VIII CONGRESSO BRASILEIRO DE CIRURGIA E ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 11 a 13 de novembro de 2008 Mar Hotel Recife PE Palestras

Documentos relacionados
Tipos de células-tronco

CÉLULAS MESENQUIMAIS ESTROMAIS: FUNDAMENTAÇÃO PARA A APLICAÇÃO CLÍNICA. Gil C. De Santis Hemocentro de Ribeirão Preto

CITOCINAS. Aarestrup, F.M.

Palavras-chave: células mononucleares, enxerto heterólogo, falha óssea Keywords: bone defect, heterologous graft, mononuclear cells

Como Avaliar e Escolher. O Enxerto Ósseo Ideal

Resposta imune adquirida do tipo celular

Inflamação aguda e crônica. Profa Alessandra Barone

MSc. Romeu Moreira dos Santos

Anatomia patológica da rejeição de transplantes

MSc. Romeu Moreira dos Santos

Imunidade adaptativa celular

Universidade Federal Fluminense Resposta do hospedeiro às infecções virais

ENGENHARIA TECIDUAL. Prof. Flávio F. Demarco

Células-tronco mesenquimais

GENÉTICA DA CÉLULA-TRONCO. Aparecida Maria Fontes Ribeirão Preto Agosto/ 2017

φ Fleury Stem cell Mastócitos Mieloblastos Linfócito pequeno Natural Killer (Grande linfócito granular) Hemácias Linfócito T Linfócito B Megacariócito

Requisitos básicos. Nas regiões hematopoéticas, 50% do tecido medular é representado por gordura. O tecido hematopoético pode ocupar áreas de gordura.

Células primitivas. Capacidade de auto- regeneração. Diferenciação em múltiplos fenótipos celulares/ linhagens

TECIDOS LINFÓIDES PRIMÁRIOS ONTOGENIA DE LINFÓCITOS

Bases celulares, histológicas e anatômicas da resposta imune. Pós-doutoranda Viviane Mariguela

Bases celulares, histológicas e anatômicas da resposta imune. Pós-doutoranda Viviane Mariguela

Células Stem Mesenquimais

IMUNOLOGIA DOS TUMORES Monitor: Osvaldo

Resposta imune inata e adaptativa. Profa. Alessandra Barone

Resposta Imunológica celular. Alessandra Barone

Ontogênese de linfócitos T

COMPLEXO PRINCIPAL DE HISTOCOMPATIBILIDADE - MHC. Profa Valeska Portela Lima

Prática 00. Total 02 Pré-requisitos 2 CBI257. N o. de Créditos 02. Período 3º. Aprovado pelo Colegiado de curso DATA: Presidente do Colegiado

Princípios imunológicos do transplante renal

Bases celulares, histológicas e anatômicas da resposta imune. Pós-doutoranda Viviane Mariguela

REDE DE CITOQUINAS NA IMUNOSSUPRESSÃO: PATOLOGIAS E PAPEL REGULADOR NA TERAPIA

Prof André Montillo

Ontogenia do Linfócito T

Imunidade adaptativa (adquirida / específica):

III Curso de Sinalização Celular no Câncer

O sistema imune é composto por células e substâncias solúveis.

Imunoterapia - tumores. Material de apoio: Anderson (2009)

Microambiente tumoral. Cristiane C. Bandeira A. Nimir

Ossificação ou Osteogênese

ODONTOLOGIA. Baumer. Líder no Brasil. Forte no mundo. Enxertos Ósseos e Barreiras Biológicas LINHA DE ENXERTOS ÓSSEOS. SOLUÇÃO PARA: Odontologia

APLICAÇÃO DA ENGENHARIA DE TECIDOS NO REPARO DE CARTILAGEM ARTICULAR EM CÃES

Resposta imune inata (natural ou nativa)

Reparo. Cicatrização e Regeneração. Profa. Dra. Katia Calvi Lenzi de Almeida

Da bancada ao mercado: a experiência da CellMed (Terapia celular na Medicina Veterinária)

Expansão clonal de Linfócitos T Helper

Hematopoiese. Aarestrup, F.M.

Células do Sistema Imune

Universidade Federal da Bahia Faculdade de Medicina Departamento de Anatomia Patológica e Medicina Legal Disciplina de Imunologia MED 194

Proliferação. Diferenciação. Apoptose. Maturação. Ativação funcional. SCF PSC TPO CFU GEMM. BFU EMeg CFU GMEo BFU E IL-3. CFU EMeg CFU GM EPO.

