O MST NA LEITURA DOS JORNAIS: O IMPARCIAL E FOLHA DE SÃO PAULO

Documentos relacionados
POR UMA GEOGRAFIA DOS FEIOS, SUJOS E MALVADOS

TERRITORIALIZAÇÃO DA REFORMA AGRÁRIA E REFORMA AGRÁRIA DE MERCADO NO BRASIL ( )

ASSENTAMENTOS NO PONTAL DO PARANAPANEMA SP: UMA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO OU DE COMPENSAÇÃO SOCIAL?

Vectores. Sentido de un vector. (origen) al punto B (extremo). Dirección de un vector

TERRITORIALIZAÇÃO DA COOPERATIVA AGROPECUÁRIA CAPANEMA Ltda (COAGRO): UMA ARTICULAÇÃO ENTRE O LOCAL E O GLOBAL

Planejamento estratégico

Recursos Hídricos e Eco-turismo

O MST NA LEITURA DOS JORNAIS O IMPARCIAL E FOLHA DE S. PAULO

Doctorado en Educación en Ciencias Experimentales

LÍNGUA ESTRANGEIRA ESPANHOL 04/07/2010. Caderno de prova. Instruções. informações gerais. boa prova!

MOBILIDADE PRA VOCÊ QUE NUNCA PARA DE EVOLUIR. MOVILIDAD PARA QUE USTED NUNCA DEJE DE EVOLUCIONAR.

ERGOS SHELL: UMA CADEIRA, INFINITAS POSSIBILIDADES.

ESCALA E TERRITÓRIO DO DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL RURAL: INTERPELAÇÕES PARA A GEOGRAFIA

LOS MINERALES INDUSTRIALES LOS ÁRIDOS Y EL CEMENTO LA PIEDRA NATURAL LA MINERÍA Y EL MEDIO AMBIENTE ANEXOS

[2012] Saberes Bolivianos Su espacio En la web. Boletín [Mayo]

A INFLUÊNCIA DO MOVIMENTO DAS ÁGUAS NA VIDA DOS RIBEIRINHOS NO PARANÁ DO CAMBIXE NO CAREIRO DA VÁRZEA AM

O Ensino do Espanhol como Língua Estrangeira: Estimular a Aprendizagem através do Lúdico. Índice. Introdução 11

Toda educación no formal es educación popular? Una visión desde Argentina

TEXTO. Post no Estratégia Tradução Livre 23/2016 Prof. Adinoél e Profa. Elenice. (Fonte: elpais.es) - adaptado

Designação da Disciplina: A Formação e a Prática Discursiva em Sala de Aula

BuscadorCoruja.com BuscadorBuho.com

Grande como su estilo.

MANUAL DE INSTRUCCIONES LAR-10MB LICUADORA COMERCIAL INOXIDABLE, VASO MONO BLOQUE INOXID- ABLE, 10 LITROS MODELO

Conocimiento Tradicional y Derecho Indígena

A DISCURSIVIZAÇÃO DO SUJEITO TRABALHADOR NA REFORMA TRABALHISTA DO GOVERNO TEMER

NOVIDADES LEGISLATIVAS NOVEDADES LEGISLATIVAS

EDITORIAL OS EDITORES

FORMAÇÃO E QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL EM ESPAÇOS ALTERNATIVOS: desafios do Pedagogo nos espaços fora da escola

Archivos e índices. Agenda

Vision & Values. Código de Trabalho em Equipe e Liderança. Código de Trabajo en Equipo y Liderazgo

Antonio Parreiras: pinturas e desenhos (2012) estudo de caso 4. Curso de Capacitação para Museus Sisem Módulo Curadoria

Projetos compartilhados

NORMAS PORTUGUÊS E ESPANHOL

Elementos-chave no desenvolvimento de itinerários de formação, através da avaliação de competências.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA SOCIAL Nível Mestrado e Doutorado

