Uma Aplicação dos Modelos Box-Jenkins para Previsão de Demanda na Área de Assistência Técnica de Computadores Pessoais

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Transcrição:

Uma Aplicação dos Modelos Box-Jenkins para Previsão de Demanda na Área de Assistência Técnica de Computadores Pessoais Liane Werner Departamento de Estatística, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Bento Gonçalves 9500, Porto Alegre-RS, 91509-000, werner@mat.ufrgs.br José Luis Duarte Ribeiro Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Praça Argentina, 9, 2 andar, Sala LOPP, Porto Alegre-RS, 90040-020, ribeiro@ufrgs.br Abstract Demand forecasting is an important tool to aid on the determination of necessary resources of a given company. In this paper, the Box-Jenkins methodology was applied to analyze historical data of a personal computer repair company and provide a forecast for the number of service calls. The company studied presents three segments of clients: contracts, warranty, and on-call. As each client has it own characteristics, in order to better represent tendency and seasonality behavior through the Box-Jenkins models, a specific forecasting model was developed for each segment. However, in this paper will be presented only the model to foresee the number of contract clients. The choice of the optimum models were based into graphic analysis and statistical tests, which lead to the decision of adopting the AR(1) model. Key words: Box-Jenkins models, ARIMA models, Technical assistance. 1. Introdução Na última década, a globalização passou a ser a palavra chave no mercado mundial. As empresas que desejam se manter no mercado mundial, ou mesmo em seus mercados locais, precisam, antes de tudo, analisar a situação que as rodeiam e estarem atentas aos rumos tomados no âmbito da globalização. Realizar previsões de demanda é uma atividade importante para auxiliar na determinação dos recursos necessários para a empresa. Em tempos de abertura de mercados, essa atividade torna-se fundamental. Os mercados que podem ser acessados pela empresa, assim como a concorrência que disputa esses espaços, mudam continuamente, exigindo novas previsões de demanda em períodos mais curtos. Na área de assistência técnica de computadores, prever a demanda dos serviços está intimamente ligado a tarefas de disponibilizar recursos, tanto humanos, como de equipamentos, para um atendimento eficaz aos clientes. As previsões de demanda são elaboradas utilizando técnicas quantitativas, técnicas qualitativas ou ainda uma mistura de ambas. Segundo Pellegrini e Fogliatto (2000), ENEGEP 2002 ABEPRO 1

