PREVALÊNCIA DE XEROSTOMIA EM IDOSOS NÃO INSTITUCIONALIZADOS

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PREVALÊNCIA DE XEROSTOMIA EM IDOSOS NÃO INSTITUCIONALIZADOS Regis Alfredo Yatsuda a Resumo Alterações na quantidade ou qualidade salivar levam ao comprometimento dos tecidos bucais, impactando na qualidade de vida do indivíduo. Reduções do fluxo salivar manifestam-se como sintomas de boca ressecada, denominada de xerostomia. O objetivo deste estudo foi determinar a prevalência da xerostomia em idosos, que participaram da campanha de prevenção e diagnóstico precoce do câncer bucal, no Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia José Ermírio de Moraes (IPGG-JEM). Descritores: Xerostomia, Saliva, Odontogeriatria, Antidepressivos, Boca seca, Glândulas Salivares. Introdução A saliva exerce um papel essencial na manutenção da saúde bucal. Alterações na quantidade e/ou qualidade salivar levam ao comprometimento dos tecidos bucais, e podem influenciar na qualidade de vida do indivíduo. Reduções do fluxo salivar são frequentemente relacionadas à relatos de boca ressecada. Essa queixa subjetiva de boca seca é denominada de xerostomia, que pode ou não estar relacionada à diminuição da salivação (2007). 1 A redução do fluxo salivar tem incidência três vezes maior no idoso do que no indivíduo adulto. Essa sintomatologia pode estar relacionada a algumas patologias ou a medicamentos utilizados nos seus tratamentos, como por exemplo, os antide- pressivos, anticolinérgicos e ansiolíticos. (2002, 2008, 2004) 2,3,4 Dentre as patologias mais frequentes nos idosos, podemos citar a depressão. Cerca de 30% das pessoas idosas que procuram um médico apresentam formas brandas de depressão, mas que podem prejudicar a qualidade de vida destes pacientes. (2002) 5 As campanhas de prevenção e diagnóstico precoce do câncer bucal, no IPGG, têm apresentado bons índices de comparecimento da população. Como exemplo, no final da campanha de 2007 foram vacinados 3714 idosos, sendo que o exame de prevenção do câncer bucal teve cobertura de 75% da população vacinada. O objetivo deste estudo foi determinar a prevalência da xerostomia, em idosos não institucionalizados, que participaram da Campanha de prevenção e diagnóstico precoce do câncer bucal, no IPGG. Materiais e Métodos Em 2009, em sintonia com a campanha de vacinação do idoso, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo realizou a campanha de prevenção do câncer bucal, onde os idosos submeteram-se ao exame bucal, no momento em que procuraram as unidades de saúde para serem vacinados. Durante estas atividades, realizadas no Núcleo de Saúde Bucal do IPGG, localizado no município de São Paulo, foram selecionados aleatoriamente 400 idosos, convidados a participarem voluntariamente desta pesquisa. Após a apreciação, por parte dos idosos, de um a Mestre em Odontologia na Área de Dentística Restauradora pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (USP); Cirurgião-dentista do Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia José Ermírio de Moraes (IPGG). 24

termo de consentimento livre e esclarecido sobre os objetivos desta pesquisa, foram realizadas perguntas sobre idade, sexo e a condição de saúde bucal. Gráfico 2 Distribuição dos entrevistados por faixa etária. Os idosos eram perguntados se apresentavam sintomas de boca seca ou ardência bucal, relacionando a possível presença de xerostomia. (2007) 1 Outra pergunta era se faziam uso de algum medicamento para tratamento de depressão. Em seguida, era realizado pelo cirurgião-dentista, um exame clínico bucal, preventivo para câncer bucal, seguido pela busca por sinais compatíveis com a xerostomia relatada, como mucosa desidratada, mucosa traumatizada por prótese, sangramento gengival espontâneo, múltiplas lesões cariosas, fissuras em língua ou lábios, saburra em dorso lingual ou prótese total com perda de retenção. (2002, 2004, 1996, 2008) 2,4,6,7 Os idosos com quadro clínico compatível com xerostomia foram orientados a procurarem as unidades de saúde mais próximas de suas residências, para tratamentos odontológicos necessários, e sendo o IPGG a unidade mais próxima, eram agendados para a consulta de acolhimento odontológico em nosso Núcleo de Saúde Bucal. Na primeira análise, os entrevistados foram divididos em quatro grupos, segundo o quadro clínico observado, gráfico 3. O primeiro grupo, contendo idosos que apresentaram apenas sinais e sintomas de xerostomia, sem uso de antidepressivos (20%). O segundo grupo com idosos com quadro sugestivo para xerostomia e uso de antidepressivo para tratamento de depressão (13%). O terceiro grupo, com 55% do total, idosos apresentaram ausência do quadro de xerostomia e não utilizaram antidepressivos (denominados assintomáticos), e um quarto grupo dos idosos que utilizaram medicação antidepressiva e não apresentaram quadro para xerostomia (12%). Resultados Gráfico 3 Distribuição dos entrevistados quanto ao quadro clínico. Dos 400 idosos entrevistados, 67% eram mulheres e 37% corresponderam à faixa etária entre 65 e 70 anos (gráficos 1 e 2). Gráfico 1 - Distribuição dos entrevistados por sexo. Do total de entrevistados, 33% apresentaram sinais sugestivos de xerostomia, observados durante o exame clínico intra-oral, somados às queixas relacionadas a algum sintoma de xerostomia, como boca seca ou sensação de ardência na língua ou mucosa oral. 25

