Revista de Biologia e Ciências da Terra ISSN: Universidade Estadual da Paraíba Brasil

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Revista de Biologia e Ciências da Terra ISSN: 1519-5228 revbiocieter@yahoo.com.br Universidade Estadual da Paraíba Brasil Moreira Barreto Gomes, Camila; da Silva Batista, Karoliny; Alves Oliveira, Solange; Bezerra, Lucilândia Maria Determinação de enterobactérias de mamíferos silvestres em criadouro conservacionista Revista de Biologia e Ciências da Terra, vol. 11, núm. 2, 2011, pp. 74-80 Universidade Estadual da Paraíba Paraíba, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=50021611010 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe, Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 Volume 11 - Número 2-2º Semestre 2011 Determinação de enterobactérias de mamíferos silvestres em criadouro conservacionista Camila Moreira Barreto Gomes 1 ; Karoliny da Silva Batista 2 ; Solange Alves Oliveira 3 ; Lucilândia Maria Bezerra 4 RESUMO Os animais silvestres, particularmente os mantidos em cativeiro, estão em contato constante com bactérias tanto no meio ambiente como em seu organismo. As enterobactérias possuem grande importância para o funcionamento normal do organismo de animais silvestres uma vez que compõem a microbiota natural. O presente trabalho que teve como o objetivo descrever qualitativamente enterobactérias, presentes nas cinco famílias de mamíferos: Cebidae, Canidae, Mustelideae, Felidae e Tayassuidae pertencentes ao plantel do Terraquarium Centro de Convivência e Educação Ambiental, Criadouro Conservacionista do Centro Universitário Luterano de Palmas/ULBRA, município de Palmas/TO. Palavras-chave: Enterobactérias, bactérias Gram-positivo e Gram-negativo, mastofauna, cativeiro. Determination of Enterobacteria in wild mammals kept in captivity ABSTRACT The wild animals, particularly those kept in captivity, are in constant contact with bacteria of the environment and their organisms. The enterobacteria are very important in the normal function of the organism of wild animals because they constitute the natural flora. The present work had the objective of describing enterobacteria in five mammal families: Cebidae, Canidae, Mustelideae, Felidae and Tayassuidae. They belong to Terraquarium Center of Contact and Environmental Education, Conservationist breeding of the Centro Universitário Luterano de Palmas/ULBRA, in the municipality of Palmas, State of Tocantins. Keywords: Enterobacteria, bacteria Gram-positive e Gram-negative, mammalian species, captivity.