El transporte de mercancías por carretera

ESPANHOL COMENTÁRIO DA PROVA DE ESPANHOL

UNIVERSIDADE DE UBERABA PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO FÁTIMA GARCIA CHAVES O CICLO INICIAL DE ALFABETIZAÇÃO E A FORMAÇÃO CONTINUADA DE DOCENTES

OS DISCURSOS SOBRE EDUCAÇÃO NAS PROPAGANDAS GOVERNAMENTAIS BRASILEIRAS

INFORMAÇÕES GERAIS / INFORMACIONES GENERALES

Secretaria Municipal de Educação

PRIMERA REUNIÓN DE COORDINACIÓN DEL PROYECTO RLA Santiago de Chile 2-4 May, 2012

1001 PALAVRAS 1001 DEBATES - CLUBE DE LEITURA/CULTURA EM LÍNGUA PORTUGUESA-

Implicações das reproduções em 3D para o direito de autor.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Departamento de Engenharia de Produção Curso de Especialização em Ergonomia

We love what we do. COMPRESSORES SEM ÓLEO. Español/Portugês

O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA DIANTE DO INADIMPLEMENTO CONTRATUAL PRELIMINAR DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL URBANO PRIVADO

Brasil y Estados Unidos. El nuevo acuerdo de cooperación en materia de defensa

METODOLOGÍA DE TRABAJO PROPUESTA

IATI - 3º TRIMESTRE 1º ano EM

Teste de diagnóstico de Espanhol 8º ano nível A2 MATRIZ

Presentación del VI ENAPOL / Apresentação do VI ENAPOL Elisa Alvarenga

ALAYDE MARIA PINTO DIGIOVANNI ENTRE A SENSIBILIDADE E A RAZÃO: MÚLTIPLAS VOZES DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA ENUNCIADAS EM UM PROCESSO REFLEXIVO

TEXTO. Post no Estratégia Tradução Livre 26/2016 Prof. Adinoél e Profa. Elenice

14. BASE DE DATOS ErgoBD

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO

JIA DO TECNOLÓGICO AO SIMBÓLICO: ESTUDOS RECENTES NA ANÁLISE DE PROJÉCTEIS E ADORNOS

Plan de Estudios 2002

A DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO DE LEITURA DE ARQUIVOS NO DISCURSO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA DO SCIENCEBLOGS BRASIL 12

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA SOCIAL Nível Mestrado Disciplina eletiva

Espanhol. Questão 46 TEXTO I

w w w. c e n t r o p a c k. p t c o m e r c i a c e n t r o p a c k. p t

Carlos Eduardo Ordóñez Ordóñez. A poética da consciência de Juan Carlos Mestre. Dissertação de mestrado

Normas de Decência Cristã

A Educação de Jovens e Adultos na Escola Classe Varjão

CONCURSO PÚBLICO PARA PROVIMENTO DE CARGO EFETIVO PROFESSOR DE ENSINO BÁSICO, TÉCNICO E TECNOLÓGICO Edital 16/2015 Campus São João del-rei

O FUNCIONAMENTO DA NOÇÃO DE LÍNGUA EM DICIONÁRIOS

Software. Programa Paradigmas de programación Cómo se produce software

A Regulamentação da EaD nas Universidades Públicas. 1- Resumo

HOMENS QUE GOSTAM DE SER HOMENS

152 a SESSÃO DO COMITÊ EXECUTIVO

A formação dos educadores e educadoras de pessoas jovens e adultas: subsídios a partir da pesquisa e da experiência

Cuando debemos substituir pernos y tuercas

UNIVERSIDADE DE UBERABA PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO HELENA BORGES FERREIRA

Segui buscando en la Red de Bibliotecas Virtuales de CLACSO

Exame Discursivo 07 / 12 / Língua Estrangeira. 2ª Fase. Caderno de prova. Boa prova! (Espanhol )

Indicações: Livros e Autores

Editor Associado Prof. Dr. Fernando Pessotto Centro Universitário Salesiano de São Paulo - UNISAL

Dedico esse trabalho em memória a meus pais.