métodos quantitativos utilizam dados históricos para prever a demanda em períodos futuros. Uma das técnicas quantitativas mais difundida é a metodologia de Box-Jenkins, descrita por estes autores na década de 70. Os modelos de Box-Jenkins partem da idéia de que cada valor da série (temporal) pode ser explicado por valores prévios, a partir do uso da estrutura de correlação temporal que geralmente existe entre os valores da série. Segundo Abdel-Aal & Al-Garni (1997), os modelos Box-Jenkins têm sido largamente utilizados para a modelagem e previsão em aplicações médicas, ambientais, financeiras e de engenharia. Os próprios autores aplicaram essa metodologia para prever o consumo mensal de energia elétrica no leste da Arábia Saudita. Para Slini, Karatzas & Moussiopoulos (2001), a modelagem de séries temporais é apropriada para a previsão da qualidade do ar. Estes autores aplicaram a metodologia de Box-Jenkins para prever a qualidade do ar na cidade de Atenas, na Grécia. Além de aplicações nas áreas citadas, Lim & McAleer (2001) citam que a literatura na área de previsão de demanda turística, baseada em diferentes métodos de previsão de séries temporais, é numerosa. Os referidos autores, aplicaram a metodologia de Box-Jenkins e modelaram a demanda de turistas que chegam a Austrália proveniente de três países da Ásia. Neste artigo, a metodologia de Box-Jenkins, é aplicada aos dados históricos de uma empresa que atua no setor de serviços, fornecendo assistência técnica em computadores pessoais. A contribuição principal deste artigo pode ser resumida em três aspectos: (i) uma apresentação passo-a-passo do emprego da metodologia; (ii) o uso seqüencial de gráficos e testes estatísticos para subsidiar a construção e escolha dos modelos mais adequados; e (iii) a ênfase na modelagem orientada a cada segmento de cliente, uma vez que eles são influenciados por diferentes fatores e, assim, apresentam comportamento distinto no que se refere à tendência e sazonalidade. 2. Estudo de Caso Com o objetivo de realizar previsões de demanda, inicialmente, foram reunidos dados históricos de agosto de 1996 até julho de 2001 de uma empresa prestadora de serviços de assistência técnica em equipamentos de informática. A empresa, que é de pequeno porte, atualmente possui duas lojas de atendimento aos clientes na capital gaúcha, contando com aproximadamente 40 funcionários. Essa empresa tem três tipos diferenciados de clientes, que são: os clientes que assinam contratos de manutenção, em geral pessoas jurídicas; os clientes que trazem o equipamento para manutenção no período de garantia; e os clientes avulsos, em geral pessoas físicas. A empresa realiza serviço manutenção de hardware e/ou software e, raramente, vende peças sem realizar junto algum tipo de serviço. A demanda da empresa não pode ser estabelecida sem uma análise segmentada dos tipos de clientes. Cada tipo de cliente atendido pela empresa tem suas peculiaridades, por isto a previsão de demanda total da empresa deve ser uma soma da previsão da demanda individual dos tipos de clientes. Assim para realizar a previsão de demanda da empresa foi empregada a metodologia de Box-Jenkins para o número de atendimento realizados em cada um dos três tipos de clientes, a saber: contratos, garantia e avulsos. Contudo, neste artigo será apresentado apenas a modelagem para prever o número de atendimentos dos clientes tipo contratos. ENEGEP 2002 ABEPRO 2

2.1. Metodologia Box-Jenkins para clientes do tipo Contratos 2.1.1. Etapa de Identificação Para identificar os modelos apropriados, inicialmente deve ser analisado o gráfico de tempo da série em estudo. A análise do gráfico de tempo pode indicar a presença de tendência ou alteração na variância, o que revelaria se a série é ou não, estacionária. Para o caso do número de atendimentos para clientes do tipo contrato, que se encontra na Figura 1, pode ser observada uma fraca tendência decrescente. Uma vez que a série apresenta uma inclinação muito pequena, ela será considerada estacionária. Essa suposição coincide com a expectativa da equipe técnica da empresa, que não acredita que possa ocorrer uma diminuição do número de contratos nos próximos meses. O próximo passo é analisar as funções de autocorrelações (ACF) e autocorrelações parciais (PACF). O comportamento dessas funções permite indicar qual o modelo a ser utilizado, bem como auxilia o uso dos testes de raízes unitárias para confirmar a estacionariedade. Figura 1 Número de atendimentos para clientes do tipo contrato e sua tendência. A Figura 2(a) apresenta a ACF do número de atendimentos de clientes do tipo contrato. Pode-se observar que a ACF apresenta um decaimento exponencial rápido, chegando a zero nas primeiras defasagens, indicação de um modelo AR(1). A PACF, que apresenta as autocorrelações parciais, autocorrelações estas que medem a correlação entre o valor de Z t e Z t-k, descontadas a influência dos valores de Z t-1 até Z t-k+1 e que são obtidas pelas equações de Yule-Walker, está apresentada na Figura 2(b). Observase que apenas a autocorrelação de defasagem 1 é significativa, reforçando a indicação de um modelo AR(1). Uma vez que as ACF e PACF fornecem a indicação de um modelo autoregressivo de ordem um, testou-se a estacionariedade da série, através do teste Dickey-Fuller, o mais conhecido teste de raízes unitárias. Para tal, utilizou-se o pacote econométrico Eviews (versão 3.0), de onde a hipótese de não estacionariedade foi rejeitada ao nível de 5% de significância. Visto que a série pode ser considerada estacionária, a ordem de integração é zero, isto é, d = 0. ENEGEP 2002 ABEPRO 3

