INTRODUÇÃO Sob a justificativa de modernizar, conferir transparência e aumentar os investimentos no setor de mineração, a Presidência da República apresentou ao Congresso Nacional projeto de lei (único), sob o n.º 5.087/2013, propondo um novo Código de Mineração, a ser votado em regime de urgência perante o Legislativo (significa dizer que ficarão dispensadas algumas formalidades regimentais referentes à tramitação e com prazo de 5 sessões para que tramite pelas Comissões pertinentes). O atual Código de Mineração (Decreto-lei n.º 227/67) ficará revogado, preservando-se concessões outorgadas durante sua vigência. A proposta prevê, ainda, regra de transição entre os regimes. Serão revogadas (total ou parcialmente), ainda, as Leis n 6.567, de 24 de setembro de 1978, 8.876, de 2 de maio de 1994, 8.970, de 28 de dezembro de 1994, 7.990, de 28 de dezembro de 1989, Lei n 8.001, de 13 de março de 1990. Permanecerão com vigência as leis que disciplinam os casos de Permissão de Lavra Garimpeira (Lei nº 7.805/89), aproveitamento dos minerais nucleares e aproveitamento em áreas da faixa de fronteira (Lei nº 6.634/79) continuam em vigor. O novo regime de aproveitamento de recursos minerais será concedido ou autorizado apenas a pessoas jurídicas, na forma da legislação brasileira, organizadas no formato empresarial ou de cooperativas, com sede e administração no Brasil, atendidos pré-requisitos técnicos e econômicos para sua habilitação. Estão excluídas, portanto, as pessoas físicas do regime proposto. Ocorrerá a extinção do atual Departamento Nacional de Produção Mineral - DNPM - e a criação do Conselho Nacional de Política Mineral - CNPM -, órgão de assessoramento da Presidência da República em políticas minerais, bem como da Agência Nacional de Mineração - ANM -, autarquia federal sob regime especial, à qual serão transferidas as competências do atual DNPM, além de outras instituídas pela proposta. Além de mudanças nos regimes de concessão, houve alteração na cobrança da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM), bem como a instituição de Taxa de Fiscalização (tributos), cuja fiscalização e arrecadação será de competência da ANM, além de outros valores a serem despendidos pela sociedade empresária ou coorporativa. Neste contexto, serve o presente estudo para comparar as principais alterações propostas no projeto de lei em exame, numa análise comparativa com o atual regime. Belo Horizonte Rua dos Inconfidentes 1.190-8º andar Funcionários - Cep 30.140-120 Tel.: (31) 3261.3525 Fax: (31) 3262.3243 secretariabh@gropen.adv.br São Paulo Alameda Jaú, 1.742, 16º andar Cerqueira César Cep 01420-904 Tel.: (11) 3062.3625 Fax: (11) 3062-3978 secretariasp@gropen.adv.br Brasília SBS Quadra II Bloco S Salas101/102 Empire Center Cep 70.070-904 Tel.: (61) 3323.6061 Fax: (61) 3323.6062 secretariabsb@gropen.adv.br Rio de Janeiro Rua da Quitanda, 52 10º andar Centro Cep 20.011-030 Tel.: (21) 2252.7966 Fax: (21) 2242.3964 secretariarj@gropen.adv.br
DO REGIME DE APROVEITAMENTO DE SUBSTANCIAS MINERAIS DO ATUAL REGIME Consoante o atual Código de Mineração os regimes de aproveitamento das substancias mineiras são: I regime de concessão, quando depender de portaria de concessão do Ministro de Estado de Minas e Energia; II regime de autorização, quando depender de expedição de alvará de autorização do Diretor-Geral do Departamento Nacional de Produção Mineral DNPM; III regime de licenciamento, quando depender de licença expedida em obediência a regulamentos administrativos locais e de registro da licença no Departamento Nacional de Produção Mineral DNPM; IV regime de permissão de lavra garimpeira, quando depender de portaria de permissão do Diretor-Geral do Departamento Nacional de Produção Mineral DNPM; V regime de monopolização, quando, em virtude de lei especial, depender de execução direta ou indireta do Governo Federal. Os órgãos da administração direta e autárquica da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não se submetem às regras acima elencadas, sendo-lhes permitida a extração de substâncias minerais