CURSOS DE EXTENSÃO A DISTÂNCIA DE EDUCAÇÃO MUSICAL NA UFSCar: UMA PROPOSTA DE MODELO



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Transcrição:

1 CURSOS DE EXTENSÃO A DISTÂNCIA DE EDUCAÇÃO MUSICAL NA UFSCar: UMA PROPOSTA DE MODELO São Carlos SP Maio de 2011 André Garcia Corrêa UFSCar andregcorrea@gmail.com Fernando Henrique Andrade Rossit UFSCar fhrossit@gmail.com Glauber Lúcio Alves Santiago UFSCar glauber@ufscar.br Terence Peixoto dos Santos UFSCar terencepsantos@gmail.com Setor Educacional: 3 Educação Universitária Classificação das Áreas de Pesquisa em EaD: M. Design Instrucional Natureza: A Relatório de Pesquisa Classe: 1 Investigação Científica RESUMO O presente artigo trata sobre a construção e oferta de um curso de Educação Musical a distância para a prova de aptidão em música para o curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e do curso de Licenciatura em Educação Musical Universidade Aberta do Brasil (UAB)-UFSCar. Analisados os dados obtidos durante sua construção e oferta, tendo como embasamento um referencial teórico que aborda a Educação Musical bem como a Educação a Distância (EaD), chegou-se a uma proposta de modelo para cursos similares sobre aspectos teóricos musicais e de percepção oferecidos totalmente a distância. Palavras chave: EaD; Educação Musical; Extensão Universitária.

2 1. Introdução O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma proposta de modelo para um curso de extensão universitária a distância para a introdução de conhecimentos musicais básicos. A partir da experiência de um cursinho preparatório para a prova de aptidão em Música do vestibular da UFSCar e UAB-UFSCar foi feita uma análise de seu planejamento, fase de construção do ambiente virtual e sua aplicação. O intuito final desta análise foi propor um modelo de curso completamente a distância que pudesse atender a um público leigo, tanto em aspectos de teoria e percepção musical quanto aspectos de interação online. Tendo em mãos os dados coletados e armazenados no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) MOODLE, utilizado para a aplicação do cursinho, e seguindo um referencial teórico que aborda tanto EaD quanto Educação Musical, procurou-se chegar a um modelo que pudesse atender à demanda do público-alvo em questão, ou seja, candidatos do vestibular do curso de Licenciatura em Música da UFSCar e de Licenciatura em Educação Musical UAB-UFSCar, como também qualquer pessoa interessada em adquirir conhecimentos básicos de teoria e percepção musical. Para tanto, o cursinho foi analisado como um acontecimento com dois momentos distintos: i. planejamento e construção do ambiente virtual e material didático a ser utilizado pelos alunos; ii. aplicação de fato do curso em questão. Por fim, chega-se a uma proposta de um modelo de curso de extensão a distância de Educação Musical capaz de ir além dos limites do campus e interagir diretamente com a comunidade fora do círculo acadêmico, ultrapassando, até mesmo, grandes distâncias geográficas. O panorama atual da Educação Musical a Distância no Brasil é caracterizado ainda por poucas iniciativas se compararmos a EaD como um todo e por isso ainda existe muita desinformação do público em geral e mesmo de profissionais da área da educação musical. Neste sentido, há a convicção de que o uso de computadores não deva substituir o educador musical, porém ainda muitos professores se manifestam contrários à adoção desse tipo de tecnologia. Essa resistência ainda é vista em professores das ciências humanas e das artes, como é o caso da música, que possuem pouco contato com recursos tecnológicos. No entanto, acredita-se que uma maior divulgação