Em relação ao uso de medicamentos para a depressão, 25% dos entrevistados relataram o uso, e 13% dos idosos entrevistados, além deste tratamento medicamentoso para depressão, apresentaram sinais e sintomas indicativos de xerostomia. Em uma segunda análise, os dados foram divididos pelo sexo, e dentro de cada um destes dois grupos, foram analisados os percentuais de idosos, seguindo o critério dos quatro grupos anteriormente descritos (gráfico 4). Gráfico 4 - Distribuição dos grupos, separados por sexo (em %). Verificou-se que as mulheres apresentaram maior porcentagem nos três grupos: apenas xerostomia (22%), xerostomia e uso de antidepressivo (18%), e uso de medicação antidepressiva e sem xerostomia (15%). Já no grupo sem xerostomia e sem uso de antidepressivos (assintomáticos), apresentaram uma porcentagem menor (45%), quando comparada a do respectivo grupo dos homens (75%). Discussão Dentre as inúmeras funções da saliva, destacam-se a proteção antibacteriana e a lubrificação das mucosas, o auxílio na formação e deglutição do bolo alimentar, retenção de próteses totais, função digestiva, auxílio na fonação e na per- cepção do paladar. Portanto, qualquer alteração na quantidade ou na qualidade do fluxo salivar, poderá prejudicar a qualidade de vida de um indivíduo. Denomina-se xerostomia a queixa subjetiva de boca seca, e indica diminuição da quantidade de saliva na boca, podendo implicar na presença de alterações relacionadas diretamente com as glândulas salivares ou ser resultado de transtornos sistêmicos. (2004) 4 Já a redução do fluxo salivar denomina-se hiposalivação, mas nem todos os indivíduos com xerostomia apresentam hiposalivação. Existem diversas causas de xerostomia, sendo comum a causa associada ao uso de medicamentos. São mais de 500 drogas associadas com sintomas de boca seca, destacando-se os antidepressivos, antihipertensivos, anticolinérgicos, antihistamínicos, diuréticos, antiinflamatórios, antineoplásicos, ansiolíticos, analgésicos, antipsicóticos, relaxantes musculares e anticonvulsivos. (2007, 2004, 2001, 1998) 1,4,8,9 Essas drogas têm propriedades anticolinérgicas e antimuscarínica, agindo sobre os receptores muscarínicos. Esses receptores estão localizados nos tecidos glandulares, nos vasos, nos músculos lisos e no endotélio. Os medicamentos com essa propriedade agem bloqueando as ações da acetilcolina, ao nível dos receptores muscarínicos. (2004) 4 A redução do fluxo salivar é um fenômeno fisiológico comum dentro do processo de envelhecimento, deixando o organismo vulnerável à desidratação celular. Esta redução apresenta um aumento de incidência três vezes maior no idoso do que no indivíduo adulto, podendo ser agravada por algumas doenças sistêmicas, ou por medicamentos usados no seus tratamentos. Alguns destes medicamentos aumentam o volume diário de urina, tendo como agravante a redução da sensibilidade à sede, mediada pelo cérebro. E estatisticamente, as mulheres são mais comumente afetadas do que os homens. (2004, 1998) 4,9 A recomendação aos idosos é dar maior impor- 26