de emprego imediato na construção civil, definidas em Portaria do Ministério de Minas e Energia, para uso exclusivo em obras públicas por eles executadas diretamente, respeitados os direitos minerários em vigor nas áreas onde devam ser executadas as obras e vedada a comercialização. Não há prazo final para o aproveitamento de substâncias minerais. DO NOVO REGIME A proposta presidencial reduz os regimes de aproveitamento de minérios para dois e cuja competência para instituição, promoção, fiscalização e gestão dos contratos ficarão a cargo da Agência Nacional de Mineração. Dar-se-á, unicamente, mediante celebração de contrato de autorização ou concessão, precedida de licitação que será obrigatória quando a exploração ocorrer em áreas específicas, definidas em ato do Poder Executivo Federal. Poderá ser precedida, nos casos não englobados pelo referido ato, a chamada pública realizada por iniciativa do poder concedente ou por provocação do interessado. Os casos de autorização são aqueles pertinentes à lavra de (I) minérios para emprego imediato na construção civil; (II) argilas destinadas à fabricação de tijolos, telhas e afins; (III) rochas ornamentais; (IV) água mineral; (V) minérios empregados como corretivo de solo na agricultura. Outros minérios poderão ser objeto de aproveitamento mediante autorização, a partir de proposta elaborada pelo CNPM com posterior ato do Poder Executivo. Página 2 de 7
Note-se que, além da dispensa de licitação ou chamada pública para o aproveitamento de minérios destinados à realização de obras de responsabilidade do Poder Público (o que atualmente já existe), há igual dispensa às pessoas jurídicas de direito privado interessadas, com a única diferença de que a elas o aproveitamento será precedido de autorização. Importante inovação, ainda no tocante às concessões ou autorizações, diz respeito cessão contratual, que será permitida desde que novo concessionário ou autorizatário atenda aos requisitos técnicos, econômicos e jurídicos estabelecidos pela ANM, mantendo-se o objeto e prazos originais. Além da cessão de direitos minerários, a cisão, fusão, incorporação ou transferência do controle societário, direto ou indireto, do titular dos referidos direitos, deve ser previamente anuído pelo poder concedente, sob pena da caducidade (perda) dos direitos minerários. Para que sejam deferidas as cessões, cisões, fusões, incorporações ou transferências do controle societário, será necessário comprovar a regularidade fiscal e tributária do concessionário ou autorizatário; a inexistência de débitos junto ao Poder Público decorrentes do aproveitamento de minérios; e o atendimento das demais exigências previstas na legislação. As concessões terão prazo de 40 (quarenta) anos, prorrogáveis por períodos sucessivos de até vinte anos. Esta prorrogação dependerá do adimplemento pelo concessionário de todas as obrigações legais e contratuais. Merece relevo o fato de que, quando da prorrogação, novas condições e obrigações poderão ser incluídas nos contratos de concessão, a critério do poder concedente. As autorizações, por seu turno, terão prazo de 10 (dez) anos, prorrogáveis por igual período, na forma de prévio regulamento. DA LICITAÇÃO E CHAMADA PÚBLICA CRITÉRIOS DE JULGAMENTO ATUAL REGIME No atual regime, vale dizer, Decreto-lei n.º 227/67, a Concessão de Lavra constitui-se em ato vinculado em decorrência do cumprimento das obrigações requeridas no momento do requerimento do Alvará de Pesquisa. Ou seja, uma vez atendidos os requisitos estabelecidos pelo atual Código de Mineração, o empreendedor tem a garantia de que receberá a concessão, sem licitação. Página 3 de 7
