenvolvimento apoiado na expansão da agropecuária no Cerrado? Do ponto de vista estritamente econômico, a produção e a renda vêm crescendo de maneira consistente. A expansão de frentes agropecuárias no interior da região contribuiu, inegavelmente, para isto.

Do ponto de vista social, conforme revelado pela evolução dos índices de desenvolvimento humano, tem havido ganhos longe de desprezíveis. Entretanto, a estrutura de posse da terra, e as ainda modestas contribuições de atividades nãoagrícolas na região, mostram que, em termos de incrementos amplamente disseminados de oportunidades de gerar ganhos de bem estar social, os impactos foram menos espetaculares do que o sugerido pelos índices sintéticos que examinamos.

Quanto aos impactos ambientais, existem várias questões, mas a que mais preocupa é o efeito de continuação da expansão de frentes agropecuárias sobre parcelas ainda não antropizadas no Cerrado. Sabemos que mais de 40% da cobertura vegetal nativa original do Cerrado não existe mais, graças, em boa parte, à expansão de frentes agropecuárias. E tudo indica que os processos que geraram essa antropização continuam operando e, possivelmente, se intensificando.

Preocupa, também, o fato de que algumas das áreas no Cerrado que tiveram maior desenvolvimento são vizinhas dos biomas Amazônico e do Pantanal. Isto acontece, de forma particular, no Centronoroeste de Matogrosso, uma região extremamente dinâmica e que apresentou as maiores taxas de crescimento no período considerado. Mas boa parte do norte dessa região faz fronteira com áreas da Amazônia ou com zonas de tensão ecológica entre os dois biomas.

O que fazer para atenuar esses problemas? Procurar induzir mudanças na maneira como a opinião pública ainda encara o Cerrado. Em contraste com a Amazônia, a opinião pública ainda considera o Cerrado área inferior, que pode ser livremente incorporado à produção. Revisão no sistema de unidades voltadas à conservação/preservação do bioma, para que cubram parcelas minimamente viáveis deste. Mudanças no planejamento e implementação de sistemas de transportes atingindo áreas ainda não drasticamente alteradas do bioma.