Células tronco e terapias celulares SUMÁRIO

Universidade Estadual de Campinas Faculdade de Odontologia de Piracicaba Departamento de Diagnóstico Oral - Disciplina de Microbiologia e Imunologia -

Prof André Montillo

Imunologia. Diferenciar as células e os mecanismos efetores do Sistema imune adquirido do sistema imune inato. AULA 02: Sistema imune adquirido

Medula Óssea. Doutoranda: Luciene Terezina de Lima

Ontogenia de Linfócito T. Alessandra Barone

Órgãos e Células do Sistema Imune

Resposta Imunológica humoral. Alessandra Barone

REAÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE. Prof. Dr. Helio José Montassier

Células e propriedades gerais do sistema imune

Imunossupressores e Agentes Biológicos

HIPERSENSIBILIDADE DO TIPO IV. Professor: Drº Clayson Moura Gomes Curso: Fisioterapia

Transplante de células-tronco

Doença Respiratória Bovina, Imunidade e Imunomoduladores

HISTOCOMPATIBILDADE DE TRANSPLANTES DE CÉLULAS-TRONCOS

Anestesia, imunomodulação e recorrência de câncer. Quais as evidências atuais?

1ª PROVA PATOLOGIA GERAL

Noções de Imunogenética. Prof. Dr. Bruno Lazzari de Lima

Reparo Tecidual: Regeneração e Cicatrização. Processos Patológicos Gerais Profa. Adriana Azevedo Prof. Archangelo P. Fernandes

O SISTEMA IMUNITÁRIO

Complexo Principal de Histocompatibilidade. Alessandra Barone

TECNOLOGIA PARA A QUALIDADE DE VIDA: A PELE E AS CÉLULAS TRONCO

Moléculas Reconhecidas pelo Sistema Imune:- PAMPS e Antígenos (Ag)

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. Disponível em: <

Resposta imune adquirida

Fases do desenvolvimento. Fertilização. Célula nervosa. Células adiposas. Células do sangue. Células musculares

Receptores de Antígeno no Sistema Imune Adaptativo

INFLAMAÇÃO & REPARO TECIDUAL

BIOLÓGICOS - ENXERTOS E CIMENTO ÓSSEO BIOLÓGICOS

TÍTULO: UTILIZAÇÃO DE CÉLULAS-TRONCO NA MEDICINA VETERINÁRIA CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: MEDICINA VETERINÁRIA

ANATOMIA ÓSSEA/MUSCULAR/TEGUMENTAR. Enfº Eliél Martins Esp. em Emergências

PLANO DE APRENDIZAGEM. CH Teórica: 40h CH Prática: CH Total: 40h Créditos: 02 Pré-requisito(s): Período: IV Ano:

Prof a Dr a Mariana Kiomy Osako Estrutura e Função de Órgãos e Sistemas

Bases Moleculares e Cito- Fisiológicas das Respostas Imunes Adquiridas

Introdução ao estudo dos ossos, osteogênese e esqueleto.

COMPARAÇÃO FUNCIONAL IN VITRO ENTRE CÉLULAS ESTROMAIS MESENQUIMAIS DE TECIDO ADIPOSO DE DERMOLIPECTOMIA E LIPOASPIRAÇÃO

TERAPIAS MOLECULARES CONTRA O CÂNCER

Células envolvidas. Fases da RI Adaptativa RESPOSTA IMUNE ADAPTATIVA. Resposta Imune adaptativa. Início da RI adaptativa 24/08/2009

Novas Perspectivas da Equipe Multiprofissional para o Transplante Haploidêntico

Granulopoese. Profa Elvira Shinohara

Hematopoese. Prof. Archangelo P. Fernandes Profa. Alessandra Barone

Imunoterapia. Dra. Rosa Maria Tavares Haido Profa. Associada Disciplina de Imunologia

Mecanismos efetores da resposta imune celular

Reparo ósseo. Profa Luciana Corrêa Disciplina de Patologia Geral

Faculdade de Medicina da Universidade do Porto 2005/2006. Células Estaminais e Medicina Regenerativa

03/03/2015. Acúmulo de Leucócitos. Funções dos Leucócitos. Funções dos Leucócitos. Funções dos Leucócitos. Inflamação Aguda.

