TRABALHOS TÉCNICOS Divisão Sindical ASPECTOS QUE ENVOLVEM A NEGOCIAÇÃO COLETIVA À LUZ DA LEGISLAÇÃO E CONFORME JURISPRUDÊNCIA DO TST

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Transcrição:

TRABALHOS TÉCNICOS Divisão Sindical ASPECTOS QUE ENVOLVEM A NEGOCIAÇÃO COLETIVA À LUZ DA LEGISLAÇÃO E CONFORME JURISPRUDÊNCIA DO TST Alain Alpin Mac Gregor Advogado A negociação coletiva é um processo de autocomposição em que, de um lado temos os representantes dos trabalhadores e de outro os representantes dos empregadores, ou mesmo empresas buscando a defesa de seus interesses por meio de entendimentos que lhes permitam firmar convenções coletivas (entre sindicatos) ou acordos coletivos (entre trabalhadores e empresas), para a fixação de condições de trabalho em determinada atividade econômica. A própria Constituição Federal (CF) consagrou, em vários de seus dispositivos (art. 7º, incisos VI, XIII, XIV, XXVI; art. 8º, inciso VI; e art. 114, 1º e 2º) a negociação coletiva, garantindo, inclusive, sua utilização como instrumento para flexibilização trabalhista. Com isso, o processo de negociação coletiva transformou-se em um importante veículo de aproximação entre os atores sociais, permitindo, pelo uso do bom senso, equilibrar o desenvolvimento da atividade econômica com as reivindicações dos trabalhadores. Cumpre esclarecer que a negociação coletiva pode ser feita de duas formas: 1) convenção coletiva; e 2) acordo coletivo. A convenção coletiva, conforme definição do art. 611, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), é o acordo de caráter normativo pelo qual dois ou mais sindicatos representativos de categorias econômicas e profissionais estipulam condições de trabalho aplicáveis, no âmbito das respectivas representações, às relações individuais de trabalho. O acordo coletivo é abordado pelo 1º, art. 611, da CLT, quando afirma que é facultado aos sindicatos representativos de categorias profissionais celebrarem acordos coletivos com uma ou mais empresas da correspondente categoria econômica, que estipulem condições de trabalho aplicáveis no âmbito da empresa ou das empresas acordantes às respectivas relações de trabalho. aprofundada. Dito isto, passamos a analisar o processo de negociação coletiva de forma mais

54 Como visto, a negociação é um importante mecanismo na solução de conflitos entre o capital e o trabalho, sendo que a legislação constitucional e infraconstitucional enfatizou sua importância ao tornar obrigatória a participação dos sindicatos nessas negociações, conforme segue: É obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho. (Inciso VI, do art. 8º, da CF) Os Sindicatos representativos de categorias econômicas ou profissionais e as empresas, inclusive as que não tenham representação sindical, quando provocadas, não podem recusar-se à negociação coletiva. (art. 616, da CLT) Essa obrigatoriedade se dá pelo fato de a negociação coletiva ser inerente à atividade sindical (art. 513, da CLT) e estar vinculada à defesa dos interesses, econômicos ou profissionais, importantes justificadores da criação da entidade sindical, conforme preceitua o art. 511, da CLT. Assim sendo, existindo um sindicato em determinada base territorial, quando suscitado, ele não poderá se negar a participar da negociação coletiva, o que não quer dizer que seja obrigado a transacionar, pois, no caso de as partes não conseguirem chegar a um consenso, poderá ser ajuizado dissídio coletivo por qualquer uma das partes, submetendo a análise do caso ao judiciário ( 2º, do art. 616, da CLT). De qualquer sorte, deve ser observada, não apenas para a composição da negociação coletiva, mas, da mesma forma, para o ajuizamento de dissídio coletivo, a imprescindível paridade entre a entidade representante da categoria profissional e a entidade sindical representante da categoria