00135 A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DA PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA NA CASA FAMILIAR RURAL DE BELTERRA- AMAZÔNIA PARAENSE. 1 Poliana Fernandes Sena 2 Solange Helena Ximenes-Rocha 3 E-mail: poliana.sena@ufopa.edu.br; solange.ximenes@gmail.com RESUMO Este artigo é efeito de uma pesquisa de dissertação de mestrado que se encontra em andamento e tem como título A Construção da Identidade da Pedagogia da Alternância na Casa Familiar Rural de Belterra- Amazônia Paraense. O presente estudo está ligado à Linha de Pesquisa em História, Política e Gestão Educacional na Amazônia, do Programa de Pós-graduação em Educação, da Universidade Federal do Oeste do Pará- UFOPA. Na pesquisa a questão-problema que se coloca é a seguinte: Como está sendo construída a identidade da Pedagogia da Alternância, na Casa Familiar Rural de Belterra- Amazônia Paraense? Como objetivos destacam-se: verificar com os sujeitos da Casa Familiar Rural de Belterra como está sendo tecido o Projeto Político Pedagógico; Levantar o perfil da educação do campo no Pará, destacando a Pedagogia da Alternância no município de Belterra-Pará; Analisar com os sujeitos envolvidos na Pedagogia da Alternância, o conceito de Gestão Democrática. O estudo consiste em uma investigação que apresenta como base os pressupostos teóricos metodológicos da pesquisa qualitativa. Utiliza-se a pesquisa de estudo de caso, de campo, bibliográfica e documental. Apresenta-se a Educação no Campo, com enfoque na Identidade da Pedagogia da Alternância. As principais referências utilizadas na estruturação desta pesquisa são: Arroyo (2005), Gimonet (2007) e Caldart (2008) entre outros. Os dados preliminares indicam que: a Pedagogia da Alternância na Casa Familiar Rural de Belterra tem fortalecido a relação ensino aprendizagem, principalmente, do aluno que vive no campo levando em consideração a realidade vigente. Neste sentido esse modelo aponta novos caminhos para educação que possa atender as singularidades do campo. PALAVRAS CHAVES: Casa Familiar Rural. Educação no Campo. Pedagogia da Alternância. 1-INTRODUÇÃO Este artigo é efeito de uma pesquisa de dissertação de mestrado que se encontra em andamento e tem como título A Construção da Identidade da Pedagogia da Alternância na Casa Familiar Rural de Belterra-Amazônia Paraense. 1 Artigo de pesquisa de dissertação de Mestrado que se encontra em andamento. O presente estudo está ligado à Linha de Pesquisa em História, Política e Gestão Educacional na Amazônia, do Programa de Pós-graduação em Educação, da Universidade Federal do Oeste do Pará-UFOPA. 2 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Oeste do Pará. 3 Doutora em Educação; Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Oeste do Pará.
00136 A luta pela educação no campo continua posta em movimento nos encontros municipais, estaduais e nacionais. As discussões emergem por todos os lugares, centrando esforços para a melhoria da população que vive e sobrevive do campo. Vinculadas a esse processo discussão, temos a presença significativa de experiências educativas que expressam a resistência cultural e política do povo camponês frente às diferentes tentativas de sua destruição. Neste sentido, a Pedagogia da Alternância tem feito parte dessas experiências de ensino e aprendizagem no campo, com uma proposta diferenciada, onde o aluno passa um período na escola e outro na comunidade em que reside. Essa prática tem constituído a identidade de um modelo educacional que tem se tornado cada vez mais presente nas comunidades do campo, sobretudo no contexto Amazônico. 2. PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA: APRESENTAÇÃO DA EXPERIÊNCIA NO MUNICÍPIO DE BELTERRA-PA. A discussão acontece no Município de Belterra-Pa, pois minha vivência com as práticas da Pedagogia da Alternância que deram origens a esses estudos aconteceram na Casa Familiar Rural de Belterra-Pa. Belterra é um município paraense, criado em 1997 a partir da separação do município de Santarém localizada no Oeste do Estado. Com a expansão do comércio da Borracha, por volta de 1840, iniciou-se uma nova fase de ocupação na Amazônia. A origem do município de Belterra está intimamente ligada a essa época. O milionário Henry Ford queria transformar mais um dos seus sonhos em realidade. O objetivo do dono da Companhia Ford, líder da indústria automobilística nos Estados Unidos, era implantar um cultivo racional de seringas na Amazônia, transformando-a na maior produtora de borracha do mundo. Em Belterra foram construídos hospitais, escolas, casas de estilo americano, mercearias. Portos próximos à praia foram construídos para abrigar as famílias de todos os empregados que estavam trabalhando no Projeto. Grande parte dos trabalhadores braçais vinha do sertão nordestino, fugindo da seca, e encontrava no Projeto de Henry Ford a salvação para seus problemas econômicos. Em cinco anos, o projeto ganhou dimensões incomuns naquela época: campos de atletismo, lojas, prédios, hospitais, clubes e cinema. De 1938 a 1940, Belterra viveu seu ápice e foi considerado o maior produtor de seringa do mundo. No entanto, as