(a) Figura 2 (a) Função de autocorrelação e (b) Função de autocorrelação parcial para o número de atendimentos de clientes do tipo contrato. 2.1.2. Etapa de Estimação Uma vez indicados os valores de p, d, q, passa-se para a estimação dos parâmetros do 2 modelo proposto, da variância do resíduo σ ε e da constante do modelo, que neste caso é o nível médio do processo. Para estimar os parâmetros do modelo foi usado o pacote estatístico SPSS (versão 8.0), optando-se pelo método de forecasting de mínimos quadrados incondicional. As estimativas para o modelo em estudo foram: φ 1 = 0,59 e µ = 95,59. Rescrevendo o modelo dado pela equação 2.3 e substituindo os valores dos coeficientes, temos: Z ~ t = 0,59Z ~ t 1 + εt Zt 95,59 = 0,59(Zt 1 95,59) + εt Zt = 0,59Zt 1 + 39, 20 + εt (1) 2.1.3. Etapa de Verificação Esta etapa consiste em verificar se o modelo identificado e estimado é adequado. Em caso positivo, ele pode ser utilizado para fazer previsões. Em caso negativo, será necessário identificar outro modelo e repetir as etapas de estimação e verificação. Segundo Fava (2000) as formas de verificação comumente usadas são duas: análise de resíduos e avaliação da ordem do modelo. Avaliação através da análise de resíduos Os resíduos do modelo estimado ˆε t são estimativas do ruído branco, sendo assim, devem apresentar esse comportamento se o modelo estiver adequadamente especificado, isto é, seus coeficientes de autocorrelação devem ser estatisticamente iguais a zero. Para testar essa suposição, verificou-se o comportamento da ACF para os resíduos estimados. A análise da Figura 3 revela que os resíduos apresentam um comportamento aleatório, ou seja, não revelam nenhum padrão específico. Assim, a análise dos resíduos confirma a adequação do modelo. ENEGEP 2002 ABEPRO 4 (b)

O uso do teste de Ljung-Box Q* reforça essa afirmativa. Esse teste compara o valor da estatística de teste com os valores tabelados da distribuição Qui-quadrado com k-p-q graus de liberdade. Aplicando o teste para k=15 sobre os erros estimados pela aplicação do modelo AR(1), obtém-se uma estatística de teste Q* = 21,07 que não é significativa quando comparado com o valor da distribuição Qui-quadrado com k-p = 15-1 = 14 graus de liberdade. Assim, pela análise do teste de Ljung-Box, os resíduos podem ser considerados ruído branco. Figura 3-Função de autocorrelação para os resíduos do modelo AR(1). Avaliação da ordem do modelo O objetivo é verificar se o modelo é parcimonioso, isto é, se não tem parâmetros em excesso. A verificação da existência de parâmetros em excesso é feita com base no erro padrão dos coeficientes. Se o valor do coeficiente estimado for pequeno em relação a seu erro padrão, conclui-se que ele não é significativo, ou seja, não há evidências estatísticas para suportar a inclusão do coeficiente no modelo. Além disto, a análise do erro padrão do modelo é um outro indicador para verificar se a ordem do modelo está adequada. Quanto menor for o erro padrão, melhores serão as previsões. Os critérios de AIC (Akaike Information Criteria) e SBC (Schwartz Bayesian Criteria), que são utilizados para comparação de modelos e que levam em conta a variância do erro, o tamanho da amostra T e os valores de p, q, P e Q, também são utilizados. Makidrakis et al. (1998) indicam que alguns programas computacionais utilizam para o cálculo aproximado de AIC a expressão: T(1+ln(2π)) + T lnσ 2 + 2(p+q+P+Q). Modelo p-value dos coeficientes Critério AIC AR(1) φ 1 : 0,000 nível do processo: 0,000 AR(2) φ 1 : 0,000 φ 2 : 0,661 nível do processo: 0,000 ARIMA(1,1,0) φ 1 : 0,056 nível do processo: 0,832 Fonte: Análise no pacote SPSS, versão 8.0. 610,12 (T=60) 611,95 (T=60) 609,47 (T=59) Critério SBC 614,31 (T=60) 618,23 (T=60) 613,63 (T=59) Tabela 1 Critérios de comparação para verificação do melhor modelo. Erro padrão Variância do modelo 2 σ ε 38,29 1466,46 38,56 1486,84 41,62 1732,37 ENEGEP 2002 ABEPRO 5

