PARECER CRM/MS 2/2016 PROCESSO CONSULTA CRM MS: 000016/2015 INTERESSADO: E. S. C. e Sociedade Beneficente do Hospital Nossa Senhora Auxiliadora PARECERISTA: Eliana Patrícia S. Maldonado Pires EMENTA: É recomendável a presença de obstetra nos serviços que prestam assistência na área de ginecologia obstetrícia. Os diretores clinico e técnico respondem pelo bom andamento da rotina hospitalar PALAVRA CHAVE: PLANTÃO OBSTÉTRICO; RESPONSABILIDADES DOS DIRETORES TÉCNICO E CLÍNICO. CONSULTA: O Diretor Clínico do Hospital Auxiliadora da cidade de Três Lagoas, solicita parecer/consulta dos seguintes questionamentos: 1. Existe obrigatoriedade ou orientação com relação ao número de Plantonistas Obstetras na maternidade deste Hospital, de ser 01 (hum) ou 02 (dois) plantonistas nos plantões presenciais? 2. Com relação a todos os serviços médicos prestados no Hospital, todos os médicos devem ser titulados para a Especialidade ou apenas 01 (hum) da equipe? 3. Com relação ao Ambulatório de Especialidades Médicas, obrigatoriamente os médicos que prestam atendimento estão sob a responsabilidade dos Diretores Clínico e Técnico do Hospital? DISCUSSÃO: A legislação pertinente da Portaria n 569, de 1 de junho de 2000 1, do Ministério da saúde no Anexo II do Artigo 1 nos Princípios gerais argumenta que: as condições para a adequada assistência ao parto em todas as unidades integrantes do SUS têm como responsabilidades, dentro dos Recursos Humanos garantir a equipe profissional mínima para unidades mistas, hospitais gerais e maternidades para a realização do parto: obstetra; pediatra/neonatologista; clínico geral; enfermeiro (preferencialmente com especialização em obstetrícia); auxiliar de enfermagem e auxiliar de serviços gerais. 1 Conteúdo do Processo Consulta CFM nº 4.472/09 Parecer CFM nº 7/11. 1
A Resolução CFM n 997/80 1 no Artigo 10 Os estabelecimentos de saúde, que sob qualquer forma anunciarem especialidades médicas, deverão ter a seu serviço profissionais registrados nos Conselhos Regionais de Medicina, nas correspondentes especialidades. Parágrafo único. A não observância do estabelecido neste artigo constitui infração ética, por parte do diretor técnico. A mesma Resolução no Artigo 11 O diretor técnico médico, principal responsável pelo funcionamento dos estabelecimentos de saúde, terá obrigatoriamente sob sua responsabilidade a supervisão e coordenação de todos os serviços técnicos do estabelecimento, que a ele ficam subordinados hierarquicamente. A Resolução CFM n 1.342/91, de 8 de agosto de 1991 1 no Artigo 1 - Determinar que a prestação da assistência médica nas instituições públicas ou privada é de responsabilidade do diretor técnico e do diretor clínico, os quais, no âmbito de suas respectivas atribuições, responderão perante o Conselho Regional de Medicina pelos descumprimentos dos princípios éticos, ou por deixar de assegurar condições técnicas de atendimento, sem prejuízo da apuração penal ou civil. PARECER: 1. Existe obrigatoriedade ou orientação com relação ao número de Plantonistas Obstetras na maternidade deste Hospital, de ser 01 (hum) ou 02 (dois) plantonistas nos plantões presenciais? O atendimento de urgência e emergência nas áreas de ginecologia e obstetrícia, especialmente nesta última, exige a presença diuturna dos médicos nos locais sob sua responsabilidade. A Ginecologia e Obstetrícia constitui especialidade de atendimento frequentemente emergencial e cirúrgico, impondo cuidados essenciais ao médico. A especialidade Ginecologia e Obstetrícia não compõe a equipe básica regulamentada de assistência em pronto-socorro. É recomendável que maternidades com expressivo movimento possuam equipe mínima composta por dois (02) obstetras, anestesiologista, neonatologista e enfermeiro obstetra. 2
