GT 26 - Educação do Campo

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Transcrição:

1 GT 26 - Educação do Campo A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA / EDUCAÇÃO DO CAMPO: CONTRIBUIÇÕES PARA AS DISCUSSÕES SOBRE PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO PARAS AS ESCOLAS DO CAMPO EM ABAETETUBA PA Antenor Carlos Pantoja Trindade 1 APRESENTAÇÃO Este trabalho de pesquisa nasceu a partir de levantamentos no trabalho de campo na Secretaria Municipal de Educação de Abaetetuba com a criação da Coordenação de Educação do campo em meados de 2010 da qual iniciou uma série de questionamentos preliminares das realidades das escolas do campo nos anos de 2011 e 2012. A partir do diagnóstico foram apontadas entre outros problemas a falta do Projeto Político Pedagógico das escolas das ilhas, estradas e ramais do Município pesquisado. Neste contexto a pesquisa inicialmente buscou investigar os desafios e possibilidades de construção de projetos políticos pedagógicos tendo à frente como proposta a participação de todos os envolvidos nesse processo. A trajetória desta caminhada necessariamente buscou através de parcerias com os movimentos sociais, conhecer essas realidades, de outro modo também de referenciais substanciais para confirmar tal premissa. A participação e envolvimento do grupo de estudo pesquisa, extensão Sociedade Estado e educação: ênfase nos governos municipais e educação do Campo. GEEPESED/ UFPA, demarcou o divisor de águas para o fortalecimento desses trabalhos ao elaborar um Projeto de pesquisa Travessias, identidades e saberes das águas cartografia de saberes de populações ribeirinhas articulado com as necessidades reais enfrentados pelos educadores da 1 Mestrando em Educação pelo Instituto de Ciências da Educação ICED/UFPA/2014 participante dos grupos de pesquisa JEPJURSE, GEEPESSED e inicia atividade de pesquisa no Observatório Superior de Educação do Campo ICED/UFPA.

2 Secretaria Municipal de Educação. A pesquisa se configurou como aporte inclusive para diversos movimentos e encontros onde o debate esteve envolvido na questão do Projeto Político Pedagógico, nas etapas de elaboração e sobretudo da mobilização necessária para essa construção, da orientação quanto a bibliografias que pudessem contemplar essas singularidades de populações do campo: ilhas, estradas e ramais num movimento interdisciplinar,dialógico e complexo entre realidades distintas. Neste contexto abordamos sobre a importância da pesquisa em educação do Campo para o fortalecimento dos sujeitos e como possibilidade de transformação por uma educação do campo construída no processo rizomático de saberes tendo por horizonte as experiências e vivências de gestores, professores, alunos, alunas, pais e comunidade e de outro modo a participação e envolvimento da Universidade, dos educadores, dos grupos de pesquisas trabalhando juntos nessa discussão. EDUCAÇÃO DO CAMPO: BREVE ABORDAGEM Educação do Campo surge das experiências de luta pelo direito à educação em detrimento ao modelo assistencialista conhecida como educação rural e por um projeto político pedagógico vinculado aos interesses da classe trabalhadora do campo, na diversidade dos povos indígenas, dos povos da floresta, comunidades tradicionais e camponesas, quilombolas, agricultores familiares, assentados, acampados à espera de assentamento, extrativistas, pescadores artesanais, ribeirinhos e trabalhadores assalariados rurais entre outros que vivem ou tem relação com esses espaços. Segundo Caldart (2002) [...] a Educação do Campo se afirma como um basta aos pacotes e a tentativa de fazer das pessoas que vivem no campo instrumentos de implementação de modelos que as ignoram ou escravizam. Basta também desta visão estreita de educação como preparação de mão-de-obra e a serviço do mercado, por outro lado apontamos a necessidade da construção de um Projeto curricular pensado e articulado pelos sujeitos do Campo onde as necessidades e os objetivos educacionais sejam dialogados pelos diversos atores sociais envolvidos direta e indiretamente. As conversas e entrevistas com os movimentos sociais do campo e, sobretudo com os gestores municipais de Abaetetuba apontam para o pensamento na perspectiva ao qual CALDART (2002), ARROYO (2006) e FERNANDES (2008) defendem na polifonia de vozes desses movimentos, ao enfatizarem, o interesse dessas populações pela participação na construção do projeto educativo de escola do e para o Campo ; a interlocução neste processo de aprender a pensar sobre a educação que