A Tabela 1 apresenta uma comparação do modelo escolhido com outros dois modelos propostos para o número de atendimentos dos clientes tipo contrato. Para o modelo AR(2) observa-se que o coeficiente φ 2 não é significativo (p-value igual a 0,661), logo a variável no tempo t-2 não deve ser incluída no modelo. Para confirmar a estacionariedade da série, tomou-se uma diferença e foi estimado o modelo ARIMA(1,1,0) que apresenta um erro padrão maior que o modelo indicado. Essas comparações levaram a escolha do modelo AR(1), apresentado na equação 3.1. 2.1.4. Etapa de Previsão Segundo Box e Jenkins (1976) para um modelo autoregressivo de primeira ordem, o previsor h passo a frente é dado por: h h Ẑ t (h) = φ1 Zt + µ µφ1 (2) onde: Ẑ t (h) é a previsão h passos a frente com base no tempo t; φ 1 é o coeficiente da variável em estudo defasada um período; e µ é a média do processo. Para o estudo do número de atendimentos dos clientes tipo contrato, a previsão com base no período de julho de 2001, que corresponde a t = 60, é dada pela equação 3: h h Ẑ60(h) = 0,59 42 + 95,59 95,59*0, 59 (3) A Tabela 2 apresenta as previsões para a demanda do número de atendimentos dos clientes tipo contrato, de agosto de 2001 até fevereiro de 2002, obtidas com base no período de julho de 2001, assim essas previsões representam previsões futuras. O gráfico com as previsões e o intervalo de 95% de confiança para as previsões encontram-se na Figura 4. Mês T h Ẑ t (h) Agosto/2001 61 1 Ẑ 1 1 (1) = 0,59 * 42 + 95,59 95,59 * 0,59 = 63,97 64 60 = Setembro/2001 62 2 2 2 Ẑ60 (2) = 0,59 * 42 + 95,59 95,59 * 0,59 = 76,94 = 77 Outubro/2001 63 3 3 3 Ẑ60 (3) = 0,59 * 42 + 95,59 95,59* 0,59 = 84,59 = 85 Novembro/2001 64 4 4 4 Ẑ60 (4) = 0,59 * 42 + 95,59 95,59* 0,59 = 89,10 = 89 Dezembro/2001 65 5 5 5 Ẑ60 (5) = 0,59 * 42 + 95,59 95,59 * 0,59 = 91,76 = 92 Janeiro/2002 66 6 6 6 Ẑ60 (6) = 0,59 * 42 + 95,59 95,59 * 0,59 = 93,33 = 94 Fevereiro/2002 67 7 Ẑ 7 7 (7) = 0,59 * 42 + 95,59 95,59* 0,59 = 94,26 95 60 = Tabela 2 - Previsões da demanda do número de atendimentos dos clientes tipo contrato. ENEGEP 2002 ABEPRO 6

Figura 4- Previsões da demanda do número de atendimentos dos clientes do tipo contrato. 2.2. Previsão da demanda futura da empresa A previsão de demanda total da empresa, apresentada na Tabela 3, é a soma da previsão da demanda individual dos três tipos de clientes. As previsões apresentadas referem-se ao período de agosto de 2001 a fevereiro de 2002. Mês Previsão de Demanda Contratos Garantia Avulsos Total Agosto/2001 64 257 181 502 Setembro/2001 77 277 166 520 Outubro/2001 85 294 205 584 Novembro/2001 89 273 188 550 Dezembro/2001 92 283 157 532 Janeiro/2002 94 283 206 583 Fevereiro/2002 95 279 175 549 Tabela 3 Previsão da demanda total da empresa e por tipo de cliente. É importante observar que a previsão da demanda nesse estudo de caso deve ser feita individualmente para cada segmento. A modelagem individual é essencial, na medida em que os diferentes segmentos apresentam suas especificidades referentes a tendência, sazonalidade e ordem dos modelos. 4. Conclusões Realizar previsão de demanda é uma atividade importante, pois pode revelar as tendências de mercado e contribuir no planejamento estratégico da empresa. As previsões de demanda auxiliam também na solução de problemas mais imediatos, como a definição do número de técnicos que serão necessários para realizar o atendimento ao cliente final. ENEGEP 2002 ABEPRO 7

