Palavras-chave: Direitos Culturais. Patrimônio Cultural. Tombamento.

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ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE A LEGISLAÇÃO ESTADUAL DE MINAS GERAIS E A LEGISLAÇÃO FEDERAL DO BRASIL SOBRE O INSTITUTO DO TOMBAMENTO COMPARATIVE ANALYSIS BETWEEN THE LAW OF THE STATE MINAS GENERAL AND THE LAW OF BRAZIL ABOUT THE INSTITUTE OF TIPPING Raquel Venâncio Ferreira dos Santos 1 Resumo: Os direitos culturais, que são aqueles relativos às manifestações culturais, tendo por base a dignidade da pessoa humana, estão previstos na Constituição Federal de 1988, nos seus artigos 215 e 216. O objetivo maior da previsão de direito à cultura é a preservação e proteção do patrimônio cultural, sendo aquele altamente relevante para a identidade e cultura de um povo, merecendo, assim, especial proteção. A preservação de um bem cultural pode ser feita por todos os entes da federação, seja em âmbito federal, estadual ou municipal. Existem diversos institutos que visam à preservação dos bens culturais, o mais conhecido deles é o tombamento, em que se reconhece o valor de um bem em relação a sua relevância cultural, passando esse bem a ser oficialmente um patrimônio cultural e tendo um regime jurídico específico, por meio do qual há a sua real proteção. Abordando o Estado de Minas Gerais, uma vez ele ter legislação própria relativa à proteção dos bens desse Estado, tem-se que suas diretrizes são, se não parecidas, muitas vezes iguais aos preceitos federais, tendo o tombamento, também, como uma das formas de viabilização da proteção dos bens culturais. Fazendo-se um estudo comparativo entre a legislação federal e a estadual mineira, analisandose desde a estrutura normativa à aspectos peculiares, compreende-se que quanto mais efetiva a proteção do patrimônio cultural, seja de toda a nação ou de uma região específica, mais se está tutelando a identidade e a cultura de um povo e a formação da história nacional ou regional. Palavras-chave: Direitos Culturais. Patrimônio Cultural. Tombamento. Abstract: The cultural rights, which are those relating to cultural events, based on the human dignity, are provided in the Federal Constitution of 1988, in the articles 215 and 216. The ultimate goal of predicting the right culture is the preservation and protection of cultural heritage, having a highly relevance to the identity and culture of a people, deserving special protection. The preservation of cultural heritage can be done by all entities of the federation, the federal, state or municipal. There are several institutes that seek to preserve cultural property, the best known of these is the tipping, which recognizes the value of an heritage based on its cultural relevance, making this to be an officially cultural heritage and having a specific legal regime, which gives a real protection. Addressing the State of Minas Gerais, that has its own legislation about the protection, have laws very similar, often identical, to the federal law, with the registration, also as a way to protect the cultural property. Making a comparative study between the federal and the state laws, analyzing the peculiar aspects, is understood that more protection of the cultural heritage, whether of the whole nation or a specific region, more it is safeguarding the identity and culture of a people and the formation of the national or the regional history. Keywords: Cultural Rights. Cultural Patrimony. Tipping. Introdução 1 Bacharela em Direito pela Universidade de Fortaleza.

