26ª Vara - Juizado Especial Federal

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Transcrição:

PROCESSO Nº 0050882-92.2014.4.01.3400 AUTOR: MARIA TEREZINHA PERINE GOMES DE ARAUJO RÉU: UNIAO FEDERAL SENTENÇA TIPO: SENTENÇA Trata-se de ação ajuizada em face da União Federal objetivando a condenação da ré a realizar a transformação do atual emprego público da parte autora em cargo público e o devido enquadramento no regime jurídico único, com tratamento isonômico aos servidores efetivos vinculados ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, inclusive repercussões no Plano de Cargos e Salários, remunerações, tempo de serviço, aposentadoria e gratificações, considerando-se todas as promoções referentes ao período em que esteve afastado de suas atividades, parcelas vencidas e vincendas, e, ainda, assegurando-lhe todos os direitos decorrentes de tal regime, em decorrência da anistia concedida pela Lei 8.878/94. Em contestação, a União suscitou em preliminar a incompetência do Juizado Especial para o julgamento do feito, e no mérito defendeu a prescrição quinquenal e a improcedência dos pedidos. O presente processo encontra-se na situação de excepcionalidade, nos termos do 2º do art. 12, II, do NCPC. Brevemente relatado. Decido. A questão relativa à competência dos Juizados Especiais Federais foi disciplinada pela Lei federal nº 10.259/2001, com a aplicação supletiva da Lei federal nº 9.099/1995, conquanto não houvesse conflito entre os dois diplomas legais (artigo 1º da primeira lei mencionada).

Com efeito, o artigo 3º da Lei federal nº 10.259/2001 relacionou um feixe de matérias que não se incluem na competência dos Juizados Especiais Federais. Dentre elas, importante destacar a prevista no inciso III deste dispositivo legal, atinente à anulação ou cancelamento e ato administrativo federal, salvo o de natureza previdenciária e o de lançamento fiscal. Destarte, a contrario sensu, somente as causas que versem sobre anulação e cancelamento de ato administrativo de natureza previdenciária e de lançamento fiscal podem ser conhecidas e julgadas no âmbito dos Juizados Especiais Federais. Nada obstante o acima declinado, o dispositivo legal em questão merece ser devidamente interpretado. Com efeito, a exceção se refere às hipóteses fáticas, configuradas em demanda, nas quais o objeto da ação venha consistir em anulação ou cancelamento de ato administrativo. Não se enquadra na hipótese excepcionadora a demanda judicial em que o pedido seja de reconhecimento de um direito, o qual para que seja reconhecido requer a desconstituição de ato administrativo indeferitório. Para dar maior sustentação à tese esposada, cumpre asseverar que à natureza da demanda segue a natureza do provimento. De forma que para o atendimento de uma demanda posta pode se fazer necessário um provimento jurisdicional com natureza múltipla. É sabido que o provimento de natureza condenatória contém implicitamente um provimento de natureza declaratória. Além disso, em certos casos pode ocorrer que, além dessas duas naturezas citadas, o mesmo provimento, para atender a demanda formulada, tenha que conter, ainda, um provimento de natureza constitutiva (positiva ou negativa). Neste caso, o provimento expresso é de natureza condenatória, ficando as demais (declaratória e constitutiva) 2B592DFB61E0FD7EF8DDA1AC68033547p. 2

