filosofia contemporânea carlos joão correia 2014-2015 1ºSemestre
2000 1999
sentimento de si nuclear - consciência de si aqui e agora
imagem corporal
condição necessária sentimento de si sim não reconhecimento de si num espelho competência linguística [interna ou externa] memória [curto prazo; longo prazo] imagem unificada do corpo
pensamento Auguste Rodin. O Pensador. 1902
pensamento Em conclusão, os indivíduos como nós dotados de memória abundante e inteligência, conseguem manipular factos, logicamente, com ou sem a ajuda da linguagem e produzir inferências a partir desses factos. Proponho que a consciência nuclear seja distinta das inferências que podemos estabelecer em relação aos conteúdos dessa mesma consciência. Podemos inferir que os pensamentos da nossa mente são criados na nossa perspectiva individual: são pertença nossa; que podemos agir sobre eles; que o protagonista aparente da relação com o objecto é o nosso organismo. Todavia, na minha opinião, a consciência nuclear começa antes destas inferências: a consciência nuclear constitui ela própria o conhecimento, directo e sem qualquer verniz inferencial, do nosso organismo individual no acto de conhecer. 152
condição necessária sentimento de si sim não reconhecimento de si num espelho competência linguística [interna ou externa] memória [curto prazo; longo prazo] imagem unificada do seu corpo pensamento [raciocínio inferencial]
Elizabeth Siddal (1829-1862) pré-rafaelitas emoção
Emoções Modelo de Paul Ekman [divertido; desprezo; constrangido; excitado; culpado; orgulhoso; satisfeito; relaxado; deleitado; envergonhado]
Maria João Pires
emoções Há alguns anos atrás, a brilhante pianista Maria João Pires contou-nos a seguinte história: quando toca, através do controlo total da sua vontade, consegue reduzir ou permitir a passagem do fluxo de emoção para o seu corpo. A minha mulher, Hannah, e eu pensámos que se tratava penas de uma maravilhosa ideia romântica, mas apesar de a Maria João insistir que conseguia fazêlo, nós permanecíamos incrédulos. Finalmente, resolvemos pôr a ideia à prova científica. Numa das suas visitas ao nosso laboratório, Maria João foi ligada por fios ao complicado equipamento psicofisiológico, enquanto escutava curtas peças musicais seleccionadas por nós em duas situações: uma de emoção natural «autorizada», outra de «emoção» voluntariamente «inibida». Os seus Nocturnos de Chopin tinham acabado de ser publicados e usámos alguns deles e outros tocados por Daniel Barenboim como estímulo.
emoções ii Na situação de «emoção autorizada», o registo de condutância da pele mostrou montes e vales, intimamente ligados ao perfil emocional destas peças. Seguidamente, na situação de «emoção reduzida» aconteceu, de facto, o impensável. A Maria João conseguia literalmente aplanar o seu gráfico de condutância da pele, de acordo com a sua vontade e conseguia até modificar o seu ritmo cardíaco. Sob o ponto de vista comportamental também se transformou. As emoções de fundo estavam reorganizados e alguns dos comportamentos especificamente emotivos eliminados, registando-se uma diminuição do movimento da cabeça e da face. Quando o nosso colega Antoine Bechara, totalmente incrédulo, quis repetir toda a experiência, pensando que os resultados poderiam ser devidos a um artefacto de habituação, a Maria João repetiu tudo. Afinal, podemos encontrar certas excepções, sobretudo entre aqueles cuja vida consiste em criar magia através da emoção. 70-71
O que é um sentimento? O que me leva a não usar indistintamente os termos emoção e sentimento? Uma das razões encontra-se no facto de, apesar Texto de alguns sentimentos estarem relacionados com as emoções, existem muitas que não estão: todas as emoções originam sentimentos, se estiver desperto e atento, mas nem todos os sentimentos provêm de emoções. Chamo sentimento de fundo (background) a estes últimos que não têm origens nas emoções (...). Chamo-lhe sentimento de fundo porque tem origem em estados corporais de fundo e não em estados emocionais. Não é o Verdi da grande emoção nem o Stravinsky da emoção intelectualizada, mas antes um minimalista no tom e no ritmo, o sentimento da própria vida, a sensação de existir. (...) Um sentimento de fundo não é o que sentimos ao extravasarmos de alegria ou desanimarmos com um amor perdido; os dois exemplos correspondem a estados de corpo emocionais. Ao invés, um sentimento de fundo corresponde aos estados de corpo que ocorrem entre emoções. (...) Se tentar imaginar por um instante qual seria a sua situação sem sentimentos de fundo, não terás quaisquer dúvidas quanto à noção que estou a introduzir. Defendo que sem eles o âmago da nossa representação do self seria destruído. António Damásio. O Erro de Descartes. Lisboa: Europa-América. 1995. 157; 164/165
condição necessária sentimento de si sim não reconhecimento de si num espelho competência linguística [interna ou externa] memória [curto prazo; longo prazo] imagem unificada do seu corpo pensamento [raciocínio inferencial] emoções