A FEIRA LIVRE NO PLANO DIRETOR DE SÃO FELIPE BA. PALAVRAS-CHAVE: feiras livres; relação rural/urbano; plano diretor.

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Transcrição:

A FEIRA LIVRE NO PLANO DIRETOR DE SÃO FELIPE BA RESUMO Vinnie Mayana Lima Ramos 1 Michele Paiva Pereira 2 Cristina Maria Macêdo de Alencar 3 Analisa-se o Plano Diretor Participativo do Município de São Felipe - BA, a partir do que expressam feirantes da feira livre sobre a feira na dinâmica produtiva e social dos feirantes da população rural. Constatou-se a pouca relevância da feira, espaço público de interação entre o rural e o urbano onde a população predominante é rural, nas diretrizes municipais da política de desenvolvimento. Realizou-se pesquisa de campo, bibliográfica e documental, tratamento de dados por análise de conteúdo. PALAVRAS-CHAVE: feiras livres; relação rural/urbano; plano diretor. 1 Bacharela em Direito e Mestranda em Planejamento Ambiental pela Universidade Católica do Salvador - UCSal, Bolsista FAPESB, Pesquisadora Membro do Grupo de Pesquisa Desenvolvimento, Sociedade e Natureza, vinnie_lima@yahoo.com.br; 2 Graduanda em Geografia pela Universidade Católica do Salvador - UCSal, Pesquisadora Membro do Grupo de Pesquisa Desenvolvimento, Sociedade e Natureza mpaivass@yahoo.com.br; 3 Economista e Doutora em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pelo CPDA/UFRRJ; Professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Social na Universidade Católica do Salvador UCSal, líder do grupo de pesquisa Desenvolvimento, Sociedade e Natureza, cristina.alencar@ucsal.br.

INTRODUÇÃO O Plano Diretor, que abrange as áreas rural e urbana, estabelece limites às atividades desempenhadas pelos agentes particulares e pelo Poder Público, buscando a eficácia da gestão pública municipal nas esferas ambiental, social, de infraestrutura, econômica e cultural. Neste sentido, O Plano Diretor pode ser definido como um conjunto de princípios e regras orientadoras da ação dos agentes que constroem e utilizam o espaço urbano (BRASIL, 2002, p. 40), com o desígnio de assegurar uma relação equilibrada entre homem e meio ambiente para o crescimento sustentável dos municípios. Contudo, em sendo o Plano Diretor, instrumento orientador do desenvolvimento do município, a identidade municipal deveria ser contemplada, mesmo que os agentes orientados sejam apenas os que constróem e utilizam o espaço urbano. No espaço urbano ocorrem as feiras livres, que são espaços públicos repletos de simbologia, formas de comércio cuja dinâmica revelam territórios que foram modificados (BOECHAT; SANTOS, 2011; SATO, 2006) e no caso de São Felipe fortalecem relações não capitalistas como compreendidas a partir de Heredia (1979) e Woortmann (1995), caracteristicas do modo de vida rural configurado por suas populações na relação com a natureza como espaço social de trabalho e vida (WANDERLEY, 2001). Com essa compreensão, afirma-se que a dinâmica da feira livre de São Felipe apresenta expressões de resistência e transformações como enfrentamento ao processo de urbanização do desenvolvimento do município, o que é aqui demonstrado a partir da caracterização da área de estudo seguida de análise de particularidades locais. Questiona-se: o Plano Diretor Participativo do Município de São Felipe contempla a feira livre como local de encontros que dinamizam o desenvolvimento do município pela ação de suas populações como agentes desse desenvolvimento? Atribui-se importância ao Plano Diretor por ser este o instrumento básico da política de desenvolvimento que visa assegurar a função social da propriedade e o bem estar de seus habitantes, e à feira por constituir espaço público de interação entre o rural e o urbano onde a população predominante é rural. A abordagem metodológica assumida neste artigo enfatiza a dinâmica entre o rural e o urbano, cujo foco está nas relações entre sociedade e natureza apreendidas na produção material e social da vida (ALENCAR, 2008). Com essa abordagem o procedimento para discussão do Plano Diretor foi baseado em bibliografia específica e análise documental de desconstrução dos discursos jurídicos através de oficinas conceituais no Grupo de Pesquisa

