Síntese da unidade 4
Influências da lírica camoniana (Século XVI) Medida velha/corrente tradicional TEMAS Influência dos temas da poesia trovadoresca. Tópicos de circunstância; a saudade, o sofrimento amoroso, a beleza da mulher, o ambiente pastoril; temas autobiográficos e filosóficos; o desconcerto do mundo; o desengano e o Amor. Medida nova/corrente clássica TEMAS Influência greco-latina (Renascimento) e petrarquista (Petrarca). O amor platónico e as suas contradições; a saudade; a mulher amada e os efeitos sobre a Eu; a morte da amada e o desconcerto sentimental, a FORMAS natureza (Locus amoenus) e a sua profunda relação com o Eu; temas autobiográficos e filosóficos; o desconcerto do mundo; a mudança. Métrica: redondilha maior (7 sílabas) FORMAS redondilha menor (5 sílabas) Vilancete. Cantiga. Esparsa. Endecha. Métrica: verso decassílabo (10 sílabas) Soneto.
Formas: medida velha e medida nova Formas da medida velha Vilancete: poema constituído por um mote, de dois ou três versos, e por voltas, de sete, sendo o último a repetição, com ou sem variante, do verso final do mote. Cantiga: poema composto por um mote de quatro ou cinco versos e glosas de oito, nove ou dez versos, com a repetição total ou parcial do último verso do mote no final de cada volta. Esparsa: composição de uma única estrofe, que varia entre oito e dezasseis versos. Endecha: poema formado por um número variável de estrofes (quadras ou oitavas), com versos de cinco ou seis sílabas.
Formas: medida velha e medida nova Formas da medida nova (dolce stil nuovo italiano) Soneto: poema constituído por duas quadras e dois tercetos de versos decassilábicos, geralmente de esquema rimático abba/abba, nas quadras, e cde/cde ou cde/dce ou cdc/dcd, nos tercetos; no último terceto, a «chave de ouro», sugere-se/ revela-se o significado do soneto (normalmente, através de um pensamento elevado).
Síntese da unidade 4 A representação da amada. A experiência amorosa e a reflexão sobre o Amor. A representação da natureza. A reflexão sobre a vida pessoal. O desconcerto do mundo. A mudança.
A representação da amada Retrato objetivo/ realista Imagem da mulher retirada da vida quotidiana; heroínas apaixonadas, alegres, prontas a lutar pelos seus interesses e sentimentos. Ex.: «Leva na cabeça o pote» (p. 170) Mulher petrarquista Modelo feminino de cabelos loiros, pele branca e beleza serena, não palpável; abstrata; inacessível; símbolo de harmonia e perfeição, a beleza física está em equilíbrio com a beleza interior. Modelo feminino com características psicológicas muito marcantes: brandura, piedade, gravidade, modéstia, bondade e serenidade. Ex.: «Um mover d olhos, brando e piadoso» (p. 178) Leonardo da Vinci, Senhora com arminho, c. 1483 (pormenor).
A experiência amorosa e a reflexão sobre o amor BINÓMIO CONTRADITÓRIO Amor espiritual e carnal, correspondente a dois tipos de mulher: A IDEAL A SENSUAL Amor físico/ carnal Amor platónico/espiritual A mulher ideal é objeto de culto, intocável e distante. Quando o sujeito deseja o objeto amado, surge a torturante contradição interior. Ex.: «Pede o desejo, Dama, que vos veja» (p. 182)
A representação da natureza
A representação da natureza Locus amoenus - paisagem ideal (campo fresco e verdejante, com vasto arvoredo e flores floridas, pássaros e doces odores) conducente ao amor, ao encantamento sensorial e espiritual do Homem. ENCANTAMENTO SENSORIAL DO HOMEM Personificação da natureza. ENCANTAMENTO ESPIRITUAL DO HOMEM Reflexo do estado de alma do poeta. Ex.: «Alegres campos, verdes arvoredos» (p. 185)
A reflexão sobre a vida pessoal A poesia camoniana mantém um diálogo com a biografia do poeta. Camões apresenta o Destino e as suas próprias ações como responsáveis pelo seu infortúnio. Reflexão sobre as causas do sofrimento atual (proveniente dos erros cometidos, do amor fracassado e de ser vítima de desígnios superiores). Retrato de Luís de Camões, de autor desconhecido, primeira metade do século XVII. Ex.: «Erros meus, má fortuna, amor ardente» (p. 188)
O desconcerto do mundo O mundo é um «desconcerto», no qual os prémios e castigos estão distribuídos desconformemente. Crescente interesse dos homens por valores materiais. Sofrimento pessoal do poeta por ser vítima de um Destino fatal e cruel. Ex.: «Os bons vi sempre passar» (p. 191) Hieronymus Bosh, O jardim das delícias: Inferno (tríptico, painel lateral direito), 1503-1504.
A mudança Contraposição entre a mudança do tempo e a constância da própria alma. Oposição entre o passado contente e o presente infeliz. A mudança na Natureza é cíclica e harmónica. No Homem, a mudança opera-se sempre do bem para o mal. Ex.: «Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades» (p. 196) Mário Cesariny, Sem título, 1949.