econômica. Este é o entendimento firmado pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST), conforme decisão a seguir transcrita: DISSÍDIO COLETIVO AJUIZAMENTO DA AÇÃO POR SINDICATO REPRESENTATIVO DE SEGMENTO PROFISSIONAL IMPOSSIBILIDADE CRITÉRIO DE ORGANIZAÇÃO SINDICAL POR CATEGORIA MANTIDO PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 IMPRESCINDIBILIDADE DE CORRESPONDÊNCIA COM A ATIVIDADE EXERCIDA PELO SETOR ECONÔMICO SUSCITADO: Não há falar em conflito coletivo autêntico e especificamente caracterizado, para cuja solução seja necessária a interferência do poder Judiciário, na atual ordem jurídica, sem que haja correspondência entre os segmentos profissional e econômico envolvidos, sob o prisma da atividade desenvolvida por cada qual. Processo que se extingue, sem julgamento do mérito. (TST-RO-DC-377.081/97.4, SDC, Rel. Min. ARMANDO DE BRITO) (grifo nosso) Trabalhos Técnicos

55 A matéria é objeto, inclusive, de uma Orientação Jurisprudencial (OJ) da Seção de Dissídios Coletivos (SDC), do TST - OJ nº 22, que diz: Sindicato. Correspondência das atividades profissional e econômica envolvidas. Legitimidade ad causam do sindicato. Correspondência entre as atividades exercidas pelos setores profissional e econômico envolvidos no conflito. Necessidade. (DJ, 25.05.98). Cumpre esclarecer que, no caso de acordo coletivo, quando da falta de interesse do sindicato em assumir as negociações entre os interessados, a representação nas tratativas pode passar a ser das entidades de grau superior, ou seja, federação e confederação, respectivamente. E se, ainda assim, não houver interesse, as partes poderão prosseguir na finalização direta da negociação, conforme preconizado pelo 1º, do art. 617, da CLT, evitando-se, assim, o bloqueio da via negocial. O Tribunal Superior do Trabalho já enfrentou a questão com o seguinte entendimento quanto ao tema: COMPENSAÇÃO DE JORNADA EM REGIME DE TURNOS ININTERRUPTOS DE REVEZAMENTO RECUSA DE PARTICIPAÇÃO DO SINDICATO NAS NEGOCIAÇÕES COLETIVAS ACORDO CELEBRADO ENTRE A EMPRESA E SEUS EMPREGADOS ART. 617 DA CLT VALIDADE OFENSA AO ART. 8º, VI, DA CARTA MAGNA NÃO CONFIGURADA O art. 8º, VI, da Carta Magna, não obstante gize ser obrigatória a participação do sindicato nas negociações coletivas, não disciplina a questão da validade do acordo de compensação de jornada firmado diretamente pelo empregador com seus empregados, formalizado nos moldes do art. 617 da CLT. Aliás, a norma inscrita no art. 7º, XIII, da Constituição da República, consoante o entendimento desta Corte sedimentado na Orientação Jurisprudencial nº 182 da SBDI I do TST, admite a compensação de jornada mediante acordo individual celebrado diretamente pelo empregador com seus empregados. É certo também que as normas inscritas no art. 7º, XIII e XIV, da Constituição da República não prescrevem, de modo expresso, exigência no sentido de que a compensação de jornada no regime de turnos ininterruptos de revezamento tenha que ser formalizada por norma coletiva. Ademais, o art. 617 da CLT não foi revogado pelo art. 8º, VI, da Carta Magna, de modo que, se os sindicatos representativos das categorias econômica e profissional não tiverem interesse na negociação coletiva, esta poderá ser promovida diretamente pelos empregados com seus empregadores, sem a participação sindical. Recurso de revista não conhecido. (TST RR 640914 4ª T. Rel. Min. Ives Gandra Martins Filho DJU 04.06.2004) EMBARGOS DECLARATÓRIOS ARTIGO 617/CLT ACORDO CELEBRADO DIRETAMENTE COM OS EMPREGADOS EM FACE DA RECUSA DO SINDICATO À NEGOCIAÇÃO O inciso VI do art. 8º da CF, ao estabelecer a obrigatoriedade da Trabalhos Técnicos