Desenvolvimento, Sociedade e Natureza da Universidade Católica do Salvador. Buscou-se artigos disponibilizados pelo Google acadêmico durante o período de outubro de 2015 a abril de 2016, cuja análise foi realizada a partir dos títulos e dos resumos que explicitassem o Plano Diretor como instrumento de desenvolvimento municipal com enfoque no âmbito rural. As questões pertinentes à feira são resultados de levantamento de dados empíricos por observação não participante durante os dias 16, 17 e 18 de outubro de 2015, com registro em diário de campo de: percepções e impressões para o entendimento e aquisição de dados que orientassem a segunda fase da pesquisa de campo quando foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 28 dos 85 feirantes (65 fixos) de São Felipe- BA, durante os dias 15,16 e 17 de janeiro de 2016. A seleção dos entrevistados considerou como critérios: diversidade de sexo e idade; local de permanência na feira, de forma a contemplar todo este espaço e diversificação do produto; o critério de saturação estabeleceu a amostra. O tratamento dos dados foi realizado por Análise de Conteúdo (Bardin, 1977). O fundamento teórico geral é a compreensão da coexistência entre modos de vida rural e urbano problematizando o Plano Diretor e sua efetividade frente a população local em sua produção material e identidade social rural e na desigualdade do acesso às conquistas do desenvolvimento, quando se examina populações rurais e urbanas. Essa condição é explicativa principalmente quando se tem de um lado agricultores familiares que integram as peculiaridades das sociedades rurais e de outro, a indução ao desenvolvimento como sociedade urbana. O artigo está estruturado em três momentos: o primeiro revela a importância da questão explorada, a problematização e o referencial teórico; o segundo trata sobre as características locais e os procedimentos da pesquisa; no terceiro momento explicitam-se as reflexões a partir dos resultados analíticos da realidade local com suas particularidades. Desse modo problematizou-se sobre a visibilidade institucional da importância da Feira de São Felipe para a dinâmica do desenvolvimento do município. O PLANO DIRETOR PARA OS MUNICÍPIOS No planejamento urbano no Brasil que se inicia no final do século XIX, por volta de 1875 e vai até o ano de 1930, se encontra forte influência europeia com o objetivo de embelezar as áreas urbanas sem qualquer demonstração de preocupação com os impactos