implícitas no mesmo provimento. Tudo isso em razão da natureza da demanda apresentada. No caso em apreço, o provimento expresso é de natureza condenatória, já que o pedido visa ao pagamento de diferenças salariais. Fica implícito o provimento declaratório, consistente no reconhecimento do direito, bem como o provimento constitutivo negativo, o qual importa na desconstituição do ato administrativo indeferitório. Situações como a ora tratada ocorrem sempre que para a emissão do provimento que venha a dar resposta ao pedido formulado se faça necessário, antes desse ponto e como meio para chegar até ele, que algum ato seja constituído ou desconstituído. Na hipótese em tela, para responder ao pedido formulado pelo autor (pagamento de diferenças salariais) é necessário, como meio para atingir o fim, que o ato administrativo indeferitório seja antes desconstituído. Isso é uma questão antes de lógica do que de direito. Com essas considerações, ressalta que a definição do juízo competente não pode se dar em razão da necessidade de desconstituição do ato administrativo indeferitório, já que este provimento implícito é meio lógico e natural para a emissão do provimento que venha efetivamente a responder ao pedido formulado. Assim, a competência deve ser fixada tendo em vista o provimento expresso (pagamento de diferenças salariais), que aqui é condenatório, o qual possui essa natureza justamente em função da natureza do pedido veiculado pelo autor. Nessa conformidade, pelos argumentos acima expendidos, entendo que a competência para o processo e julgamento da demanda sob tablado é do Juizado Especial Federal. Tendo em vista que a prescrição pode ser reconhecida de ofício pelo juiz, regra geral, no caso de prestações periódicas discutidas em ação judicial, está estabelecida no art. 1º. do Decreto-Lei n.º 20.910, 2B592DFB61E0FD7EF8DDA1AC68033547p. 3

de 06.01.32, interpretado pela Súmula n.º 85 do Superior Tribunal de Justiça, que nas relações jurídicas de trato sucessivo em que a Fazenda Pública figure como devedora, quando não tiver sido negado o próprio direito reclamado, a prescrição atinge apenas as prestações vencidas antes do qüinqüênio anterior à propositura da ação. Sendo assim, a despeito de intacto a matéria de fundo, reconheço a prescrição somente quanto às parcelas vencidas e não pagas anteriores ao qüinqüênio que antecede imediatamente a propositura da ação. Passo ao exame do mérito propriamente dito. A parte autora afirma que foi admitida em setembro de 1973 como empregada do Banco Nacional de Crédito Cooperativo, tendo sido dispensada irregularmente em 01 de junho de 1990, sendo posteriormente beneficiado pela Lei nº 8.878/94 (Lei de Anistia), com o seu conseqüente retorno para os quadros da Administração Pública Federal em02/01/2009. Relata que foi readmitida nos quadros do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, como celetista. Alega a parte autora que se não tivesse sido injustamente dispensada, teria sido acolhida pela Lei nº 8.112/90, e o seu emprego público teria sido transformado em cargo público, com seu conseqüente enquadramento no Plano de Classificação de Cargos da União, eis que em 11 de dezembro de 1990 foi instituído o Regime Jurídico Único para os servidores públicos civis da União, mediante a Lei nº 8.112/90. Declara, ainda, que, ao ser readmitida, qualquer tratamento diferenciado entre ela e antigos servidores, com as mesmas atribuições, lotados no mesmo órgão público, que não chegaram a ser dispensados, permanecendo no emprego, implica violação ao princípio constitucional da igualdade e da isonomia. Como prejudicial de mérito, analiso a prescrição. 2B592DFB61E0FD7EF8DDA1AC68033547p. 4

Regra geral, no caso de prestações periódicas discutidas em ação judicial, está estabelecida no art. 1º. do Decreto-Lei n.º 20.910, de 06.01.32, interpretado pela Súmula n.º 85 do Superior Tribunal de Justiça, que nas relações jurídicas de trato sucessivo em que a Fazenda Pública figure como devedora, quando não tiver sido negado o próprio direito reclamado, a prescrição atinge apenas as prestações vencidas antes do qüinqüênio anterior à propositura da ação. Sendo assim, a despeito de intacto a matéria de fundo, acolho a prescrição somente quanto às parcelas vencidas e não pagas anteriores ao qüinqüênio que antecede imediatamente a propositura da ação. MÉRITO O art. 19 dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias ADCT, estabelece que os servidores públicos civis da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, da administração direta, autárquica e das fundações públicas, em exercício na data da promulgação da Constituição, há pelo menos cinco anos continuados, e que não tenham sido admitidos na forma regulada no art. 37, da Constituição, são considerados estáveis no serviço público. Por sua vez, o art. 243 da Lei nº 8.112/90, de 11 de dezembro de 1990, que dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais, determina que ficam submetidos ao regime jurídico instituído por esta Lei, na qualidade de servidores públicos, os servidores dos Poderes da União, dos ex-territórios, das autarquias, inclusive as em regime especial, e das fundações públicas, regidos pela Lei nº 1.711, de 28 de outubro de 1952 - Estatuto dos Funcionários Públicos Civis da União, ou pela Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1 o de maio de 1943, exceto os contratados por prazo determinado, cujos contratos não poderão ser prorrogados após o vencimento do prazo de prorrogação. 2B592DFB61E0FD7EF8DDA1AC68033547p. 5

