O conceito de beneficiário efetivo nas convenções contra a bitributação internacional

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Transcrição:

V CONGRESSO BRASILEIRO DE DIREITO TRIBUTÁRIO INTERNACIONAL 3 e 4 de outubro de 2013 O conceito de beneficiário efetivo nas convenções contra a GERD WILLI ROTHMANN Professor mestre, doutor e livre-docente da Faculdade de Direito da USP, onde leciona nos cursos de graduação e de pós-graduação. Sócio-fundador e Diretor do Instituto Brasileiro de Direito Tributário - IBDT. Sócio-fundador de Rothmann Sperling Padovan Advogados

1. INTRODUÇÃO Discussões doutrinárias e judiciais relativas a conceito e finalidade do termo beneficiário efetivo, empregado nas convenções contra a em matéria de imposto sobre a renda (CBI).

2. PERGUNTAS E RESPOSTAS 2.1. Qual a natureza e finalidade das CBI? As CBI são acordos bilaterais, celebrados entre dois Estados soberanos, mediante concessões mútuas, que definem a sua competência tributária para eliminar ou mitigar a dupla tributação, em matéria de imposto sobre a renda e coibir a evasão fiscal internacional, no intuito de fomentar o tráfico bilateral de capitais e serviços e contribuir ao desenvolvimento econômico dos Estados Contratantes.

2.2. Em que consistem as concessões mútuas? Os Estados Contratantes concedem, em especial, os benefícios de: a) redução das alíquotas do imposto de renda retido na fonte; b) isenção do rendimento auferido no outro Estado Contratante; c) crédito do imposto pago no outro Estado Contratante, o que implica renúncias fiscais por parte dos Estados Contratantes.

2.3. Quem são os beneficiados pela CBI? Os beneficiados são: a) os próprios Estados Contratantes pelo incentivo ao seu desenvolvimento econômico e pelo consequente aumento de arrecadação, que deverá compensar a renúncia fiscal acordada nas CBI; b) os contribuintes residentes de um ou de ambos os Estados Contratantes, que terão uma redução significativa da carga fiscal incidente nas suas operações internacionais.

2.4. Qual o requisito fundamental para o contribuinte poder usufruir os benefícios decorrentes da aplicação da CBI? As pessoas visadas, a que se referem a Convenção Modelo da OCDE (CM-OCDE art. 1º) e as CBI celebradas pelo Brasil (art. 1º), são as pessoas (físicas ou jurídicas) residentes de um ou de ambos os Estados Contratantes.

2.5. Basta a residência jurídica-formal para ser incluído no âmbito de aplicação de uma CBI? Pela natureza e finalidade das CBI e diante das renúncias fiscais concedidas mutuamente, não pode haver dúvida quanto à qualificação do residente no Estado Contratante. Não basta que o recipiente de um rendimento possua mero domicílio formal no respectivo Estado Contratante. É necessário que o residente participe efetivamente da economia do Estado Contratante. Somente neste caso ele poderá ser considerado beneficiário efetivo das vantagens concedidas pela CBI. Portanto, o que importa não é o aspecto jurídico ou formal da residência, mas os aspectos econômicos inerentes às CBI, acima mencionados.

2.6. O termo beneficiário efetivo, introduzido pela OCDE nos artigos 10 (dividendos), 11 (juros) e 12 (royalties), representa uma medida nova de limitação dos benefícios das CBI? Pelo exposto, o requisito de o residente ser beneficiário efetivo está implícito no conceito de residente como pessoa visada, ou seja, legitimada ao uso dos benefícios da CBI. A inclusão, em 1977, do termo beneficiário efetivo nos artigos 10, 11 e 12 da CM-OCDE somente tornou expressa esta qualificação implícita do beneficiário da aplicação da CBI para reforçar a legitimação do residente, pessoa visada, no combate ao uso indevido da CBI e à evasão fiscal internacional. Portanto, o termo beneficiário efetivo é novo, mas não o requisito para o uso legítimo dos benefícios concedidos pelas CBI.

2.7. O requisito do beneficiário efetivo representa uma medida contra o treaty shopping? O conceito de beneficiário efetivo, implícito em todas as cláusulas das CBI (e não só nos artigos 10, 11, e 12), representa uma barreira ao treaty shopping, que decorre da própria natureza das coisas. Resulta da interpretação teleológica e sistemática da CBI. Assim sendo, não pode ser considerada, propriamente, uma medida específica contra o treaty shopping, concebido como o uso indevido da CBI, como, por exemplo, a cláusula de limitação de benefícios ( LOB ), introduzida, por exemplo, na CBI Brasil-Israel (art. 25). Tratase de uma barreira natural e genérica contra o abuso das CBI e não de uma medida específica, restrita a determinados rendimentos (dividendos, juros e royalties).