3 interessa a essas populações enquanto seres humanos, enquanto sujeitos de diferentes culturas, enquanto classe trabalhadora do campo, enquanto sujeitos das transformações necessárias em nosso país, enquanto cidadãos do mundo (CALDART: 2002 p.151). Assim como percebem essas oportunidades para expor os desafios que enfrentam no espaço escolar, na relação escola e sede do município, na relação tempo e maré entre outros, sobretudo quando se trata de educação na Amazônia paraense. Nessa trajetória cabe salientar as ações por uma educação do Campo a nível regional e local. Na Amazônia Paraense o Fórum Paraense de Educação do Campo tem sido protagonista de mobilizações para o debate sobre as temáticas envolvendo as discussões sobre o Campo, os Fóruns regionais também cumprem iniciativas de debate e mobilizações por uma educação que atenda as demandas locais, neste mesmo trajeto o Observatório Superior de Educação do Campo/UFPA articula pesquisas voltadas para contribuir com as discussões no campo acadêmico e na interlocução com as realidades regionais e locais. CONTEXTUALIZANDO O TERRITÓRIO DA PESQUISA O Município de Abaetetuba localiza-se na Região Amazônica, norte do Brasil, nordeste do Estado do Pará, na micro região de Cametá, no Baixo Tocantins. Distante, em linha reta, 60 km de Belém, capital do Estado. Com uma área territorial de l.610,603 km2, e uma população de 141.100 habitantes, sendo na área urbana 82.998 e na área do campo ( ilhas, estradas e ramais) 58.102 habitantes, segundo o censo de 2010 do IBGE.). O Município está dividido em zonaurbana e zona rural (Campo). Na zona rural temos dois espaços distintos formados pelas estradas, ilhas e ramais. Na região das ilhas, existem 72 localidades com 84 escolas, /2011, onde estão estabelecidos os ribeirinhos, às margens dos inúmeros rios, igarapés e furos, as casas ainda podem ser encontradas feitas de madeira ou de alvenaria, cobertas com telhas de barro. Os meios de transportes utilizados são canoas movidas a remo, ou motorizadas como as chamadas rabetas que trafegam através dos inúmeros rios, furos e igarapés, com destino à sede do município e para outras localidades. A população das Estradas e Ramais contam com 50 escolas/2013 normalmente vivem da agricultura, da pecuária, e da produção artesanal da farinha de mandioca e da criação de pequenos animais como aves, porcos e para escoar seus produtos fazem uso de carroças, dos ônibus, dos paus de arara, de carros particulares, de motos, da bicicleta, através dos diversos ramais, os quais permitem o intercâmbio com a sede do município e ilhas.

