CONCURSOS PÚBLICOS PARA INTÉRPRETES DE LIBRAS NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. Maria Cristina Viana Laguna FADERS 1



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Transcrição:

CONCURSOS PÚBLICOS PARA INTÉRPRETES DE LIBRAS NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. Maria Cristina Viana Laguna FADERS 1 O presente artigo objetiva mostrar como os concursos públicos para o profissional intérprete de Libras estão sendo realizados. Trago um breve histórico sobre a FADERS, fundação em que trabalho, que foi o primeiro órgão publico do estado a realizar concurso para intérprete de Libras em 2004. Considerando que a profissão está regulamentada desde 2010 com a Lei Federal 12.319 de 1º de Setembro mapeei editais de concursos que ofereciam a vaga para a categoria. A busca se fez pela internet a partir de alguns critérios, primeiramente selecionei concursos realizados em quatro diferentes municípios Pelotas, Bagé, Canela e Santa Cruz do Sul no estado do Rio Grande do Sul. As amostras dos dados apresentam número do edital/ano, as nomenclaturas atribuídas ao intérprete de Libras, exigências documentais de formação e etapas de seleção. As analises dos dados mostram minhas reflexões apoiada em autores e pesquisadores da área de estudos surdos como Quadros (2004), Santos (2006), Lima (2006), Pereira e Fronza (2010), Lopes e Veiga-Neto (2006), Camargo e Albres (2012) e comento as principais legislações que tratam sobre o intérprete de Libras como o Decreto 5.626 e a Lei 12.319. Palavras-chave: Intérprete de Libras, Concurso Público, Órgãos Públicos, FADERS. 1. Introdução A sociedade brasileira possui uma população com necessidades diversas e para que estas sejam atendidas, grupos de pessoas diversos buscam garantias de direitos para seus seguimentos através de lutas e movimentos sociais, reivindicando políticas públicas efetivas para suas propostas. Dentre estes grupo posso falar especificamente dos surdos, que para romper as barreiras de comunicação e informação existentes, foram criadas várias leis, no entanto, as lutas ainda são uma constante na comunidade surda 2, que vêm reivindicando direitos que já estão constituídos legalmente mas não na prática a Lei de Acessibilidade 3 e a Lei de Libras 4 ambas as Leis foram regulamentadas por Decretos, a primeira pelo Decreto 5.296 de 2 de dezembro de 2004 e a segunda pelo Decreto 5.626 de 22 de Dezembro de 2005, 1 Fundação de Articulação e Desenvolvimento de Políticas Públicas para Pessoa com Deficiência e Pessoa com Altas Habilidades no Estado do Rio Grande do Sul. 2 Comunidade surda segundo Strobel (2008, p.31) não é composta apenas de sujeitos surdos, há também sujeitos ouvintes membros de família, intérpretes, professores, amigos e outros que participam e compartilham os mesmos interesses em uma determinada localização. 3 Lei Federal 10.098 de 19 de dezembro de 2000. 4 Lei Federal 10.436 de 24 de Abril de 2002.