2.8. O que justifica a introdução do termo beneficiário efetivo nos artigos 10, 11 e 12 das CBI? Nos referidos rendimentos passivos, sua atribuição a determinada pessoa (física ou jurídica) como beneficiário efetivo é mais difícil que em outras modalidades de rendimento (como, por exemplo, os rendimentos mencionados nos artigos 14 a 21 das CBI), devido à facilidade de interposição de terceiras pessoas, residentes nos Estados Contratantes, que não se caracterizam como beneficiários efetivos, mas como meros intermediários de beneficiários efetivos, residentes em nenhum dos Estados Contratantes, e que, portanto, não se encontram no âmbito de aplicação da respectiva CBI. Por isso, ficou incluído o termo beneficiário efetivo para reforçar o requisito fundamental à qualificação do recipiente dos rendimentos como pessoa visada pela CBI. Além do mais, a referência expressa ao beneficiário efetivo pode facilitar o entendimento entre os Estados Contratantes, quando houver necessidade de troca de informações, instituto previsto nas CBI para aplicar suas disposições.

2.9. Quais as características do beneficiário efetivo, legitimado ao uso das CBI? Das CBI celebradas por vários países, dos Comentários à CM-OCDE, da doutrina e jurisprudência internacionais, inferem-se os seguintes aspectos, que caracterizam o recipiente dos rendimentos como beneficiário efetivo (V. palestra do Prof. Kees Van Raad e artigo de Leonardo F. de Castro, Concept of Beneficial Owner in Tax Treaties: Separating the Wheat from the Chaff Through Case Law Method Internationally, In: International Tax Journal; Jul/Aug 2013, p. 25): a) o recipiente deve ser a pessoa à qual o rendimento é atribuído de acordo com as leis fiscais do Estado da Fonte (dividendos); b) o recipiente deve ser o titular do direito em que se fundamentaram os pagamentos (dividendos); c) os rendimentos devem ser atribuíveis ao recipiente conforme a legislação fiscal de ambos os Estados Contratantes (dividendos);

2.9. Quais as características do beneficiário efetivo, legitimado ao uso das CBI? (continuação) d) beneficiário efetivo é o detentor do direito ao recebimento dos dividendos e não o proprietário das ações de que se originam (dividendos); e) o beneficiário efetivo dos dividendos é a pessoa que os recebe para seu próprio uso e gozo e assume o risco e controle do dividendo recebido; f) o recipiente dos dividendos é o beneficiário efetivo mesmo quando empresta os fundos recebidos de volta ao seu pagador; g) sociedades holding são beneficiárias efetivas quando sua diretoria tiver autorização, conforme a legislação societária, de dispor dos dividendos recebidos de suas subsidiárias, mesmo em hipótese de holdings intermediárias;

2.9. Quais as características do beneficiário efetivo, legitimado ao uso das CBI? (continuação) h) o Banco recipiente de dividendos, originados de uma operação de leasing, é seu beneficiário efetivo se não tiver a obrigação legal de repassá-los aos seus clientes; i) o beneficiário efetivo deve ter plena e incondicionada disponibilidade e controle completo sobre os dividendos recebidos, não bastando a posse física dos valores recebidos; j) beneficiário efetivo é a pessoa que, de fato, se beneficia dos dividendos em última instância; k) o beneficiário efetivo deve ter um suficiente nexo territorial com o Estado Contratante da CBI; l) o recipiente é beneficiário efetivo, legítimo, quando não houver simulação com a finalidade exclusiva de interesse fiscal (ganho de capital).

2.10. Quando é rejeitada a qualificação de beneficiário efetivo? O reconhecimento da qualidade de beneficiário efetivo é negado nas seguintes hipóteses: a) ausência das características acima referidas; b) interposição de uma terceira pessoa (física ou jurídica), como, por exemplo: - agente - procurador - beneficiário - conduit company; c) planejamento fiscal abusivo (ilícito), caracterizado por estruturação jurídica inadequada e pela falta de substância (substance over form) e de propósito empresarial (business purpose); d) fraude e simulação.

