BRINQUEDOTECA HOSPITALAR: a vivência de acadêmicos de enfermagem na prática assistencial da criança hospitalizada

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PA.CRH.17. Pág. 1 de 6

Transcrição:

BRINQUEDOTECA HOSPITALAR: a vivência de acadêmicos de enfermagem na prática assistencial da criança hospitalizada Camila AMTHAUER¹ Tamires Patrícia SOUZA² ¹ Enfermeira. Especialista em Saúde Pública. Mestranda em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E-mail: camila.amthauer@hotmail.com ² Enfermeira. Especialista em Saúde da Família. Mestranda em Ciências Pneumológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E-mail: tamires_psouza@yahoo.com.br Recebido em: 24/05/2014 - Aprovado em: 30/06/2014 - Disponibilizado em: 30/07/2014 RESUMO: A hospitalização representa uma situação delicada a ser vivenciada. Para humanizar o cuidado à criança, parte dos profissionais de saúde trazer a brincadeira para o contexto hospitalar, criando condições para que a criança desenvolva sua criatividade e percepção, permitindo sua manifestação quanto aos sentimentos desencadeados por estar hospitalizada. O objetivo é descrever a experiência de uma brinquedoteca hospitalar na unidade pediátrica. Trata-se de um relato de experiência da reativação de uma brinquedoteca na unidade pediátrica de um hospital geral. Com a inserção da brinquedoteca no hospital percebe-se que as crianças mostraram-se mais tranquilas e confiantes durante a realização de procedimentos referentes ao seu tratamento. Houve maior aproximação dos profissionais de saúde com as crianças e familiares que as acompanhavam. A brinquedoteca torna o hospital um ambiente mais alegre, dinâmico e menos traumatizante para as crianças, diferente do contexto de sofrimento e dor que o hospital costuma representar. Palavras-Chave: Saúde da Criança. Criança Hospitalizada. Hospitalização. Enfermagem Pediátrica. Pediatria. HOSPITAL PLAYROOM: the experience of nursing students in the care of hospitalized children practice ABSTRACT: Hospitalization is a delicate situation to be experienced. To humanize the child care part of health professionals to bring the game to the hospital context, creating conditions for children to develop their creativity and perception, allowing its manifestation as the feelings triggered by being hospitalized. The objective is to describe the experience of a hospital playroom in the pediatric unit. This is an experience report from reactivation of a playroom in the pediatric unit of a general hospital. With the insertion of the playroom in the hospital is perceived that children were more calm and confident while performing procedures relating to their treatment. There was closest approach of health professionals with children and family members who accompanied them. The toy makes the hospital a more sporty, dynamic and less traumatizing environment for children, different context of suffering and pain that the hospital often represents. Keywords: Child Health. Child Hospitalized. Hospitalization. Pediatric Nursing. Pediatrics. INTRODUÇÃO Brincar é a atividade de maior importância na vida de uma criança. É a maneira como ela se comunica com o seu meio, expressando seus sentimentos de amor e também suas ansiedades e frustrações. O brinquedo tem importante valor terapêutico, 572 pois ajuda a criança a enfrentar situações difíceis e delicadas, como o caso de uma hospitalização (FRANCISCHINELLI; ALMEIDA, FERNANDES, 2012). A hospitalização representa para a criança uma situação delicada a ser vivenciada. Durante o processo de hospitalização a criança tem de conviver em