O presente estudo se localiza no campo dos Direitos Culturais, tendo por ênfase o instituto do tombamento na esfera nacional e estadual mineira, uma vez que a legislação dos dois entes da federação se presta à proteção dos bens culturais pro meio do referido instituto. A origem do termo tombamento possui diversas teses, uma das mais aceitas nos dias de hoje refere-se a inscrições feitas em livros localizados nas Torres de Tombo, em Portugal. Tais registros ocorriam como se fosse, hoje, o registro dos bens imóveis nos Cartórios de Registro de Imóveis, sendo apenas no século XIX que passou a preservar a história de Portugal. (TOMASEVICIUS FILHO, 2004). O termo surgiu, segundo a tese, da ideia de arquivar que emanava da função precípua das Torres do Tombo. A natureza jurídica do instituto é bastante controversa, possuindo duas correntes mais tradicionais, uma que diz ser limitação administrativa, sendo defensores desta José Cretella Júnior e Sônia Rabello de Castro, e outra que diz ser servidão, tendo como filiados Celso Antônio Bandeira de Mello e Adilson de Abreu Dallari, e uma corrente dita moderna, que é minoritária, encabeçada por Maria Sylvia Zanella Di Pietro, José dos Santos Carvalho Filho e Francisco Humberto Cunha Filho, que entende que o instituto possui natureza jurídica próprio, qual seja, de simplesmente tombamento. (TELLES, 2010). Diante de todo o exposto buscar-se-á a analisar as semelhanças e diferenças entre o tombamento federal e o estadual de Minas Gerais, em um estudo comparativo, observando o procedimento adotado por cada ente e as peculiaridades de cada legislação. Este artigo procura fazer uma análise teórico-descritiva, voltada não só aos operadores do Direito, mas também a todos aqueles que se interessam pela preservação e proteção da cultura nacional e regional, dos diversos aspectos que envolvem a tutela do patrimônio cultural do Brasil e do Estado de Minas Gerais, em uma abordagem intencionalmente comparativa entre as legislações dos dois entes federativos. Partindo de um estudo bibliográfico e legal de temática diversa, com o objetivo de demonstrar os diferentes aspectos que envolvem o tombamento, na esfera federal e estadual mineira, abordam-se os principais aspectos dessa temática, existentes nas leis de Minas Gerias. Estrutura normativa e participação popular O instituto do tombamento está disciplinado no âmbito federal pelo Decreto-Lei nº 25 de 30 de novembro de 1937 que possui em sua estrutura 30 artigos, os quais estão divididos no decorrer de cinco capítulos, que organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional, estabelece o processo de tombamento, os efeitos do tombamento e sanções administrativas para infrações cometidas. (MANZATO, 2008, p.06). No Estado de Minas Gerais o tombamento é regido pela Lei de Criação do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA/MG) Lei nº 5.775 de 30 de setembro de 1971, pela Lei de alteração da Lei de Criação do IEPHA/MG Lei n 8.828 de 05 de junho de 1985, pelo Decreto-Lei nº 26.193 de 24 de setembro de 1986 e pela Lei nº 11.258 de 28 de outubro de 1993 e está previsto no artigo 209 da Constituição do Estado de Minas Gerais (1989, online, grifo nosso) que preceitua que: O Estado, com a colaboração da comunidade, protegerá o patrimônio cultural por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, de outras formas de acautelamento e preservação e, ainda, de repressão aos danos e às ameaças a esse patrimônio. Importante mencionar que a legislação estadual de Minas Gerais embasou suas prerrogativas no que está disciplinado na legislação federal acerca do tombamento, ficando claro, muitas vezes, que o procedimento por ela usado é, senão o mesmo, muito parecido com o adotado pela lei federal, conforme se percebe do disposto no artigo 3º da Lei nº 5.775/71 (MINAS GERAIS, 1971, online, grifo nosso):

Art. 3º - O Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (IEPHA/MG), entidade de colaboração com a Secretaria da Cultura (SEC), do Ministério da Cultura, tem por finalidade exercer proteção, no território do Estado de Minas Gerais, aos bens móveis e imóveis, de propriedade pública ou privada, de que tratam o Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937, e legislação posterior, a ele competindo: [...] A Constituição Estadual e toda a legislação citada sobre o tombamento na esfera do Estado de Minas Gerais servem de parâmetro para o estudo do instituto, uma vez que elas abordam o assunto de forma suplementar, uma trabalha um determinado aspecto do assunto enquanto a outra desenvolve ponto diverso, conforme esclarece Francisco Humberto Cunha Filho (2000, p.123): Desta forma, há que se concluir que, sobre tombamento e outas formas d proteção do patrimônio cultural, a União edita normas gerais ( 1º. do art. 24 da CF/88), prerrogativa esta que pode ser temporariamente dos Estados, no caso de omissão legislativa da União; mas os Estados têm mesmo, de regra, a