Assim, tendo em vista que a parte autora se encontrava em exercício há mais de 5 anos na data da promulgação da Constituição Federal de 1988 (desde setembro de 1975, cf. fl. 10 da documentação inicial), foi alcançada pela estabilidade no serviço público, conforme determina o ADCT, pelo que sua dispensa em 1990 foi ilegal. Nessa linha, se não tivesse sido dispensada, teria o seu emprego público transformado em cargo. Portanto, em face de seu retorno às atividades, em janeiro de 2009, deveria seu emprego público ter sido transformado em cargo público com a efetivação a que fazia jus já antes da data de sua dispensa, eis que concedida desde a promulgação da Constituição Federal de 1988. É o que dispõe o 1º do citado art. 243 da Lei nº 8.112/90: 1 o Os empregos ocupados pelos servidores incluídos no regime instituído por esta Lei ficam transformados em cargos, na data de sua publicação. Neste entendimento, a parte autora tanto tem direito ao reconhecimento de sua efetivação, nos termos da Constituição Federal, quanto ao pedido de transformação, em face do disposto na Lei nº 8.112/90, bem como faz jus ao seu enquadramento funcional no Plano de Classificação de Cargos do Poder Executivo, eis que, se não tivesse sido dispensada, ocuparia hoje cargo público regido por esta lei. Do mesmo modo, a Lei nº 8.112/90 assegurou em seu art. 100 a contagem do tempo de serviço prestado sob a égide do antigo regime. Art. 100. É contado para todos os efeitos o tempo de serviço público federal, inclusive o prestado às Forças Armadas. Ainda, o art. 7º da Lei nº 8.162/91 assegurou a contagem do tempo anterior de serviço público federal aos contratos individuais de trabalho dos servidores que passaram ao regime jurídico instituído pela Lei nº 8.112/90, inclusive para fins de anuênio e de licençaprêmio. 2B592DFB61E0FD7EF8DDA1AC68033547p. 6

Vale ressaltar que, apesar dos incisos relativos ao anuênio e à licença-prêmio terem sido suspensos com a edição da Resolução nº 35/99 do Senado Federal, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 209.899-0/RN, declarou incidentalmente a inconstitucionalidade das exceções contidas nos citados incisos I e III do art. 7º da Lei nº 8.162/91, reconhecendo que o servidor celetista, alçado à condição de estatutário por força da Lei 8.112/90, tem direito adquirido à contagem do tempo pretérito para todos os efeitos legais, inclusive para a percepção de anuênio, não tendo, dessa forma, base jurídica o veto ao 4º do art. 243 da Lei nº 8.112/90, vez que o artigo 100 do texto legal remanescente dispõe que é contado para todos os efeitos o tempo de serviço público federal. Contudo, quanto ao enquadramento funcional da parte autora, este só pode ser deferido no patamar inicial da carreira, assegurada as promoções que teria direito o autor desde o seu retorno à ativa, eis que a promoção exige a atividade do servidor. Assim, não pode o Judiciário substituir, ou suprimir, os critérios objetivos e subjetivos de aferição dos candidatos a promoção ou progressão funcional. Insta salientar, ademais, que a anistia do art. 8º do ADCT da CF/88 não assegurou indiscriminadamente todas as promoções que, em tese, seriam possíveis, mas apenas aquelas a que teria direito o servidor, se houvesse permanecido em atividade. Dessa forma, no que concerne à contagem do tempo de serviço no período de desligamento, para os efeitos pretendidos pelos autores, não se mostra possível o atendimento do pleito. Com efeito, a contagem de tempo de serviço não é possível sem que haja a sua efetiva prestação. Neste sentido é o disposto no art. 40, 10, da Constituição Federal. Verbis: 10 - A lei não poderá estabelecer qualquer forma de contagem de tempo de contribuição fictício. 2B592DFB61E0FD7EF8DDA1AC68033547p. 7

