SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS: UM ESTUDO SOBRE AS POSSIBILIDADES DE AVANÇO COGNITIVO PARA O ESTUDANTE COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

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Transcrição:

SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS: UM ESTUDO SOBRE AS POSSIBILIDADES DE AVANÇO COGNITIVO PARA O ESTUDANTE COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Juliana Dalbem Omodei Renata Portela Rinaldi Elisa T. Moriya Schlünzen Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp\FCT) Eixo Temático: SRM: análise de sua implantação e funcionamento Agência Financiadora: Proesp/Capes Palavras-chave: Sala de Recursos Multifuncionais; Desenvolvimento cognitivo; Deficiência Intelectual. 1. Introdução O Programa de Implantação de Sala de Recursos Multifuncionais (SRM) é orientado pela Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008). Essa política tem como objetivo garantir o acesso, a participação e a aprendizagem dos estudantes público-alvo da Educação Especial (EPAEE), garantindo, entre outros, o apoio aos sistemas de ensino na organização e oferta do Atendimento Educacional Especializado (AEE), favorecendo assim o processo de inclusão. Considera-se EPAEE os estudantes com deficiência (física, intelectual, sensorial) transtornos globais de desenvolvimento e com altas habilidades/superdotação. Contudo, o enfoque nesse trabalho foi conhecer e analisar as possibilidades e as limitações dos recursos da SRM distribuídos pelo Ministério da Educação (MEC) para o trabalho pedagógico com estudantes com deficiência intelectual (DI), mais especificamente no que se refere a possibilidade de avanço intelectual. Trata-se de um recorte de uma pesquisa de mestrado concluída e a pergunta que nos propomos a responder por meio da investigação foi: os recursos da SRM são suficientes para incentivar a construção de conhecimento aos estudantes com DI?

1. Desenvolvimento Com o intuito de responder à pergunta de pesquisa e alcançar o objetivo proposto para esse estudo empreendemos uma pesquisa documental aliada a pesquisa de campo. Esta pesquisa esteve vinculada a um projeto mais amplo denominado Formação de Educadores: Compromisso com a Educação Especial na Perspectiva de Educação Inclusiva, financiada pelo Programa de Apoio à Educação Especial (PROESP, 2009). Pela natureza do estudo a metodologia adotada se pautou na abordagem qualitativa, do tipo pesquisa-ação e intervenção. O universo da pesquisa foi a SRM localizada no Centro de Promoção para a Inclusão Digital, Escolar e Social (CPIDES) da Faculdade de Ciências e Tecnologia (Unesp/FCT), campus de Presidente Prudente, SP. Participaram da pesquisa sete estudantes com DI, com idades entre 8 e 21 anos, uma professora-voluntária (PV) especialista em Educação Especial e a pesquisadora, sob orientação das coautoras do presente texto. Como procedimento de coleta de dados realizamos um processo de catalogação in locu dos recursos da SRM. Essa catalogação consistiu em relacionar tais recursos anunciando possibilidades de trabalho para favorecer a construção de conhecimento dos estudantes com DI envolvidos na pesquisa. O trabalho de campo, definido como um programa de intervenção, foi elaborado em forma de um projeto pedagógico e planejado em consonância com as necessidades, preferências e potencialidades dos sujeitos de pesquisa. Esse programa foi elaborado com a intenção de utilizar os recursos da SRM com os estudantes com DI, de forma a identificar possibilidades de trabalho pedagógico e as possíveis limitações de cada material aplicado ao público específico. Os instrumentos de coleta de dados utilizados foram construídos pela pesquisadora, a saber: protocolo pedagógico dos recursos da SRM; protocolo de registro de atividades; filmagens e fotografias; diário de campo da pesquisadora e da professora-voluntária. Os recursos analisados restringiram-se aos materiais didático-pedagógicos distribuídos pelo MEC às SRM Tipo I e Tipo II, excluindo aqueles que, por ventura, foram construídos por professores para atender a uma necessidade do estudante. Além disso, excluímos os recursos específicos para área da deficiência visual disponível na SRM do tipo II e os materiais específicos para deficiência auditiva, como dominó em libras, ou para deficiência visual, como

o alfabeto Braille e memória tátil, visto que os participantes deste estudo não apresentavam essas deficiências. Optamos por apresentar os resultados do estudo por meio de um processo descritivo analítico buscando analisar a possiblidade de avanço intelectual em elementar (como percepção, atenção, memória, motricidade fina, noções de espacialidade) ou complexo (como leitura, escrita, conhecimento científico, conceitos, raciocínio lógico). 2. Resultados e Análise Os recursos foram analisados pela sua possibilidade de avanço intelectual junto ao público específico. Não se trata, porém, de uma análise voltada para verificar se houve ou não aprendizagem por parte dos estudantes com DI, já que não é o foco dessa investigação, mas de verificar o potencial dos recursos e suas limitações para o desenvolvimento de habilidades elementares ou para o desenvolvimento de atividades de maior complexidade. O quadro 1 demonstra o resumo dos resultados da análise dos recursos: Quadro 1: Resumo dos resultados dos recursos analisados Recurso Possiblidade de avanço cognitivo Elementar (percepção, Complexo (leitura, atenção, memória, motricidade escrita, conhecimento fina, noções de espacialidade) científico, conceitos, raciocínio lógico) Material dourado - Sim Esquema corporal Sim - Quebra-cabeça sobrepostos - Sim Tapete alfabético Sim - Memória de numerais - Sim Dominó de Associação de frases Sim - Dominó de associação de ideias Sim - Sacolão criativo Sim - Fonte: Omodei, 2013. Por meio do estudo em tela, dos materiais que observamos da SRM, percebemos que o Esquema corporal, Tapete alfabético e Sacolão criativo parecem contribuir para avanço intelectual elementar dos sujeitos. Mais especificamente, o Dominó de frases e o Dominó de associação de ideias, embora tenham a proposta de trabalhar com leitura e a intenção de promover avanço da aprendizagem ao nível complexo, verificamos a partir do trabalho empírico que esses são recursos pobres com frases simples e sem sentido. O Esquema