4 Até o início da década de 1980, a economia do município se baseava na produção de cachaça nos vários engenhos, na fabricação artesanal de embarcações dos mais variados tipos e portes, no comércio de regatão, na agricultura e no extrativismo vegetal (como do fruto do açaí, do palmito, do miriti) e de minerais não metálicos, principalmente o barro na fabricação de produtos de cerâmicos em geral (como telhas, tijolos, tachos, alguidás, potes, etc). Baseava-se ainda, na caça e na pesca, bastante farta nesse período, uma parte da produção era destinada para o abastecimento do comércio local, e outra parte era comercializada dentro e fora do Estado. O desenvolvimento do comércio e da indústria na região na década de 80 alavancou a economia local por pouco tempo e muitas pessoas passaram a viver do trabalho informal, na feira do comércio, nas praças e esquinas da cidade: como vendedores de lanche, carregadores, guardadores de bicicleta, carro, moto, nas portas de lojas e supermercados. Nos espaços do campo a marginalização do ambiente escolar e a falta de políticas publicam representou o descaso com essa demanda principalmente com as estruturas físicas da escolas no Município de Abaetetuba PA mas que por outro lado as lutas iniciadas com o Movimento dos trabalhadores do Campo por ocasião da I Conferência Nacional por uma educação Básica do Campo realizada em 1988 e outras mobilizações a nível regional e local redirecionou ações e propostas para o campo da educação do campo. Em Abaetetuba foi erradicado o funcionamento de escolas que antes funcionavam em barracões, as estruturas físicas das mesmas atendem para uma nova estrutura com espaços de lazer, brinquedoteca, salas ampliadas e outros. Convém lembrar que essa realidade ainda não contempla todos os Municípios da Amazônia Paraense, pois a precarização das classes multisseriadas 2 ainda é uma realidade em muitos municípios. O que por outro lado fortalece a luta dos movimentos sociais, dos Fóruns regionais e dos centros de pesquisas em dar respostas através das lutas e mobilizações para a busca de soluções. Frente a este cenário nos deparamos com um processo educacional que a cada dia procura responder às novas demandas advindas pela globalização da economia e pela necessidade de coletivamente o poder público e os diferentes atores sociais construírem coletivamente diretrizes, objetivos e metas para atender as demandas da educação. Entre estas, a Educação do Campo não poderia ficar de fora do debate nacional, regional e local quanto à 2 Ver artigo classe multisseriada e formação docente: relatos de uma professora do Campo de Debora de Lima Velho Junges Disponível em: http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anpedsul/paper/viewfile/481/435

5 garantia de políticas publicas para as escolas do campo e nesse processo o Projeto Politico Pedagógico apresenta-se importante ao direcionar propostas, metas e apontar democraticamente a utilização dos recursos, assim como do currículo a ser trabalhado. A partir do Plano Nacional de Educação Lei 10.172/2001, LDB Nº 9394/96, a Secretaria Municipal de Educação de Abaetetuba, o Conselho Municipal de Educação, a sociedade civil organizada, órgãos e entidades ligadas à educação realizaram a Conferência Municipal de Educação, para nortear as ações educacionais no município para um período de dez anos (2012-2021). A Conferência, prevista para ser realizada inicialmente no dia 18 de novembro de 2011, devido aos debates e a riqueza de conteúdos teóricos que fomentaram as discussões, se estendeu por mais 07 (sete) encontros no período de 18 de novembro a 26 de dezembro de 2011. Na Conferência através do Grupo de trabalho de Educação do Campo foram encaminhados propostas para que as escolas do campo: ilhas, estradas e ramais tomassem iniciativas propositivas para a construção coletiva do PPP (Projeto Politico Pedagógico). Após a Conferência Municipal, a Coordenação de Educação do campo promoveu três encontros do qual um teve destaque chamado de Encontrão das escolas do campo influenciadas por educadores envolvidos nas discussões junto ao Fórum Paraense de Educação do Campo e Fórum Regional de Educação do Campo (FORECAT) que teve como objetivo dialogar e orientar diretores e responsáveis de escolas sobre a temática em questão, segundo dados disponíveis na Secretaria Municipal de Educação/ Abaetetuba em 2011, das 128 escolas do campo apenas 06 possuíam Projeto Politico Pedagógico ainda assim, segundo consta no levantamento, também tratavam se de projetos similares de escolas da sede o que se configura como prática ainda comum. Vale ressaltar que o grupo de pesquisa da UFPA / GEEPESED com apoio da Secretaria Municipal de Educação em 2012 direcionou trabalhos de pesquisa no sentido de contribuir com as escolas do campo de Abaetetuba para a construção do PPP (Projeto Político Pedagógico) através do Projeto Cartografia de Saberes proporcionando novas experiências e referencial de pesquisa para gestores, educandos 3 e educadores. As dificuldade são muitas o que a priori destacamos a própria dimensão do espaço geográfico, acesso a escola tendo como figura importante nas ilhas, o transporte, a ponte de madeira que liga educandos e escola, nas 3 Referimos aos discentes de Licenciatura em Educação do Campo, de pedagogia e outros que dialogam essas temáticas ao qual representam novas possibilidades de intervenções propositivas neste trabalho de construção de um novo projeto político pedagógico para as escolas do Campo.