NO NOVO REGIME No projeto de lei, como dito, a outorga de concessão será precedida de processo licitatório ou de chamada pública, em que o concessionário assinará um contrato de adesão para a realização das fases de pesquisa e lavra, cuja abertura poderá ser solicitada por qualquer interessado. No caso das licitações para as concessões, os critérios de julgamento, isolados ou conjuntamente considerados, serão: (I) - bônus de assinatura; (II) - bônus de descoberta; (III) - participação no resultado da lavra; e (IV) - programa exploratório mínimo. É licito que a concedente estipule outros critérios no edital, desde que combinado, ao menos, com um dos critérios acima descritos. Quanto às chamadas públicas para a concessão, os critérios de julgamento serão expostos no instrumento de convocação. No caso de, ao final da chamada pública, persistirem dois ou mais interessados, será feito processo seletivo, na forma do prévio regulamento. De outra forma, quando se tratar de autorização, o aproveitamento dos minérios em que é permitido esta modalidade se dará mediante celebração de termo de adesão, conforme regulamento que será previamente estipulado. DA COMPENSAÇÃO FINANCEIRA PELA EXPLORAÇÃO DE RECURSOS MINERAIS (CFEM) ATUAL REGIME LEI N.º 7.990/89 Atualmente, o fato gerador da CFEM consiste na saída por venda do produto mineral das áreas da jazida, mina, salina ou outros depósitos minerais. E, ainda, a utilização, a transformação industrial do produto mineral ou mesmo o seu consumo por parte do minerador. É calculada sobre o valor do faturamento líquido, obtido por ocasião da venda do produto mineral, isto é, o valor da venda do produto mineral, deduzindo-se os tributos (ICMS, PIS, COFINS), que incidem na comercialização, como também as despesas com transporte e seguro. Quando não ocorre a venda, porque o produto mineral é consumido, transformado ou utilizado pelo próprio minerador, então considera-se como valor, para efeito do cálculo da CFEM, a soma das despesas diretas e indiretas ocorridas até o momento da utilização do produto mineral. As alíquotas variam de acordo com a substância mineral aproveitada: - 3% para: minério de alumínio, manganês, sal-gema e potássio; Página 4 de 7
- 2% para: ferro, fertilizante, carvão e demais substâncias; - 0,2% para: pedras preciosas, pedras coradas lapidáveis, carbonados e metais nobres. - 1% para: ouro. NOVO REGIME A proposta prevê como fatos geradores do dever de recolhimento da CFEM: I a saída do bem mineral, a qualquer título, do estabelecimento minerador; II - do ato de arrematação, nos casos de bem mineral adquirido em hasta pública; e III - do ato da primeira aquisição de bem mineral extraído sob o regime de permissão de lavra garimpeira. O aproveitamento econômico dos rejeitos ou estéreis decorrentes da exploração de áreas regularmente tituladas gera, também, o dever de pagar a compensação em alusão. Incidirá sobre a receita bruta da venda, deduzidos os tributos efetivamente pagos incidentes sobre a sua comercialização, nos termos de regulamento prévio. Note-se que não há permissão de dedução das despesas com transporte e seguro. A alíquota será variável. O projeto de lei prevê, apenas, a alíquota máxima, superior ao regime atual, de 4%, sem definir os critérios de variação, tal qual no regime atual. Isto ficará a cargo de regulamentação. DAS TAXAS E PREÇOS A SEREM INSTITUÍDOS A nova proposta prevê uma taxa (tributo) a ser cobradas das pessoas jurídicas autorizatárias, concessionários ou permissionários (descritos na Lei 7.805): A Taxa de Fiscalização (TF), devida anualmente, incidindo sobre todas as modalidades de aproveitamento mineral, devendo ser paga até o dia 31 de março de cada ano. Seu fato gerador é o exercício do poder de polícia decorrente da fiscalização das atividades de mineração pela ANM. Seu valor é previamente fixado, variando, apenas, com relação ao contribuinte. São eles: Empresa de grande porte Empresa de médio porte Empresa de pequeno porte Microempresa Concessão 80.000,00 40.000,00 10.000,00 5.000,00 Autorização 80.000,00 20.000,00 10.000,00 5.000,00 Para fins da cobrança da referida taxa, considera-se: Página 5 de 7