56 participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho, e o inciso XXVI do art. 7º, também da Carta Magna, ao consagrar o reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho, não retiram a vigência e a eficácia do art. 617 da CLT, o qual faculta aos empregados prosseguir diretamente na negociação coletiva com seus empregadores, caso o sindicato que os representa e a federação à qual esse é filiado não assumirem a direção dos entendimentos, situação que, precisamente, caracterizou-se nesta hipótese. Isto porque o referido artigo consolidado não contraria ou contradiz os dispositivos constitucionais citados. Embargos declaratórios acolhidos para prestar esclarecimento. (TST EDROAD 61333 SSDC Rel. Min. Rider Nogueira de Brito DJU 21.05.2004) (grifo nosso) Ultrapassada essa situação, passamos a analisar uma das questões de maior importância, tanto na Convenção Coletiva como no Acordo Coletivo, que é a definição da entidade sindical que terá legitimidade para transacionar e exercer a devida representação de determinada categoria (econômica ou profissional). Ou seja, identificar quais as entidades sindicais estão aptas a promover a negociação coletiva em nome das empresas e dos trabalhadores a ela vinculados. Essa identificação é feita por meio do enquadramento sindical, que, como regra, observa o ramo da atividade econômica preponderante da empresa à qual os trabalhadores estão vinculados, conforme arts. 511, 2º, 570 e 577, da CLT, e, como exceção, em virtude da identidade da profissão devidamente regulamentada por lei (categorias diferenciadas). Assim, o elemento fundamental da regra geral para o enquadramento sindical (tanto do empregador como o do trabalhador) é a definição da atividade econômica desenvolvida e, havendo pluralidade nessas atividades, a observância da atividade econômica preponderante que, segundo Russomano, em sua obra Princípios gerais de direito sindical, Ed Forense, 2ª Ed, 1997, p.98: Pode ocorrer que a mesma empresa exerça várias atividades econômicas. Se essas atividades forem desenvolvidas em conjunto, ligadas por qualquer elo de conexão, como a empresa é uma unidade, será natural que se procure estabelecer a atividade prevalente, do ponto de vista econômico e objetivo de produção. Essa atividade apontará o sindicato do qual pode participar o empresário. Com isso, considerando que o enquadramento sindical dos empregadores se dá pelo agrupamento em categorias econômicas em virtude da solidariedade de interesses comuns das empresas que empreendem atividades idênticas, similares ou conexas" e que o enquadramento sindical dos trabalhadores para a formação da categoria profissional se dá pela similitude de condições de vida oriunda do trabalho em comum, executado pelos empregados das empresas que realizam atividades idênticas, similares ou conexas, (Arnaldo Trabalhos Técnicos

57 Sussekind, in Instituições de direito do trabalho, Vol. II - 14. ed. - LTr, 1993 - p. 1.003), o Tribunal Superior do Trabalho vem consolidando o seguinte entendimento: A atividade preponderante da empresa é que deve assegurar o correto enquadramento sindical, caso contrário criar-se-ia representações de tantas quantas forem as atividades necessárias ao funcionamento da empresa, que teria de enfrentar o cumprimento de diversos instrumentos coletivos simultaneamente. (TST RO-DC 256.075/96.8 Ac. SDC 202/97, Rel. Ministro Antonio Fábio Ribeiro) O enquadramento sindical é dado, em regra, pela atividade preponderante da empresa, à exceção do contido no 3º, do art. 511, da CLT, que deve ser interpretado sistematicamente com o art. 577. A lei trabalhista, entretanto, não inclui os engenheiros entre as categorias diferenciadas, no quadro a que alude o art. 577, citado. Dessa forma, o engenheiro, quando contratado por estabelecimento bancário, deve adequar-se ao enquadramento sindical dos demais empregados, respeitada a regulamentação própria que lhe proporciona situação especial. (TST, RR 7.123/89.5, Hylo Gurgel, Ac. 2ª T. 2.393/91) Conforme preceituado no 2º, do art. 581, da