I A FORMAÇÃO E OS RISCOS ASSOCIADOS À PRESENÇA DE TRIALOMETANOS EM ÁGUAS DE ABASTECIMENTO

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Transcrição:

I-009 - A FRMAÇÃ E S RISCS ASSCIADS À PRESENÇA DE TRIALMETANS EM ÁGUAS DE ABASTECIMENT João Tito Borges (1) Doutorando em Engenharia Civil - UNICAMP, na Área de Saneamento e Ambiente, e mestre na mesma área. Atualmente desenvolve trabalho em processos alternativos de desinfecção, sub-produtos da desinfecção e qualidade de águas de abastecimento. José Roberto Guimarães Professor Doutor do Departamento de Saneamento e Ambiente da Faculdade de Engenharia Civil UNICAMP. Atualmente trabalha com química sanitária/ambiental, mais especificamente com qualidade de águas, tratamento de águas de abastecimento e águas residuárias e processos fotocatalíticos. Endereço (1) : Rua/Av. Gustavo Marcondes, 45 Bairro Jardim Madalena - Cidade Campinas Estado SP- CEP: 13091-110 - País Brasil Tel: +55 (19) 3788-2378 - e-mail: tito@fec.unicamp.br RESUM presente trabalho discute a questão da formação dos trialometanos e trata a respeito de aspectos toxicológicos e epidemiológicos destes compostos clorados presentes nas águas cloradas. PALAVRAS-CHAVE: trialometanos desinfecção, toxicologia, águas de abastecimento TEXT A desinfecção é o processo em que se usa um agente químico ou físico, com o objetivo de eliminar os microrganismos patogênicos presentes na água, incluindo bactérias, protozoários e vírus, além de algas, por meio da ocorrência dos mecanismos de destruição da estrutura celular, evitando-se a síntese de proteínas, de ácidos nucleicos e coenzimas (WHITE, 1999). s desinfetantes devem destruir os organismos patogênicos, não devem ser tóxicos aos seres humanos e animais domésticos e também não devem causar cheiro ou sabor nas águas. Além disso, devem ser disponíveis a baixo custo e oferecer condições seguras de transporte, aplicação, manuseio e armazenamento. A determinação de suas concentrações em amostras de água deve ser obtida por meio de métodos analíticos simples e os desinfetantes devem produzir residuais persistentes na água, assegurando desse modo a qualidade da água contra eventuais contaminações nas diferentes partes do sistema de abastecimento (DI BERNARD, 1993). Dentre os agentes químicos utilizados na desinfecção, em geral, emprega-se oxidantes tais como: cloro gasoso, cal clorada, hipoclorito de sódio, hipoclorito de cálcio, cloraminas (cloração mais sulfato de amônio), ácido peracético, dióxido de cloro, ozônio, permanganato de potássio e peróxido de hidrogênio; e dentre os agentes físicos destacam-se o calor e a radiação ultravioleta (WHITE, 1999). A cloração (com cloro gasoso ou com hipoclorito de sódio) é o método mais utilizado na desinfecção de águas para fins de abastecimento público no Brasil. A primeira vez em que o cloro foi usado correntemente num processo de tratamento de água foi numa cidade da Bélgica, aproximadamente em 1900. Um dos primeiros usos contínuos da prática da cloração foi realizado na cidade de Jersey City, no estado de Nova Jersey USA. No Canadá, a primeira cidade foi Peterborugh, ntário, em 1916 (WIGLE, 1998). A prática da cloração em águas de abastecimento foi introduzida no início do século XX e vem trazendo controvérsia desde o início de sua implantação, principalmente devido aos problemas relacionados a odor e sabor, porém, é notório o benefício que este procedimento trouxe à saúde pública em todas as regiões da Terra (WHITE, 1999). A seguir são apresentadas algumas vantagens e desvantagens da utilização da cloração como processo de desinfecção de águas (USEPA, 1999). Vantagens: - inativa uma larga gama de espécies patogênicas em água; - deixa um residual na água que é facilmente mensurado e controlado; - é econômico; - é um produto conhecido dos operadores de estações quanto ao manuseio. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 1