2.11. Quais as alterações nos comentários à CM-OECD, relativas ao beneficiário efetivo (beneficial owner ou beneficial ownership), propostas pela OCDE? a) Minuta de revisão dos comentários relativos ao termo beneficiário efetivo dos artigos 10, 11 e 12 da CM-OCDE, de abril de 2011: i. esclarece que o beneficial owner deve ter o direito pleno ao uso e gozo dos dividendos recebidos, a plena disponibilidade e poder sobre eles e não ser obrigado a transferir o pagamento recebido a uma outra pessoa; ii. destaca que o propósito principal do termo beneficiário efetivo não é o combate ao treaty shopping ou a limitação dos benefícios da CBI pela aplicação de medidas anti-abusivas ou da doutrina substance over form, portanto, não é um princípio geral anti-abusivo;

2.11. Quais as alterações nos comentários à CM-OECD, relativas ao beneficiário efetivo (beneficial owner ou beneficial ownership), propostas pela OCDE? (continuação) a) Minuta de revisão dos comentários relativos ao termo beneficiário efetivo dos artigos 10, 11 e 12 da CM-OCDE, de abril de 2011: (continuação) iii. a exigência da beneficial ownership foi um esclarecimento do termo pago a (paid to) para negar os benefícios dos artigos 10 a 12 àqueles que, apesar de possuírem um título legal para receber o rendimento, com eles somente mantem uma relação formal, porquanto agiram como intermediários, tais como um agente ou um procurador; iv. trata-se de uma regra de atribuição de rendimento e não de uma medida genérica e ampla contra treaty shopping e evasão fiscal.

2.11. Quais as alterações nos comentários à CM-OECD, relativas ao beneficiário efetivo (beneficial owner ou beneficial ownership), propostas pela OCDE? (continuação) b) Comentários sobre beneficiário efetivo de outubro de 2012: i. esclarece que a legislação doméstica não é importante para conceituar o significado do termo beneficiário efetivo; ii. a mudança dos termos recebido por para pago para é conveniente porque esclarece o significado das palavras pagos a um residente, que seja beneficiário efetivo; iii. sugere que instituições financeiras, quando atuam no curso normal dos seus negócios, devem, em princípio, ser consideradas beneficiárias efetivas;

2.11. Quais as alterações nos comentários à CM-OECD, relativas ao beneficiário efetivo (beneficial owner ou beneficial ownership), propostas pela OCDE? (continuação) b) Comentários sobre beneficiário efetivo de outubro de 2012: (continuação) iv. uma mera sociedade holding pode ser beneficiária efetiva, pois isto não depende de uma substancia física (escritório e empregados); v. em relação aos dividendos, o beneficiário efetivo diz respeito ao rendimento e não às ações subjacentes.

2.12. O termo beneficiário efetivo é utilizado pela legislação brasileira? Na legislação doméstica, o termo beneficiário efetivo é utilizado pela Lei n.º 12.249/2010 que introduziu normas de subcapitalização na legislação brasileira. O Art. 26, 1º desta lei considera como efetivo beneficiário a pessoa física ou jurídica não constituída com o único ou principal objetivo de economia tributária que auferir esses valores por sua própria conta e não como agente, administrador fiduciário ou mandatário por conta de terceiro. Também a Lei n.º 11.727/2008 (preço de transferência) fez referência ao beneficiário efetivo sem, no entanto, definir seu significado.

2.12. O termo beneficiário efetivo é utilizado pela legislação brasileira? (continuação) A Instrução Normativa RFB n.º 1.154/2011 considera os seguintes requisitos para a caracterização do beneficiário efetivo na legislação brasileira doméstica: (i) que a pessoa física ou jurídica não tenha sido constituída com o único ou principal objetivo de economia tributária; e (ii) que a pessoa física ou jurídica aufira a renda por sua própria conta e não como um agente, administrador fiduciário ou mandatário por conta de terceiro. No direito tributário internacional do Brasil, o termo beneficiário efetivo foi inserido nos artigos 10 a 12 em 21 das 29 CBI celebradas pelo Brasil, a partir de 1979. Só não consta nas CBI com Argentina, Áustria, Dinamarca, Espanha, França, Japão, Luxemburgo e Suécia. Além disso, o termo é usado no artigo 28 (Disposições Diversas) da CBI Brasil-México de 2003, que concede o direito de negar os benefícios da CBI em hipóteses de abuso da convenção.

3. CONCLUSÃO Beneficiário da CBI é o beneficiário efetivo dos rendimentos auferidos no exterior, que se caracteriza pela sua participação efetiva na economia dos Estados Contratantes, da qual se originam os rendimentos sujeitos, em princípio, a bitributação internacional.