Faculdade de Ciências da Saúde de Barretos Dr. Paulo Prata

BIOTECNOLOGIA. Fermentações industrias. Cultura de tecidos e Células. Produção. fármacos. Clonagem. Melhoramento Genético. Produção de.

CURSO de MEDICINA VETERINÁRIA - Gabarito

Transcrição:

95 TERAPIA CELULAR EM REPARAÇÃO ÓSSEA APLICAÇÃO CLÍNICA DE CÉLULASTRONCOMESENQUIMAIS CELLULAR THERAPY ON BONE REPAIR CLINICAL APPLICATION OF MESENCHYMAL STEM CELL Betânia Souza MONTEIRO1, Napoleão Martins ARGÔLO-NETO2, Ricardo Junqueira DEL CARLO3, 1 Médica Veterinária, Mestre, Estudante de Doutorado do Departamento de Veterinária da Universidade Federal de Viçosa. betânia.monteiro@gmail.com 2 Médico Veterinário, Mestre, Estudante de Doutorado do Departamento de Veterinária da Universidade Federal de Viçosa. argolo_napoleao@hotmail.com 3 Médico Veterinário, Professor Titular, Clínica Cirúrgica Veterinária, Universidade Federal de Viçosa. ricarlo@ufv.br RESUMO O tecido ósseo é dinâmico e está continuamente sob processo de remodelação importante para a manutenção da sua homeostase e para a reparação dos microtraumas freqüentes. Contudo, nos casos de defeitos estruturais graves, neoplasias, infecções e processos de não-união óssea, os reparos por meio da remodelação fisiológica podem estar limitados. Desta forma, objetivando a normalidade tecidual e a manutenção da função, recorre-se a procedimentos cirúrgicos (colocação de pinos, placas, parafusos e hastes), do uso de enxertos e biomateriais e, mais recentemente da terapia celular. Dentre as opções para terapia celular, tem sido preconizada a utilização de células-tronco (CT), sobretudo as tronco mesenquimais (CTM ou MSCs) por apresentarem maior plasticidade e biodisponibilidade que as demais célulastronco somáticas. Espera-se que estas células, sob condições patológicas, auxiliem o organismo a superar a falta de fonte osteoprogenitora, de demais células comprometidas com a reparação e de fatores solúveis para o recrutamento de novos tipos celulares. Palavras-chave: tecido ósseo, células-tronco mesenquimais, terapia celular. Key-words: bone tissue, mesenchymal stem cells, cellular therapy Células-tronco Mesenquimais As células-tronco (CT), presentes em todos os vertebrados, são células indiferenciadas, capazes de auto-renovação e diferenciação em múltiplas linhagens de células e tecidos, responsáveis pela auto reparação tecidual. Durante o desenvolvimento do pré-embrião são encontradas células totipotentes e pluripotentes, chamadas de embrionárias (CTE). Nos tecidos adultos, são encontradas células multipotentes, denominadas adultas ou somáticas (CTS) (DEL CARLO et al., 2008). Dentre as CTS encontram-se as células-tronco mesenquimais (CTM ou MSCs), com ampla plasticidade, capacidade de migração para locais de lesão tecidual e de promover a manutenção e regeneração de múltiplas linhagens de células do organismo (SOTIROPOULOU et al., 2006; NAUTA e FIBBE, 2007). As MSCs estão presentes, em pequenas quantidades, em todos os tecidos adultos, incluindo a medula óssea, tecido adiposo, periósteo, tecido muscular e órgãos parenquimatosos. Essas células caracterizam-se pela habilidade de produzir qualquer tipo celular necessário num