A APOSTA PELO DECRESCIMENTO DE SERGE LATOUCHE LA APUESTA POR EL DECRECIMIENTO DE SERGE LATOUCHE

AGRICULTURA, TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE NO MUNICÍPIO DE SORRISO; MATO GROSSO - BRASIL

LISTA DE EXERCÍCIOS 3º ANO

ATC ROC. Kit Solar LAURA / LAURA PLUS. Kit Solar Instrucciones de Instalación, Montaje y Funcionamiento para el INSTALADOR

MANUAL DE INSTRUCCIONES RADIO PORTÁTIL RD-5699

Damos luz a su negocio

ELFRISEGRE Estandar. Mesas de trabajo 54-81

Twitter revela que existen dos superdialectos del español

La responsabilidad del empleador en los accidentes de trabajador y el deber de indemnizar en Brasil.

Simone Rezende da Silva Depto. de Geografia/FFLCH/ Universidade de São Paulo

We love what we do. COMPRESSORES SEM ÓLEO. Español/Portugês

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ ALINE CARVALHO CERQUEIRA. AVATAR E CONTRACAMPO: análise do marcador discursivo mas em críticas de cinema

Universidade de São Paulo Faculdade de Educação. Viviane Vieira

O uso do gvsig na Identificação de locais estratégicos para instalação de uma loja de confecções

LINHA DE PESQUISA ESTRATÉGIAS DE PENSAMENTO E PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA: ANÁLISE DE UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

Descrição das Actividades [O examinador cumprimenta os examinandos, confirma os seus nomes e. explicita os procedimentos do 1.º momento da prova.

La República Argentina y la República Federativa del Brasil, en adelante, las Partes;

JUVENTUDES: DEMANDAS, EDUCAÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS

SÃO LEOPOLDO, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL 23 A 26 DE ABRIL DE 2018

GUARDIAS PARA MAQUINARIA. 29 CFR to

Transcrição:

O MST NA LEITURA DOS JORNAIS: O IMPARCIAL E FOLHA DE SÃO PAULO Sônia Maria Ribeiro de Souza Mestranda em Geografia, PPGG/FCT/UNESP/Presidente Prudente sonirib@ig.com.br Antonio Thomaz Júnior Prof. de Geografia dos cursos de Graduação e Pós-Graduação da FCT/UNESP/Presidente Prudente thomazjr@es.com Desde sua criação, em 1984, o MST caracterizou-se como um dos poucos movimentos senão o único a desafiar francamente o status quo brasileiro contemporâneo, propondo-se a romper com os limites usualmente aceitos da legalidade. A luta do MST tem se dado no sentido de forçar a realização de seus objetivos, em especial a redistribuição da propriedade fundiária no Brasil, por meio da reforma agrária. É desnecessário dizer que a interdição da palavra sempre fez parte do discurso da imprensa sobre o MST, mantendo os fios discursivos que tecem o predomínio de um discurso hegemônico: O MST é um movimento perigoso. Os enunciados nos jornais, ao longo dos anos, fixaram e fixam um sentido (uma materialidade) sempre negativo para os sem-terra. Na maneira de enunciar já se encontra um significado reiterado na forma de diferentes denominações: invasores, bando, turba, guerrilheiros etc. O que será que esses enunciados têm em comum quando traçada uma linha temporal entre eles? Será que o discurso produzido pela imprensa sobre os trabalhadores que reivindicam e ocupam a terra no Brasil manteve-se inalterado? Bem, essa pesquisa estuda a produção e manutenção de certos sentidos para o MST: trata-se de um dizer marcado espaço-temporalmente de modo recorrente no discurso jornalístico. Daí uma das nossas indagações: quais as condições que propiciaram esse tipo de discurso? E ainda, de que modo se configura e é fixado no discurso jornalístico, uma forma específica de enunciar o MST? Tomando esse cenário formulamos o principal objetivo desse trabalho: analisar, a partir de uma prática discursiva, a da imprensa, como o discurso, enquanto uma prática social, organiza, produz e reproduz noções que governam e controlam o espaço identificando mecanismos que, controladores desse espaço, expressam, sustentam e determinam territorialidades. Analisamos o discurso jornalístico que, no Estado de São Paulo, foi se constituindo sobre o MST, no Pontal do Paranapanema a partir de 1990, período de intensificação da Luta pela Terra, até abril de 2004, o qual foi evidenciando e reafirmando a existência de uma única paisagem, imposta por filtros de interpretação. Durante todo esse tempo, o MST foi