Lembrar que todo parto se configura em uma situação de emergência; razão pela qual não é recomendado que haja menos de dois obstetras de plantão em hospitais-maternidades, sendo 3 o número ideal, tendo em vista que, em partos cirúrgicos, estando dois deles em atividade operatória, o terceiro elemento da equipe multidisciplinar (enfermeiro obstetra), assistiria a triagem e as intercorrências. O obstetra (cirurgião) atuando em hospitais maternidades com carência de recursos humanos (um só obstetra) não deve operar sem as condições mínimas que garantam ao paciente as possibilidades de um bom resultado. Deve pelo contrário, apontar as falhas do hospital conforme os dispositivos nos itens II e III dos Princípios Fundamentais e o item III dos Direitos dos médicos, além do artigo 19 do Código de Ética Médica 2. 2. Com relação a todos os serviços médicos prestados no Hospital, todos os médicos devem ser titulados para a Especialidade ou apenas 01 (hum) da equipe? A Ginecologia e Obstetrícia é a segunda especialidade mais exercida no Brasil. Especialidade que trata das fases mais significativas da vida nascimento, crescimento, reprodução e envelhecimento e, desta forma, enfrentam dilemas éticos imprevistos em cada avanço do conhecimento médico. A existência de muitas denúncias nesta área é esperada já que a especialidade lida com procedimentos de maior risco, ou seja tem uma probabilidade maior de resultados adversos, mesmo na inexistência de falhas por parte dos médicos assistentes. Quando a formação médica é insuficiente, certamente os riscos aumentam, uma vez que a obtenção do diploma médico não caracteriza o final do estágio de aprendizagem, sendo necessário três anos de Residência médica, ou concurso para obtenção do Título de Especialidade. A Resolução CFM n 997/80, literalmente infere: Art. 10. Os estabelecimentos de saúde, que sob qualquer forma anunciarem especialidades médicas, deverão ter a seu serviço profissionais registrados nos Conselhos Regionais de Medicina, nas correspondentes especialidades. 2 Parecer CREMEB nº 28/13, de 23/07/13. 3
Assim, os serviços que por ventura anunciem o atendimento nas especialidades de Ginecologia e Obstetrícia ou credenciem os mesmos para este fim, deverão obedecer tal dispositivo. Entendemos, que em cidades distantes das capitais haverá dificuldade para preencher escalas com vários médicos titulados nas áreas de trabalho, nestes casos particulares, a presença e/ou responsabilidade de um médico (escala de sobreaviso) poderá contemplar de certa forma este quesito. 3. Com relação ao Ambulatório de Especialidades Médicas, obrigatoriamente os médicos que prestam atendimento estão sob a responsabilidade dos Diretores Clínico e Técnico do Hospital? As instituições que prestam assistência médica, que seja de natureza pública ou privada, devem apresentar estrutura organizacional com órgãos diretivos, dentre os quais se destaca a Diretoria Clínica e a figura do Diretor Clínico. O Diretor clínico é escolhido pelos médicos do Corpo Clínico, por meio de eleição direta, e representa o elo entre o corpo clínico e a administração da instituição. As atribuições do Diretor Clínico são diversificadas e demandam grande responsabilidade, uma vez que primordialmente, deve zelar pelo cumprimento dos preceitos éticos na prestação da assistência médica veda ao médico, investido em cargo ou função de direção, deixar de assegurar os direitos dos médicos e as demais condições adequadas para desempenho éticoprofissional da medicina. As principais atribuições do Diretor Clínico são (Art. 3 da Resolução CFM n 1342/91): - Dirigir e coordenar o Corpo Clínico da instituição; - Supervisionar a execução das atividades de assistência médica da instituição - Zelar pelo fiel cumprimento do Regimento Interno do Corpo Clínico da Instituição de acordo com a Resolução CFM n 1342/91. O Diretor Técnico tem as atribuições de zelar pelo cumprimento das disposições legais e regulamentares em vigor, assegurar condições dignas de trabalho e os meios indispensáveis à 4
prática médica e assegurar o pleno e autônomo funcionamento das Comissões de Ética Médica. Diante dessas especificidades e da inexistência de normativa legal que determine a obrigatoriedade de um número ideal de médicos compondo as equipes de saúde, os Diretores Técnicos devem considerar as recomendações do Ministérios de Saúde e do Conselho Federal de Medicina, no sentido de compor equipes eficientes e suficientes para prestar uma atenção de qualidade, adequada ao perfil da Unidade e às necessidades da população a quem serve. Os ambulatórios de especialidades também representam parte ativa da estrutura organizacional dos hospitais públicos e/ou privados, desta forma as escalas, rotinas e normativas devem ser geridas e discutidas através da atuação da Direção Técnica. Este é, smj, o parecer. Campo Grande, 27 de janeiro de 2016 Eliana Patrícia Sempértegui Maldonado Pires Conselheira Parecerista Parecer Aprovado na Sessão Plenária do dia 19.02.2016 Dra. Rosana Leite de Melo Presidente 5