1 INTRODUÇÃO Os animais silvestres, particularmente os mantidos em cativeiro, estão em contato constante com bactérias, que são amplamente distribuídas tanto no meio quanto na microbiota intestinal (Levinson & Jawetz, 1996). Tais microorganismos possuem grande importância para o funcionamento normal do organismo destes animais compondo a microbiota natural (Queiroz, 2008). Porém, em condições específicas, como por exemplo, níveis de estresse elevado e baixa resistência, podem levar ao desenvolvimento de patologias (Queiroz, 2008). Tais informações fornecem base para a elaboração de um programa de prevenção de doenças mais eficaz. Por isso, nos animais silvestres mantidos em cativeiro, as bactérias são continuamente estudadas com a finalidade de se encontrar um manejo ideal que possibilite o controle microbiológico nas diferentes espécies, vulneráveis a esses microorganismos (Coles, 1984; Queiroz, 2008). As enterobactérias representam quase a totalidade das bactérias Gram negativas de importância clínica tanto humana quanto veterinária médica como veterinária, sendo isolada na rotina microbiológica e das septicemias em humanos e animais silvestres (Meyer Júnior, et al., 2006). Ambos, tipos de bactérias, Gram positivas e Gram negativas, são amplamente dispersas no ambiente e encontradas em locais onde há presença de animais silvestres ou domésticos, dejetos humanos ou em qualquer local que tenha algum tipo de contaminação fecal. Podem sobreviver por muito tempo em solo úmido, água, fezes, alimentos e superfícies com matéria orgânica, e por isso, a contaminação pode ocorrer por vários meios (Nunes, 2007 e Nunes, et al., 2010). Os maiores problemas evidenciados relacionando as enterobactérias em animais de cativeiro, devem-se ao fato destes viverem em grupo e às alterações de manejo higiênico e alimentar. Os microorganismos, à medida que se sobrepõem à microbiota normal, podem causar doenças como alterações intestinais de origem inflamatória (enterites ou infecções severas) (Pelczar Júnior, et al.,1996). O estado clínico destes animais deve ser relacionado com a proporção de microorganismos encontrados no lúmen intestinal. A proximidade e contato com fezes a alimentos contaminados ou quando os animais silvestres passam por alterações ambientais, com novas adaptações (como por exemplo, quando são retirados do seu ambiente natural para cativeiro, nível de estresse), podem ser um fator determinante para um desencadeamento de doenças (Queiroz, 2008 e Coles, 1984). O presente trabalho teve como o objetivo descrever qualitativamente enterobactérias, presentes em mamíferos mantidos em cativeiro relacionando-o com o estado geral de saúde desses animais. 2 MATERIAIS E MÉTODOS O presente estudo foi conduzido no plantel do Terraquarium Centro de Convivência e Educação Ambiental, Criadouro Conservacionista (registrado pelo IBAMA) do Centro Universitário Luterano de Palmas/ULBRA, município de Palmas, Tocantins. Para qualificar as enterobactérias foram coletadas em novembro de 2007, amostras de fezes (coprocultura) das cinco famílias de mamíferos pertencentes ao plantel: Cebidae, Canidae, Mustelideae, Felidae e Tayassuidae. As fezes foram coletadas da região anal com swab estéril, após limpeza prévia da região com algodão e água. Para o exame microbiológico foi realizada semeadura em placas com meio de cultura Ágar Mc Conkey, por ser um meio seletivo para o isolamento de bacilos Gram negativos e Gram positivos em especial as enterobactérias (Oliveira, 1995; Maciel, 1999 e Santos, 1999). Após o crescimento da cultura foram feitos esfregaços em lâminas de microscopia para exame bacteriológico (bacterioscopia). As lâminas foram coradas pelo método de Gram para determinação dos grupos de microrganismos da microbiota intestinal em Gram Positivas ou Gram negativas (Oliveira, 1995; Maciel, 1999 e Santos, 1999).

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES Foram analisadas fezes de 10 indivíduos pertencentes a cinco famílias de mamíferos (Tabela 1) (figuras 1 a 6). Tabela 1 - Famílias de mamíferos existentes no criadouro, suas respectivas espécies e número de indivíduos estudados. Taxonomia Ordem Família Espécie Nome em português Número de Indivíduos Artiodactyla Tayassuidae Pecari tajacu (Linnaeus, 1758) Cateto 3 Carnivora Canidae Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766) Cachorro do mato Felidae Leopardus pardalis (Linnaeus, 1758) Jaguatirica 1 Mustelidae Galictis vittata (Scherber, 1818) Furão 1 Primates Cebidae Alouatta caraya (Humboldt, 1812) Bugio 1 Cebus apella (Linnaeus, 1758) Macaco prego 2 Nomenclatura segue: Reis, et.al., 2006; Costa, et.al., 2005; IUCN, 2011 2 Figura 1 - Cateto (Pecari tajacu) Figura 2 - Cachorro do mato (Cerdocyon thous)