representado como uma ameaça aos proprietários e, por conseguinte à Lei. Entre os anos de 1990 e 2004, a propaganda nos jornais contra os sem-terra, nunca deixou de ser presente, veiculando um imaginário que, imposto pela formação social capitalista, endossa a homogeneização de uma práxis social estratégica que se expressa no controle social sobre os trabalhadores, e sobre o trabalho em particular. Obviamente, essa estratégia nunca impediu a organização dos sem-terra ou que ficassem em silêncio e imobilizados perante o discurso da imprensa. Os enunciados Sem reforma agrária não há democracia, e Terra para quem nela trabalha sempre foram ditos e, em maior ou menor intensidade, fizeram parte dos noticiários da imprensa independente dos sentidos que lhes foram atribuídos. Por essa razão, para analisar o processo de construção do MST como outro recorremos ao processo de produção dos sentidos, das formas de sua circulação e da fixação de um sentido/memória. Isto é, até que ponto o discurso jornalístico pode ser considerado um elemento atuante na construção dessa imagem do MST como inimigo? Ou ainda, de que modo o discurso jornalístico pode didatizar um evento/acontecimento MST vinculado-o ao perigo e a ameaça? Qual o seu papel ao colocar em circulação tal representação? Estas questões, no plano teórico-metodológico, levou-nos a incorporar a discussão sobre o funcionamento do discurso, considerando, de acordo com a Análise do Discurso (AD): a relação de constituição entre linguagem e história na produção de sentidos, e espaço, discurso e território. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CORRÊA, R. L. Espaço: um conceito-chave na geografia. In: CASTRO, I. E. et al (org.). Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003, p. 15-47. FERNANDES, B. M. MST: formação e territorialização. São Paulo: Hucitec, 1996. FOUCAULT, M. A ordem do discurso. Trad. Laura Fraga. A. Sampaio. 7ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2001. ORLANDI, E. P. et al. Vozes e contrastes: discurso na cidade e no campo. São Paulo: Cortez, 1989. PÊCHEUX. M. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Trad. Eni P. Orlandi (et al.) 3ª ed. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1997. SANTOS, M. A Natureza do Espaço. Técnica e Tempo. Razão e Emoção. 2º Edição. São Paulo: Hucitec, l997. THOMAZ JR, A. Desenho societal dos sem terra no Brasil. Campinas: Revista Abra, v.30, n. 1, 2 e 3, jan. dez., 2001.