tância à ingestão de líquidos, principalmente nos períodos da manhã e à tarde, incluindo alimentos como sopas. É recomendado, para adultos em geral, uma ingestão diária de líquidos aproximada entre 1,5 a 2,0 litros. O diagnóstico de um paciente portador de xerostomia basea-se em uma anamnese detalhada, como questionar o paciente sobre o ressecamento na boca ao comer, se faz uso de líquidos para auxiliar na deglutição de alimentos secos, ou a simples sensação de pouca saliva na boca. O exame físico pode mostrar mucosas ressecadas, língua fissurada e avermelhada, doenças fúngicas, periodontais ou cáries, além de traumas por próteses. Pelos resultados apresentados nesta pesquisa, 33% dos idosos avaliados apresentaram quadro clínico sugestivo de xerostomia. Este percentual indica que devemos levar em consideração, durante a abordagem em um tratamento odontogeriátrico, a sintomatologia e o tratamento das possíveis causas e consequências da xerostomia. A solidão e a depressão são comuns quando se fala em terceira idade. Cerca de 30% das pessoas idosas que procuram um médico apresentam formas brandas de depressão, mas que podem prejudicar a qualidade de vida destes pacientes. A prevalência de depressão e transtornos depressivos nos idosos, de um modo geral, oscila desde 10 até 40%, e para os idosos institucionalizados esta taxa sobe entre 25 até 80%. A depressão é três vezes mais prevalente em idosos com alguma deterioração funcional que naqueles sem essa condição. (2008, 2002) 3,5 Nesta pesquisa obtivemos o percentual de 25% de idosos que estavam em tratamento de depressão. Os idosos, em consequência de alterações fisiológicas associadas ao envelhecimento - diminuição do fluxo sanguíneo e da filtração glomerular renais, e prejuízo da atividade enzimática hepática são mais sensíveis aos efeitos adversos das medicações ou das interações medicamentosas. O uso de medicações antidepressivas, como antidepressivos tricícli- cos, pode provocar xerostomia, mas raramente provoca danos irreversíveis às glândulas salivares. (2004, 2008) 4,10 Quanto à correlação medicação antidepressiva e xerostomia, do total de entrevistados que faziam uso de antidepressivos, 52% apresentaram sinais e sintomas de xerostomia. Mas esta relação não pode ser considerada direta, uma vez que nesta pesquisa não foram avaliadas outras possíveis causas para xerostomia ou o uso de outros medicamentos que alterem o fluxo salivar. Os resultados encontrados vêm de encontro aos apresentados em outras pesquisas relacionando xerostomia e uso de medicamentos antidepressivos. (2008) 3 Conclusão A xerostomia está presente em uma parcela significante da população idosa de nosso município, e deve merecer atenção por parte de toda a equipe de profissionais da área da saúde, envolvidos na assistência geriátrica. A ação de medicamentos antidepressivos pode ser fator coadjuvante no aparecimento ou agravamento dos casos de xerostomia em idosos. A Campanha de prevenção e diagnóstico precoce do câncer bucal pode ser uma ferramenta importante, para futuros levantamentos epidemiológicos em saúde bucal. Agradecimentos Agradeço a toda equipe do Núcleo de Saúde Bucal do IPGG, pela colaboração durante a Campanha de prevenção e diagnóstico precoce do câncer bucal. 27

Referências 1. Perotto et al. Prevalência da xerostomia relacionada à medicação nos pacientes atendidos na área de Odontologia da UNIVILLE. RSBO; 2007; 4(2):16-19. 2. Pupo DB et al. A proposal for a pratical method of sialometry. Rev. Bras Otorrinolaringol; 2002; 68(2). 3. Ballone GJ - Antidepressivos Atípicos - in. PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb.med.br, revisto em 2008. 4. Vidal ACC et al. Pacientes idosos: relação entre xerostomia e o uso de diuréticos, antidepressivos e antihipertensivos. IJD; 2004; 3(1): 330-335. 5. Coelho CMP et al. Implicações clínicas da xerostomia: Abordagens sobre o diagnóstico e tratamento. Rev. APCD. 2002; 56(4):295-289. 6. Fox PC Differentiaton of dry mounth etiology. Adv Dent Res; 1996; 10(1):13-16. 7. Batista ALA et al. Avaliação das condições de saúde bucal de idosos institucionalizados no município de Campina Grande PB. Odontologia. Clín Científ.; 2008; 7(3):203-208. 8. Wynn RL, Meiller TF. Drugs and dry mounth. Gen Dent; 2001; 49(1):10-123. 9. Neville DDS et al. Patologia oral e maxillofacial. São Paulo: Editora Guanabara Koogan; 1998. 10. Ballone GJ. Antidepressivos Atípicos - in. PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb.med.br, revisto em 2008. 28