corporal pode ser trabalhado como um simples quebra-cabeça, sem a intenção de instigar a percepção do corpo ao estudante. E mesmo quando há a intencionalidade do professor e/ou mediador, um objetivo específico de aula e/ou atendimento, consideramos um material limitado no que se propõe, quando ponderamos avanço cognitivo complexo. Entretanto, é possível que o professor tome esse material como um pretexto, uma possibilidade de introdução a um projeto de trabalho mais amplo, para possibilitar a assimilação de conceitos, a formalização de ideias e sistematização do conhecimento. Quanto ao Tapete alfabético encaixado, não conseguimos utilizá-lo devido à recusa imediata de todos os participantes. Apesar de não o ter utilizado, a pesquisadora e a PV haviam analisado o material para uma possível aplicação, pensando nas suas potencialidades e limitações, no entanto, não identificaram possibilidades de trabalho que permita o avanço cognitivo com o público-alvo do estudo. O Sacolão criativo pode ser um ótimo material para ser utilizado com crianças pequenas na educação infantil como forma de instigar a criatividade, imaginação, desenvolver coordenação motora. Entretanto, para os participantes da pesquisa, público de pré-adolescentes e jovens não é um material capaz de promover o avanço cognitivo de nível mais complexo. Dentre os materiais, cuja aplicação demonstrou possibilitar avanço intelectual complexo, está o Material dourado, o jogo da Memória de numerais e o Quebra-cabeças sobrepostos. Os materiais foram aplicados em forma de jogo, com o objetivo de instigar o pensamento abstrato por meio de intervenções e promover interação entre os participantes. Em relação ao jogo Memória de numerais, pode desenvolver atenção, concentração, discriminação de figuras, percepção visual e raciocínio lógico. Outrossim, acreditamos que o professor pode instigar o conflito cognitivo nos estudantes de forma mais interessante, tomando como referência ou tema para o atendimento ou aula, a realidade dos envolvidos. Dessa forma, a atividade será mais significativa, até porque, pelo enfoque de Piaget (1974), os indivíduos com deficiência mental se desenvolvem num ritmo mais lento e num menor alcance cognitivo. Nesse cenário, o papel do professor é propor situações de aprendizagem que estimulem a atividade intelectual, pois, a inteligência se estrutura a partir de seu próprio funcionamento. Ao utilizarmos o recurso Quebra-cabeças sobrepostos percebemos que ele pode promover avanços cognitivos complexos, assim como abrir um leque de possibilidades de trabalhos mais

amplos para o atendimento de apoio ao estudante com DI, apesar de considerarmos que é um material inadequado à idade dos participantes do estudo. Mesmo sendo insuficiente e apresentando limitações, pode se transformar num trampolim para a aquisição de conhecimentos mais amplos e que fazem parte da vida, ou seja, partem de um contexto, que no caso, foi a própria história de vida dos estudantes. 3. Considerações Finais Esse trabalho procurou analisar as possibilidades e limitações pedagógicas dos recursos e materiais disponibilizados pelo MEC às SRM, para um trabalho de apoio pedagógico a estudantes com DI, no que se refere a possibilidade de avanço cognitivo. Percebemos que não são os materiais que garantem a aprendizagem dos estudantes, mas são meios que o mediador/professor utiliza para facilitar a aprendizagem e a construção do pensamento. O que conta nesse processo é o objetivo que o professor pretende alcançar, assim como, a mediação, as provocações, os confrontos cognitivos a que esses estudantes são submetidos. Por esta razão, o planejamento da ação didático-pedagógica é tão importante para a docência. Constatamos que os recursos são importantes ferramentas de apoio para o professor, com os quais ele é capaz de conseguir atingir resultados significativos, quando trabalhados de forma contextualizada, que auxilie na desequilibração das certezas do estudante e que vá além do aspecto lúdico. Embora eles não sejam suficientes para atender a faixa etária e ao processo de escolarização dos participantes dessa pesquisa, foi possível a realização de um trabalho articulando a partir da elaboração de diferentes estratégias de ensino que buscou incentivar a construção de conhecimento aos estudantes com DI. Referências BRASIL. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília, 2008. OMODEI, Juliana Dalbem. Um olhar para a sala de recursos multifuncionais e objetos de aprendizagem: apontamentos de uma pesquisa e intervenção. 2014. 186 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, 2013. PIAGET. J. O nascimento da inteligência na criança. Tradução de Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar: 1974.