Variação do Produto Interno Bruto - PIB no ano de 2010 Em 2010, segundo divulgação do IBGE, o PIB brasileiro cresceu 7,5% em relação a 2009. O PIB atingiu R$ 3,675 trilhões (ou, à taxa de câmbio de R$ 1,66, US$ 2,22 trilhões). O PIB representa a soma de toda a riqueza produzida no país durante o ano pela indústria, agropecuária e serviços. A Tabela 1 ilustra o comportamento do PIB total e dos setores que o compõe. Tabela 1 PIB total, PIB setorial e valores absolutos (em R$) INDICADORES Período de Comparação PIB Agropecuária Indústria Serviços 2010/2009 7,5% 6,5% 10,1% 5,4% Valores Correntes ano 2010 (R$) Fonte: IBGE 3,675 180,8 bilhões 841,0 bilhões 2.113,8 bilhões Os resultados publicados para do PIB do ano passado confirmaram as expectativas do mercado e dos órgãos de pesquisas que estudam as Contas Nacionais. A maioria das previsões situava-se entre 7,5% e 8,0%. Outros resultados, igualmente importantes para se projetar cenários futuros, foram divulgados pelo IBGE: O PIB per capita (ou renda per capita), que é a divisão do PIB pela população existente no meio do ano, chegou a R$ 19.016,00, representando um crescimento de 6,5% em relação a 2009. Isto é, cada brasileiro, em média, recebe esta renda por ano. Evidente tratar-se apenas de um dado estatístico, já que em torno dessa média há uma dispersão (um desvio) muito grande decorrente da distribuição irregular da renda que existe no país. Por exemplo, um trabalhador com salário de R$ 1.200,00 mensais terá uma renda bruta anual de R$ 15.960,00, isto é, 84% da renda per capita apresentada. 1
Taxa de Investimento em relação ao PIB: 18,4%. Esse dado é de extrema importância, pois mostra a parcela da riqueza gerada (PIB) no ano que foi destinada à reposição e ampliação do capital (da capacidade produtiva) no país. O investimento presente irá determinar o aumento da produção, emprego e riqueza no futuro. Quanto maior esta taxa, mais o país cresce e gera empregos nos anos seguintes. Para as necessidades do Brasil, considerado um país emergente, que precisa crescer e gerar empregos para um contingente muito grande de pessoas, essa taxa de investimento ainda é baixa. Estima-se que para sustentar um crescimento nos próximos anos de cerca de 6,0% ao ano, a taxa de investimento deve estar entre 23% e 25%. Taxa de poupança: 16,5%. Poupança é a parcela da renda das pessoas e das empresas que não é gasta. Poupança é uma reserva. O comportamento da poupança está intimamente ligado ao investimento e, portanto, ao crescimento do país. A poupança constitui, então, em um fundo que financia os investimentos que serão realizados no país. Assim, a taxa de poupança deve ser suficiente para financiar esses investimentos. A taxa de poupança interna deve ser parecida com a taxa de investimento. Sem essa poupança, as pessoas ou empresas interessadas em fazer investimentos terão que obtê-la no exterior, através de empréstimos/financiamentos externos o que, dependendo do montante a ser tomado, fragiliza as contas externas do país. 2
A Tabela 2 mostra outra forma de medir a quantidade de riqueza gerada no país (o produto). Este quadro mostra o crescimento do produto pelo lado das despesas, isto é, o quanto cada grupo gastou (despendeu) durante o ano. É claro, se gastou é porque possuía renda (ou crédito) para fazê-lo. Assim, pode se concluir que o nível de gastos de cada um desses grupos equivale à renda que eles obtiveram durante o ano. Tabela 2 Investimento (FBCF*), Consumo das Famílias e Consumo do Governo INDICADORES Período de Comparação FBCF* Consumo das Famílias Consumo do Governo 2010/2009 21,8% 7,0% 3,3% Valores Correntes ano 2010 (R$) 677,9 bilhões 2.226,1 bilhões 778,0 bilhões Fonte: IBGE (*) FBCF: Formação Bruta de Capital Fixo Investimento em ativo fixo que aumenta a capacidade produtiva da economia Entre 2009 e 2010, os investimentos (FBCF) cresceram 21,8%, o que evidencia uma confiança das empresas quanto ao cenário econômico futuro. Esse aumento da capacidade produtiva assegura a continuidade do crescimento. O consumo das famílias foi 7,0% superior ao ano anterior. Esse crescimento também é positivo, pois revela que 3
mais pessoas estão consumindo e, supõe-se que esteja havendo melhoria no padrão de vida da população. É bom lembrar que o consumo deve-se não só ao aumento da renda, mas, principalmente, devido a maior disponibilidade de crédito. Na última coluna aparecem os gastos do governo, que incluem investimentos públicos e custeio. O percentual de 3,3% de crescimento refere-se aos dois tipos de gasto. O gráfico a seguir registra o comportamento do PIB e do PIB per capita entre o ano 2000 e 2010. É preciso alertar que o crescimento do PIB ocorreu sobre uma fraca base de comparação, 2009, ano em que não houve variação do produto. Mesmo assim, o crescimento em 2010 é o mais elevado desde 1986, quando cresceu, também, 7,5%. Entre 2001 e 2010, a média de crescimento foi de 3,6%, acima da média de 2,6% registrada na década anterior (1991/2000). Já o PIB per capita aumentou, em média, 2,4% entre 2001/10, contra aumento de 1,1% registrado na década anterior. O aumento do PIB per capita é positivo na medida em que aponta para um crescimento de renda relativamente maior que o aumento da população. No entanto, é preciso atentar para a forma como este aumento de renda está sendo apropriado, haja vista que o Brasil tem como característica a má distribuição das riquezas geradas, há no país uma tendência estrutural na direção da concentração da renda. Assim, aumento do PIB per capita não quer dizer que a maioria da população esteja sendo 4
beneficiada, é necessário saber como a renda se distribui entre lucros, salários e tributos. Conclusão O crescimento do PIB em 2010 apresentou número expressivo, apesar de a base de comparação (2009) ter sido muito baixa. O que se deve mirar é o futuro. Crescimento em torno de 5,0%, sem interrupções, nos próximos anos, irá determinar em que patamar economia brasileira deverá se situar: se continuamos pobres ou se transpomos essa barreira. É importante considerar que crescimento não é, exatamente, sinônimo de desenvolvimento. O modelo de crescimento experimentado no Brasil ao longo de sua história foi injusto com grande parcela da população, ou seja, muitos contribuíram, mas poucos se beneficiaram. O Brasil precisa crescer, e os dados frios do PIB apontam para este fato, mas só isso não basta, o crescimento precisa vir acompanhado de efetiva melhoria da qualidade de vida da população, o que não significa somente a possibilidade de adquirir, no crediário, bens de consumo duráveis. Educação, saúde, habitação, saneamento básico etc. são serviços indispensáveis e que devem estar disponíveis à toda população, não somente em quantidade, em qualidade também. Neste sentido, o Movimento Sindical joga um papel importante, pois ele é um canal de representação e interlocução privilegiado entre o trabalhador e as elites governantes e econômicas. O Movimento Sindical deve ter claro que o crescimento econômico precisa ser apropriado pela maioria daqueles que contribuíram para que ele ocorresse e que outros números, além do percentual de crescimento do PIB, precisam ser observados. Dieese/Força Sindical 10.02.2011 5