DECISÃO 2014-A PROCESSO Nº 47537-21.2014.4.01.3400 AUTORA: NOVARTIS AG RÉU: INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL INPI DECISÃO A Autora pretende obter, em sede de antecipação dos efeitos da tutela, a suspensão dos efeitos das decisões do Réu que mantiveram o indeferimento dos pedidos de patente PI9912021-6 e PI9917889-3, a declaração com efeitos equivalentes ao deferimento desses pedidos e o regular prosseguimento de tais pedidos, com remessa à análise da Agência Nacional de Vigilância Sanitária ANVISA para a análise de anuência prévia. Informa que é titular dos referidos pedidos de patente, com data de prioridade de 10.07.1998, cuja combinação forma o medicamento DIOVAN AMLO FIX, devidamente registrado no órgão sanitário. Narra que, após o regular procedimento de exame dos pedidos, o Réu publicou pareceres de indeferimento nos dias 04.10.2011 e 28.02.2012. Afirma que os recursos interpostos contra o indeferimento foram desprovidos. Argumenta que as interpretações adotadas pelo Réu são equivocadas, dado que o requisito atividade inventiva está presente em ambos os pedidos de patente, conforme atestado por diversos pareceres elaborados por especialistas no assunto. Instruiu a inicial com os documentos de fls. 35-907. Custas recolhidas às fls. 908. A apreciação do pedido de tutela antecipada foi diferida para após a Pág. 1/5
contestação (fls. 910). O Réu contestou às fls. 924-946, em que reiterou a conclusão administrativa de que o requisito de atividade inventiva não foi demonstrado pela parte autora, pugnando pela improcedência dos pedidos. A Autora apresentou réplica às fls. 949-979, oportunidade em que juntou parecer elaborado por especialista. Decido. A concessão da antecipação dos efeitos da tutela exige a presença simultânea dos pressupostos radicados no art. 273 do CPC: prova inequívoca que confira verossimilhança às alegações e fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação. Em juízo de cognição sumária, não vislumbro a presença do primeiro requisito. O Réu considerou que os pedidos de patente com suas várias reivindicações apresentados pela Autora descumpriram diversos requisitos estabelecidos pela Lei nº 9.279/1996, em especial o requisito de atividade inventiva (art. 13). No tocante ao pedido de patente PI9912021-6, confiram-se os seguintes trechos da decisão proferida pelo Réu em 26.03.2014 (fls. 562-579): (...) 1) Introdução O indeferimento do presente pedido com base nos artigos 8º e 13 da Lei 9279/96 (LPI), foi notificado na RPI nº 2126 de 04/102011. Por meio da petição nº 20110124568 de 05/12/2011, a requerente, ora recorrente, apresentou RECURSO CONTRA O INDEFERIMENTO, notificado na RPI nº 2228 de 17/09/2013. 2) Descrição da matéria A matéria pleiteada no presente pedido refere-se a uma composição de combinação farmacêutica, caracterizada pelo fato de que compreende por Pág. 2/5
forma de dosagem de unidade: (i) o antagonista de AT1 valsartan ou um sal farmaceuticamente aceitável do mesmo, e (ii) um bloqueador de canal de cálculo que é amlodipina ou um sal farmaceuticamente aceitável do mesmo. (...) 6) Análise e avaliação: Primeiramente, tendo em vista que a recorrente não apresentou um novo quadro reivindicatório em sua petição de recurso ao indeferimento, destaca-se que o quadro reivindicatório examinado no presente parecer é aquele apresentado através da petição nº 20110026624, cuja reivindicação independente nº 1 trata de: 1. Composição de combinação farmacêutica, caracterizada pelo fato de que compreende por forma de dosagem de unidade: (i) antagonista de AT1 valsartan ou um sal farmaceuticamente aceitável do mesmo, e (ii) um bloqueador de canal de cálcio que é a amlodipina ou um sal farmaceuticamente aceitável do mesmo. A partir da análise das alegações trazidas pela recorrente Novartis AG no presente recurso e das contra-razões apresentadas pela interessada EMS S/A, verifica-se que a discussão sobre a patenteabilidade do presente pedido está no requisito de atividade inventiva, que se encontra definido no Artigo 13 da LPI: A invenção é dotada de atividade inventiva sempre que, para um técnico no assunto, não decorra de maneira evidente ou óbvia do estado da técnica. Inicialmente, no que diz respeito às argumentações da recorrente frente ao documento P12 (decisão da divisão de oposição da EPO), ressalta-se que o mesmo não comprova a patenteabilidade do presente pedido, uma vez que cada país é independente na concessão ou não de um pedido de patente, conforme princípio disposto no artigo 4º bis da Convenção da União de Paris. (...) Desta forma, uma vez que já são conhecidos do estado da técnica, tanto a combinação de valsartan e amlodipina para tratamento da hipertensão (artigo publicado por Corea et al P2), bem como a estratégia de se combinar fármacos anti-hipertensivos numa única forma de dosagem para aumentar adesão a uma combinação (artigo publicado por Moser & Black P3), considera-se que a matéria pleiteada, ou seja, a combinação valsartan e amlodipina numa única forma de dosagem, decorre de maneira mais óbvia para um técnico no assunto. Logo, a matéria pleiteada nas reivindicações 1 a 7 não apresenta o requisito de atividade inventiva e, consequentemente, estas reivindicações não estão de acordo com o Artigo 13 da LPI, não sendo Pág. 3/5
patenteáveis de acordo com o Artigo 8º desta mesma Lei. 7) Conclusão: De acordo com a análise discorrida neste parecer, a recorrente não apresenta consistência em suas argumentações. Sugerimos, portanto, a manutenção do indeferimento. Semelhantemente, o pedido de patente PI9917889-3 foi indeferido com base nos mesmos fundamentos, conforme decisão de fls. 762-776, proferida em 26.03.2014. Amparada em diversos pareceres elaborados por especialistas sobre a matéria, a Autora dissente das decisões sob o argumento de que o requisito de atividade inventiva está presente. No entanto, sua alegação não pode ser acolhida, ante a inexistência de prova inequívoca que a confirme. Isso porque os vários pareceres juntados pela Autora, conquanto elaborados por profissionais sérios e de credibilidade na comunidade científica, não foram submetidos ao contraditório judicial, por isso que não podem ser considerados neste momento processual. A solução imposta, pois, é a realização de prova pericial, submetida ao contraditório judicial, feita por perito de confiança deste Juízo, equidistante das partes. Até lá, a medida requerida não pode ser concedida, ante a presunção de legitimidade e veracidade dos atos administrativos. tutela. Com essas considerações, indefiro o pedido de antecipação dos efeitos da Às partes, começando pela Autora, para especificarem e justificarem as provas que pretendem produzir em juízo. Prazo: 10 (dez) dias. Pág. 4/5
Publique-se. Intime-se. Brasília, 21 de novembro de 2014. (assinatura digital) IVANI SILVA DA LUZ Juíza Federal Titular da 6ª Vara/DF Pág. 5/5