96 processo de reparação, como osteoblastos, condroblastos, hepatócitos, células epiteliais, renais, cardíacas, entre outros (PITTENGER et al., 1999). Tal plasticidade fornece perspectivas terapêuticas promissoras com esse grupo celular, tornando-o foco de pesquisas em todo o mundo. As MSCs são coletadas, principalmente, da medula óssea, tecido adiposo e de órgãos parenquimatosos. Após a coleta, pode-se utilizar a fração celular mononuclear da medula óssea (BMMC - bone marrow mononuclear cells) para aplicação direta sobre as lesões ou realizar a expansão das MSCs, in vitro, para posterior utilização (CROVACE et al., 2008). Além da plasticidade, as MSCs apresentam propriedade imunológica bimodal, o que lhe permite interagir com células do sistema imunológico, inibindo ou estimulando a resposta imune (PATEL et al., 2008). A imunomodulação amplia as perspectivas clínicas das MSCs, uma vez que viabiliza sua utilização em pacientes incompatíveis geneticamente (DJOUAD et al, 2003; AGGARWAL & PITTENGER, 2005). Propriedades Imunológicas das MSCs As MSCs tornaram-se foco de atenção terapêutica devido seu potencial imunomodulatório (WAN et al., 2008), embora, os mecanismos de imunossupressão da resposta inflamatória e dos mecanismos de rejeição ao transplante não estejam totalmente elucidados (PATEL et al., 2008). Mediante o contato direto das MSCs com o tecido (alógeno ou autógeno) ou mediante a interação destas células com o INF-γ produzido pelas células imunes do organismo, as MSCs desencadeiam a liberação de diversos fatores solúveis. Estes fatores atuarão sobre as células do sistema imunológico (linfócitos e células dendríticas apresentadoras de antígeno - APC) modulando a resposta imune (CORCIONE et al., 2006; NAUTA & FIBBE, 2007) [Fig. 1]. Dentre esses fatores, estão as prostaglandinas (PGE2), interleucinas (IL-4, IL-6, IL-10), fator de crescimento transformador beta (TGF-ß), fator de crescimento do hepatócito (HGF) e a enzima indoleamine 2,3-dioxygenase (IDO) (NAUTA & FIBBE, 2007). A liberação de TGF-ß e HGF suprime a proliferação dos linfócitos T e B (Di NICOLA et al., 2002). Enquanto, a liberação de PGE2 inibe o recrutamento dos linfócitos T citotóxicos e produção de citocinas pró-inflamatórias. A enzima IDO induz a apoptose dos linfócitos T, por transformar o triptofano (aminoácido essencial para a ativação dessas células) em produtos tóxicos (AGGARWAL & PITTENGER, 2005). De forma análoga, IDO, PGE2 e TGF-ß induzem a perda do potencial citotóxico das células NK (natural killer), uma vez que suprimem a produção de IL-2, IL-15 e INF-γ pelas mesmas (SOTIROPOULOU et al., 2006). Em relação às APC, evidenciou-se que as MSCs interferem na diferenciação, maturação e ativação dessas células por meio da produção de IL-6 e de fator de crescimento estimulador de macrófago (M-CSF). Além disso, a liberação de PGE2, pelas MSCs, inibe a produção e secreção de fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e de INF-γ e estimula a produção de citocina antiinflamatória IL-10 (AGGARWAL & PITTENGER, 2005; NAUTA & FIBBE, 2007).

97 Ademais, além dos efeitos imunossupressores relatados acima, alguns autores descrevem que as MSCs expressam pequenas quantidades de complexo de histocompatibilidade principal do tipo I (MHC-I) e níveis negligenciáveis de MHC-II (Le BLANC, 2003). Durante a seleção clonal positiva e negativa (reconhecimento do organismo do próprio e do não-próprio), as células de defesa utilizam o MHC para tal seleção. Em ausência do mesmo, o processo de seleção de não próprio não ocorre, impedindo a rejeição (MAJUMDAR et al., 2003). Figura 1 Demonstração dos efeitos imunomoduladores das células-tronco mesenquimais (MSCs) sobre células do sistema imune (modificado de NAUTA & FIBBE, 2007). Terapia Celular autógena e alógena Embora a forma de coleta de MSCs favoreça seu uso autógeno, a possibilidade de tratamento alógeno permite a criação de bancos de MSCs, ampliando as possibilidades terapêuticas. Pacientes em estados mórbidos desfavoráveis poderiam fazer uso de culturas celulares já estabelecidas. Não obstante, estudos contemporâneos relatam a utilização das MSCs, alógenas e autógenas, para a reparação óssea. Usualmente, nesses estudos, utiliza-se desde a fração BMMC, que contem pequenas quantidades de MSCs, até a cultura expandida de MSCs obtidas de diversos órgãos. Ambas, podem ser aplicadas in situ (no local da lesão), isoladamente ou combinadas com substitutos ósseos e biomateriais, e por infusão intravenosa. Barros et al (2001a e 2001b) realizaram a aplicação alógena de BMMC, por via percutânea, em falhas ósseas induzidas experimentalmente em rádio de coelhos. Os autores

