ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores GILBERTO LEME (Presidente), MORAIS PUCCI E FLAVIO ABRAMOVICI.

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento n.º , da Comarca de Osasco, em que é agravante MARIA LÚCIA ANDRADE DOS SANTOS, é agravado NILSON GOMES DA CRUZ (NÃO CITADO), ACORDAM, em 35ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores GILBERTO LEME (Presidente), MORAIS PUCCI E FLAVIO ABRAMOVICI. São Paulo, 31 de julho de Gilberto Leme RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Agravo de Instrumento n.º Comarca: Agravante: Agravado: Osasco Maria Lúcia Andrade dos Santos Nilson Gomes da Cruz AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONDOMÍNIO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS C.C. OBRIGAÇÃO DE FAZER. TUTELA DE URGÊNCIA. PRETENSÃO DE ABSTENÇÃO DE POSTAGEM DE MENSAGENS VIA WHATSAPP. CONTEÚDO DAS MENSAGENS QUE DEMONSTRA O DESCONTENTAMENTO DO CONDÔMINO COM A ADMINISTRAÇÃO DA SÍNDICA. AUSÊNCIA DOS REQUISITOS AUTORIZADORES DA MEDIDA. PROBABILIDADE DO DIREITO E PERIGO DE DANO OU RISCO AO RESULTADO ÚTIL DO PROCESSO ANTES DA APRESENTAÇÃO DO CONTRADITÓRIO. DECISÃO MANTIDA. Segundo o art. 300 do CPC a tutela provisória somente será concedida quando evidenciada a probabilidade do direito e o perigo de dano ou ao resultado útil do processo. Ausente algum desses requisitos, de rigor o indeferimento do pedido. Recurso desprovido. VOTO N.º Trata-se de recurso de agravo de instrumento interposto à r. decisão que indeferiu o pedido de tutela de urgência formulado pela agravante para que o agravado fosse obrigado a se abster de criticá-la por meio Agravo de Instrumento nº

3 do grupo formado pelos condôminos no WhatsApp, em virtude da ausência de probabilidade do direito. Sustenta a agravante, preliminarmente, que a decisão acima mencionada não tem fundamentação. No mérito, afirma que é síndica do condomínio onde os litigantes residem e desde o início do seu mandato tem sido ofendida pelo agravado, que a acusa de usar os recursos do empreendimento em benefício próprio. Afirma que tais fatos foram devidamente demonstrados por meio dos comunicados eletrônicos, cujas cópias acompanharam a petição inicial, bem como do registro do número de telefone em cadastros de moradores anotado pela parte contrária que comprova de onde provém as ofensas e da indicação do endereço do recorrido pela Junta Comercial. Recurso tempestivo, preparado e não respondido porque não citada a parte contrária. Denegado o efeito ativo e remetido diretamente a Mesa de julgamento com o voto n.º É o relatório. Infere-se do processado que a agravante ajuizou ação de indenização por dano moral c.c. pedido de obrigação de fazer, argumentando que os litigantes residem no Condomínio Villagio Quitaúna, que ela foi eleita para o cargo de síndica e que a rede social denominada WhatsApp formada pelo grupo de moradores, que se destina a facilitar a comunicação e administração do condomínio, tem recebido várias mensagens ofensivas dirigidas a sua pessoa por parte do réu-agravado. Agravo de Instrumento nº

4 Em sede de tutela de urgência, a demandante-recorrente pleiteou que o demandado-recorrido fosse obrigado a se abster de postar mensagens difamatórias e inverídicas a ela dirigidas, o que foi indeferido pelo magistrado por falta de documentos suficientes a conferir a probabilidade do direito. Daí o presente recurso. Preliminarmente, a decisão atacada por este agravo de instrumento encontra-se devidamente fundamentada, tanto que o juiz analisou os documentos de fls. 28/48, citados em sua decisão e asseverou que eles não se mostraram suficientes para conferir a plausibilidade ao argumento da autora-agravante. No mérito, o novo Código de Processo Civil, em atenção à construção doutrinária já consagrada, previu duas espécies do gênero tutela provisória: de urgência e de evidência (art. 294). A primeira, que interessa ao caso concreto, destina-se a eliminar o perigo de dano grave e de difícil reparação, desde que evidenciada a probabilidade do direito. De consignar que o art. 300 do CPC estabelece que a tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano, permitindo o 2.º desta disposição o deferimento da medida liminarmente. Ainda, o 3.º impede sua concessão caso verificado o perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão. A probabilidade esclarece DANIEL Agravo de Instrumento nº