negativos causados aos habitantes. De 1930 até por volta de 1992 mudanças econômicas e sociais são trazidas pela denominada Revolução de 30 refletindo crescimento da consciência operária que dá evidência ao capital imobiliário como principal agente de crescimento urbano. Ainda neste intervalo temporal, enquanto a democratização da sociedade brasileira avança, na tecnocracia aparece o plano diretor abordando temas como infraestrutura e transportes, surge também o período do planejamento integrado e superplanos, donde emerge a indústria dos planos diretores, os planos sem mapa que apelam para a simplicidade, mas também não apresentam efetividade. De 1992 a 2001 movimentos em torno da reforma urbana resultam nos Artigos 182 e 183 da Constituição Federal de 1988, sendo regulamentados posteriormente pelo Estatuto da Cidade, ratificando em seu texto a função social da propriedade, a participação e o planejamento, retomando a ideia do plano diretor para orientar futuras ações do Estado (BRASIL, 2013, s/p). Neste passo, a Constituição Federal de 1988 trouxe nos artigos 182 e 183 a Política Urbana e em seu parágrafo 1º do artigo 182 torna obrigatória para as cidades com mais de 20.000 (vinte mil) habitantes a aprovação do Plano Diretor como instrumento de planejamento municipal norteador para o desenvolvimento e crescimento urbano (BRASIL, 2015, p. 56). Por ser instrumento para a escala municipal, o Plano Diretor abrange as áreas rural e urbana, estabelece limites às atividades desempenhadas pelo particular e pelo Poder Público, buscando a eficácia da gestão pública municipal. Para isso constitui-se como um conjunto de princípios e regras orientadoras da ação dos agentes que constroem e utilizam o espaço urbano com o desígnio de assegurar uma relação equilibrada entre homem e meio ambiente para o crescimento sustentável dos municípios (BRASIL, 2002). Na compreensão de Flavio Villaça (1998, p. 2), o Plano Diretor, define-se condicionalmente Seria um plano que, a partir de um diagnóstico científico da realidade física, social, econômica, política e administrativa da cidade, do município e de sua região, apresentaria um conjunto de propostas para o futuro desenvolvimento socioeconômico e futura organização espacial dos usos do solo urbano, das redes de infra-estrutura e de elementos fundamentais da estrutura urbana, para a cidade e para o município, propostas estas definidas para curto, médio e longo prazos, e aprovadas por lei municipal (VILLAÇA, 1998, p. 2). Nessa citação de Villaça (1998) fica explícito que o Plano Diretor resulta de diagnóstico multidimensional e interescalar da realidade, mas o autor acrescenta que para representar a realidade da sociedade sob ordenamento, o Plano Diretor precisa ser constituído

por um processo contínuo de planejamento decorrente das relações sociais, das necessidades e anseios da população respeitando o curso histórico e suas transformações, revelando um Plano Diretor como fruto da história viva e real do local (VILLAÇA, 1993, p. 1 e 2). O Estatuto da Cidade em seu Art. 41 torna obrigatória, originalmente, a elaboração do Plano Diretor para as cidades com mais de 20.000 (vinte mil) habitantes (BRASIL, 2001, s/p), mas em seguida modifica essa obrigatoriedade para o município. Deste modo, verifica-se a não conformidade da legislação que foi criada para as cidades, mas é ampliada e compreendida para os municípios, sem alteração do suporte legal. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) cidade é considerada a localidade com o mesmo nome do Município a que pertence (sede municipal) e onde está sediada a respectiva prefeitura e os municípios São as unidades de menor hierarquia dentro da organização político-administrativa do Brasil, criadas através de leis ordinárias das Assembléias Legislativas de cada Unidade da Federação e sancionadas pelo Governador (IBGE, 2010). Isto deixa de fora da condição de cidade tanto as áreas rurais quanto as áreas periurbanas e as áreas urbanas dos demais distritos que não o da sede municipal, desse modo, o ordenamento jurídico que regula o desenvolvimento municipal, isto é, o Plano Diretor traz o ordenamento urbano metamorfoseado em ordenamento municipal. Cidade, urbano e município se confundem ou se homogeneízam nessa regulação, enquanto o planejamento municipal se dilui no planejamento urbano (ALENCAR, 2015). Acresce-se à polêmica delimitação da cidade, a definição pelo mesmo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do que é área rural, como área de um município externa ao perímetro urbano, e área urbana como área interna ao perímetro urbano de uma cidade ou vila, definida por lei municipal. O critério administrativo de corte físico espacial de delimitação de fronteiras utilizado nesta definição é questionável para os fins de ordenamento do desenvolvimento municipal devido a não atender às particularidades dinâmicas e identitárias dos municípios brasileiros, conforme os estudos de Veiga (2001) e Wanderley (2001). Além de a definição político administrativa não contemplar identidades sociológicas, vale ressaltar, que há no Plano Diretor um conflito de atribuições, visto que o Estatuto definiu sem articular com outros níveis federativos a abrangência de atuação no