3 dos fundamentos e das ferramentas computacionais disponíveis para músicos e professores de música pode auxiliá-los a expandir seus conhecimentos e torná-los pessoas interessadas em partilhar experiências sobre a aplicação de tecnologia à música (FRITSCH et al., 2003: 141). 2. O cursinho: a equipe polidocente e a construção do AVA Para falarmos da experiência do cursinho para a prova de aptidão musical a distância, é preciso esclarecer certos aspectos sobre a EaD, seu processo de ensino-aprendizagem e seus atores. A docência em EaD, assim como na presencial, ocorre em dois momentos diferentes: um primeiro momento de planejamento e um segundo momento de aplicação. Porém, estes momentos se caracterizam de forma diferenciada na EaD. O que um docente faz na educação presencial, na EaD é dividido por uma equipe polidocente. Mill (2002 apud MILL 2006: 67) define polidocência como uma equipe de trabalhadores necessária para a realização de atividades de ensinoaprendizagem na educação a distância. Ou seja, o que na educação presencial seria realizado apenas por um docente, na EaD é feito por uma equipe que em um momento planeja todas as atividades e num segundo momento, aplica a agenda planejada. Também, na EaD o planejamento das atividades do processo ensino-aprendizagem deve ser minucioso ao contrário da educação presencial em que o docente pode preparar apenas um esboço de aula nas vésperas da sua realização (ou mesmo improvisar uma aula sem planejamento algum) (MILL, 2010: 3). Todo o material pedagógico e cronograma já devem estar disponíveis aos alunos no início das atividades da disciplina. Desta equipe multidisciplinar, alguns são responsáveis apenas pela elaboração do material e outros de sua aplicação. Outros ainda participam de ambos os processos. PINHEIRO (2002), lista vários profissionais que considera indispensáveis nesta equipe. Dentre eles, destacamos os que, na sua descrição, se ajusta aos integrantes da equipe do cursinho preparatório para a prova de aptidão em música: Coordenador ou Gerente do Projeto: responsável geral do projeto; Professor da disciplina: especialista que auxilia no desenho do curso e sua implementação;

4 Professor conteudista: responsável pelo material pedagógico e sua adaptação para aplicação a distância; Designer Instrucional: realiza o desenho instrucional do curso em parceria com o coordenador e professor; Tutores Virtuais: trabalham junto com o professor, auxiliando os alunos. MILL (2006) caracteriza de forma semelhante essa equipe, embora use nomenclatura diferente, além de admitir que um ou mais integrantes da equipe polidocente podem acumular mais de uma função. Por exemplo, em sua denominação de coordenador de disciplina, afirma que é: (...) responsável pela elaboração do conteúdo da respectiva disciplina e pela coordenação das atividades dos tutores e monitores vinculados a esta disciplina. Em alguns cursos, observamos que esses docentes oferecem aulas por videoconferências e que, por vezes, são equivocadamente chamados de conteudista ou de professor. (MILL, 2006: 68). Também acrescenta à figura do tutor virtual a definição de: ( ) especialista na área de conhecimento da disciplina em que trabalha e está subordinado, em todos os sentidos, ao coordenador desta disciplina. Etimologicamente, ele é a imagem mais próxima do professor da educação tradicional. (MILL, 2006: 68). Embora Mill discorde da nomenclatura de Pinheiro, o termo professor foi usado como o esquema deste segundo autor para a equipe do cursinho ao contrário de coordenador. Isso ocorreu devido ao fato do curso ter sido um projeto de extensão da UFSCar pelo sistema UAB, que usa a mesma nomenclatura de professor para o que Mill chamaria de coordenador de disciplina. Também, uns profissionais acumularam algumas destas funções. Os encarregados de serem professores conteudistas, pelo menos em alguns momentos da oferta do cursinho, também atuaram como tutores virtuais e professores da disciplina (coordenando os demais tutores) e designer instrucional. Ou seja, interagiram diretamente com os alunos, mediando sua produção de conhecimento, foram responsáveis pela criação do AVA e suas mídias além de coordenarem a equipe polidocente de tutores virtuais.