um ambiente desconhecido, longe da família, dos amigos, das brincadeiras e da escola (JANSEN; SANTOS, FAVERO, 2010). O ingresso no mundo do hospital é sinônimo de sofrimento e dor, mas também simboliza a possibilidade de cura (MELO; VALLE, 2010). Como estratégia de humanizar o cuidado à criança, parte dos profissionais de saúde trazer a brincadeira para dentro do contexto hospitalar, criando condições para que a criança possa desenvolver sua imaginação, criatividade e percepção, permitindo sua manifestação quanto aos sentimentos desencadeados por estar hospitalizada. O brincar é uma atividade inerente ao comportamento infantil e essencial ao bem estar da criança, colaborando efetivamente para o seu desenvolvimento físico, motor, emocional, mental e social (FONTES et al., 2010). No período de hospitalização da criança a brincadeira não deve ser esquecida. Na vida da criança, a brincadeira e o brincar desempenham um papel importante, assegurando a capacidade de promover maior sensação de segurança e tornar o processo de internação menos traumatizante, ajudando-a em sua recuperação e seu restabelecimento físico e emocional (SCHMITZ; PICCOLI; VIEIRA, 2003). Assim, o uso de brincadeiras no contexto hospitalar é capaz de propiciar mudanças no comportamento da criança, que passa a aceitar, de maneira mais tranquila, os procedimentos relacionados ao seu tratamento e que precisam ser realizados com ela (FRANCISCHINELLI; ALMEIDA, FERNANDES, 2012). Tem ganhado importante enfoque na literatura a criação de brinquedotecas no âmbito hospitalar. Estas surgem como um espaço lúdico preparado para incentivar a criança a brincar, com acesso a uma grande variedade de brinquedos e jogos educativos. Dentre os objetivos da brinquedoteca hospitalar, destacam-se: possibilitar o desenvolvimento da criança, auxiliar no seu tratamento e recuperação, diminuir sentimentos como ansiedade por estar internada, proporcionar um espaço de diversão e alegria, conhecer outras crianças, desenvolver um vínculo maior com a equipe de saúde, etc (MELO; VALLE, 2010). A partir da Lei n. 11.104, de 21 de março de 2005, fica estabelecida que todas as instituições hospitalares com atendimento em pediatria devem organizar uma brinquedoteca como espaço provido de brinquedos e jogos educativos, destinado a estimular as crianças e seus acompanhantes a brincar (BRASIL, 2005). Tal estratégia ajuda a minimizar o ambiente hostil da instituição hospitalar, proporcionando um atendimento global durante a internação, tornando o hospital um contexto de desenvolvimento saudável para as crianças e suas famílias. Brincar no hospital torna efetiva a possibilidade lúdica em sua 573

dimensão terapêutica (OLIVEIRA et al., 2009). Nesta perspectiva, o objetivo do trabalho é descrever a experiência de uma brinquedoteca hospitalar em uma unidade de internação pediátrica, possibilitando à criança hospitalizada um espaço para a expressão de seu mundo cotidiano. METODOLOGIA Trata-se de um relato de experiência. As atividades foram realizadas durante as aulas práticas da disciplina de cuidado à saúde da mulher, adolescente e criança, ministrada no curso de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria/Centro de Educação Superior Norte do Rio Grande do Sul (UFSM/CESNORS), perfazendo um total de treze dias na unidade pediátrica de um hospital geral, localizado na Região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Ao iniciar as aulas práticas, observouse a necessidade de um espaço lúdico para as crianças internadas na unidade, em que pudessem possibilitar um momento de distração de brincadeira em meio a tantos procedimentos e rotinas a qual eram submetidas. Havia uma sala na unidade pediátrica que era reservada para este fim, contudo estava esquecida pelos profissionais e pelas crianças. Partiu dos acadêmicos a ideia de (re)ativar a brinquedoteca e usá-la para seu devido propósito. Os alunos ficaram encarregados de levar mais brinquedos, como bonecas e carrinhos, desenhos para colorir, jogos, livros de história, canetas, pincéis, massa de modelar, enfim, tudo que pudesse despertar o interesse de uma criança para seu mundo de brincadeiras. Com a brinquedoteca reestruturada, as crianças eram liberadas para ir até ela, juntamente com seus pais, para brincar e retornavam ao quarto assim que desejassem. A idade e o desenvolvimento cognitivo e motor da criança foram critérios para a escolha dos brinquedos e das brincadeiras. A média de idade das crianças era de quatro anos. As crianças eram divididas em pequenos grupos para que todas pudessem participar e para que fosse possível dar a devida atenção a todas. Não havia tempo preconizado para ficarem na brinquedoteca As crianças brincavam o quanto quisessem e voltavam ao quarto assim que desejassem. As atividades foram realizadas respeitando às normas e rotinas do hospital, bem como os horários da medicação e realização de procedimentos. Após o uso dos brinquedos, os mesmos eram limpos, a fim de prevenir qualquer tipo de contaminação. RESULTADOS E DISCUSSÃO Com a inserção da brinquedoteca no contexto hospitalar é possível perceber que as crianças mostraram-se mais tranquilas e confiantes durante a realização de algum 574