CLT, atividade preponderante é aquela que caracteriza a unidade de produto, operação ou objetivo final, para cuja obtenção todas as demais atividades convirjam, exclusivamente, em regime de conexão funcional. Desta forma, quando encontrada a atividade preponderante da empresa, será possível a determinação dos sindicatos que terão legitimidade para firmarem Convenção ou Acordos Coletivos de Trabalho, em nome tanto dos empregadores como dos trabalhadores, uma vez que tais entidades estão diretamente ligadas pela paridade. Com isso, as empresas terão maior segurança para cumprir determinada norma coletiva, pois saberão que as partes envolvidas naquela negociação pactuaram legitimamente, em seu nome e em nome de seus trabalhadores, evitando-se, dessa forma, a possibilidade de prejuízos que possam vir a ser causados em virtude da aplicação de norma coletiva equivocada o que acontece com grande freqüência. O exposto diz respeito, especificamente, ao trabalhador geral, cabendo ainda abordarmos a situação da exceção, que é a chamada categoria diferenciada. Sabe-se que a categoria profissional pode ser criada de duas formas: uma, conforme preceituado no 2º, do art. 511, da CLT, em virtude da similitude de condições de vida oriunda da profissão ou trabalho em comum, em situação de emprego na mesma atividade econômica ou em atividades econômicas similares ou conexas, que é a forma geral, e que tem na atividade da empresa, como visto anteriormente, a caracterização da similitude de Trabalhos Técnicos

58 condições de trabalho determinante para seu enquadramento sindical; e a outra, considerada a específica, descrita no 3º, do art. 511, da CLT, como aquela formada pelos empregados que exerçam profissões ou funções diferenciadas por força de estatuto profissional especial ou em conseqüência de condições de vida singular, que é a exceção que passaremos a analisar. Segundo preceitua Valentin Carrion em sua obra Comentários à consolidação do trabalho, Editora LTR, 31ª Edição, pág. 425, Categoria profissional diferenciada é a que tem regulamentação específica do trabalho diferente da dos demais empregados da mesma empresa, o que faculta convenções ou acordos coletivos próprios, diferentes dos que possam corresponder à atividade preponderante do empregador, que é a regra geral. A norma coletiva pactuada pela categoria diferenciada prevalece sobre a regra geral, de forma que, existindo trabalhador enquadrado em categoria diferenciada no quadro funcional de determinada empresa, esta deverá observar, quando for o caso, a norma coletiva firmada entre o seu sindicato e o sindicato representativo daquela categoria profissional. É o que extraímos da seguinte decisão do TST: ENQUADRAMENTO SINDICAL VIGILANTE CATEGORIA DIFERENCIADA. Tendo o reclamante exercido a função de vigilante, que, por força da Lei nº 7.102/83, com a alteração dada pela Lei nº 8.863/94 (art. 10, 4º), integra categoria diferenciada, seu enquadramento, para todos os efeitos legais e para fim de instrumentos coletivos, se dá, não em função da atividade preponderante da reclamada (indústria química), mas sim da categoria profissional a que pertence. Recurso de revista conhecido e provido. (TST, RR - 1037/2000-001-04-00, DJ - 10/12/2004, J. 24/11/2004, 4ª Turma, Relator: MILTON DE MOURA FRANÇA) Vale esclarecer que, em não havendo norma coletiva pactuada entre o sindicato representante da categoria diferenciada e o sindicato representante da categoria econômica de determinada empresa, aplicar-se-á a norma geral utilizada para os demais trabalhadores ali inseridos. Acrescente-se que, conforme entendimento extraído da OJ nº 36, da SDC, do Tribunal Superior do Trabalho, ao analisar o enquadramento sindical de trabalhadores em empresas de processamentos de dados, o reconhecimento das categorias diferenciadas dar-se por lei. Vejamos: Empregados de empresa de processamento de dados. Reconhecimento como categoria diferenciada. Impossibilidade. É por lei e não por decisão judicial, que as categorias diferenciadas são reconhecidas como tais. De outra parte, no que tange aos profissionais da informática, o trabalho que desempenham sofre alterações, de acordo com a atividade econômica exercida pelo empregador. (grifo nosso) Trabalhos Técnicos