5 O cursinho para a prova de aptidão em música da UFSCar contou com um quadro de cinco integrantes na sua equipe polidocente. Aqui representados de A a E. A tabela 1 mostra a divisão de tarefas dos participantes: Gerente de Projeto Integrante A Integrante B Integrante C Integrante D Integrante E X Professor Conteudista X X X Professor da Disciplina X X Designer Instrucional X X Tutor Virtual X X X X Tabela 1. A equipe polidocente Como demonstra a tabela, dois integrantes acumularam a maior parte das funções. Foram responsáveis pelo ambiente, coordenação dos tutores virtuais e interação direta com os alunos. Isso acarretou em uma carga de trabalho muito grande em ambas as etapas de planejamento e oferta do cursinho a estes dois integrantes. Para a construção do ambiente virtual foram levadas em contas as adaptações de estratégias e metodologias pedagógicas para a modalidade à distância. Ainda em sua dissertação, Pinheiro faz considerações quanto às questões pedagógicas na EaD: As estratégias pedagógicas para cursos a distância devem ser embasadas em teorias que primem por uma abordagem construtivista, ou seja, da construção individual ou cooperativa do conhecimento pelo próprio aluno mediada pelas mídias. São estratégias neste momento, o uso de material didático que incite o aluno a pensar, colocando desafios (situações-problema), incitando à pesquisa, ao fomento da colaboração e cooperação (...). (PINHEIRO, 2002: 60). Carvalho, ao discorrer em seu trabalho sobre comunidades virtuais de aprendizagem e como o conhecimento é construído entre seus participantes afirma que trata-se de uma construção que é individual, mas alcançada a partir do coletivo, das trocas, da vivência em comunidade. (CARVALHO, 2007: 8). No entanto, de acordo com o público que se esperava atingir com as atividades e por ser um curso de extensão de caráter aberto à comunidade, fora do âmbito universitário, o ambiente deveria ser planejado para atender tanto leigos em questões musicais quanto pessoas que nunca tiveram acesso à modalidade a distância. Indivíduos que não possuíam noções de netiqueta, não tinham o costume de participar de fóruns de discussão virtuais ou até mesmo

6 construir o conhecimento em colaboração com os colegas ou possuir autonomia para estudar por conta própria fora do ambiente virtual. Foi preciso construir um ambiente que atendesse as necessidades do candidato do vestibular da UFSCar, mas também que o ensinasse a utilizar o próprio ambiente e estudar de forma autônoma, mas em cooperação com seus colegas. Ainda antes de entrar no ambiente, em um site de apoio, o aluno tinha as primeiras instruções de como fazer seu login. Uma parte do ambiente teve de ser dedicada exclusivamente a orientações iniciais de como navegar no MOODLE e suas ferramentas básicas, como atualizar o próprio perfil e até mesmo orientações breves sobre como estudar e realizar as atividades. Também um espaço do ambiente foi dedicado às dicas úteis tais como o melhor navegador para visualizar o AVA, links que direcionavam o aluno a sites com noções de netiqueta para uma melhor interação. Por fim, foi disponibilizado aos alunos um mapa das atividades, com todo o cronograma, que dividia o cursinho em módulos chamados unidades. O conteúdo de teoria musical e de Educação Musical foi estabelecido com base em provas de edições anteriores do vestibular da UFSCar. As atividades de teoria e percepção musical eram adaptadas com ferramentas de áudio, vídeo e texto. As atividades de percepção continham arquivos em áudio para estudo de percepção rítmica, melódica e harmônica. Como o cursinho estava previsto para durar além da data da prova de aptidão, foi aberto na unidade de tópicos complementares um fórum para que os alunos pudessem debater sobre a prova e seu conteúdo. Também foi um espaço utilizado para divulgar os nomes aprovados no vestibular. Nesta mesma unidade continha um simulado da prova de aptidão em música na forma de um arquivo.pdf com os enunciados das questões e os arquivos de áudio que os alunos deveriam ouvir para a realização das mesmas questões. Todas as unidades possuíam links com orientações do tema tratado e as atividades propostas. Também era comum a todas elas um fórum de dúvidas, onde os alunos poderiam postar seus problemas e inquietações para que os professores e tutores virtuais pudessem auxiliá-los. Eles poderiam recorrer a e-mails também para este fim, mas o uso do fórum era encorajado para que suas dúvidas e as respostas dos tutores e professores ficassem

