O principal objectivo da Reforma da PAC é o de promover uma agricultura capaz de desempenhar as seguintes funções:

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Transcrição:

A Reforma da PAC de Junho de 2003 e o Futuro da Agricultura em Portugal O principal objectivo da Reforma da PAC é o de promover uma agricultura capaz de desempenhar as seguintes funções: produzir bens alimentares e matérias primas agrícolas de boa qualidade e em condições sanitárias adequadas, baseando-se numa utilização economicamente eficiente dos recursos disponíveis e em processos produtivos ecologicamente sustentáveis e respeitadores do bem estar animal; valorizar de forma sustentada os recursos naturais, paisagísticos e patrimoniais das zonas aonde as suas explorações se localizam; contribuir para o reforço e diversificação do tecido económico e social das zonas rurais. A Reforma da PAC de Junho de 2003 integra: Medidas Sectoriais Medidas Horizontais As Medidas Sectoriais adoptadas constam, no essencial, de: Redução para metade das majorações mensais do Preço de Intervenção dos cereais; Redução, em três anos, do valor do pagamento suplementar específico do trigo rijo (de 344.5 euro/ha para 285 euro/ha) e introdução de um prémio de qualidade de 40euro/ha;

Redução para metade do preço de intervenção do arroz, com introdução de ajudas compensatórias parcialmente desligadas; Aumento do número de prémios às vacas aleitantes, em Portugal, de cerca de 90 000; Redução, em três anos, do preço de intervenção ao leite em pó de 15% e, em quatro anos, do preço de intervenção da manteiga de 25%, com introdução das ajudas compensatórias desligadas; Limite máximo de 30 000 toneladas, a partir de 2008, para o regime de intervenção da manteiga. As Medidas Horizontais aprovadas dizem respeito: Ao desligamento da produção de parte das ajudas directas aos produtores em vigor; À modulação do valor anual da totalidade das ajudas directas aos produtores; Às condicionalidades a que irá estar sujeito o pagamento anual da totalidade das ajudas directas aos produtores; Ao reforço e diversificação das medidas de desenvolvimento rural; À disciplina financeira imposta, a partir de 2007, ao valor anual orçamentado para as despesas de mercado e ajudas directas aos produtores. O Desligamento da produção de parte das ajudas directas ao produtor actualmente em vigor consiste: Na substituição das ajudas baseadas nas áreas cultivadas e no número de animais elegíveis por ajudas (ou pagamentos) únicos(as) às explorações agrícolas; No estabelecimento do valor anual da ajuda única a uma dada exploração agrícola com base no valor médio do montante

recebido, pelas ajudas a substituir, durante o período de referência (triénio 2000-01-02); Na conversão de cada ajuda única em direitos históricos adquiridos, cujo número será idêntico ao número de hectares da correspondente área agrícola elegível (áreas das culturas arvenses e culturas forrageiras) e cujo valor individual resultará da divisão entre o montante atribuído com base no período de referência e a área agrícola elegível; Na possibilidade dos referidos direitos serem transaccionáveis, sem ou com terra, dependendo, no entanto, o respectivo pagamento anual da existência de área agrícola elegível equivalente; Na possibilidade de os produtores poderem vir a optar por culturas alternativas diferentes das actualmente praticadas na correspondente área elegível, possibilidade esta que está, no entanto, sujeita a determinadas restrições (culturas permanentes e algumas culturas temporárias). A Modulação do valor anual da totalidade das ajudas directas aos produtores : Corresponde a 3% em 2004, 4% em 2005 e 5% em 2006 e seguintes até 2013, do valor total das ajudas directas aos produtores (desligados e não desligados); Será aplicada apenas aos produtores agrícolas com um valor anual de ajudas directas superior a 5000 euros; Irá gerar uma disponibilidade de fundos orçamentais que, na sua maior parte, irão ser transferidos para apoiar as medidas de política de desenvolvimento rural; Contribuirá para uma mais equitativa afectação de fundos entre as diferentes regiões da UE, uma vez que 20% dos fundos assim gerados no contexto de cada EM será redistribuído pelas

diferentes regiões da UE de acordo com critérios sócioeconómicos previamente definidos e visando uma discriminação positiva das regiões mais desfavorecidas. O pagamento anual da totalidade das ajudas directas aos produtores irá estar sujeito aos seguintes tipos de condicionalidades: Todas as actividades/sistemas de produção agrícola praticadas nas áreas elegíveis deverão respeitar um conjunto de condições bem definidas no contexto da conservação do ambiente, da segurança alimentar e do bem estar animal; Toda a superfície agrícola beneficiada pelas ajudas directas aos produtores deverá, obrigatoriamente, ser mantida em boas condições agronómicas e ambientais. O reforço e diversificação das medidas de política de desenvolvimento rural irá resultar: De transferências de fundos do 1º e 2º Pilar da PAC em consequência, quer da modulação, quer, em parte, do processo de desligamento; Da introdução de novas medidas no âmbito da política de desenvolvimento rural relacionadas com a qualidade de bens alimentares, o bem estar animal e a criação de condições favoráveis à aplicação das regras de condicionalidade. A reforma da PAC de Junho de 2003 vai ter um impacto significativo sobre a agricultura portuguesa, na medida em que a sua aplicação vai: Comportar riscos de abandono da produção e do território;