Figura 3 - Jaguatirica (Leopardus pardalis) Figura 4 - Furão (Galictis vittatas) Figura 5 - Bugio (Alouatta caraya) Figura 6 - Macaco prego (Cebus apella) Foi observada grande prevalência de bactérias Gram negativas, sendo registradas cinco espécies: Enterobacter sp., Escherichia coli, Klebsiela sp., Pseudomonas sp., Salmonella sp.. Foram também registradas duas espécies de bactérias gram positivas (Staphylococcus sp. e Streptococcus sp.). O maior número de bactérias foi encontrado na Família Canidae: Enterobacter sp. (N=1), Escherichia coli (N=1), Klebsiela sp. (N=1), Pseudomonas sp. (N=2) e Salmonella sp. (N=2); ( N representa o número de indivíduos em que a bactéria estava presente nas amostras). Em Cebidae, Alouatta caraya (N=1) e Cebus apella (N=2) encontramos a bactéria Streptococcus sp. assim como para Felidae representada por Leopardus pardalis (N=1). Em Mustelideae (N=1) registramos Pseudomonas sp., Staphylococcus sp. e Salmonella sp. e na Família Tayassuidae encontramos Pseudomonas sp.(n=3), Staphylococcus sp. (N=3), Salmonella sp. (N=2) (Gráfico 1). Em três das cinco famílias amostradas (Canidae, Mustelidae e Tayassuidae) prevaleceram as bactérias Pseudomonas sp., Salmonella sp. (Gráfico 1). Na família Canidae foram encontradas bactérias Gram negativas. Na Cebidae e Felidae foram encontradas bactérias Gram positivas de mesma espécie (Streptococcus sp.). Nas famílias Mustelidae e Tayassuidae foram encontradas bactérias Gram negativas, assim como gram positivas, sendo estas de mesma espécie (Staphylococcus sp.).

Em trabalhos realizados anteriormente neste criadouro conservacionista com grupos de animais silvestres mais abundantes, entre eles o mesmo grupo de Cerdocyon thous, Gomes (2004) encontrou nas amostras duas das mesmas espécies de bactérias: Enterobacter sp. e Klebesiella sp. Em sua coleta foi amostrada também a bactéria Serratia sp. não encontrada no presente estudo. Nota-se também que este grupo apresentou outras três novas espécies de bactérias. Alguns gêneros de bactérias Gram negativas possuem maior relevância acometendo a saúde animal: Salmonella, Pseudomonas, Klebsiella, Aeromonas, Proteus, Escherichia, Pasteurella e Yersinia (Hidasi, 2010; Queiroz, 2008). Entre as bactérias Gram positivas que promovem infecções secundárias encontram-se Staphylococcus, Streptococcus e Enterococus (Queiroz, 2008). O elevado índice de isolamento de enterobactérias nos recintos dos animais silvestres no presente estudo pode ser relacionado com higiene inadequada, já que estas bactérias são em sua maioria comensais do intestino, encontradas nas fezes dos animais, como pudemos verificar na família Canidae. O ambiente mal higienizado é favorável à proliferação destas bactérias causando consequentemente infecção se os animais estiverem imunologicamente debilitados (Hidasi, 2010; Queiroz, 2008). A Pseudomonas sp. é uma bactéria Gram negativa, patogênica, que possui distribuição mundial. Raramente causa doenças em um sistema imunológico saudável, mas explora eventuais fraquezas do organismo para estabelecer um quadro de infecção (Queiroz, 2008). Salmonella sp. pode ser encontradas em aves, mamíferos (roedores, canídeos) e principalmente em répteis, que geralmente apresentam-se assintomáticos por servirem como reservatórios (Nunes, 2007 e Nunes, et al., 2010). A principal via de transmissão das infecções é fecal-oral, através de contato com outros animais ou pela ingestão de alimentos e água contaminados, por exemplo, dentro de um recinto onde possuam muitos animais. Assim como as Pseudomonas, caso o organismo esteja saudável, não provocam um desequilíbrio na microbiota intestinal, mas mudanças na dieta ou privação de comida e água podem facilitar a multiplicação e fixação da Salmonella na parede intestinal (Queiroz, 2008). A bactéria Staphylococcus sp. são cocos gram positivos encontrados tanto no ambiente quanto no trato respiratório e pele de pessoas e animais silvestres e domésticos sadios, sendo, considerados parte da microbiota normal (Queiroz, 2008). O Streptococcus sp é considerado parte da microbiota normal da pele e mucosas dos tratos digestivo, respiratório e reprodutivo. A transição de bactéria da Gráfico 1 - Enterobactérias registradas em coproculturas das famílias de mamíferos silvestres pertencentes ao Plantel do Terraquarium.