que visam garantir acessibilidade aos surdos através do profissional intérprete de Libras. Importante esclarecer que este profissional era reconhecido em tais leis, no entanto a regulamentação da profissão só veio pela Lei Federal 12.319 de 1º de setembro de 2010. A partir destas leis, a comunidade surda busca o cumprimento delas, se articulando em movimentos organizados. O grupo de ILS vem desenvolvendo, nos últimos anos, discussões que compõem parte da política cultural que as pessoas surdas têm traçado, em especial solicitando formação e qualificação dos trabalhos. No entanto, essas discussões ganharam pouca visibilidade nacional, porque a carência de materiais científicos e o interesse do governo, há pouco atrás, não era o de qualificar o ILS. Um exemplo dessa afirmação é a falta de registros sobre a história de como os ILS se constituíram. [...]. (SANTOS, 2006, p. 68) A acessibilidade é um tema constantemente debatido e discutido pela comunidade surda, e uma das pautas mais reivindicadas é a garantia da presença do intérprete de Libras nos diferentes espaços sociais. A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2011) trata destas questões em vários de seus artigos, destacando-se o artigo 9 onde menciona o profissional intérprete de Libras como medida para eliminar os obstáculos e barreiras da informação e comunicação. Os profissionais intérpretes de Libras somam-se a este movimento pela inclusão, buscando, além do reconhecimento, a valorização profissional, pois na história dos ILS, os lugares iniciais para a atuação desse profissional foram às igrejas, as instituições de caridade e os espaços familiares em que transitavam surdos (SANTOS, 2006, p. 71). Embora esta profissão ainda seja vista pela sociedade como um trabalho voluntário e de caridade, muitos intérpretes tem se posicionado politicamente quanto a sua profissão. O reconhecimento da profissão não veio somente pelas leis. Anterior a elas, em 1992, a FENEIS Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos, juntamente com os intérpretes fundaram o Departamento Nacional de Intérpretes, com a proposta de discutir e refletir sobre a profissão. No RS, a FENEIS Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos formou a primeira turma de intérpretes em 1997, a segunda turma em 2000, onde me incluo 5, depois desta turma a FENEIS passa a orientar as Instituições de Ensino Superior para a formação de intérpretes e instrutores via cursos de capacitação na modalidade extensão. Muitos profissionais formados buscaram por seus espaços de trabalho, embora não houvesse ainda uma lei que regulamentasse a profissão. Alguns órgãos públicos realizavam contratações de intérpretes de Libras para eventos que contavam com presença de surdos. 5 Importante esclarecer que minha formação profissional se deu em 2000, mas sou CODA Children of deaf adults (filho de surdos adultos), eu venho de família de surdos.

A comunidade surda reivindicava que órgãos públicos tivessem intérpretes de Libras. A FADERS, instituição com 39 anos de existência na área das políticas públicas para PcD e PcAH, percebendo a necessidade dos surdos, se tornou o primeiro órgão público a realizar concurso publico para intérprete de Libras. Embora se entenda e reconheça que os surdos não são Pessoas com Deficiência, mas uma minoria linguística, todas as leis e políticas públicas voltadas as PcD incluem os surdos neste segmento. A inconformidade dos sujeitos surdos com a condição de deficiência em que sempre foram narrados e posicionados dentro da rede social, somada a possibilidades criadas por algumas instituições - geralmente escolares que se destinavam, a educar os deficientes auditivos, gerou sentimentos de inconformidade e de necessidade de luta por outras condições de vida. A luta surda pelo direito de ser surdo fez uma das grandes rupturas na história desse grupo. Os surdos, ao inventarem outras marcas - que vinham materializadas na língua de sinais, na comunidade surda, nas reuniões surdas, na ausência do aparelho auditivo, no dizer não aos sofridos tratamentos fonoaudiológicos e às sessões de medidas de perdas auditivas -, começaram a precisar de outros espaços para viverem essa outra forma de se identificar. (LOPES; VEIGA-NETO, 2006, p. 86). O edital 01/2004 para concurso público da FADERS previa vagas para Agente Técnico/instrutor, entendendo que a atribuição deste profissional, que ainda não tinha profissão regulamentada, se assemelhava pela característica de conhecimento técnico, garantindo assim, uma vaga para o intérprete de Libras com Ensino Médio completo e habilitação legal fornecida pela FENEIS. Em 2008, houve a ultima nomeação para o cargo, é neste ano que passo a integrar o quadro funcional da FADERS. Vinculada atualmente à Secretaria da Justiça e dos Direitos Humanos do RS, a FADERS desempenha um papel importante junto aos órgãos públicos, articulando e fomentando políticas públicas para pessoas com deficiência no estado. Uma das maiores promoções da FADERS são os fóruns de políticas públicas para PcD e PcAH, realizados desde 1999, nos municípios do interior do estado. Além de intérprete de Libras da FADERS, também tenho participado de constantes discussões sobre o papel do intérprete, as questões éticas, linguísticas, culturais, e uma das discussões que tenho levantado se trata sobre os concursos públicos para intérpretes de Libras, questionando sobre como estes profissionais estão sendo selecionados, que critérios e avaliações são considerados nestes processos seletivos. 2. Levantamento dos Dados