Criar novas oportunidades de reconversão dos sistemas de produção agrícola actualmente dominantes. Os riscos de abandono da produção e território: Tenderão a verificar-se sempre que as actividades/sistemas de produção praticados apresentem custos unitários superiores aos correspondentes preços no produtor e as respectivas opções alternativas não oferecem relações custo/preço mais favoráveis; O impacto do abandono do território irá ser, face aos sistemas de produção actualmente dominantes, mais significativo do que os do abandono da produção; As novas orientações aprovadas no contexto da reforma da PAC de 2003 (possibilidade de desligamentos parciais, aumento do número de prémios aos bovinos, regras de condicionalidade) e as novas medidas agro-ambientais constituem um contributo muito significativo para a minimização dos riscos. As novas oportunidades de reconversão produtiva, tecnológica e estrutural: Tenderão a promover a reconversão dos sistemas de produção agro-comercial de tipo subsido-dependente actualmente dominantes, em : o Sistemas de produção agro-ambiental e agro-rural do tipo socialmente sustentável; o Sistemas de produção agro-comercial do tipo economicamente eficiente.

As medidas que visam a minimização dos riscos do abandono (com especial relevo para as regras de condicionalidade que venham a ser impostas) irão contribuir, simultaneamente, para promover o primeiro tipo de reconversão em causa; Um adequado aproveitamento das oportunidades que venham a ser criadas no contexto do segundo tipo de reconversão apontado, irá ser muito mais exigente do ponto de vista quer empresarial quer do respectivo enquadramento político-institucional. A reconversão dos sistemas de produção agro-comercial de tipo subsidiodependente actualmente dominantes em sistemas de produção agrocomercial de tipo economicamente eficiente, irá implicar: A procura de novas opções produtivas, tecnológicas e estruturais, com rendabilidade assegurada no futuro contexto de concorrência e preços; Uma regulamentação do mercado dos direitos resultantes do processo de desligamento e das respectivas transferências entre áreas elegíveis, que facilite a sua mobilidade futura; A existência de apoios ao investimento privado e público nas componentes estratégicas das fileiras aonde as actividades/sistemas de produção a promover se encontrem integradas; A promoção dos mercados e apoio à comercialização dos produtos agrícolas prioritários; O enquadramento institucional adequado nas áreas de investigação, experimentação e formação profissional. Principais consequências para a Agricultura Portuguesa da adopção dos Cenários Alternativos da Reforma da PAC de 2003 Uma quebra significativa nas áreas das culturas arvenses de sequeiro e sua substituição quer por prados e pastagens

temporários e permanentes, na sua maior parte espontâneos, quer por áreas florestais; Um aumento sustentado do efectivo bovino para produção de carne, acompanhado por uma quebra significativa no efectivo ovino para produção de carne e lã; Uma redução do efectivo leiteiro acompanhada, no entanto, por crescimentos de produtividade que assegurarão a total utilização da quota leiteira disponível; Uma muito provável extensificação tecnológica das culturas do milho e do arroz com uma tendencial redução das suas áreas actuais e uma gradual substituição da cultura do milho, por actividades de produção agrícola de regadio mais rentáveis se as transferências dos direitos relacionados com as ajudas únicas às explorações forem flexibilizadas; Uma evolução favorável no âmbito dos produtos hortícolas e hortofrutícolas ao ar livre, que poderá vir a assumir uma expressão muito significativa no contexto da área de regadio em Portugal; Um aumento das áreas de novas plantações de fruteiras, vinha e olival tecnologicamente evoluídos, aumento de áreas este que, no entanto, será acompanhado por uma redução significativa das áreas ocupadas por culturas permanentes tradicionais, sobretudo no caso da vinha, que estão a atingir o final da sua vida económica; Um aumento gradual mas sustentado dos sistemas de ocupação do solo e das técnicas agrícolas ecologicamente sustentáveis, com uma sua crescente interligação com o aparecimento de um conjunto diversificado de actividades não agrícolas em meio rural.

Com a reforma da PAC, as perspectivas de reconversão produtiva e tecnológica anteriormente apontadas tenderão, não só, a ser mais acentuadas que no passado recente, como ainda se assistirá, simultaneamente, a um processo de ajustamento estrutural muito mais acelerado do que aquele que se verificou na última década. Tipologia dos sistemas de produção agrícola e sua relação com os cenários de evolução da PAC Economicamente eficientes SPA Competitivos Subsidio- - dependentes Economicamente sustentáveis SPA não competitivos Sistemas de produção agro-comercial (SPAC) Sistemas de produção agro-ambiental (SPAA) B e C B A, B e C A A Sistemas de produção agro-rural (SPAR) B e C Nota: as letras em "bold" representam os cenários dominantes A - Cenário A - "Status Quo" B - Cenário B - Refoema da PAC de 2003 C - Cenário C - Desligamento completo