98 puderam concluir que a aplicação de BMMC resultou em preenchimento precoce com formação direta de tecido ósseo, quando comparado com o controle, sobretudo nas duas primeiras semanas de avaliação. Crovace et al. (2008), Del Carlo et al. (2007) e Dallari et al. (2007) utilizaram BMMC autógenas, via aplicação in situ, em falhas ósseas críticas em modelos experimentais animais, visando precocidade de osteogênese, e obtiveram resultados similares a Barros et al.(2001b). Yamasaki et al.(2008) realizaram osteotomia rotacional transtrocantérica acrescida da aplicação autógena de BMMC associadas à hidroxiapatita, no tratamento de osteonecrose bilateral da cabeça femoral,. Concluíram que a aplicação das células favoreceu a reparação. De forma similar, Paez et al. (2007) associou BMMC ao substituto ósseo coral Porites astreoides e constataram sustentação para crescimento e formação óssea precoce. Bruder et al. (1998) demonstraram que cultura de MSCs derivadas de medula óssea, depositadas sobre plataformas de hidroxiapatita e sobre cerâmica de cálcio, pode ser utilizada com sucesso no tratamento de defeitos críticos em fêmur de cães. Constataram rápido desenvolvimento de tecido ósseo ao redor dos implantes e retorno precoce da função do membro. Hernigou et al. (2005) trataram não-união óssea, na diáfise da tíbia, utilizando a fração concentrada de BMMC, aplicada por via percutânea. Observaram reversão da não-união e consolidação óssea em 88% dos casos e o sucesso do tratamento era proporcional à concentração celular obtida Zamprogno (2007) realizou, no tratamento de não-união, aplicação única de cultura de MSCs, por via percutânea, na dose de 107 células por aplicação Observou que a terapia com células-tronco provenientes da medula óssea mostrou-se efetiva, promovendo a união óssea em pacientes que apresentavam um ano ou mais de fratura, e diversas cirurgias anteriores fracassadas. Destacando a aplicação alogênica, Horwitz et al. (2002) realizaram duas infusões venosas de MSCs, na dose de 1 106 células/kg a 5 108 células/kg, com intervalos de um mês entre as aplicações, objetivando o tratamento de seis crianças que sofriam de severas formas de osteogênese imperfeita. Durante os primeiros seis meses de acompanhamento, observaram maior deposição óssea e menor ocorrência de fraturas nesses pacientes. Porém, de acordo com outros relatos, um inconveniente para a aplicação venosa é a necessidade de grandes quantidades de células por aplicação, visto que muitas se distribuem para locais distintos à lesão principal. CONSIDERAÇÕES FINAIS Muitos dados experimentais e clínicos apóiam a eficácia de MSCs na formação óssea e cicatrização de grandes defeitos. Contudo, a terapia celular com MSCs é uma ciência em formação cujos estudos clínicos começam a apresentar os primeiros resultados e ainda são necessários mais estudos randômicos para reiterar os resultados, até então, obtidos. Além disso, muitos aspectos das interações biomoleculares entre MSCs e sistema imunológico permanecem