HIDASI, H.W.; KAWANAMI, A. E.; BARNABÉ, A. C. S.; CARVALHO, A. M.; MIRANDA, L. B. Resistência a microbiota normal para agente patogênico depende de fatores predisponentes como imunossupressão, infecções concomitantes e situações de estresse (Queiroz, 2008). 4 CONCLUSÕES Embora tenha sido isolada uma diversidade de microrganismos nos animais silvestres no presente estudo, os mesmos se encontram em bom estado de saúde. No entanto, a presença de uma variedade significativa de bactérias indica que o manejo sanitário do criadouro deve ser revisto sob risco de surgirem problemas de infecções nesses animais. Segundo Nunes (2007), as fontes de transmissão mais frequentes em animais silvestres, podem ser através do contato direto com animais hospedeiros e/ou de forma indireta, através da água, alimentos contaminados e fezes (Nunes, 2007 e Nunes, et al., 2010). Nunes (2007) ressalta em seus estudos que, animais silvestres oriundos de apreensão e/ou tráfico, como no caso deste Criadouro conservacionista, tornam-se potenciais transmissores de zoonoses mesmo que se apresentem saudáveis. Neste contexto torna-se relevante monitorá-los continuamente, principalmente os recém chegados ao criadouro. A presença de gram negativas e gram positivas nos meios utilizados associado ao bom estado de saúde dos animais sugerem que estas bactérias fazem parte da microbiota intestinal normal, sendo importante, a avaliação microbiológica periódica das espécies estudadas. Os cuidados profiláticos deverão ser rigorosamente monitorados para que a composição de microrganismos não se torne ameaça à sobrevivência dos animais. A ocorrência de doenças exerce uma influência considerável sobre o sucesso ou o fracasso de programas de manutenção de espécies silvestres em cativeiro. Melhoria do bem-estar animal e estocagem de alimento correta, água abundante e trocada diariamente podem auxiliar também no controle a fim de evitar enfermidades nos plantéis (Nunes, 2007 e Nunes, et al., 2010). AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço a Doutoranda em Ecologia e Evolução da UFG (Universidade Federal de Goiás), Nathália Machado pelo incentivo e orientação concedida a 1ª autora. Posterior agradecimento ao Centro Universitário Luterano de Palmas/ULBRA, pelo apoio na publicação e onde por seis anos a 1ª autora dedicou-se aos seus trabalhos no Setor Terraquarium (Criadouro conservacionista) pertencente à Instituição. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COLES, E.H. Patologia Clínica Veterinária. 3ª ed. São Paulo: Manole, 1984. 566 p. COSTA, L. P.; LEITE, Y. L. R..; MENDES, S. L.; DITCHFIELD, A. D. Conservação de mamíferos no Brasil. Conservation International do Brasil - Revista Megadiversidade, Belo Horizonte, v.01. p.103-112. 2005. GOMES, C. M. B.; SOUSA, R. P. de; BOVO, M. T. K.; XAVIER, A. C. L.; DA SILVA, A. R.; JORGE, A. R.; SILVA, R. A.; BEZERRA, L.M.; OLIVEIRA, S. A. Estudo de enterobactérias em um grupo de animais selvagens mantidas no Criadouro Conservacionista (TERRAQUARIUM Centro de Convivência e Educação Ambiental do CEULP/ULBRA)-Palmas-TO. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA/SBPC. 57ª. 2005. Fortaleza. Anais da 57ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Fortaleza: SBPC, 2005. resumo 1237. Disponível em: [http://www.sbpcnet.org.br/livro /57ra/programas/SENIOR/RESUMOS/resumo_ 1237.html]. Acesso em: 02/05/2011. HAGAN, W.A.; BRUNER, D.W. Microbiology and infections diseases of domestic animals. 8 a. ed. United States of America: Cornell University Press, 1988. 915p.

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