território municipal áreas urbanas e rurais. Na obra, O Lugar do Rural nos Planos Diretores Municipais, Maria de Lourdes Zuquim alerta para as possibilidades de interpretações que apontam conflitualidades legais e de atribuição. Neste aspecto, alega-se que as áreas rurais são constitucionalmente de atribuição da união, enquanto que, por outro lado, o município deve legislar sobre todo o território; existe nesse aspecto uma evidente lacuna relativa a marcos regulatórios em que a autora destaca adicionalmente, que caberia competências do Estado e da União nas questões pertinentes ao meio ambiente. Assim, as políticas públicas de desenvolvimento territorial não acompanharam as mudanças no meio rural, e a sua ausência ocasionou que os espaços rurais fossem considerados atrasados e esse esquecimento acentuou o distanciamento econômico entre o meio rural e urbano, impossibilitando a estruturação do espaço social rural com alternativas de desenvolvimento, onde os investimentos efetuados apenas no meio urbano traz uma propensão ao desaparecimento de políticas de desenvolvimento para o meio rural (ZUQUIM, 2008, p. 3 e 4). As lacunas regulatórias, as imprecisões de definições político administrativas, entretanto, não são suficientes para explicar a invisibilidade institucional de espaços públicos intraurbanos que carregam identidades sociais rurais como as feiras livres de pequenos municípios. Examinando-se a dinâmica municipal de forma integrada, a feira livre mostra-se como espaço público urbano que expõe como vitrine as condições de desenvolvimento do rural a que o Plano Diretor, instrumento urbano, não contemplaria; sendo para a cidade também não contemplaria o município; mas, em sendo para o município não poderia se ater ao urbano. Há uma transversalidade no desenvolvimento municipal que se põe como conflito que desafia o ordenamento jurídico que pretende assegurar a função social da propriedade e o bem estar dos habitantes do município, mesmo abstraindo-se o foco de conflitualidade em que se constitui a dominação dos diferentes capitais expeculativos ou produtivos na tessitura do desenvolvimento. O MUNICÍPIO SÃO FELIPE-BA E SUA FEIRA LIVRE O município São Felipe, no Estado da Bahia limita-se com os municípios Conceição do Almeida, Santo Antônio de Jesus, São Félix, Dom Macêdo Costa, Muniz Ferreira, Cruz das Almas, Sapeaçu, Maragogipe e Nazaré. Na atual regionalização do governo

da Bahia como unidade de planejamento, Território de Identidade, São Felipe integra o TI Recôncavo. Com aproximadamente 206 km² (IBGE, 2010), o município está distante cerca de 178 km da capital do estado, Salvador. Figura 1 Mapa TI Recôncavo Fonte: www.sei.ba.gov.br (2016) São Felipe contava em 2000 (IBGE) com 20.228 habitantes, sendo que 11.978 na zona rural; em 2010, essa população passa para 20.305, sendo que 10.485 estão na zona rural (IBGE, 2010), densidade demográfica de 98,75 hab/km², que apresenta taxa de urbanização de 48,36% e de ruralização de 51,64%, teve estimativa populacional de 21.582 habitantes em 2015. No Recôncavo baiano, São Felipe tem a sua identidade histórica enraizada na trajetória da parte sul do Recôncavo, embora a dinâmica inter-regional requeira que seu desenvolvimento considere a parte norte onde situa a Região Metropolitana de Salvador, cada vez mais demandante de recursos ambientais que a natureza local não mais oferece devido à acelerada concentração metropolitana. O município é caracterizado por perfil predominantemente rural, cujos dados do Censo Agropecuário 2006 do IBGE registram 2653 estabelecimentos de agricultores familiares classificados conforme a Lei nº 11.326, que ocupam área de 10454 ha, e 203 estabelecimentos de agricultura não familiar que ocupam área de 6485 ha. Embora o rural não se restrinja à produção agrícola como já asseguram pesquisadores como Wanderley (1997),