Visando atingir esses objetivos, este trabalho utilizou a metodologia de Box-Jenkins e discutiu sua aplicação através de um estudo de caso dirigido ao setor de assistência técnica em computadores pessoais. No estudo de caso desenvolvido, a demanda da empresa foi segmentada pelo tipo de clientes: contratos, garantia, avulsos. Contudo, apresenta-se somente a modelagem para prever a demanda para clientes do tipo contratos. A aplicação da metodologia de Box-Jenkins requer do pesquisador atenção e prática para escolher o modelo que melhor define o comportamento temporal dos dados. Com a aplicação da metodologia de Box-Jenkins, apoiada em testes estatísticos para subsidiar a modelagem, foi possível definir modelo apropriado para o segmento de clientes. Para modelar o número de atendimento dos clientes do tipo contrato foi utilizado um modelo autoregressivo de primeira ordem, AR(1), um modelo simples e amplamente estudado na literatura. A modelagem utilizada captou as diferenças existentes entre os segmentos de clientes, diferenças essas, que podem ser justificadas tecnicamente. Os clientes do tipo contratos a influência temporal é reduzida, pois a demanda e a concorrência parecem crescer na mesma taxa. O resultado é que o número de contratos que a empresa possui varia pouco ao longo do ano. Por fim, vale mencionar que, na fase de verificação da metodologia Box-Jenkins, uma porção final dos dados disponíveis é reservada para verificar o desempenho do modelo, comparando as previsões com os valores observados. Como na área de informática os avanços tecnológicos são muito rápidos, neste estudo os dados mais atuais foram utilizados para a construção dos modelos. Em uma oportunidade futura, as previsões realizadas poderão ser confrontadas com a realidade observada em campo. 5. Referências Bibliográficas 1. ABDEL-AAL, R.E. & AL-GARNI, Z. Forecasting Monthly Electric Energy Consumption in eastern Saudi Arabia using Univariate Time-Series Analysis. Energy Vol. 22, n.11, novembro de 1997, p.1059-1069. 2. ABRAHAM, B. & LEDOLTER, J. Statistical Methods for Forecasting. John Wiley & Sons. New York, 1983. 3. BOX, G.E.P. & JENKINS, G.M. Time Series Analysis Forecasting and Control. Holden-Day. Edição revisada. San Francisco, 1976. 4. HAMILTON, J.D. Time Series Analysis. Princeton University Press, New Jersey, 1994. 5. LIM, C. & McALEER, M. Time Series Forecasts of International Travel Demand for Australia. Tourism Management, artigo aceito em julho de 2001, aguarda impressão. 6. MAKRIDAKIS, S.; WHEELWRIGHT, S. & HYNDMAN, R.J. Forecasting Methods and Applications. John Wiley & Sons. 3 a Edição. New York, 1998. 7. MORRETIN, P.A. & TOLOI, C.M.C. Previsão de Séries Temporais. Atual Editora, 2 a Edição. São Paulo, 1987. 8. PELLEGRINI, F.R. & FOGLIATTO, F. Estudo comparativo entre modelos de Winters e de Box-Jenkins para a previsão de demanda sazonal. Revista Produto & Produção. Vol. 4, número especial, abril de 2000. P.72-85. 9. SLINI, L., KARATZAS, K. & MOUSSIOPOULOS, N. Statistical Analysis of Environmental Data as the Basis of Forecasting: an Air Quality Application. The Science of the Total Environment, artigo aceito em julho de 2001 e aguarda impressão. ENEGEP 2002 ABEPRO 8