Toda a pesquisa se relaciona a prática, minha profissão me levou a investigar sobre os concursos públicos, não somente pela curiosidade ou pela informação, mas por que considero o tema importante e relevante para pensar as políticas públicas. Desta forma a pesquisa se dá por levantamento de dados e análise critica reflexiva. Para o levantamento dos dados estabeleci, inicialmente, alguns critérios: a busca foi por meio eletrônico no site de pesquisa Google; a frase chave para seleção foi concursos públicos para interpretes de Libras no Rio Grande do Sul ; a partir dos resultados 6 encontrados, fiz uma nova seleção com novos critérios: os editais deveriam datar a partir de setembro de 2010, ou seja, depois da regulamentação da profissão; a vaga deveria ser para intérprete de Libras e deveriam ter informações especificas como: numero de vagas, jornada de trabalho, apresentar o salário, formação exigida, a forma de seleção deste profissional e as atribuições do cargo. Seguindo estas orientações, selecionei quatro editais de diferentes municípios 7 (Pelotas, Bagé, Canela e Santa Cruz do Sul). Os dados serão apresentados e analisados a seguir. 3. Dados levantados e analises dos resultados Diante da exposição de tantas Leis que reconhecem a profissão do tradutor interprete de Libras que foi regulamentada em 2010 apresento no quadro a seguir os editais selecionados, municípios, disponibilização de vagas e carga horária. Nº Edital/ANO Município Vagas Carga horária 011/2011 Pelotas 10 20h/semanais 05/2011 Bagé 7 20h/semanais 31/2011 Canela 1 20h/semanais 001/2012 Santa Cruz do Sul 1 40h/semanais 6 Obtive resultado de sete municípios. 7 Os municípios excluídos da pesquisa foram Porto Alegre, Ijuí e Farroupilha, optei por deixar os dois primeiros municípios de fora, porque os concursos foram realizados antes da Lei de regulamentação da profissão e o ultimo porque era um processo seletivo simplificado de contratação temporária.

Pelotas é uma cidade polo do RS, e possui um número expressivo de surdos e um grande grupo de intérpretes. Interessante que no edital do concurso na disposição das 10 vagas, duas estão reservadas para afrodescendentes e uma para PcD 8, o mesmo acontece com o concurso de Bagé que das sete vagas há uma vaga para cada seguimento. Com relação aos municípios de Canela e Santa Cruz do Sul, lamentavelmente há apenas uma vaga. Sobre isso acredito ser importante discutir o que foi convencionado entre os intérpretes de Libras, pois não há muitos registros sobre jornada de trabalho. Alguns municípios desconhecem a atuação e atribuição de um intérprete de Libras. Quanto a jornada de trabalho também me refiro as vagas, não se pode contratar uma pessoa para trabalhar em todo o município atendendo os surdos nas diferentes escolas e diferentes espaços na sociedade. Os intérpretes no RS, estão em espaços diferentes de atuação, nem todo tiveram o mesmo tipo de formação, no entanto a maioria trabalha em pares em eventos com mais de duas horas, fazem revezamento a cada vinte ou trinta minutos, chegam com antecedência para conhecer o local de atuação, conversam e interagem com os surdos que estão presentes, convencionam sinais para o evento. De acordo com Quadros o ato de interpretar envolve mais do que técnica. Envolve um ato COGNITIVO-LINGÜÍSTICO, ou seja, é um processo em que o intérprete estará diante de pessoas que apresentam intenções comunicativas específicas e que utilizam línguas diferentes. O intérprete está completamente envolvido na interação comunicativa (social e cultural) com poder completo para influenciar o objeto e o produto da interpretação. Ele processa a informação dada na língua fonte e faz escolhas lexicais, estruturais, semânticas e pragmáticas na língua alvo que devem se aproximar o mais apropriadamente possível da informação dada na língua fonte. Assim sendo, o intérprete também precisa ter conhecimento técnico para que suas escolhas sejam apropriadas tecnicamente. Portanto, o ato de interpretar envolve processos altamente complexos. (QUADROS, 2004, p. 27). No quadro a seguir apresento sobre os salários oferecidos, acrescento a coluna da carga horária, para melhor visualização, e também a formação exigida para o cargo nos quatro editais de concurso para intérprete de Libras. Município Carga horária Salário Formação Pelotas 20h/semanais 312,22 + complemento de piso Ensino Médio ou Superior, formação em curso para capacitação de interprete emitido pela FENEIS. Bagé 20h/semanais 545,00 Ensino Médio completo + conhecimento e domínio em língua de sinais 8 No edital a nomenclatura esta PNE - Pessoa com Necessidades Especiais, mas como o termo não se aplica estou utilizando a forma correta.