Demais disso, a Lei 8.878/94, em seu art. 6º, expressamente veda sejam conferidos efeitos financeiros retroativos nos casos de concessão de anistia. Veja-se o teor da norma: Art. 6 A anistia a que se refere esta lei só gerará efeitos financeiros a partir do efetivo retorno à atividade, vedada a remuneração de qualquer espécie em caráter retroativo. Além do mais, consoante estabelece a Súmula 339 do STF, não compete ao Judiciário aumentar vencimento de servidor público. A anistia a que se refere esta lei só gerará efeitos financeiros a partir do efetivo retorno à atividade, vedada a remuneração de qualquer espécie em caráter retroativo" (art. 6º da Lei 8.878/94). (TRF 1 - AC 0035716-06.2003.4.01.3400/DF - e-djf1 p.586 de 10/02/2012). DISPOSITIVO Ante o exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos formulados na inicial, para condenar a ré a realizar a transformação do emprego público da parte autora em cargo público, bem como a promover o enquadramento funcional no Plano de Cargos e Salários correspondentes, com os reflexos relativos a promoções, tempo de serviço, progressão funcional, aposentadoria, férias e demais direitos desde 07/05/2009, data de seu retorno ao servido público. Condeno, ainda, a ré a averbar o tempo de serviço da autora de 17/09/1973 a 01/06/1990, para os efeitos de anuênio, licença-prêmio e aposentadoria. Extingo o processo com resolução de mérito, nos termos previstos no art. 487, I, do Código de Processo Civil. O montante atrasado, respeitada a prescrição quinquenal, deverá ser corrigidos da seguinte forma (vide RI Nº 0057444-93.2009.4.01.3400, RELATORA: Juíza ROSIMAYRE GONÇALVES DE CARVALHO, data de julgamento: 11/12/2015, Terceira Turma Recursal do Distrito Federal): 2B592DFB61E0FD7EF8DDA1AC68033547p. 8

1) Juros moratórios: os juros de mora são devidos desde a data da citação válida na forma do artigo 1º-F da Lei nº 9.494/1997, o qual fixou para os servidores públicos o percentual de 0,5% ao mês. Registre-se que esse dispositivo, anteriormente às alterações da Lei nº 11.960/09, foi objeto de declaração de compatibilidade com a Constituição pelo STF, no Recurso Extraordinário nº 453.740-1/RJ. A partir do início da vigência do artigo 1º F, com a redação dada pela Lei nº 11.960/2009, incidirão os juros aplicados à caderneta de poupança até junho de 2012 e, a partir daí, observando as disposições da Lei nº 12.703/12 para as cadernetas de poupança. 2) Correção monetária: No que se refere à correção monetária, aplicável o Manual de Cálculos da Justiça Federal até 29/06/2009. A partir de 30/06/2009, deve ser aplicado o índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança TR (nos termos do artigo 1º-F da Lei nº 9494/97, com redação dada pelo artigo 5º da Lei nº 11.960/2009), sem prejuízo da aplicação de outro índice que venha a ser determinado pelo STF quando do julgamento do RE 870947, onde foi reconhecida a repercussão geral para tratar especificamente sobre a matéria. Sem custas ou honorários advocatícios neste grau de jurisdição, a teor do disposto no art. 55 da Lei n 9.099/1995 c/c art. 1 da Lei n 10.259/2001. Concedo a gratuidade judiciária requerida. 2B592DFB61E0FD7EF8DDA1AC68033547p. 9

Registre-se. Publique-se. Intimem-se. Brasília-DF, 27 de junho de 2016 MÁRCIO BARBOSA MAIA Juiz Federal da 26ª Vara/SJDF 2B592DFB61E0FD7EF8DDA1AC68033547p. 10