7 disponíveis a todos, como uma pergunta feita em sala de aula e respondida pelo professor perante todos os alunos. 3. Dados relevantes para analisar o modelo Foram oferecidas 500 vagas para o cursinho, preenchidas em sua totalidade na fase de inscrição. Os resultados aqui apresentados tiveram como principal a última fase da coleta de dados, realizada ao término do cursinho. Do total de alunos, 90 (noventa) responderam ao questionário final, ou seja, 18%. O conjunto de objetivos deste questionário final foi coletar dados relacionados à percepção geral dos alunos sobre o curso, ou seja, opiniões em relação a este e, também, o perfil dos alunos. Estes dados podem ser úteis na formulação final de um modelo, ou seja, além de tentar determinar o perfil do público-alvo, também fornecem um feedback dos próprios alunos em relação ao cursinho. Levantou-se que 57% dos alunos eram do sexo masculino e 43% feminino. A formação musical apresentou dados variados, com destaque para as aulas particulares (59%) e cursos livres de instrumento (46%). A grande maioria (67%) nunca havia participado de um curso a distância. Uma breve análise destes dados destaca a importância da criação de um ambiente adequado a um público leigo em EaD, ou seja, que não tem familiaridade com AVAs. Também aponta a importância do curso tratar de assuntos relacionados à Educação Musical, visto que a maioria apenas teve aulas de instrumento e levando em conta que a prova de aptidão dos cursos de música da UFSCar abordam questões deste tema. A maioria (62%) emitiu um feedback positivo em relação ao AVA do cursinho, não encontrando dificuldades em navegar pelo ambiente. Além disso, 71% afirmou que o conteúdo do cursinho foi essencial para a realização da prova de aptidão. Uma esmagadora maioria (98%) acredita que a UFSCar deveria oferecer mais cursos de extensão a distância relacionados à música, no que acreditamos ser uma evidência da carência desse tipo de oferta. As questões acerca da permanência e da evasão são pertinentes quando se trabalha com um curso de extensão e, ainda mais, no âmbito da EaD. De acordo com FAVERO e FRANCO (2006): (...) o problema da evasão é uma realidade e quase todas as instituições que oferecem cursos na modalidade a distância, senão todas, enfrentam este problema. (...) ao se desenvolver um curso na

8 modalidade a distância, é importante que o diálogo seja levado em conta, por permitir um crescimento no aprendizado e uma menor evasão dos educandos. (FAVERO e FRANCO, 2006: 9). Após o período de realização do cursinho, também foi pedido aos alunos que, caso não o tivessem concluído, que citassem os motivos que os levaram a esta não-conclusão. Foram obtidas dezoito justificativas que posteriormente foram categorizadas como mostra o gráfico a seguir: Gráfico 1. Justificativas em relação a não-conclusão do cursinho Das dezoito respostas obtidas e analisadas, pode-se notar que um total de nove respostas trouxe explicitamente a falta de tempo como motivo principal para a não-conclusão do curso. Destas nove respostas, três ainda traziam, especificadamente, que a falta de tempo foi ocasionada por questões de trabalho ou outros estudos que os alunos estariam realizando, o que revela uma dificuldade destes alunos em conciliar as suas atividades com o curso realizado a distância. Das demais justificativas, embora o objetivo do cursinho não fosse estritamente preparar os alunos para a prova de aptidão em música dos vestibulares da UFSCar, três alunos justificaram a não-conclusão por conta de terem desistido de realizar o vestibular para o ingresso nos cursos de música da universidade. Ainda foram obtidas duas respostas alegando problemas técnicos com o computador e a internet, duas respostas nas quais alunos alegaram não concluir o cursinho por conta de enfrentarem problemas pessoais, um caso em que o aluno alegou esquecimento e um caso de desmotivação por conta do não-entendimento do conteúdo.