Canela 20h/semanais 753,96 Ensino Médio = 360h curso interprete de Libras (reconhecido pelo MEC) e ou exame de proficiência em Libras. Santa Cruz do Sul 40h/semanais 1.329,84 9 + 35 % adicional de Risco de Vida; Gratificações de R$ 17,82 por hora trabalhada em Plantão; de Difícil Acesso para Escolas Municipais; AREGE - R$ 1.183,26; Dedicação Exclusiva - GDE (opcional) R$ 1.577,69; 35% Adicional de Risco de Vida; Auxilio Alimentação em Ticket de R$ 320,00 e Auxilio Transporte. Ensino Médio completo + Curso de Libras com carga horária mínima de 120h e certificado de Proficiência em Libras, expedido mediante exame especifico realizado pelo MEC. Em análise sobre a formação do intérprete de Libras, a exigência mínima do ensino médio completo, sabe-se que a exigência de formação superior foi vetada pelo Senado, por considerar que não há muitos profissionais. Olhando as formações exigidas nos editais, vê-se também que não há exigência de comprovação de prática na área, pois mesmo que uma pessoa tenha feitos horas de curso em Libras, ela pode ter feito isso há anos atrás, assim esta formação não comprova que ela tenha fluência e domínio na língua. Por falar em domínio da língua, esta também não pode ser considerada formação, pois esta deve ser comprovada como coloca a Lei 12.319, em seu artigo 4º, a formação deste profissional deve ser realizada por meio de: I - cursos de educação profissional reconhecidos pelo Sistema que os credenciou; II - cursos de extensão universitária; e III - cursos de formação continuada promovidos por instituições de ensino superior e instituições credenciadas por Secretarias de Educação. (BRASIL, LEI 12.319/2010). Pude perceber que não há um consenso, visto que há determinação de uma formação especifica de 360h ou o certificado de Proficiência, o que desqualifica totalmente a profissão. A formação de um intérprete não pode ser comparada ou simplesmente substituída pelo Exame de Proficiência. Sabe-se também que esta prova de proficiência não garante a qualidade de interpretação existem outras questões de formação. Segundo Pereira e Fronza (2010), os exames de proficiência contam com pessoas para avaliar, porém poucas pessoas têm autoridade suficiente para determinar quem é proficiente ou não em língua de sinais. No momento muitas discussões tem sido levantadas também sobre as formações em cursos de 120 e 360 horas, pois o que se tem, percebido nestes cursos é uma grande incidência de certificações por frequência do que por avaliação. Além dos cursos de pós-graduações em 9 Estas são algumas informações do que pode compor o salário, mais detalhes vide site do concurso.

Libras oferecidos por instituições em modalidade presencial ou à distância, em que nota-se que não há uma discussão política sobre os critérios para o funcionamento deste cursos e nem uma discussão metodológica, visto que a pós-graduação deveria estar num patamar acima da graduação de Letras/Libras, ou seja, deveria aprofundar o conhecimento em Libras, pois o ensino do idioma Libras deveria ser ensinado em cursos de extensão e não num pósgraduação. Dessa forma, muitos profissionais, aprovados no Exame Nacional para Certificação de Proficiência no uso e no ensino de Libras e para Certificação de Proficiência na tradução e interpretação da Libras/Português/Libras - PROLIBRAS tiveram legitimado um conhecimento que já tinham, mas não possuíam a formação exigida pelo decreto nº 5.626/05 (...) havendo críticas a forma de organização e estruturação do exame PROLIBRAS. Os cursos de pós-graduação em Libras também tem conferido a certificação sem necessariamente as pessoas terem a competência linguística para a prática da tradução/interpretação em Libras (...). (CAMARGO; ALBRES, 2012, p. 2). As ofertas salariais também apresentam diferenças significativas entre os municípios, alguns oferecem benefícios, percebe-se que Santa Cruz do Sul oferece um salário interessante. A AGILS Associação Gaúcha dos Tradutores e Intérpretes de Libras apresentam em seu site uma tabela com sugestão de valor/hora à R$ 50,00, no entanto, algumas empresas que ofertam o serviço de intérpretes tem colocado um preço de mercado inferior, outros que se nomeiam profissionais sem qualquer formação, tem assumido campos de trabalho e há também empresas que