competência suplementar ( 2º. e 3º. do art. 24 da CF/88). Importante mencionar que em ambos os entes da federação, seja federal ou estadual, a participação popular se faz presente, quando se diz, na Constituição Federal de 1988, 1º do artigo 216, e na Constituição do Estado de Minas Gerais, em seu artigo 209 acima mencionado, que haverá colaboração da comunidade, se está deixando claro que o povo participará de forma ativa na preservação e proteção do patrimônio cultural do País e do Estado de Minas Gerais, sendo colocada a disposição da sociedade que qualquer pessoa pode pedir aos órgãos responsáveis a abertura de estudo de tombamento de um bem. Definição do instituto e fundamentos para tombar A definição do instituto do tombamento não é de difícil entendimento, vez ser uma maneira de proteção do patrimônio cultural bastante conhecida e utilizada. Pode-se dizer que o tombamento constitui em reconhecer-se o valor cultural de um bem, passando-se a o ter como patrimônio oficial em que há um regime jurídico especial em relação à propriedade e à função social, com vistas a sua efetiva proteção. Segundo de Maria Coeli Simões Pires (1994, p.78) tombamento é: O ato final resultante de procedimento administrativo mediante o qual o Poder Público, intervindo na propriedade privada ou pública, integra-se na gestão do bem móvel ou imóvel de caráter histórico, artístico, arqueológico, documental ou natural, sujeitando-se a regime jurídico especial de tutela pública, tendo em vista a realização de interesse coletivo de preservação do patrimônio. O artigo 1º, e seus parágrafos, do Decreto-Lei nº 25/37 traz o que é considerado patrimônio histórico e artístico nacional, que são passiveis de tombamento, deixando claro que somente podem ser integrantes do referido patrimônio aqueles regularmente inscritos em um dos quatro Livros do Tombo. (BRASIL, 1937). Para o IEPHA/MG podem ser tombados os bens naturais, por exemplo, as serras, rios e cachoeiras, e os bens culturais, de natureza material, aqui compreendidos os bens móveis, integrados e imóveis que tenham relevância para Minas Gerais (Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais, online), ou seja, aqueles de interesse público para o Estado, sendo essa a principal razão para que um bem seja tombado. O Estado também considera patrimônio cultural o que está explicitado na lei federal, porém levando-se em conta somente aqueles bens de interesse histórico, artístico e paisagístico importantes para Minas Gerais. Livros do tombo e destombamento

O Estado de Minas Gerais possui os mesmos Livros do Tombo especificados no Decreto- Lei nº 25/37, conforme se depreende do artigo 4ª, caput, da Lei nº 5.775/71 (MINAS GERAIS, online, 1971), modificado pela Lei nº 8.828/85 (MINAS GERAIS, online, 1985), que assim esclarece: O Instituto manterá livros de tombo, com efeitos e destinação iguais aos definidos no Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937, para a inscrição dos bens tombados em esfera de proteção estadual como integrantes do patrimônio histórico, artístico e paisagístico do Estado de Minas Gerais. São quatro os Livros do Tombo no âmbito federal, sendo os mesmos no estadual, quais sejam: Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico; Livro do Tombo Histórico; Livro do Tombo das Belas Artes; e Livro do Tombo das Artes Aplicadas. Passando a análise do destombamento tem-se que é, como o próprio nome deixa claro, a revogação do ato administrativo de tombar, retirando o bem do Livro do Tombo no qual estava inserido e todas as restrições advindas do tombamento são extintas, voltando o bem à situação que se encontrava antes de ser tombado. Estrutura orgânica e procedimento Na esfera federal os órgãos participantes no processo do tombamento de algum bem são o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), onde se protocoliza o pedido, e o Conselho Consultivo do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que profere a decisão. O IPHAN, antes denominado Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, é órgão vinculado ao Ministério da Cultura e, hoje, divide-se em 27 superintendências regionais, da qual uma delas é o IEPHA/MG, órgão equivalente ao IPHAN no procedimento de tombamento de bens no âmbito do Estado de Minas Gerais, vinculado à Secretaria de Cultura do Estado. (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, online). A estrutura orgânica do IEPHA/MG está disciplinada no artigo 7º da Lei nº 11.258/93 (MINAS GERAIS, 1993), determinando que haverá Conselho Curador; Presidência; Diretoria Administrativa e Financeira; Diretoria de Proteção e Memória; e a Diretoria de Conservação e Restauração. Detalhando o procedimento que deve ser seguido em Minas Gerais para se tombar um bem, tem-se que a solicitação de tombamento é enviada ao IEPHA/MG; após, o referido órgão, por intermédio de sua Diretoria de Proteção e Memória/Gerência de Patrimônio Material, analisa a solicitação e