00137 pragas nos seringais e principalmente, a descoberta da borracha sintética na Malásia foram fulminantes para a decadência do projeto de Belterra. A partir deste período, a área foi negociada para o Brasil e a Companhia Ford abandonou o sonho. Durante 39 anos Belterra foi esquecida e a cidade americana, foi transformada, em outras denominações, em estabelecimento Rural do Tapajós, ficando sob jurisdição do Ministério da Agricultura. Somente em 1997, os moradores de Belterra conseguiram a emancipação do município. No ano de 2011, na área rural de Belterra, teve inicio um projeto educativo dando ênfase a um modelo inovador de educação naquela região. A Casa Familiar Rural de Belterra foi criada por um conjunto de esforços coletivos, tais como: Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Belterra, a Associação dos Produtores Rurais de Boa Esperança e Fé em Deus AMPRUBEF e apoio da Prefeitura Municipal de Belterra, entre outras entidades. Com este esforço coletivo, originou-se a Associação das Famílias da Casa Familiar Rural de Belterra, localizada na comunidade do Prata km 62 da BR-163. A Casa Familiar Rural de Belterra CFRB funciona na comunidade do Prata, em uma área de 32 hectares, que foram doados. As Casas Familiares Rurais permitem que os jovens se qualifiquem e possam adaptar-se à evolução da profissão em conjunto com a sua família e comunidade onde vivem. 2.2. REVISÃO DE LITERATURA. Destaca-se que as pesquisas atuais em Educação no campo, com enfoque para a Pedagogia da Alternância, nos mostram que as discussões estão cada vez mais presentes, não somente no meio acadêmico, mas nas comunidades onde as Casas Familiares Rurais estão instaladas e apontam para as contribuições desta experiência educativa. De acordo com Caldart (2008), a Educação do Campo surgiu como mobilização de movimentos sociais que buscavam uma política educacional para comunidades rurais aliadas às lutas por reforma agrária, partindo-se de uma concepção de campo desprovida de terra e condições de trabalho. Após várias mudanças no campo da educação, algumas propostas se mostraram eficazes na contemporaneidade, como a Pedagogia da Alternância que nos coloca um
00138 tempo de escola diferenciado no meio rural. Esta proposta vem ao encontro dos problemas seculares que se apresentam na educação no campo, como já foi mencionado. Esse modelo de educação diferenciado vem contribuir para a diminuição do êxodo rural, evitando que os educandos possam migrar para a cidade para estudar, muitas vezes abarrotando as favelas e aumentado à pobreza nas grandes cidades. Para Arroyo (2005), a luta do povo campesino pela garantia do direito à educação escolar para si e para os seus filhos está situada não só na reivindicação da criação de escolas no campo ou pelo não fechamento das que já existem ou ainda pela ampliação da oferta dos níveis de escolarização, mas, principalmente, pela efetivação de políticas públicas educacionais de formação no campo, e que, de preferência, essa formação seja voltada para a realidade daqueles que moram no campo, pois são os maiores conhecedores da realidade que vivenciam em suas comunidades. Nas alternâncias, o tempo é assim distribuído: período de estudo na escola: ocasião onde os jovens, filhos dos agricultores, aprendem as disciplinas teóricas e aprendem práticas que depois serão usadas na propriedade da família. Nos apontamentos de Gimonet (2005, p. 76), destaca-se: Criar uma escola que não prende adolescentes entre paredes, mas que lhe permita aprender através dos ensinamentos da escola, com certeza, mas também através dos da vida cotidiana, graças a uma alternância de estadias entre a propriedade familiar e o centro escolar. O período da escola em regime de internato concede aos jovens um ensaio de vivência do coletivo na sua comunidade a partir da realidade dos próprios jovens e o período de trabalho na propriedade familiar: momento em que os jovens desenvolvem as atividades nas propriedades de sua família. Neste momento existe o confronto real da teoria com a prática. Esta pedagogia aponta para um novo caminho da relação entre ensino aprendizagem. Caminho este que concretiza uma proposta político pedagógica, escolhendo educador e educando como sujeitos do processo de construção do conhecimento, valorizando o conhecimento da família, comunidade e escola. Esse modelo de educação no campo valoriza o saber empírico da família confrontado com o conhecimento cientifico da escola.
00139 REFLEXÕES PRELIMINARES Os dados preliminares indicam que a população do campo tem fomentado cada vez mais as discussões sobre sua própria condição de homem do campo, o que reforça sua identidade. Essas discussões vão para além da necessidade de políticas afirmativas, mas políticas que apresentem condições necessárias para a emancipação da população no campo. Nessa discussão temos a Pedagogia da Alternância que têm se apresentado como modelo educacional diferenciado, onde busca a condição de permanência do jovem na sua propriedade. Apresenta também um tempo caracterizado como escola/comunidade, que se constitui de um tempo nas escolas de alternância, onde é aprendido a teoria e o tempo comunidade, onde o que ensinado na escola é aplicado na comunidade. Assim, percebe-se que a Pedagogia da Alternância na Casa Familiar Rural de Belterra, tem fortalecido a relação ensino aprendizagem, principalmente, do aluno que vive no campo levando em consideração a realidade vigente. Neste sentido esse modelo aponta novos caminhos para educação que possa atender as singularidades do campo. REFERÊNCIAS: ARROYO, Miguel. Formação de Educadores e Educadoras do Campo. Brasília, DF. 2005. ARAÚJO, S. R. M. Escola para o trabalho escola para a vida: o caso da Escola Família Agrícola de Angical. Bahia. 2005. Dissertação (Mestrado) Universidade do Estado da Bahia. CALDART, Roseli Salete. Sobre Educação do Campo. Brasília: MDA, 2008. GIMONET, Jean-Claude. Nascimento e desenvolvimento de um movimento educativo: as Casas Familiares Rurais de Educação e de Orientação. SEMINÁRIO INTERNACIONAL DA PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA. Salvador, 1999. Anais. União Nacional das Escolas Família Agrícola do Brasil.
00140 ANEXO: Na ilustração abaixo temos o mapa de localização da cidade de Belterra, no estado do Pará. Fig.1 Localização da Cidade de Belterra