Carneiro (1997), Veiga (1997), Favareto (2007), Alencar (2008), entre tantos outros, o agricultor, particularmente o agricultor familiar, ainda carrega fortemente o símbolo do mundo rural. A feira livre de São Felipe localiza-se no centro da cidade, entorno do Mercado Municipal, situada nas ruas Coronel Ceciliano Gusmão e Nova Brasília. As atividades da feira livre acontecem duas vezes por semana, nos dias de sexta-feira e sábado. O dia de maior movimento na feira é o sábado, também dia de maior movimento na cidade quando moradores do TI além de fazerem a feira, aproveitam para rever parentes e fazerem uso de serviços que são oferecidos somente no espaço da cidade, a exemplo de serviços médicos, financeiros, entre outros. Admitindo-se que o diálogo entre o rural e o urbano é um diálogo tensionado (ALENCAR, 2007), convergimos com Ricotto (2002), ao afirmar que a feira livre é um componente importante para a consolidação econômica e social da agricultura familiar. Os pequenos municípios, cerca de 73% do território do Brasil (IBGE,2001), possuem feiras e estas compreendem uma significação abrangente, pois são canais de comercialização de produtos da agricultura familiar (PIERRI; VALENTE, 2010). Com o avanço do processo de urbanização estes agricultores precisam adaptar-se aos novos contextos sociais e econômicos, ajustando-se e resistindo às mudanças decorrentes desse processo, como afirma Maria Nazareth Baudel Wanderley: A perda de vitalidade dos espaços rurais, que gera o que se pode chamar a questão rural na atualidade, emerge precisamente, quando se ampliam no meio rural os espaços socialmente vazios. Na maioria dos países considerados de capitalismo avançado, isto vem acontecendo onde a população rural, particularmente a sua parcela que é vinculada à atividade agrícola, tem a constituição ou a reprodução do seu patrimônio ameaçado e onde as condições de vida dos que vivem no campo, sejam ou não agricultores, não asseguram a paridade socio-econômica em relação à população urbana, ou, pelo menos a redução da distância social entre os cidadãos rurais e urbanos (WANDERLEY, 2001, p. 32). É exatamente em contexto histórico de reestruturação das relações entre o rural e o urbano que está sendo estudada a feira livre de São Felipe frente ao Plano Diretor que apresenta as diretrizes para o desenvolvimento local, podendo ampliar ao invés de reduzir a distância social entre os cidadãos rurais e urbanos, como alerta esta citação. O perfil sócio-demográfico dos feirantes, identificado em campo, apresenta predominância do sexo masculino, estado civil de casado ou em união estável. A maioria dos feirantes é natural de São Felipe (80,9%), sendo que 52,38% residentes na zona rural e