Porém, algumas preocupações surgem na utilização de cloro no processo de desinfecção, por exemplo: - pode formar produtos orgânicos clorados; - pode ocorrer acidente no manuseio de gás cloro; - altas doses do produto causam odor e sabor na água. Além da utilização do cloro como desinfetante o seu poder oxidante é aplicado para outras finalidades, como, por exemplo: - controle de odor e sabor; - prevenção do crescimento de algas; - manutenção do filtro limpo; - remoção de ferro e manganês; - destruição de ácido sulfídrico; - clarificação da água; - manutenção de residual evitando-se a formação de limo. A eficiência da cloração é avaliada pelo potencial deste desinfetante em manter um residual adequado de cloro livre por um tempo de contato especificado. Nesse sentido, a MS recomenda um mínimo detectável de 0,5 mg/l, depois de trinta minutos da dosagem a ph 7, para águas com turbidez menor que 1 ut. A agência americana EPA propõe um mínimo de 0,2 mg/l depois de um período de quatro horas. No Brasil, conforme Portaria 1469 do Ministério da Saúde, de 2000 (BRASIL, 2000) recomenda-se uma concentração mínima de 0,2 mg/l em qualquer ponto da rede de distribuição. Durante o processo de desinfecção, o cloro molecular em meio aquoso, forma o ácido clorídrico (H) e ácido hipocloroso (H). 2(g) + H 2 H (aq) + H + (aq) + - (aq) (equação 1) ácido hipocloroso se dissocia para formar o ânion hipoclorito ( - ) e o íon hidrogênio (H + ). H (aq) H + (aq) + - (aq) (equação 2) A concentração das espécies desse ácido fraco (H e - ) depende do ph e da temperatura. Se o ânion brometo estiver presente durante o processo de desinfecção, ele é oxidado, formando ácido hipobromoso (HBr). s ácidos hipocloroso e hipobromoso, reagem com material orgânico de origem natural (MN), principalmente os ácidos húmicos, em água para formar subprodutos halogenados, dentre os quais os trialometanos (THM). As quatro espécies de trialometanos que são formados em maior proporção são: triclorometano (CH 3 ), bromodiclorometano (CHBr 2 ), dibromoclorometano (CHBr 2 ) e tribromometano (CHBr 3 ). A concentração total destes compostos é denominada TTHM - trialometanos totais. Virtualmente, todas as águas superficiais contêm matéria orgânica de origem natural (MN), nas quais os ácidos húmicos são os mais encontrados. s ácidos húmicos são estruturas poliméricas consistindo de compostos aromáticos e alifáticos interligados de tal maneira que estes grupos perdem a sua identidade dentro da estrutura complexa. Este biopolímero resultante é composto de uma estrutura aromática interna ligada a grupos alifáticos. A estrutura aromática é composta de fenóis, polifenóis e compostos poliaromáticos. s grupos alifáticos são carboidratos, proteínas e ácidos graxos. A estrutura dos ácidos húmicos existe sob várias configurações tridimensionais e ainda apresenta considerável dificuldade em termos de caracterização e análise. Algumas características básicas dos ácidos húmicos são (GRAHAM, 1999): - absorção da radiação ultravioleta; - conteúdo de anéis aromáticos na estrutura; - funções carboxílicas na estrutura; - funções fenólicas na estrutura; - carboidratos e aminoácidos. Uma proposta para ilustrar o mecanismo simplificado da reação de formação de trialometanos, sugere que uma parte da molécula de ácido húmico, com terminação fenólica (resorcinol) sofre o ataque do cloro na posição 2 do anel aromático, em seguida ocorrendo a clivagem da ligação na posição 2-3 do anel (BAIRD, 1993). Este mecanismo havia sido investigado em detalhes por BYCE e HRNIG (1983). Porém, sugere-se que outras estruturas (terminações nas moléculas de ácido húmico) como compostos fenólicos, β-dicetonas e ácidos carboxílicos podem também contribuir para a formação dos trialometanos. A contribuição de GALLARD e GUNTEN (2002) veio elucidar estes aspectos ao realizarem um estudo comparativo sobre a cinética da cloração de m-dihidróxido benzeno (resorcinol), fenol e metilglioxal adicionados a águas naturais. s autores confirmaram a maior influência do resorcinol, obtendo uma maior velocidade de formação de THM, comparado às outras substâncias durante a cloração. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 2

A seguir é mostrado o mecanismo simplificado de formação de THM proposto por BYCE e HRNIG (1983). H i) H ácido hipocloroso 1 + 2 H 3-dihydroxifenol 3 H ii) 6 5 4 1 2 3 H R CHCL 2 quebra ligação em C2-C3 iii) R CHCL 2 + H ácido hipocloroso R C 3 iv) R C 3 R H + clorofórmio No início da década de 1970 nos EUA e Holanda, descobriu-se que os trialometanos eram produzidos durante a cloração das águas (RK, 1974; BELLAR, 1974). SYMNS (1975) e USEPA (1978) fizeram um amplo levantamento da presença destes compostos e observaram uma presença constante destes em águas de abastecimento. Em 1976 o Instituto Americano de Pesquisas sobre o Câncer (IARC) publicou uma reportagem relacionando o clorofórmio à presença de câncer em animais de laboratório. Desde então, estudos epidemiológicos têm sido realizados para levantar os riscos à população correlacionando a água clorada com a incidência de câncer da