procedimento referente ao seu tratamento, que antes lhes causava estranheza e choro. Além disso, houve uma aproximação dos alunos e dos profissionais de enfermagem atuantes na unidade pediátrica com as crianças e familiares que as acompanhavam. Em consequência ao fortalecimento desse vínculo, conquistado por todos os envolvidos, houve maior envolvimento e participação dos pais e/ou responsáveis no cuidado prestado ás crianças, criando laços de confiança entre criança família enfermeiro. Outro ponto a ser destacado se refere à barreira imposta por alguns familiares com relação à atividade que lhes foi proposta, demonstrando resistência em participar por não compreender o hospital como um local de brincadeiras. Contudo, após o esclarecimento da intenção em promover aquele ambiente como um espaço de distração e divertimento para as crianças, na qual elas poderiam manusear bonecas, carrinhos e demais jogos, a maioria aceitou e se integrou nas brincadeiras. A prestação da assistência de enfermagem à criança, independente do contexto em que esteja ocorrendo, é algo abrangente. Além da execução adequada da técnica ou do domínio dos conhecimentos relacionados à determinada patologia, exige que a criança e sua família sejam contempladas como um todo: atender suas necessidades emocionais, estabelecer vínculos com a criança e com a família, saber compreendê-la, conforme a fase de desenvolvimento em que se encontra e, principalmente, quando vivencia um processo de doença (CINTRA; SILVA; RIBEIRO, 2006). Com a brinquedoteca pode-se minimizar os efeitos negativos quanto ao processo de hospitalização, pois se constitui em um local apropriado com inúmeros recursos: brinquedos de cores e formas variadas, jogos e um espaço para a realização de atividades expressivas (desenho e pintura), situações que tornam o ambiente acolhedor e aproximam a criança de elementos que constituem o universo infantil (MONTEIRO; CORRÊA, 2012). A brinquedoteca hospitalar oferece às crianças hospitalizadas e seus familiares uma formação integral, à medida que trabalha com o lúdico e também com valores de companheirismo, solidariedade e acolhimento ao outro. Ainda, mostram-se como espaços para uma educação diferenciada que, além de promover a aprendizagem, busca humanizar, atenuar os sofrimentos decorrentes da hospitalização e contribuem, por meio de brincadeiras e conversas, para a aprendizagem e desenvolvimento das crianças internadas (MORAIS; PAULA, 2010). Conforme as autoras, brincar pode desenvolver o equilíbrio e a reciclagem das emoções vivenciadas no hospital. Nas brinquedotecas hospitalares, percebe-se a necessidade de reinventar a realidade. Além 575

de tornar o ambiente mais acolhedor, as brinquedotecas proporcionam situações de socialização e desenvolvimento das habilidades dos pacientes, como atenção, concentração, afetividade e cognição (PAULA; FOLTRAN, 2007). Cabe ressaltar que, frente à hospitalização, a promoção do brincar pode possibilitar aos profissionais uma vivência diferente com seus pacientes. Ao invés de trabalhar apenas com a incapacidade e as limitações, têm a possibilidade de estabelecer outro tipo de relação com as crianças por meio do processo lúdico. O brincar também pode ser percebido pelos profissionais de saúde como uma ferramenta com vistas a auxiliar seu processo de trabalho para lidar com o sofrimento (MITRE; GOMES, 2004). Percebe-se, dessa forma, que as brinquedotecas no ambiente hospitalar podem contribuir para transformar esse contexto doloroso e hostil que é o hospital, modificando a rotina triste e solitária e trazendo mais alegria, momentos de diálogo, de distração e de aprendizagens (MORAIS; PAULA, 2010). CONCLUSÃO Aos profissionais de saúde que atuam no cuidado do paciente pediátrico cabe atentar para a atenção integral da criança, a fim de amenizar os sentimentos de ansiedade, angústia e medo, considerando os aspectos físicos e psicológicos e o estabelecimento de vínculo com o pequeno paciente e seus familiares. É necessário que a equipe de saúde compreenda a criança como um ser frágil que carece de um olhar sensível durante sua hospitalização, baseado na humanização e no acolhimento desse ser. A brinquedoteca hospitalar vem auxiliar estes profissionais no cuidado prestado à criança hospitalizada. A partir da experiência pode-se perceber que os procedimentos e cuidados de saúde realizados com as crianças tornaram-se menos traumáticos para elas, por meio da confiança e do vínculo que se estabeleceu entre profissionais da saúde e paciente. Os familiares também mostraram-se mais abertos aos profissionais e, consequentemente, mais participativos durante a internação da criança. Com este instrumento de cuidado, o hospital torna-se um ambiente mais alegre, dinâmico e menos traumatizante para as crianças, diferente do contexto de sofrimento e dor que o hospital costuma representar. Considerando que muitas ficam internadas por vários dias e que neste período de internação estão afastadas de suas atividades e das pessoas que gostam, a brinquedoteca vem com o objetivo de minimizar o sofrimento da criança e criar um espaço para que ela possa expressar suas emoções e desenvolver sua criatividade e imaginação. 576

REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº 11.104, de 21 de Março de 2005. Brasília DF. MEC, 2005 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20 04-2006/2005/Lei/L11104.htm Acesso em: 13 nov.2013. CINTRA, S. M. P.; SILVA, C. V.; RIBEIRO, C. A. O ensino do brinquedo/brinquedo terapêutico nos cursos de graduação em enfermagem no Estado de São Paulo. Rev. Bras. Enferm.: v. 59, n. 4, pp. 497-501, 2006. FONTES, C. M. B et al. Utilização do brinquedo terapêutico na assistência à criança hospitalizada. Rev. Bras. Ed. Esp.: Marília, v. 16, n. 1, pp. 95-106, 2010. FRANCISCHINELLI, A. G. B.; ALMEIDA, F.A.; FERNANDES, D. M. S. O. Uso rotineiro do brinquedo terapêutico na assistência a crianças hospitalizadas: percepção de enfermeiros. Acta Paul Enferm.: v. 25, n. 1, pp. 18-23, 2012. JANSEN, M. F.; SANTOS, R. M.; FAVERO, L. Benefícios da utilização do brinquedo durante o cuidado de enfermagem prestado à criança hospitalizada. Rev Gaúcha Enferm.: Porto Alegre, v. 31, n. 2, pp. 247-253, 2010. MELO, L. L.; VALLE, E. R. M. A brinquedoteca como possibilidade para desvelar o cotidiano da criança com câncer em tratamento ambulatorial. Rev Esc Enferm USP: v. 44, n. 2, pp. 517-525, 2010. MITRE, R. M. A.; GOMES, R. A promoção do brincar no contexto da hospitalização infantil como ação de saúde. Ciência & Saúde Coletiva: v. 9, n. 1, pp. 147-154, 2004. MONTEIRO, L. S.; CORRÊA, V. A. C. Reflexões sobre o brincar, a brinquedoteca e o processo de hospitalização. Artigo Especial/BVS: v. 26, n. 3, 2012. MORAIS, J.; PAULA, E. M. A. T. A brinquedoteca hospitalar como espaço de humanização e educação não formal. Cadernos da Pedagogia: São Carlos, v. 4, n. 7, pp. 75-85, 2010. OLIVEIRA, L. D. B. et al. A brinquedoteca hospitalar como fator de promoção no desenvolvimento infantil: relato de experiência. Rev Bras Crescimento Desenvolv Hum.: v. 19, n. 2, pp. 306-312, 2009. PAULA, E. M. A. T.; FOLTRAN, E. P. Brinquedoteca hospitalar: direito das crianças e adolescentes hospitalizados. Revista Conexão UEPG: v. 3, n. 1, pp. 22-25, 2007. 577

SCHMITZ, S. M.; PICCOLI, M.; VIEIRA, C. S. A criança hospitalizada, a cirurgia e o brinquedo terapêutico: uma reflexão para a enfermagem. Ciência, Cuidado e Saúde: v. 2, n. 1, pp. 67-73, 2003. 578