5 MITIDIERO - que autoriza o emprego da técnica antecipatória para a tutela dos direitos é a probabilidade lógica que é aquela que surge da confrontação das alegações e das provas com os elementos disponíveis dos autos, sendo provável a hipótese que encontra maior grau de confirmação e menor grau de refutação nesses elementos. O juiz tem que convencer de que o direito é provável para conceder 'tutela provisória'. (Breves Comentários ao Novo Código de Processo Civil, Teresa Arruda Alvim Wambier eti alli, 2.ª Tiragem, São Paulo: Editora RT, 2015, pág. 782) Com efeito, o juízo de probabilidade não compreende apenas a aparência de veracidade dos fatos, fazendo-se necessário que haja prova, cujo grau de convencimento permita uma conclusão segura acerca do direito invocado. Quanto ao perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo, ensina ELPÍDIO DONIZETE que: pode ser definido como o fundado receio de que o direito afirmado pela parte, cuja existência é apenas provável, sofra dano irreparável ou de difícil reparação ou se submeta a determinado risco capaz de tornar inútil o resultado final do processo. (...) Saliente-se que não basta a mera alegação, sendo indispensável que o autor aponte fato concreto e objetivo que leve o juiz a concluir pelo perigo da lesão. (Novo Código de Processo Civil Comentado, São Paulo: Ed. Atlas, 2015, pág. 233) A concessão da 'tutela de urgência' Agravo de Instrumento nº

6 anota CASSIO SCARPINELLA BUENO - pressupõe: (a) probabilidade do direito e (b) perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo (art. 300, caput). São expressões redacionais do que é amplamente consagrado nas expressões latinas fumus boni iuris e periculum in mora, respectivamente. (...) A 'tutela de urgência' pode ser concedida liminarmente, isto é, no início do processo e sem a oitiva prévia da parte contrária, ou após a justificação prévia (art. 300, 2.º). A justificação prévia, cabe anotar é alternativa àqueles casos em que os pressupostos para a concessão de tutela de urgência não são passíveis de demonstração com a própria petição inicial (prova documental, ata notarial ou estudo técnico), sendo o caso, por exemplo, de ouvir testemunhas ou o próprio requerente da medida, o que merece ser justificado na própria petição em que é formulado o pedido. Nesta hipótese, o mais correto não é indeferir o pedido de tutela de urgência, mas designar a referida audiência para colheita de provas. (Novo Código de Processo Civil anotado, São Paulo: Saraiva, 2015, pág. 219) No caso em tela, a agravante pretende que o réu-agravado seja compelido a não mais veicular mensagens que ela entende ser difamatórias e inverídicas em relação ao exercício de sua função de síndica do condomínio em que ambos residem. De consignar que das cópias das mensagens postadas no grupo de moradores por meio do sistema WhatsApp (fls. 42/61) verifica-se o Agravo de Instrumento nº

7 descontentamento de um condômino, ora réu, com a administração da agravante, apontando gastos excessivos, contudo, o conteúdo de tais postagens eletrônicas não são suficientes para o fim de evidenciar a probabilidade do direito tratados nos autos, tampouco demonstram o perigo de dano ou o risco ao resultado útil ao processo. Ante o exposto, não vislumbro os requisitos autorizadores da tutela de urgência, pelo que mantenho a decisão atacada por este agravo de instrumento. recurso. Pelo meu voto, nego provimento ao GILBERTO LEME Relator Agravo de Instrumento nº