59 Além da necessária regulamentação, destaca-se que, apesar da possível prevalência da norma coletiva firmada pela categoria diferenciada, a mesma tem eficácia restrita, sendo aplicável, tão-somente aos trabalhadores e empresas inseridos no campo de representação das entidades que firmaram os entendimentos, devendo, portanto, serem respeitados os limites estabelecidos no art. 611, da CLT. No tocante ao tema, transcrevemos a OJ nº 55 da SBDI-1, do TST, que retira a eficácia da norma coletiva firmada com categoria diferenciada e aplicada à empresa cuja entidade sindical que lhe representa, não participou da celebração do instrumento coletivo: Norma Coletiva. Categoria Diferenciada. Abrangência. Empregado integrante de categoria profissional diferenciada não tem o direito de haver de seu empregador vantagens previstas em instrumento coletivo no qual a empresa não foi representada por órgão de classe de sua categoria. A mencionada Orientação Jurisprudencial vem sendo aplicada com exatidão, como podemos ver a seguir: CATEGORIA DIFERENCIADA VIGILANTE NORMA COLETIVA ALCANCE O reclamado que não integra, nem se faz representar por entidade sindical de sua categoria econômica, não está obrigado a cumprir norma coletiva que assegura vantagens e direitos aos seus empregados que integram categoria diferenciada. Inteligência que se extrai da Orientação Jurisprudencial nº 55 da SDI. Recurso de revista conhecido e provido, no particular. (TST RR 61415 4ª T. Rel. Min. Milton de Moura França DJU 12.12.2003) Essa limitação acontece pelo fato de que a negociação coletiva é baseada na autonomia da vontade sindical, na livre disposição pelos entes coletivos que venham a estipular regras de acordo com as suas possibilidades específicas. Não seria razoável obrigar a empresa ao cumprimento de cláusulas constantes de instrumento normativo de que seu sindicato não tenha participado como subscritor. Outro aspecto que merece atenção no tocante ao trabalhador que exerce atividade profissional diferenciada é a necessidade de o mesmo exercê-la no âmbito da empresa, pois de outra forma não lhe caberia os benefícios alcançados pela categoria diferenciada. É esse o entendimento reiterado do TST: ENGENHEIRO EXERCÍCIO DA ATIVIDADE CATEGORIA DIFERENCIADA. A caracterização da atividade de engenheiro como diferenciada provém da Lei nº 7.316/85, que conferiu a representatividade da categoria dos profissionais liberais, entre eles os engenheiros, aos sindicatos de profissionais Trabalhos Técnicos

60 liberais. Assim, o fato de pertencer à categoria profissional diferenciada já exprime a necessidade de regramentos especiais para o trabalhador a ela pertencente, ante os contornos peculiares das atividades por ele desenvolvidas. Ademais, a lei instituidora da profissão de engenheiro assenta que, para o exercício desta, é necessária a formação e graduação em curso acadêmico por ela regulado. Nesse contexto, se o indivíduo cumpre a condição pela lei imposta, que é a obtenção do diploma, sendo patente o exercício da atividade correspondente nos quadros da Reclamada, não pode a ele ser furtada a aplicação das normas concernentes ao seu ofício, por enquadramento na atividade preponderante da Reclamada, ligada aos metalúrgicos. Recurso de revista do Reclamante conhecido em parte e provido. (TST, RR NÚMERO: 339656 ANO: 1997, DJ 27/04/2001, 4ª Turma, Relator: IVES GANDRA MARTINS FILHO) (grifo nosso) Para ser aplicada a exceção da