I - empresa de mineração de grande porte, a pessoa jurídica que tiver receita operacional bruta anual superior a R$ 90.000.000,00 (noventa milhões de reais); II - empresa de mineração de médio porte, a pessoa jurídica que tiver receita operacional bruta anual superior a R$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais) e igual ou inferior a R$ 90.000.000,00 (noventa milhões de reais); e III - microempresa e empresa de mineração de pequeno porte, as pessoas jurídicas que se enquadrem no disposto no art. 3º da Lei Complementar nº 123, de 14/12/2006. Na hipótese de permissão de lavra garimpeira, prevista na Lei nº 7.805, de 18 de julho de 1989, será cobrado o valor da TF estabelecido para as microempresas. A proposta prevê, ainda, a incidência de juros e multa à TF não recolhida nos prazos estabelecidos, calculados nos termos e na forma da legislação aplicável aos tributos federais, bem como o acréscimo de encargos legais, com expressa substituição (pelos encargos) da condenação do devedor em honorários advocatícios, quanto aos créditos inscritos em dívida ativa, calculados nos termos da legislação aplicável à Dívida Ativa da União. Merece realce que a inscrição dos créditos relativos à TF em dívida ativa impede a prorrogação e averbações referentes às respectivas concessões, autorizações e permissões para exploração de recursos minerais. É devido, pelo titular de direitos minerários, o pagamento anual de valor (que nos parece ter natureza de taxa/tributo), fixado por quilômetro quadrado ou fração da superfície da área, na forma disciplina pela ANM, em favor da União, pela ocupação ou pela retenção de área para o aproveitamento mineral, devidamente reconhecidos pela ANM. Deverá o titular de direitos minerários, ainda, pagar ao proprietário do solo valor correspondente a 20% do valor da CFEM que lhe é cobrada. Quando a área envolver mais de uma propriedade, a divisão da participação será proporcional à produção dos minérios obtida em cada uma delas, conforme apurado pela ANM. DA TRANSIÇÃO DE REGIME Com a proposta, o aproveitamento de minérios somente se dará na forma de Concessão ou de Autorização. Portanto, as Guias de Utilização existentes no atual regime serão revogadas no prazo máximo de 180 dias da entrada em vigor da nova lei, observado o prazo de vencimento da Guia. Página 6 de 7
As Autorizações de Pesquisa com Guias de Utilização que atenderem aos requisitos da legislação proposta poderão migrar, a critério do Poder Concedente, para o regime de autorização de Exploração de Recursos Minerais, nas condições estabelecidas em regulamento. Com relação às concessões vigentes, prevê o projeto de lei que as concessões de lavra outorgadas nos termos do Decreto-Lei nº 227, de 28 de fevereiro de 1967, continuarão vigentes pelo prazo de 40 anos, prorrogáveis por mais 20 anos sucessivamente (prazo este estipulado no novo regime). Quanto aos requerimentos de pesquisa pendentes de análise pelo DNPM, prevê, ainda, que seus titulares terão prazo de três meses para manifestar interesse no prosseguimento do requerimento. Pessoas físicas deverão adotar forma de organização empresarial para se adequar à lei. Decorrido o prazo estabelecido, os requerimentos de pesquisa que não se adequarem às novas regras serão indeferidos. Caso haja manifestação de interesse no prosseguimento do requerimento, será aberta chamada pública. Com relação às autorizações de pesquisa, foram propostas três situações: (I) nos trabalhos de pesquisa não iniciados no prazo legal, será concedido prazo adicional de dois meses para o início das atividades; (II) nos trabalhos de pesquisa em andamento, o titular poderá optar por concluir a pesquisa, com apresentação de relatório final e celebração de contrato de concessão de lavra nos termos da nova lei proposta; (III) nos casos em que o relatório final foi aprovado, mas sem deferimento da concessão de lavra, o titular poderá assinar contrato de concessão nos termos da nova lei. Adicionalmente, as autorizações de pesquisa expedidas anteriormente à entrada em vigor do marco da mineração proposto poderão ser prorrogadas por, no máximo, um ano, uma vez comprovada a execução dos trabalhos de pesquisa previstos. Caso a autorização de pesquisa seja de um dos minérios classificados como do regime de Autorização de Exploração de Recursos Minerais, o titular poderá solicitar a migração para esse regime. Página 7 de 7