A QUALIFICAÇÃO DOS TRABALHADORES TÉCNICOS EM RADIOLOGIA: história e questões atuais



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Transcrição:

A QUALIFICAÇÃO DOS TRABALHADORES TÉCNICOS EM RADIOLOGIA: história e questões atuais

Pesquisadores Alexandre Moreno André Feitosa Cristina Morel Isis Coutinho José Luís Ferreira Filho Sergio Oliveira

APRESENTAÇÃO Referencial de estudo fundamenta-se no conceito ampliado de qualificação, compreendido como relação social; Abordar as condições sociais, políticas, econômicas e culturais; O objetivo da pesquisa foi analisar os processos de formação e de trajetória profissional dos Técnicos em Radiologia, bem como os embates sociais e políticos que cercam a profissão.

DEFINIÇÃO DA PROFISSÃO Segundo o MTE, o profissional é responsável: Realizar exames de diagnóstico ou tratamento; processar imagens; planejar atendimento; organizar área de trabalho, equipamentos e acessórios; preparar paciente para exame de diagnóstico ou tratamento e trabalhar com biossegurança (Classificação Brasileira de Ocupação CBO). Técnico em Radiologia e Imaginologia (3241-15) Tecnólogo em Radiologia (3241-20)

DEFINIÇÃO DA PROFISSÃO De acordo com o CNCT, o profissional em radiologia tem a seguinte responsabilidade: Realiza exames radiográficos convencionais. Processa filmes radiológicos, prepara soluções químicas e organiza a sala de processamento. Prepara o paciente e o ambiente para a realização de exames nos serviços de radiologia e diagnóstico por imagem, tais como: mamografia, hemodinâmica, tomografia computadorizada, densitometria óssea, ressonância magnética nuclear e ultrassonografia. Auxilia na realização de procedimentos de medicina nuclear e radioterapia. Acompanha a utilização de meios de contraste radiológicos, observando os princípios de proteção radiológica, avaliando reações adversas e agindo em situações de urgência, sob supervisão profissional pertinente.

HISTÓRICO DA PROFISSÃO A Radiologia inicia-se no Brasil no final do século XIX; Durante a primeira metade do século XX, os cursos de formação eram restritos apenas aos profissionais médicos; O operador de raios X tinha sua formação feita no serviço; Na década de 1950 o SNFMF certificou operadores de raios X e foram fundadas as primeiras associações; Inicialmente a obrigatoriedade era o ensino fundamental e só a partir de 1971 tornou-se obrigatório o ensino médio; Na década de 1980 a profissão se consolida, é sancionada a lei que regulamenta a profissão e em seguida foi criado o CONTER.

PROCESSO DE PESQUISA Elaboração de um questionário aplicado a profissionais Técnicos e Tecnólogos em Radiologia; Evento: IV Congresso de Nacional dos Profissionais das Técnicas Radiológicas (Florianópolis, 2011); Análise inicial - características aquisitivas (nível de formação, tempo de formado, tipo de instituição de formação, nível de especialidade e área de atuação); Também foram analisados aspectos relativos ao trabalho como: visões sobre a profissão, relações profissionais, reconhecimento social e condições de trabalho.

Participantes Total de entrevistados distribuídos por faixa etária 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 até 20 anos de 21 a 30 anos de 31 a 40 anos de 41 a 50 anos acima de 50 anos Faixa etária

Participantes Entrevistados com especialização por formação e região do país 4 3 2 1 Tecnólogo 0 Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-oeste Técnico Técnico & Tecnólogo Regiões do país

Faixa etária Paticipantes da pesquisa distribuídos por faixa etária e grau de formação 61-70 51-60 41-50 31-40 Tecnólogo Incompleto Tecnólogo Completo Técnico Incompleto Técnico Completo 21-30 18-20 0 2 4 6 8 10 12 14 Número de participantes

Números absolutos das escolas formadora dos profissionais participantes Características da formação Técnico Completo Técnico Incompleto Tecnólogo Completo Tecnólogo Incompleto Municipal 1 0 0 0 Estadual 1 1 1 0 Federal 1 0 2 1 Privada 35 3 19 7 Total 38 4 22 8

VISÃO SOBRE A PROFISSÃO Para 58,5% dos entrevistados a formação é insuficiente, porém afirmam que para o exercício da profissão é compatível, e acrescentam descartando a importância das especializações técnicas para o exercício de exames de alta complexidade.

RELAÇÕES PESSOAIS Praticamente todos os participantes da pesquisa consideram que há uma boa relação com outras equipes de saúde e gestores, porém se ressentem da atitude dos que não lhe dão abertura para o diálogo, desconhecendo o processo de trabalho e a dinâmica do serviço.

RECONHECIMENTO SOCIAL DA PROFISSÃO Apenas ¼ dos entrevistados consideram que a instituição não reconhece a importância da profissão, justificado pelo baixo salário e pouca valorização do trabalhador. Já em relação à sociedade, os resultados apurados mostram uma divisão de opiniões, sendo a falta de conhecimento da profissão por parte da população em detrimento a valorização do médico.

CONDIÇÕES DE TRABALHO Falta de manutenção e aferição do equipamentos radiográficos, isto sem falar na idade dos mesmos. Falta de estrutura e as condições precárias dos EAS é outro ponto apontado pelos trabalhadores da Radiologia. Sobre os aspectos de segurança a maioria dos entrevistados alegam a falta de EPIs e até mesmo da monitoração ocupacional, sem contar a falta de treinamento periódico regulamentado em lei.

CONCLUSÃO No período anterior à década de 1980, havia a predominância da formação em serviço, o que confirma a tendência inicial na área da saúde da formação prática em detrimento de uma formação escolar. A exigência da habilitação profissional formalizada só foi consolidada com a regulamentação profissional. No campo de forças da qualificação foi possível identificar conflitos entre a regulamentação educacional e a profissional.

CONCLUSÃO Pelo estudo documental e a análise dos questionários fica evidenciado que a formação dos técnicos em radiologia tem sido historicamente assumida pelo ensino privado, que atualmente amplia as possibilidades em cursos de especialização e vagas de ensino superior tecnológico, sob a justificativa de ofertarem uma qualificação mais abrangente e de melhor qualidade. Ao nos debruçarmos sobre o processo de qualificação destes profissionais, identificamos que há muito ainda a avançar para a construção de uma política de gestão do trabalho e educação que valorize não apenas as atividades técnicas, mas que produza ações que fomentem a capacidade crítica do profissional de saúde.