28,57% na cidade, os demais residem na zona rural dos municípios que fazem divisa, dos quais 60% são do município de Maragogipe. Essa uniformidade de perfil se modifica quanto à faixa etária, com variação significativa entre 30 e 60 anos. Com relação à escolaridade, 52,38% afirmaram ter parado de estudar no ensino fundamental; 14,28% são analfabetos, a mesma quantidade de entrevistados que possuem o ensino médio completo; 19,04% se declararam alfabetizados. Os produtos vendidos na feira são uma vitrine da variedade produzida na região: amendoim, milho, azeite de dendê, banana, inhame, laranja, mandioca, manga, graviola, jiló, maxixe, feijão verde, batata doce, hortaliças, verduras. Uva, ameixa, kiwi, maçã são fornecidas pelas Centrais Estaduais de Abastecimento (CEASA) de Cruz das Almas e Feira de Santana. A disposição das barracas no espaço da feira, segundo os feirantes, também é condicionada pela pessoalidade, desde as primeiras organizações; as questões de afetividade foram respeitadas e permanecem. Os pontos são fixos e caso um compadre ou parente que já seja feirante, solicite usar a barraca, enquanto o outro não pode utilizar, há uma comunicação prévia e não há nenhum tipo de desentendimento. Tal declaração permite reflexionar sobre as relações de ajuda mútua que ultrapassam as questões capitalistas e inserem o modo de vida como componente do processo produtivo. O compadrio (Heredia, 1979) fica evidenciado nas situações de vendas de produtos de outros produtores rurais, onde os entrevistados revelaram que quando solicitado por um compadre disponibiliza uma área da barraca para a venda, sem obtenção de qualquer vantagem econômica. Nas culturas camponesas não se pensa a terra sem pensar a família e o trabalho, assim como não se pensa o trabalho sem pensar a terra e a família (Woortmann, 1990, p.23). A sociabilidade rural (Heredia, 1979; Woortmann, 1995) é perceptível nas piadas, brincadeiras, acontecimentos (os causos acontecidos), ajuda mútua e cantorias, bem como respeito aos dias santos, ao falecimento de familiares e amigos. A urbanização se expressa também nos meios de transportes utilizados para deslocamento das mercadorias que são: carros (65,8%), motos (23,9%), ônibus (6,4%), e animal (4%). Essas transformações, entretanto, não significam desaparecimento do rural, como alerta Abramovay (2000) ao afirmar que a ruralidade não é uma etapa do desenvolvimento social a ser superada com o avanço do progresso e da urbanização, e sim a construção de outra realidade rural pela incorporação de novas estratégias.

O sentido atribuído à feira pelos feirantes entrevistados corrobora os resultados até aqui demonstrados ao relacionarem a representatividade da feira ao trabalho e à dignidade, além de permitir a permanência de uma rede social criada a partir da relação de comercialização direta com o consumidor. Dos elementos citados, os mais representativos foram: lugar de dinheiro e/ou desenvolvimento (52,38%); diversão, lazer, passatempo e ponto de encontro (28,7%); houve também os que relacionaram a feira a lugar comum ou sem representatividade, o que de outro modo a insere no mundo da vida. Embora permeada por relações pessoais, a atividade de feirante é motivada para 42,8% dos entrevistados pelo complemento de renda, para 33,3% é continuidade do modo de vida em que desde pequenos trabalham neste espaço e 23,9% por não terem opção de emprego. Esses dados evidenciam a condição estrutural da feira para o desenvolvimento local a partir do segmento de menor renda de sua população, o que relaciona os feirantes como agentes de desenvolvimento do município a serem contemplados no Plano Diretor. FEIRA LIVRE: CONFLUÊNCIA DE RELAÇÕES ENTRE O RURAL E O URBANO O Plano Diretor Participativo do Município de São Felipe na Bahia foi instituído em 21 de Setembro de 2007 pela Lei Complementar nº 05/2007 e é definido em seu Art. 1º como instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana (SÃO FELIPE, 2007, s/p) e exige participação popular para sua legitimação e legalização que deve ser constituído da dinâmica social do local. São Felipe, um município preponderantemente rural, carrega uma regulação jurídica de desenvolvimento que nega esta realidade, pois não oferece a visibilidade necessária ao rural e seus movimentos, contudo não o torna mais urbanizado. Quando se reconhecer o rural como parte do todo municipal ao lado do urbano é que se poderá vislumbrar um município em desenvolvimento, haja vista que o mesmo engloba dinâmicas peculiares e interrelacionadas, o que torna incoerente o isolamento do rural no planejamento do desenvolvimento municipal. É como espaço público de confluência de relações entre o rural e o urbano que se examina a Feira Livre, constatado como fenômeno que ilustra significativamente parte da dinâmica da sociedade São-felipense. A feira livre tem lidado com a perspectiva de enfrentamento ao processo de urbanização do desenvolvimento do município tanto no que diz