99 obscuros. A compreensão de tais eventos pode esclarecer os mecanismos de plasticidade celular, as dose de aplicação, vias de aplicações e limitações da terapia. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGGARWAL, S.; PITTENGER, M.F. Human mesenchymal stem cells modulate allogeneic immune cell responses. Blood. v. 105, p. 1815-1822, 2005. BARROS, S.V.G.; DEL CARLO, R.J.; VILORIA, M.I.V.; et al. Auto-enxerto percutâneo de medula óssea. I. coleta, preparo e aplicação. Ciência Rural. v.31, n.6, p.1013-1018, 2001. BARROS, S.V.G.; DEL CARLO, R.J.; VILORIA, M.I.V.; et al..auto-enxerto percutâneo de medula óssea. II. Reparação de falhas segmentares produzidas no rádio de coelhos. Ciência Rural. v.31, n.4, p.627-632, 2001. BRUDER, S.R.; JAISWAL, N.; RICALTON, N.S.; et al. Mesenchyma1 Stem Cells in Osteobiology and Applied Bone Regeneration. Clinical Orthopaedics and Related Research. n. 355S, p. S247- S256, 1998. CORCIONE, A.; BENVENUTO, F.; FERRETTI, E.; et al. Human mesenchymal stem cells modulate B-cell functions. Blood. v. 107, p. 367 372, 2006. CROVACE, A; FAVIA, A.; LACITIGNOLA, L.; et al. Use of autologous bone marrow mononuclear cells and cultured bone marrow stromal cells in dogs with orthopaedic lesions. Veterinary Research Communications, v.32, suppl. 1, p.39-44, 2008. DALLARI, D.; SAVARINO, L.; STAGNI, C.; et al. Enhanced tibial osteotomy healing with use of bone grafts supplemented with platelet gel or platelet gel and bone marrow stromal cells. The Journal of Bone and Joint surgery of America. v. 89, p. 2413 2420, 2007. DEL CARLO, R.J.; PINHEIRO, L.C.P; MONTEIRO, B.S.; et. al. Integração de aloenxertos ósseos corticais associados ou não a células-tronco da medula óssea, proteína óssea morfogenética (BMP) e autoenxerto esponjoso em cães. Veterinária e Zootecnia. v.14, n.2, p.204-215, 2007. DEL CARLO, R.J; MONTEIRO, B.S; ARGÔLO-NETO, N.M. Células-tronco e fatores de crescimento na reparação tecidual. Ciência Veterinária nos Trópicos. v. 11, n.1, p. 167-169, 2008. Di NICOLA, M.; CARLO-STELLA, C.; MAGNI, M.; et al. Human bone marrow stromal cells suppress T lymphocyte proliferation induced by cellular or nonspecific mitogenic stimuli. Blood. v. 99, p.3838-3843, 2002. DJOUAD, F.; PLENCE, P.; BONY, C.; et al. Immunosuppressive effect of mesenchymal stem cells favors tumor growth in allogeneic animals. Blood. v.102, p. 3837, 2003.

100 HERNIGOU, P.H.; POIGNARD, A.; BEAUJEAN, F.; et al. Percutaneous autologous bone marrow grafting for nonunions Influence of number and concentration of progenitor cells. The Journal of Bone and Joint Surgery. v. 87, p. 430-1437, 2005. HORWITZ, E.M.; GORDON, P.L.; KOO, W.K.; et al. Isolated allogeneic bone marrow-derived mesenchymal cells engraft and stimulate growth in children with osteogenesis imperfecta: implications for cell therapy of bone. The Proceedings of the National Academy of Sciences USA. v. 99, n.13, p. 8932 8937, 2002. Le BLANC, K. Immunomodulatory effects of fetal and adult mesenchymal stem cells. Cytotherapy. v. 6, p. 485 489, 2003. MAJUMDAR, M.K.; KEANE-MOORE, M.; BUYANER, D.; et al. Characterization and functionality of cell surface molecules on human mesenchymal stem cells. Journal of Biomedical Science. v. 10, p. 228-241, 2003. NAUTA, A.J.; FIBBE, W.E. Immunomodulatory properties of mesenchymal stroma cells. Blood. v.110, n.10, p.3499 3506, 2007. PAEZ, O.L.A.; DEL CARLO, R.J.; BORGES, A.P.B.; et. al. Coral Porites astreoides associado ou não à medula óssea autógena no preenchimento de falhas produzidas na tíbia de cães. Veterinária e Zootecnia. v.14, n.2, p. 271-281, 2007. PATEL, S.A.; SHERMAN, L.; MUNOZ, J.; et al. Immunological properties of mesenchymal stem cells and clinical implications. Archivum immunologiae et Therapiae Experimentalis. v. 56, n. 1, p. 1-8, 2008. PITTENGER, M.F.; MACKAY, A.M.; BECK, S.C.; et al. Multilineage potential of adult human mesenchymal stem cells. Science. v.284, p. 143-147, 1999. SOTIROPOULOU, P.A; PEREZ, S.A; GRITZAPIS, A.D.; et al. Interactions between human mesenchymal stem cells and natural killer cells. Stem Cells. v. 24, n. 1, p. 74 85, 2006. ZAMPROGNO, H. Células tronco esqueléticas para o tratamento de não união de fraturas. Acta Scientiae Veterinariae. v. 35, supl. 2, p. s289-s290, 2007. YAMASAKI, T.; YASUNAGA, Y.; TERAYAMA, H.; et al. Transplantation of bone marrow mononuclear cells enables simultaneous treatment with osteotomy for osteonecrosis of the bilateral femoral head. Medical Science Monitor. v.14, n.4, p. CS23-CS30, 2008.