categoria diferenciada, deve-se observar se a categoria em questão está representada por sindicato específico, caso contrário ela perde tal característica, uma vez que, conforme preceituado pelo 3º, do art. 511, da CLT, sua existência se dá em virtude da associação de empregados que exerçam profissões ou funções diferenciadas por força de estatuto profissional especial ou em conseqüência de vidas singulares. Ou seja, não é possível, para a criação do sindicato da categoria diferenciada, que o mesmo seja integrado por trabalhadores que não satisfaçam os requisitos estipulados pela legislação consolidada. Assim, a categoria diferenciada nada mais é do que o chamado sindicato por profissão. No tocante ao enquadramento sindical, destacamos que além da atividade preponderante da empresa, bem como da observância da existência de categoria diferenciada, é necessário o devido respeito à base territorial das entidades que celebram o instrumento coletivo, conforme preceituado no artigo 611, da CLT. É o que nos ensina Eduardo Gabriel Saad, conforme segue: Os pactos coletivos só alcançam as empresas situadas na base territorial do sindicato de empregados. Se a empresa possui filiais e agências em áreas não compreendidas naquela base, as disposições pactuadas não as afetam. Se um sindicato de empregados, de base territorial intermunicipal ou interestadual, celebra uma Convenção Coletiva com sindicato patronal de base territorial menor, os efeitos jurídicos do pacto são limitados à área deste último. (Saad, Eduardo Gabriel; in CLT Comentada. Editora LTr. 34ª Edição. São Paulo. 2001. Pág. 416) Neste sentido, reiteradamente, tem decidido o TST: EMBARGOS - ABRANGÊNCIA DOS ACORDOS COLETIVOS DE TRABALHO. BASE TERRITORIAL. Os acordos e convenções coletivas de trabalho têm previsão Trabalhos Técnicos

61 constitucional, em processo de valorização da negociação coletiva, como forma de solucionar os conflitos entre empregados e empregadores. Nas negociações coletivas, as partes envolvidas fazem concessões mútuas para chegar a consenso, cedendo em determinado ponto para auferir benefícios em outro, de forma que, ao final, estejam satisfeitas com o resultado obtido. Ocorre que a representatividade de cada sindicato é restrita à respectiva base territorial, consoante dispõe o artigo 611 da CLT. As decisões impugnadas expressamente afirmaram que a sede da Reclamada era em Planaltina de Goiás e que a prestação de serviços era realizada na mesma localidade, motivo pelo qual seria inaplicável o acordo coletivo ajustado entre os Sindicatos patronal e profissional do Distrito Federal. Embargos não conhecidos. (TRIBUNAL: TST EDRR 419237/98, SBDI-1, Rel. Mins Maria Cristina Irigoten Peduzzi, DJ- 28.06.2002) AÇÃO RESCISÓRIA VIOLAÇÃO LITERAL DE LEI CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO EFICÁCIA TERRITORIAL ART. 611 DA CLT 1. Ação rescisória contra sentença que determina a aplicação de Convenção Coletiva de Trabalho pactuada com Sindicato de base territorial alegadamente diversa. 2. A eficácia de Convenção Coletiva de Trabalho cifra-se ao âmbito de atuação dos Sindicatos convenentes. Vulnera literalmente o art. 611, da CLT, sentença de mérito que acolhe pedido de diferenças salariais fundadas em convenção coletiva de trabalho que extrapola a base territorial do Sindicato profissional. A simples previsão de extensão da base territorial, incomprovada, não autoriza a imposição de condenação a tal título. 3. Recurso ordinário a que se dá parcial provimento. (TST ROAR 513815 SBDI 2 Rel. Min. João Oreste Dalazen DJU 09.02.2001). Estas são, portanto, algumas considerações necessárias para que as entidades sindicais patronais tenham a devida segurança na participação de negociação coletiva, garantindo, com isso, a defesa dos interesses da categoria econômica por elas representadas. Trabalhos Técnicos