respeito ao desenho no espaço da cidade quanto às relações sociais e econômicas inerentes ao circuito da comercialização de mercadorias numa sociedade capitalista. A feira traz dinâmicas de diferentes temporalidades próprias dos processos de desenvolvimento, onde a sua constituição oferece o antigo e o novo, transformações e resistências que revestem suas significações de relações homem-natureza em que dialogam o rural e o urbano constitutivos do município. Apesar de constar no Art. 46, incisos I, V e VIII do Plano Diretor de São Felipe diretrizes setoriais econômicas, que asseguram investimentos para o desenvolvimento de atividades econômicas nas áreas culturais para ampliação e geração de renda do município, o segmento de feirantes, embora exerça uma atividade econômica intersetorial de dimensões culturais, não está contemplada no Plano Diretor Participativo do Município de São Felipe. Isto justificaria estar incluída no Plano Diretor, tendo em vista tratar-se de uma proposta de cunho participativo que estabelece diálogo e troca de ideias entre os cidadãos, a iniciativa privada e a Administração Pública possibilitando a criação, construção e manutenção de uma gestão pública decorrente desta interação para um desenvolvimento socioambiental equilibrado. Com essa concepção, a feira livre pode ser utilizada para a disseminação de informações, intercâmbio e apoio técnico para os agricultores familiares da região, visando progresso dos processos produtivos, organizacionais e de gestão, na medida que estejam de acordo com a identidade social dos feirantes. A dotação orçamentária na gestão pública é, seguramente, um indicador de visibilidade das demandas públicas. Nesse sentido, o Plano Diretor Participativo de São Felipe, no que diz respeito à utilização do instrumento de planejamento Plano Plurianual, contempla a feira livre com previsão de recursos financeiros para criação e requalificação do espaço da feira livre e do Mercado Municipal, demanda dos moradores do município (PPA 2014-2017). A execução orçamentária, entretanto, não fica condicionada ao tipo de projeto demandado. Assim, os resultados da pesquisa de campo através de entrevistas aos feirantes indicam que os moradores receiam que transformações decorrentes desta demanda não contemplem o modo de vida daqueles que realizam a atividade de feirante tendo a feira como espaço acolhedor, simbólico e dinâmico; receiam que a natureza capitalista do mercado e sua burocratização eliminem ou restrinjam essa realidade, o que poderia gerar resistência. Como vimos fundamentando, o rural que interage com a urbanização é complexo, e ocupa lugar fundamental na feira livre, que vai da importância do abastecimento alimentar

nas áreas urbanas à diversificação agrícola. Contudo, a diretriz de desenvolvimento urbano para todos os municípios como estabelece o Estatuto das Cidades através da obrigatoriedade do Plano Diretor Participativo, para realidades municipais com ausência de estrutura técnica, torna provável a formulação de Plano Diretor por meio de consultorias alheias à realidade local. Isto favorece a produção de invisibilidades da importância de transformações e resistências à urbanização enquanto questão a ser pesquisada de maneira a dar voz a esses invisibilizados contemplando-os nos referidos Planos. Considerar a feira nessa abordagem de planejamento possibilitará avaliá-la como locus de expressões de transformações e resistências à urbanização como projeto de sociedade, revelando detalhes que podem subsidiar ajustes e/ou criação de políticas públicas, correspondentes à realidade destes sujeitos sociais - os feirantes e condizentes com as necessidades de um desenvolvimento socioambiental sustentável em identidade local. CONSIDERAÇÕES FINAIS A feira livre de São Felipe possui traços de sociabilidade rural e sua configuração socioespacial perpassada por relações pessoais, representa também, como principal motivação revelada pelos feirantes, o complemento da renda que reflete de forma significativa para a dinâmica social e economia local. Em vista disso, ainda que o Plano Diretor possua todos os elementos e instrumentos formais necessários para o efetivo diálogo com a população para oferecer o real desenvolvimento municipal respeitando as peculiaridades locais, ao se analisar o Plano Diretor de São Felipe, constatou-se que o mesmo mantém relativas invisibilidade e omissão da dinâmica rural que a feira expressa. Considera-se que o Plano Diretor não contempla a feira livre como um local de encontros que dinamizam o desenvolvimento do município pela ação de sua população como agente desse desenvolvimento, em que o rural é espaço de trabalho e vida. O ano de 2017 é aquele em que a gestão municipal deverá avaliar e rever o seu Plano Diretor, momento em que a consideração da feira livre em seus conteúdos identitários, econômico, social e cultural cria condições de possibilidades para a formulação de um novo plano mais adequado a realidade local por contemplar a dinâmica rural do seu desenvolvimento.