formam pessoas de quadro funcional para atuarem como intérpretes de Libras, pagando salário de assistente de produção. A comunidade surda e os profissionais intérpretes de Libras, com devida formação, tem notado esta diversidade de atuações com discrepâncias salariais e tem trazido em debates a preocupação com esta crescente realidade. Sobre a forma de seleção, do intérprete de Libras, é possível perceber o desconhecimento de quem aplica as provas, pois as empresas contratadas para a realização dos concursos, contratam pessoas que se dizem da área que os ajudam de forma equivocada a colaborarem com a seleção. O quadro abaixo mostra quais tipos de provas são aplicadas. Município Pelotas Bagé Canela Etapas de seleção Prova Objetiva - Português, legislação e Conhecimentos Específicos. Prova Pratica - a) tradução de um texto do português para Libras e outro da Libras para o português, sobre um determinado tema. b) O candidato será filmado nas duas modalidades de tradução com o objetivo de avaliação. [...] Prova Objetiva - Português, legislação e Conhecimentos Específicos. Prova Pratica A Prova Prática buscará aferir a capacidade de adequação funcional e situacional do candidato às exigências e ao desempenho eficiente das atividades do cargo. (Edital 05/2011, item 4.2.2.5) Prova Objetiva Conhecimentos específicos, Português e legislação municipal. Prova de Títulos.

Santa Cruz do Sul Prova Objetiva Conhecimentos específicos, Língua Portuguesa, Matemática e Conhecimentos gerais. Prova de Títulos. Pelas amostragens, Pelotas é o único município que organizou prova teórica e prática, visando a seleção de um profissional qualificado. As provas de títulos não garantem a qualificação profissional. No entanto, Canela considera a prova de conhecimento especifico com peso superior aos outros conteúdos avaliados. O que causa séria preocupação, pois como mencionei anteriormente a certificação não deveria equivaler ao conhecimento prático. Muitas vezes a pessoa tem muitas certificações em Libras, mas há muito tempo não tem contato com surdos. Sobre o papel do interprete de Libras é importante ter um olhar mais reflexivo, pois ao ler os editais constatei que os municípios apresentam inúmeras atribuições ao interprete de Libras. Seguem as atribuições com marcações sublinhadas das funções que me chamaram a atenção, acrescento as informações de vaga e salário, para que o leitor possa refletir. Município Vaga Salário Atribuições do cargo Pelotas 10 312,22 + complemento de piso Atuar em salas de aula e em eventos ligados ao ensino, para realizar a interpretação por meio de linguagem de sinais. Coletar informações sobre o conteúdo a ser trabalhado para facilitar a tradução da língua no momento das aulas e atividades escolares. Planejar antecipadamente, junto com o professor responsável pela disciplina ou série, sua atuação e limites no trabalho a ser executado. Participar de atividades extraclasses, como palestras, cursos, jogos, encontros, debates e visitas, junto com a turma em que exercite a atividade como intérprete. Interpretar a linguagem de forma fiel, não alterando a informação a ser interpretada. Participar de atividades não ligadas ao ensino, em que se faça necessária a realização de interpretação de linguagem por sinais. Executar outras tarefas correlatas. Bagé 7 545,00 Além do trabalho de realizar a comunicação entre surdos e outras pessoas, por meio da linguagem de Libras para a linguagem oral e vice-versa, o profissional também tem como atribuição prevista na proposta a de interpretar, em Linguagem Brasileira de Sinais e Linguagem Portuguesa, as atividades didático-pedagógicas e culturais, viabilizando o acesso aos conteúdos curriculares, desenvolvidos nas instituições de ensino que oferecem educação fundamental, de ensino médio e ensino superior. Canela 1 753,96 a) Descrição Sintética: atuar em sala de aula, e em sala de apoio pedagógico nas unidades educativas da rede regular de ensino, traduzindo e interpretando da Língua Portuguesa para a Língua de sinais e vice-versa as aulas ministradas pelo Professor. b) Descrição Analítica: elaborar e cumprir o plano de trabalho segundo a proposta pedagógica da escola; levantar e interpretar os dados relativos à realidade de sua classe; zelar pela aprendizagem do aluno, organizar registros de observação dos alunos; participar de atividades extraclasse; realizar trabalho integrado com o apoio pedagógico; participar dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional; colaborar com as atividades e articulação da escola com as famílias e a comunidade; integrar órgãos complementares da escola, executar tarefas afins com a educação; observar os preceitos éticos de confiabilidade,