se manifesta ao proponente emitindo Parecer de Tombamento, que, em caso positivo, segue com o Estudo de Avaliação de Tombamento (EAT), que será apresentado ao Conselho Estadual de Patrimônio (CONEP), órgão que equivale ao Conselho Consultivo do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Caso o CONEP avalie pela pertinência do pedido será concedido o Tombamento Provisório do Bem, em seguida, é encaminhado ao proprietário do bem a Notificação de Tombamento, sobre a qual ele poderá manifestar-se, acatando-o ou refutando-o, em 15 dias. Depois é elaborado por uma equipe interdisciplinar o Dossiê Técnico sobre o Bem, que terá textos descritivos e analíticos e vários documentos iconográficos, além de diversas outras informações relevantes sobre o bem. Passada essa etapa, todos os documentos produzidos serão apresentados em reunião ao CONEP para aprovação final, que deverá ser publicada em ata, devendo o Tombamento ser enviado para homologação pelo Governador do Estado, se bem público, ou pelo Secretário de Estado de Cultura, se bem particular. Ao final do processo o bem é introduzido em um ou mais Livros do Tombo, sendo dado por encerrado o procedimento. (do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais, online). Acerca do CONEP, importante dizer que ele é um órgão subordinado à Secretaria de Estado de Cultura, o qual delibera sobre a salvaguarda do patrimônio cultural mineiro em suas

diversas abordagens, sendo ele que cabe a decisão sobre tombamento e sobre registros de bens culturais. Espécies e consequências do tombamento Pode-se classificar o tombamento segundo dois principais critérios, tanto em relação ao tombamento feito na esfera federal, quanto o feito pelo Estado, quais sejam: a) quanto à constituição, poderá ser de ofício (art. 5º do DL 25/37), quando o bem é de natureza pública; voluntário (art. 7º do DL 25/37), quando o proprietário consente com o tombamento; ou compulsório (art. 8º do DL 25/37); quando, mesmo diante da resistência do proprietário, o bem é tombado; e b) quanto à estabilidade, será provisório (art. 10º do DL 25/37), quando o procedimento está em curso; ou definitivo (art. 10º do DL 25/37), quando se encerra o procedimento e o bem é inscrito no Livro do Tombo. As consequências advindas da decretação do tombamento são diversas, sendo destacas aqui somente as mais relevantes, tendo em vista a brevidade do trabalho. No âmbito federal tem-se que na vizinhança e no entorno do bem tombado não podem ser feitas construções que impeçam e/ou diminuam a visibilidade do bem, nem podem ser colocados anúncios ou cartazes (art. 18 do DL 25/37), sendo na esfera estadual acrescido ainda que também está impedido de colocar componentes que comprometam a harmonia da paisagem. (Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais, online) Também pode-se apontar como consequência que, para que seja feita obra, restauração ou intervenção no bem tombado, deve-se contatar o órgão responsável pelo tombamento, que poderá aprovar ou não o procedimento, sendo assim para a lei federal como para a lei estadual, apesar de haver algumas diferenças nos termos, o sentido é o mesmo. (Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais, online) Ressalte-se que o tombamento não implica na desapropriação do bem, estabelece apenas um regime especial de proteção, mas para haver a alienação ou o aluguel do mesmo deve o órgão de preservação, sendo de qualquer esfera (federal, estadual ou municipal), ser prioritariamente comunicado. Também assim se procede havendo mudança da propriedade ocorrida por qualquer causa, podendo ser causa mortis ou inter vivos. (Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais, online). Conclusão O tombamento é um dos mais importantes institutos de proteção do patrimônio cultural do País, conforme se pode perceber da análise feita, podendo ser efetivado pelos diversos entes da Federação. A proteção instituída pelo tombamento nacional e estadual do Estado de Minas Gerais, indubitavelmente, são bastante parecidas, tendo a lei estadual adotado os preceitos federais em relação à quase todos os aspectos do tombamento, fazendo as ressalvas necessárias às particularidades de sua região e possuindo alguns tímidos aprofundamentos. No âmbito estatal, Minas Gerais possui, hoje, aproximadamente, 134 bens tombados, deixando claro que o referido Estado possui inúmeros bens que traduzem a história e cultura de seu povo. Observa-se facilmente que Minas Gerais é um Estado com uma história muito profunda e cheia de acontecimentos relevantes não só para a comunidade local, mas também, para toda a nação, sendo imprescindível a atuação efetiva dos órgãos de proteção e preservação dos bens culturais. Referências BRASIL. Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937. Organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decretolei/del0025.htm>. Acesso em 19 abril 2012.

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