6 estradas o bom tempo, o transporte e as condições do ramal são determinantes para a chegada dos educandos e educadores no espaço escolar. JUSTIFICATIVAS E RELEVÂNCIA DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO A falta de sintonia da política de educação que historicamente desconsiderou a realidade do campo têm gerado vários questionamentos quanto à função da escola formal em relação ao contexto dos povos que vivem no campo. Estes questionamentos passam a surgir exatamente pela necessidade de se buscar alternativas que possam garantir o acesso; permanência e a formação para o desenvolvimento do meio em que vivem esses sujeitos, que têm buscado caminhar na direção de uma formação de qualidade adequada a sua realidade, buscando compreender os problemas encontrados no campo, para então explicar os fenômenos científicos, resultando em novos conhecimentos integrados com formação geral no contexto do campo. Essa concepção de educação conseguiu ser incorporada ao documento de Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo, conforme a Resolução CNE/CEB nº. 1 de 3 de Abril de 2002 ), fruto da Articulação Nacional por uma Educação do Campo lideradas por movimentos sociais, universidades, ONG s e grupos organizados. Neste sentido, as discussões sobre Educação do Campo têm colocado em pauta indagações e propostas construídas no interior dos grupos organizados apresentados por meio do diálogo com os autores Caldart (2004), Arroyo (2006),Molina (2006) Munarin (2006) e Fernandes (2008). Sobre a educação que se pensa e deseja para o campo e que considera os modos de vida, trabalho e relações de sustentabilidade com a natureza propondo assim a construção de um paradigma de educação que colabore para fortalecer a luta por políticas publicas para o campo através de um projeto político pedagógico de educação do Campo com base nas premissas apontadas pelas discussões e plenárias do Fórum Paraense de Educação do Campo. Portanto o Projeto Político Pedagógico para as escolas do campo em Abaetetuba se configura como ferramenta importante para o processo democrático e para o fortalecimento da autonomia das escolas enquanto ação coletiva colaborando para o diagnóstico dos problemas e enfrentamentos dos mesmos. Segundo Gadotti (2001) o projeto pedagógico é um permanente processo de discussão das práticas, das preocupações individuais e coletivas, é a marca da escola concretizada na dinâmica curricular que institui no âmbito do instituído,