Santa Cruz do Sul 1 1.329,84 + 35 % adicional de Risco de Vida; Gratificações de R$ 17,82 por hora trabalhada em Plantão; de Difícil Acesso para Escolas Municipais; AREGE R$ 1.183,26; Dedicação Exclusiva - GDE (opcional) R$ 1.577,69; 35% Adicional de Risco de Vida; Auxilio Alimentação em Ticket de R$ 320,00 e Auxilio Transporte. imparcialidade, discrição, distância profissional e fidelidade na tradução e interpretação, digitar e arquivar documentos relativos a função, executar tarefas afins, conforme previsto na Lei 10.436 e Decreto 5.626. Descrição Sintética: Traduzir e interpretar LIBRAS/Língua Portuguesa/LIBRAS e vice-versa em todas as áreas do conhecimento do currículo; intermediar a comunicação entre interlocutores surdos e ouvintes em situações do cotidiano escolar; prestar serviços em seminários, cursos, reuniões e/ou outros eventos promovidos pela Administração Municipal. Descrição Analítica: Desenvolver e apoiar o uso e a difusão da LIBRAS no contexto escolar, para surdos e ouvintes; instruir, traduzir e interpretar da Língua Portuguesa para LIBRAS em todas as áreas do conhecimento na Educação Infantil e no Ensino Fundamental, utilizando a LIBRAS como Língua de Instrução, na forma de complementação e suplementação curricular em Atendimento Educacional Especializado - AEE; orientar estudantes com surdez no uso de equipamentos e/ou novas tecnologias de informação e comunicação em todo o ambiente escolar; confeccionar, solicitar, disponibilizar e orientar a utilização dos recursos didáticos, planejando e acompanhando as atividades pedagógicas desenvolvidas em parceria com os demais profissionais da escola na perspectiva do trabalho colaborativo e da educação inclusiva, em consonância com a Proposta Pedagógica - PP; orientar professores quanto as suas dúvidas em LIBRAS, realizando serviço itinerante nas escolas da rede municipal de ensino que possuam estudantes surdos no ensino regular e AEE; executar outras atividades compatíveis com sua função. Observação: O exercício da função poderá exigir a prestação de serviços à noite, sábados, domingos e feriados, sujeito a trabalho externo e desabrigado, bem como o uso de EPIs (Equipamento de Proteção Individual) e uniformes. Conforme necessidade de serviços poderá atuar na zona urbana e rural. Ao olhar este quadro final, percebo o quanto ainda é preciso discutir sobre a profissão. Os municípios ainda não conhecem a profissão e me parece que falta buscar a AGILS ou a FENEIS, para esclarecimentos. Primeiramente, a conceituação de língua e linguagem que ainda é equivocada, as atribuições são com certeza abusivas, segundo a CBO Classificação Brasileira de Ocupações, o intérprete de Libras traduz de uma língua fonte para uma língua alvo, a Lei 12.319 no artigo 20 O tradutor e intérprete terá competência para realizar interpretação das 2 (duas) línguas de maneira simultânea ou consecutiva e proficiência em tradução e interpretação da Líbras e da Língua Portuguesa. Os municípios que ofertam mais vagas restringem a atuação do intérprete a educação, no entanto abrem uma certa margem para uma atuação extraclasse, já os municípios que oferecem um vaga apresentam muitas atribuições, principalmente o município de Santa Cruz do Sul, percebe-se entre os municípios desconhecimento do papel do intérprete, atribuindo a ele atuações que são de responsabilidade de professores e mesmo especialistas como o AEE. E o nível de formação exigido deste intérprete é o de ensino médio. Além disso, ele precisa