bexiga, colo e reto. Há uma maior evidência sobre o câncer da bexiga que os outros tipos de câncer (USEPA, 1998). Pesquisas têm mostrado que pessoas que consomem regularmente águas com níveis mais altos destes produtos,têm maior propensão a estarem desenvolvendo câncer retal e câncer de bexiga, comparando-se a pessoas que não os consomem (HILDESHEIM, et al., 1998). Alguns estudos também indicaram que a exposição aos THM pode resultar em problemas no sistema reprodutivo (GALLAGHER, et al., 1998) e até abortos espontâneos (WALLER et al., 1998). FAWELL (2000) faz uma extensa revisão de estudos de caso sobre o risco da exposição aos THM. As conclusões do autor são as seguintes: ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3

- os trialometanos, individualmente têm sido identificados como causadores de aumentos nos tumores de animais de laboratório, portanto eles não são fortemente genotóxicos; - os dados sobre o clorofórmio claramente demonstram uma não-genotoxicidade no mecanismo de ação e novos dados sobre os trialometanos bromados mostram uma evidência que estes também são de baixa potência genotóxica ou não são genotóxicos in vivo. Uma relação causal ainda não foi confirmada (FREEDMAN, 1997). A formação de trialometanos durante a desinfecção de águas para fins de abastecimento tem sido objeto de preocupação na área de saúde pública, por isso, tem havido um esforço progressivo no sentido de reduzir os limites permissíveis para as concentrações de THM em águas para fins de abastecimento público. A agência de proteção ambiental dos Estados Unidos (USEPA) inicialmente adotou um limite máximo de 100 µg/l. limite atual é de 80 µg/l para TTHM (USEPA, 1998). TMINAGA E MIDI (1999) realizaram uma revisão da bibliografia sobre a exposição humana a trialometanos presentes em água tratada. No trabalho os autores descrevem aspectos da formação, toxicologia, disposição cinética e estudos sobre efeitos carcinogênicos, mutagênicos e teratogênicos sobre estes compostos. s trialometanos são carcinogênicos quando administrados a animais de experimentação em concentrações muito maiores que as encontradas nas águas utilizadas para abastecimento público (WH 1996) sem contudo haver qualquer indicação para o homem. No estabelecimento de valores de referência para qualidade de água potável utiliza-se parâmetros do IARC (Instituto Americano de Pesquisas sobre o Câncer) o qual lista as substâncias químicas de acordo com o seu potencial de carcinogenicidade nas seguintes categorias: (WH, 1996). Grupo 1: agente é carcinogênico para humanos; Grupo 2 A: agente provavelmente é carcinogênico; Grupo 2 B: agente possivelmente é carcinogênico; Grupo 3: agente não é classificado como carcinogênico; Grupo 4: agente provavelmente não é carcinogênico. Devido ao fato de os THM ocorrerem juntos, tem sido uma prática comum, considerar a soma destes compostos como um grupo e estabelecendo-se assim, um valor limite para a soma dos quatro componentes principais. Dados com relação à ocorrência de trihalometanos, levantados pela USEPA, indicam que o clorofórmio se apresenta como 70% dos compostos, o bromodiclorometano com 20%, o dibromometano com 8% e o tribromometano com 1-2% dos valores obtidos para a soma dos componentes (USEPA, 1998). s quatro compostos apresentam toxicidade similar sobre os rins e o fígado, mas as autoridades sanitárias de diversos países desejam estabelecer um valor limite para cada um dos compostos. composto que é formado em maior proporção é o triclorometano e existe um questionamento se o mesmo apresenta genotoxicidade ou induz tumores por meio de um mecanismo não genotóxico. segundo composto que se forma em maior proporção é o bromodiclorometano. Este composto ocorre também nos tecidos, algas marinhas. IARC classificou este composto como 2B. Em vários estudos sobre carcinogenicidade, o bromodiclometano causou um aumento de tumores nos rins de ratos machos, fígado de ratas fêmeas, e fígado e intestino grosso de ratos machos e fêmeas. IARC classificou tanto o dibromoclorometano quanto o tribromometano como grupo 3. Uma avaliação precisa do risco é a base para a proteção da saúde humana frente os agentes químicos, encontrados nos alimentos e na água. Normalmente não existe alternativa, a não ser o experimento utilizando animais de laboratório. Vários fatores são necessários para avaliar a exposição aos subprodutos da desinfecção, o tamanho da população exposta ao risco, o método de tratamento utilizado e o consumo de água e a concentração