7 dilatando o em espaços de possibilidades,motivações e ações concretas, otimizando seus espaços seus recursos, meios e procedimentos. Por outro lado, O Projeto Político Pedagógico (PPP) dinamiza questões burocráticas ao antever para a escola e para toda a comunidade escolar diagnóstico e planejamento discutido no coletivo evitando com isso aqueles diagnósticos relâmpagos que responsáveis e diretores de escolas apresentam assim quando solicitados e que não expressam e não apontam as reais necessidades e problemáticas enfrentadas pela escola. PROBLEMA DE INVESTIGAÇÃO. É de se destacar que das 130 escolas do campo/dados de 2011 do Município de Abaetetuba apenas seis possuíam projeto Político Pedagógico enquanto documento formalizado e atuante, o que nos chama atenção para a ausência de um Trabalho nesta perspectiva e da pesquisa que acompanhasse e desse suporte teórico na problematização para saber quais são os desafios e possibilidades de construção dos Projetos Políticos pedagógicos dessas escolas? Nesse processo de investigação uma das problemáticas apontadas pelos gestores se manifestava através da pergunta como e onde buscar referenciais de pesquisas que pudessem dar suporte para um Projeto Político Pedagógico coerente com as múltiplas realidades das ilhas, estradas e ramais da Amazônia Paraense? As repostas para essas inquietações passaram a ser respondidas nos 4 Encontros de Educação do Campo, nos seminários de pesquisas onde professores e gestores de escolas são convidados a participar. Neste eventos ocorre a socialização das produções acadêmicas a nível nacional regional e local. Neste sentido a pesquisa se insere numa abordagem qualitativa por meio de entrevistas e acompanhamentos das ações da Coordenação de Educação do Campo junto às escolas das ilhas, estradas e ramais e a priori contribui para dialogar sobre o silenciamento dessas realidades (ARROYO 2012) Nossa caminhada também se deu participando do grupo de pesquisa GEEPESED/UFPA nos encontros do Fórum regional de educação do Campo (FORECAT) que ao promover através da pesquisa teórica e de campo referencial(ais) sobre os desafios e possibilidades para a construção de Projetos Políticos e Pedagógicos das/ e para as escolas do campo também passou a dialogar sobre o currículo dessas escolas através de 4 Em Abaetetuba a Secretaria Municipal de Educação SEMEC realiza anualmente o Encontrão de Educação do Campo que tem por objetivo ampliar a discussão sobre educação do Campo, num trabalho de parceria entre Universidade /UFPA Campus de Abaetetuba saberes e experiências das práticas docentes em diálogo com as pesquisas para que as escola elaborem seu Projeto Político Pedagógico.

8 rodas de conversa, tendo como foco propostas que busquem atender a realidade local dos educandos educadores e comunidade. Portantocontribuir com a educação do Município de Abaetetuba e de outros municípios próximos diagnosticando através da pesquisa os passos desta construção, os obstáculos e as possibilidades de finalização de um projeto coerente e propositivo com a realidade da comunidade escolar, dos educandos e educadores essa tem sido a caminhada traçada. CONSIDERAÇÕES FINAIS Pensar na construção de um Projeto de Educação para as escolas do campo requer pensar no debate democrático na tríade Escola família e comunidade como bem apontam os autores que discutem sobre Educação do Campo Caldart (2004), Arroyo (2006), Molina (2006) Munarin (2006) e Fernandes (2008). Para Celso Vasconcelos (2012, p 168) O Projeto Político Pedagógico é um instrumentos teórico-metodológico para intervenção e mudança da realidade e neste sentido as pesquisas em Educação do Campo vêm contribuir para a sistematização desses trabalhos, concretizando na prática a busca por um Projeto de escola do campo pensada a partir do projeto educativo dos sujeitos do campo, vinculadas as lutas sociais do campo, no diálogo com os diferentes sujeitos (ARROYO 2012). Se compromisso assumido pelos que lutam por uma educação do Campo se concretizar na dinâmica do processo educativo das nossas escolas de fato teremos um projeto de educação fruto de planejamento, de referenciais e ao mesmo tempo de experiências propositivas marcadas por uma nova concepção de campo e pelo sucesso na qualidade do ensino. REFERÊNCIAS ARROYO, Miguel G. (apresentação). SOUZA, Maria Antonia de Educação do Campo: propostas e práticas pedagógicas do MST. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006. CALDART, Roseli Salete. Elementos para Construção do Projeto Político Pedagógico da Educação do Campo. In Contribuições para a construção de um projeto de educação do campo. Brasília, DF: Articulação Nacional por uma educação do campo, 2004. CARDOSO, Ana Claudia Duarte; LIMA, José Júlio Ferreira. Tipologias e padrões de ocupação urbana na Amazônia Oriental: para que e para quem?in: O rural e o urbano na Amazônia: diferentes olhares em perspectiva. Belém: PA EDUFPA, 2006. VASCONCELOS, Celso dos Santos. PLANEJAMENTO: Projeto de ensino-aprendizagem e Projeto Político Pedagógico. LIBERTAD EDITORA 2012.

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