atuar nos mais diversos horários e lugares, atuar em várias escolas, não é garantia de acesso a criança ou jovem surdo, pois como um único intérprete atenderá toda educação básica, se em cada sala tiver pelo menos um surdo no primeiro ano do ensino fundamental ao terceiro ano do ensino médio em pelo menos três escolas, é realmente absurdo exigir que além da itinerância, ele ainda tenha que ter tempo para preparar, orientar, planejar. Para Lima (2006) a profissão de Intérprete de Libras é uma profissão com riscos para saúde, pois o excesso de interpretações diárias sem intervalos para repouso dos interpretes favorecem o aparecimento de lesões por esforços repetitivos (LER). O intérprete de Libras precisa e deve conhecer sua área de atuação, estudar, se atualizar, planejar como vai interpretar determinado conteúdo, conversar com o professor o palestrante, mas não é seu papel orientar, planejar ou mesmo confeccionar material de aula. E nesta confusão de papéis. Quantos outros concursos estão se realizando no Brasil com atribuições como estas? Por meio desses exemplos, podemos notar que a identidade profissional dos ILS vem se constituindo em meio a outras tantas identidades. Esse grupo tem afirmado seu espaço de atuação e também de discussão, com proposições e alternativas apresentadas para a formação e a criação de políticas públicas que visualizem o ser intérprete como um profissional legítimo e com sua profissão.(santos, 2006, p.53). É preciso compreender a realidade de cada município, mas é necessário fazer valer os direitos do profissional intérprete de Libras, com estas inúmeras atividades destacadas nas atribuições para um único intérprete não é difícil concluir sobre como estará este profissional em um ano, sua saúde física, mental e cognitiva estará com certeza comprometida. Considerações não finais Os quatro editais pesquisados dão margem a muitos assuntos que poderiam ser aprofundados e analisados, mas é importantes questionar o que nossas associações, a FENEIS, a comunidade surda e nós mesmos estamos fazendo para alertar e orientar o poder público para a importância e valorização da nossa profissão? Não é possível concluir esta pesquisa sem questionar sobre como o gestor público está realmente preocupado com as políticas públicas para os surdos, sabe-se que a legislação vem teoricamente garantindo acessibilidade e inclusão, mas não são disponibilizados recursos suficientes para uma contratação e valorização adequada.

Acredito que precisamos dialogar com os gestores públicos sobre nossa profissão, promovendo reflexões sobre como esta tem sido pensada e tratada nos diferentes municípios do estado do RS. Referências BRASIL. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência: Protocolo Facultativo. Decreto Legislativo nº 186, de 09 de julho de 2008: decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009. 4 ed., ver. E atual. Brasília: Secretaria de Direitos Humanos, Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, 2011. BRASIL. Casa Civil. Lei Federal 12.319 de 1º setembro de 2010. Regulamenta a profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS. Brasília. DF. 2010. CAMARGO, A. C. S.; ALBRES, N. A. O conhecimento legítimo para intérprete educacional inscrito em provas de concurso: A contratação de intérpretes no Brasil. Apresentação Anais III Congresso Nacional de Pesquisas em Tradução e Interpretação de Libras e Língua Portuguesa. Florianópolis: UFSC, 2012 LIMA, Elcivanni.S. Discurso e identidade: um olhar crítico sobre a atuação do(a) intérprete de Libras na educação superior. Dissertação de Mestrado: Universidade de Brasília, 2006. LOPES, M. C.; VEIGA-NETO, A. Marcadores culturais surdos: quando eles se constituem no espaço escolar. Perspectiva. V24, n. especial, jul/dez. Florianópolis: UFSC, 2006, p.81 100. PEREIRA, M. C. P; FRONZA C. A. Estudo sobre a proficiência linguística do intérprete de Libras. Unisinos, 2010. Disponível em <http://www.filologia.org.br/xicnlf/9/estudo_sobre_a_proficiência_linguística_do_interprete.pdf>. Acesso em 10 de jun. 2012. QUADROS, R. M. O tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e língua portuguesa / Secretaria de Educação Especial; Programa Nacional de Apoio à Educação de Surdos - Brasília : MEC ; SEESP, 2004. 94 p. SANTOS, S. A. Intérpretes de língua brasileira de sinais: um estudo sobre as identidades. Dissertação de Mestrado. Florianópolis. PPGEDU/UFSC, 2006. Disponível em <http://www.ronice.cce.prof.ufsc.br/index_arquivos/documentos/dissertação%20silvana %202006.pdf>. Acesso em 10 de jun. 2012. STROBEL, K. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis. Editora UFSC. 2008.