9 Referente a isso, destaca-se aqui a importância da figura do tutor virtual em cursos de EaD, que deve ter como uma de suas principais virtudes, a habilidade em resgatar os alunos que iniciam o caminho para uma evasão. O tutor, neste caso, deve buscar alternativas para o reingresso dos alunos que não estejam participando do processo. É importante desafiar o aluno, usando e abusando dos recursos da internet para manter os alunos em constante produção (PINHEIRO, 2002: 60). Ou seja, é papel do tutor virtual proporcionar ao aluno uma reflexão sobre a importância de uma agenda para a sistematização do período de estudo. 4. Considerações Finais Após a oferta do cursinho, elaborou-se uma análise de seu planejamento, fase de construção do ambiente e sua aplicação. A partir desta análise, fundamentada pelo referencial teórico, podemos, enfim, elaborar um modelo que sirva de proposta para um curso de extensão em Educação Musical na modalidade a distância. Neste modelo, seu planejamento começa com a constituição de uma equipe polidocente, multidisciplinar capaz de montar o ambiente com propostas de atividade que viabilizem a construção de conhecimento de forma autônoma e, ao mesmo, cooperativa entre os alunos. Também é necessário que os integrantes possuam não somente o conhecimento musical adequado, mas que saibam adaptar as práticas pedagógico-musicais para a EaD. Ou seja, precisam ter domínio das ferramentas tecnológicas e sabê-las utilizá-las de modo que possam criar atividades virtuais relevantes para o ensino de música, seja ele de teoria ou percepção. O ideal é que os profissionais não acumulem funções para que não fiquem sobrecarregados por uma carga de trabalho demasiado excessiva. Os integrantes da equipe que entrarão em contato direto com o aluno, como os tutores virtuais, precisam saber mediar a interação entre todos no ambiente, estimulando o aprendizado e sanando dúvidas quanto ao material teórico, problemas de navegação e utilização das ferramentas virtuais. O AVA deve ser adaptado para que o aluno consiga estudar autonomamente, mas que também encoraje a interação entre aluno/aluno e tutor/aluno. Todo o cronograma deve ser minuciosamente planejado, e deve

10 ser disponibilizado aos alunos desde o seu início. Deve se levar em conta que o público-alvo, muito provavelmente, não é leigo apenas nos quesitos musicais da prova de aptidão, mas também não possui familiaridades com a modalidade a distância e precisa de orientações nesse sentido, desde como utilizar as ferramentas do AVA até a interação online. Por fim, é preciso entender que o aluno é uma figura central na construção de seu conhecimento quando nos referimos a EaD e o faz enquanto em interatividade com seus colegas e mediado por tutores virtuais e professores. Referências: CARVALHO, J. de S. Comunidades virtuais de aprendizagem: em busca de uma definição. In: SEMINÁRIO DE ESTUDOS EM EPISTEMOLOGIA E DIDÁTICA. USP. São Paulo, 2007, p. 1-9. FAVERO, R. V. M.; FRANCO, S. R. K. Um estudo sobre a permanência e a evasão na Educação a Distância. In: Novas Tecnologias na Educação/CINTED-UFRGS, V. 4, No 2. UFRGS, 2006. FRITSCH, E. F. et al. Software musical e sugestões de aplicação em aulas de música. In: HENTSCHKE, Liane; DEL BEM, Luciana (Orgs.) Ensino de Música: propostas para pensar e agir em sala de aula. São Paulo: Moderna, 2003, p. 141-157. MILL, D. Educação a distância e trabalho docente virtual: sobre tecnologia, espaços, tempos, coletividade e relações sociais de sexo na Idade Mídia. Belo Horizonte, 2006. 322p. Tese (Doutorado em Educação). Universidade Federal de Minas Gerais.. Elementos básicos para contratos de trabalho docente na educação a distância: reflexões sobre a tutoria como profissão. In: Extra- Classe - Revista de Trabalho e Educação/Sindicato dos Trabalhadores de Minas Gerais, n. 3, v.1(jan.-jun. 2010), Belo Horizonte, 2010, p. 14-41 PINHEIRO, M. Antonio. Estratégias para o Design Instrucional de Cursos pela Internet: Um Estudo de Caso. Florianópolis, 2002. 81p. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção). Universidade Federal de Santa Catarina.