EL MST EN LA LECTURA DE LOS PERIÓDICOS O IMPARCIAL Y FOLHA DE SÃO PAULO Sônia Maria Ribeiro de Souza Mestranda em Geografia, PPGG/FCT/UNESP/Presidente Prudente sonirib@ig.com.br Antonio Thomaz Júnior Prof. de Geografia dos cursos de Graduação e Pós-Graduação da FCT/UNESP/Presidente Prudente thomazjr@es.com Desde su creación, en 1984, el MST se ha caracterizado por ser uno de los pocos movimientos sino el único a desafiar directamente el status quo brasileño contemporáneo, proponiéndose romper con los límites normalmente aceptados de la legalidad. La lucha del MST se ha orientado en el sentido de forzar la realización de sus objetivos, especialmente la redistribución de la propiedad de la tierra en Brasil, por medio de la reforma agraria. No es necesario insistir en que la interdicción de la palabra siempre ha hecho parte del discurso de la prensa sobre el MST, manteniendo los hilos discursivos que tejen el predominio de un discurso hegemónico: El MST es un movimiento peligroso. Los enunciados de los periódicos, a lo largo de los años, determinaron y determinan un sentido (una materialidad) siempre negativo hacia los sin-tierra. En la manera de enunciar ya se encuentra un significado reiterado en la forma de diferentes denominaciones: invasores, bando, turbamulta, guerrilleros, etc. Qué tienen en común estos enunciados cuando trazamos una línea temporal entre ellos? El discurso producido por la prensa sobre los trabajadores que reivindican y ocupan la tierra en Brasil se mantuvo inalterado? Esta pesquisa estudia la producción y el mantenimiento de ciertos sentidos hacia el MST: se trata de un decir marcado espacio-temporalmente de modo recurrente en el discurso periodístico. Por eso una de nuestras indagaciones se centra en: Cuáles son las condiciones que propiciaron este tipo de discurso? y de qué modo se configura y se determina en el discurso periodístico una forma específica de enunciar al MST? Con este escenario como punto de partida formulamos el principal objetivo de este trabajo: analizar, a partir de una práctica discursiva, la de la prensa, cómo el discurso, tomado como práctica social, organiza, produce y reproduce nociones que gobiernan y controlan el espacio, identificando mecanismos que, controladores de ese espacio, expresan, sustentan y determinan territorialidades. Específicamente, analizamos el discurso periodístico que, en el Pontal do Paranapanema (Estado de São Paulo), se constituyó sobre el MST a partir de 1990, período de intensificación

de la Lucha por la Tierra, hasta abril del 2004, el cual evidenció y reafirmó la existencia de un único paisaje impuesto por filtros de interpretación. Durante todo este tiempo, el MST fue representado como una amenaza a los propietarios y, por consiguiente, a la Ley. Entre los años de 1990 y 2004, la propaganda en los periódicos contra los sin-tierra, nunca dejó de estar presente, pasando un imaginario que, impuesto por la formación social capitalista, respalda la homogeneización de una praxis social estratégica que se expresa en el control social sobre los trabajadores y sobre el trabajo en particular. Obviamente, esta estrategia nunca impidió la organización de los sin-tierra o provocó que se mantuviesen en silencio e inmovilizados delante del discurso de la prensa. Los enunciados Sin reforma agraria no hay democracia y Tierra para quien la trabaja siempre fueron dichos y, en mayor o menor intensidad, hicieron parte de las noticias de la prensa, independientemente de los sentidos que les fueran atribuidos. Por esa razón, para analizar el proceso de construcción del MST como el otro recurrimos a los procesos de producción de los sentidos, de las formas de su circulación y de la determinación de un sentido/memoria. O sea, hasta qué punto el discurso periodístico puede ser considerado un elemento actuante en la construcción de esa imagen del MST como enemigo? o de qué manera el discurso periodístico pode didatizar un evento/acontecimiento sobre el MST vinculándolo al peligro y a la amenaza? Cuál es su papel al colocar en circulación tal representación? Estas cuestiones en el plano teórico-metodológico, nos llevaron a incorporar la discusión sobre el funcionamiento del discurso, considerando de acuerdo con la Análisis del Discurso (AD): la relación de constitución entre, por un lado, lenguaje e historia en la producción de los sentidos, y, por otro lado, espacio, discurso y territorio. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS CORRÊA, R. L. Espaço: um conceito-chave na geografia. In: CASTRO, I. E. et al (org.). Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003, p. 15-47. FERNANDES, B. M. MST: formação e territorialização. São Paulo: Hucitec, 1996. FOUCAULT, M. A ordem do discurso. Trad. Laura Fraga. A. Sampaio. 7ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2001. ORLANDI, E. P. et al. Vozes e contrastes: discurso na cidade e no campo. São Paulo: Cortez, 1989. PÊCHEUX. M. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Trad. Eni P. Orlandi (et al.) 3ª ed. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1997. SANTOS, M. A Natureza do Espaço. Técnica e Tempo. Razão e Emoção. 2º Edição. São Paulo: Hucitec, l997.

THOMAZ JR, A. Desenho societal dos sem terra no Brasil. Campinas: Revista Abra, v.30, n. 1, 2 e 3, jan. dez., 2001.