REFERÊNCIAS ABRAMOWAY, Ricardo. Do setor ao território: funções e medidas da ruralidade no desenvolvimento contemporâneo. IPEA, 2000; ALENCAR, C.M.M. Reconhecendo e Potencializando o Rural na Dinâmica Urbana e Regional do Município São Felipe, Bahia. Projeto de Pesquisa. Salvador, BA, 2015; ALENCAR, Cristina Maria Macêdo de. Indicador qualitativo de ruralidade em espaço regional metropolitano. REDES, Santa Cruz do SulRS, v. 2, n. 12, 2007; ALENCAR, Cristina Maria Macêdo de. O Território Lauro de Freitas: diversidades sob tensões entre o rural e o urbano. In: ALENCAR, C. M. M. de e SCHWEIZER, P. J.(org) Transformações territoriais: de rural ao metropolitano. Campinas, SP: Editora Alínea, 2008; Cap. 2; BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977; BOECHAT, P.T. V, SANTOS, J.L. Feira Livre: Dinâmicas Espaciais e relações identitárias. Disponível em < http://www.uesb.br/eventos/ebg/anais/2p.pdf>. Acesso em 02/09/2015; BRASIL. Constituição Da República Federativa do Brasil. Biênio 2015/2016. Brasília: Senado Federal Secretaria de Editoração e Publicações Coordenação de Edições Técnicas, 2015; BRASIL. Estatuto da cidade (2002). Estatuto da cidade: guia para implementação pelos municípios e cidadãos: Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001, que estabelece diretrizes gerais da política urbana. 2. ed. Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 2002; BRASIL. Lei Nº 10.257, De 10 de Julho de 2001. Institui o Estatuto da Cidade. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10257.htm>. Acesso em: Abr. 2016; BRASIL. Ministério das Cidades. Programa Nacional de Capacitação das Cidades, Curso: Reabilitação Urbana com foco em Áreas Centrais. Módulo 1- Unidade 1, (Apostila de Curso a distância ministrado pelo Ministério das Cidades.), 2013. Disponível em <http://pt.slideshare.net/paulohorlando/5-um-brevehistricodoplanejamentourbanonobrasilpd-f>. Acesso em Abr. 2016; BRASIL. Ministério das Cidades. Programa Nacional de Capacitação das Cidades, Curso: Reabilitação Urbana com foco em Áreas Centrais. Módulo 1- Unidade 1, (Apostila de Curso a distância ministrado pelo Ministério das Cidades.), 2013. Disponível em <http://pt.slideshare.net/paulohorlando/5-um-brevehistricodoplanejamentourbanonobrasilpd-f>. Acesso em Abr. 2016; CARNEIRO, M. J. Ruralidade: novas identidades em construção. In: Anais do XXXV Congresso Brasileiro de Economia e Sociologia Rural. Natal, RN, 1997. P (147-185); FAVARETO, A. Paradigmas do desenvolvimento rural em questão. São Paulo: Iglu: FAPESP, 2007; HEREDIA, Beatriz Maria Alásia de. A morada da vida: trabalho familiar de pequenos produtores do Nordeste do Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. (Série Estudos sobre o Nordeste; v. 7); IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico, 2010. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 02/09/2015; IBGE. Instituto de Geografia Estatística. Noções Básicas de Cartografia. Disponível em <http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/cartografia/manual_nocoes/elementos_representacao.html >. Acesso em: Abr. 2016;

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