destes produtos na água servida à população. Com o objetivo de se obter a resposta em pequenos grupos de animais a um período tempo razoável, os experimentos utilizam altas dosagens, às vezes, muito maiores que aquelas encontradas na água tratada ou noutra fonte de exposição. Neste sentido são feitas extrapolações para se prever o risco à saúde humana, baseando-se nestes estudos toxicológicos. Estas extrapolações objetivam prever o que ocorre quando se administram baixas doses e avaliar as diferenças no comportamento fisiológico e bioquímico entre os seres humanos e o animal em estudo. Tais modelos utilizados devem ser revistos para a avaliação precisa dos riscos associados a esta classe de compostos (GLAZE, ANDELMAN, et al., 1993). No Brasil, conforme Portaria 1469 do Ministério da Saúde, de 29/12/2000, o limite é de 100 µg/l para trialometanos totais (BRASIL, 2000). Uma grande parte da população brasileira está exposta aos subprodutos da cloração de águas. Devido ao grande número de pessoas potencialmente expostas aos subprodutos da desinfecção, deveria haver uma maior preocupação das autoridades quanto a este fato. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 4

Embora o processo de desinfecção com agentes químicos e físicos seja de primordial importância no sistema de abastecimento público, a possibilidade de formação de subprodutos químicos submete os operadores de estações de tratamento de água à esta consideração. Infelizmente, são pouquíssimos os resultados acerca da concentração destas substâncias nas águas de abastecimento divulgados na literatura brasileira. REFERÊNCIAS 1. BAIRD, C. (1995) Environmental Chemistry. WH Freedman. NY. 2. BELLAR, T. A et al. (1974) The occurence of organohalides in chlorinated drinking waters. Journal of the american water works association. 66 (12) 703. 3. BYCE, S.D.e HRNIG, J.F. (1983) Reaction pathways of trihalomethane formation from the halogenation of dihidroxyaromátic model compounds for humic acid. Environmental Science and Technology. Vol. 17, N.4, p. 202-211. 4. BRASIL. (2000) Portaria 1469. Aprova o controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade. Ministério da Saúde. 29/12/2000 5. CALDERN, R. L. (2000) The epidemiology of chemical contaminants of drinking water. Food and chemical toxicology 38 (13-20). 6. DI BERNARD, L. (1993) Métodos e técnicas de tratamento de água. Vol. II, Ed. ABES, Rio de Janeiro. 503p. 7. FAWELL, J. (2000) Risk assessment case study - cloroform and related substances. Food and chemical toxicology 38 (91-95). 8. FREEDMAN, M. et al. (1997) Bladder cancer and drinking water: a population based case-study in Washington County, Maryland. Cancer causes and control (8) 738-744. 9. GALLAGHER, M. D. et al. (1998) Exposure to trihalomethanes and adverse pregnancy outcomes. Epidemiology 9 (5), 484-489. 10. GALLARD, H e von GUNTEN, U. (2002) Chlorination of natural organic matter: kinetics of chlorination and THM formation. Water Research, v.36, p.65-74. 11. GLAZE, W. H. ANDELMAN, J.B. et al (1993) Determining health risks associated with disinfectants and dissifection by-products: research needs. Journal of American Water Works Association, 85, 3. 12. GRAHAM N. J. D. (1999) Removal of humic substances by oxidation/ biofiltration processes a review. Water Science and Technology vol. 40 (9) 141-148. 13. HILDESHEIM, M. E. et al. (1998) Drinking water source and chlorination by-products II. Risk of colon and rectal cancers. Epidemiology 9 (1), 29-35. 14. outubro de 2001. 15. RK, J. J. (1974) Formation of haloforms during chlorination of natural waters. Water treatment and examination, 23, 234. 16. SYMNS, J. M. et al. (1975) National rganics Recoinnaissance survey for halogenated organics. Journal of the american water works association 67 (11) 634. 17. TMINAGA E MIDI (1999) Exposição humana a trialometanos presentes em água tratada. Revista de Saúde Pública, vol 34, n4, agosto. 18. USEPA (1978) National organics monitoring survey.usepa, Cincinnati, USA. 19. USEPA (1998) Federal register, vol 63, n. 241, 16/12/1998, Rules and Regulations. 20. USEPA (1999) Alternative disinfectants and oxidants guidance. 815R99014. 21. WH (1996) Guidelines for drinking water quality and health risk assessment of disinfectants and disinfection by-products. 22. WHITE, G. C. (1999) Handbook of chlorination and alternative disinfectants. Van Nostrand Company, New York, NY, 4 th ed. AGRADECIMENTS FAPESP ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 5