ARTIGO: Da inconfundível natureza dos institutos da imunidade e

Documentos relacionados
ARTIGO: Uma abordagem sobre a natureza jurídica das

ARTIGO: Sobre conceito e atuação da norma de imunidade

Curso de especialização em direito tributário e processo tributário. Indicação de leitura complementar

ARTIGO: Sobre o conceito e atuação da norma de isenção

ARTIGO: O controle incidental e o controle abstrato de normas

CURSO DE DIREITO Autorizado pela Portaria no de 05/12/02 DOU de 06/12/02 PLANO DE CURSO

PLANO DE ENSINO IDENTIFICAÇÃO. Direito Tributário CARGA HORÁRIA. SEMANAL: 03 Horas-aula ANUAL: 105 H DOCENTE RESPONSÁVEL

IMUNIDADE TRIBUTÁRIA RELIGIOSA

Departamento de Direito I IDENTIFICAÇÃO DA DISCIPLINA II EMENTA

FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO DEPARTAMENTO DE DIREITO ECONÔMICO, FINANCEIRO E TRIBUTÁRIO

PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO TRIBUTÁRIO E PROCESSO TRIBUTÁRIO

Regra Matriz de Incidência Tributária. Rubens Kindlmann

CARGA HORÁRIA SEMANAL: 04 CRÉDITO: 04 NOME DA DISCIPLINA: DIREITO TRIBUTARIO I

FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO DEPARTAMENTO DE DIREITO ECONÔMICO, FINANCEIRO E TRIBUTÁRIO

Planejamento Tributário Empresarial

FUTURO TENDÊNCIAS INOVAÇÃO PARA QUEM BUSCA SUCESSO NA CARREIRA JURÍDICA, PRATICAR É LEI. Uma instituição do grupo

PLANO DE ENSINO 2012 CURSO: DIREITO. DISCIPLINA: Direito Tributário II POSIÇÃO NA GRADE DO CURSO: 9º SEMESTRE CARGA HORÁRIA SEMESTRAL: 80

FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO DEPARTAMENTO DE DIREITO ECONÔMICO, FINANCEIRO E. Sugestão de Bibliografia Complementar

MÓDULO 01 DIREITO TRIBUTÁRIO LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS AO PODER DE TRIBUTAR EVOLUIR CONCURSOS PLANILHA 02

PLANO DE ENSINO DE DISCIPLINA CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS

Sistema Tributário Nacional

5 LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS AO PODER DE TRIBUTAR

CAPÍTULO. Competência Tributária. Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar IMUNIDADE TRIBUTÁRIA Introdução

BREVES APONTAMENTOS SOBRE OS FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS DA ISENÇÃO DE TRIBUTOS PARA AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA.

Aula 07 ESPÉCIES TRIBUTÁRIAS. O art. 4.º do CTN define um critério para a identificação das espécies tributárias.

Lançamento Tributário: ANÁLISE DA NORMA INDIVIDUAL E CONCRETA PELA ÓPTICA DO CONSTRUTIVISMO LÓGICO-SEMÂNTICO

O exame do Direito Tributário passa necessariamente pelo estudo da Constituição.

A FUNÇÃO SOCIAL DO TRIBUTO E O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO

STJ EDUARDO GONZAGA OLIVEIRA DE NATAL

BIBLIOTECA DANIEL AARÃO REIS OBRAS DOADAS Agosto a Setembro de Doação do Consócio e Autor: CARNEVALE, Marcos

Comentário à Jurisprudência

IMUNIDADE DE ENTIDADES RELIGIOSAS: ANÁLISE CRÍTICA

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO TRIBUTÁRIO Aula Ministrada pelo Prof. Pedro Bonifácio 20/02/2018

ISENÇÃO. Rubens Kindlmann

PLANO DE CURSO 2012/1

Coordenação-Geral de Tributação

CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM DIREITO TRIBUTÁRIO ª SEMESTRE

A TRIBUTAÇÃO DAS COMUNIDADES REMANESCENTES QUILOMB OLAS: UMA ANÁLISE SOBRE A INCIDÊNCIA OU NÃO DO ITR

Charles Moraes Sonnenstrahl Filho 1 1) INTRODUÇÃO

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO TRIBUTÁRIO Aula Ministrada pelo Prof. Alessandro Spilborghs 09/10/2018

PROJETO DE GRUPO DE ESTUDOS SOBRE DIREITO TRIBUTÁRIO

Planejamento Tributário Empresarial

A BUSCA POR UMA COMPREENSÃO UNITÁRIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS THE SEARCH FOR AN UNITARY UNDERSTANDING OF FUNDAMENTAL RIGHTS

CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM DIREITO TRIBUTÁRIO ª SEMESTRE

PLANO DE CURSO. Analisar criticamente os Impostos Federais, Estaduais e Municipais.

A IMUNIDADE TRIBUTÁRIA RECÍPROCA DO ART. 150, VI, a DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

1ª Fase PROVA OBJETIVA DIREITO DO TRIBUTÁRIO

BuscaLegis.ccj.ufsc.br

CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM DIREITO TRIBUTÁRIO

BuscaLegis.ccj.ufsc.Br

A IMUNIDADE DO LIVRO DIGITAL E DO SEU SUPORTE DE FIXAÇÃO Homenagem ao jurista Hugo de Brito Machado

1 Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços de Comunicação e de Transporte Interestadual ou Interestadual (ICMS)

ICMS ECOLÓGICO A NOVA ALTERNATIVA PARA OS PRODUTORES RURAIS

ARTIGO: Uma pequena análise sobre o processo legislativo

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO TRIBUTÁRIO Aula Ministrada pelo Prof. Rafael Matthes 04/10/2018

IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DOS TEMPLOS DE QUALQUER CULTO

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO TRIBUTÁRIO Aula Ministrada pelo Prof. Rubens Kindlman 04/04/2018

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO TRIBUTÁRIO Aula Ministrada pelo Prof. Pedro Bonifácio 02/04/2018

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO TRIBUTÁRIO Aula Ministrada pelo Prof. Rubens Kindlimann 18/04/2018

ANÁLISE A RESPEITO DO LIMITE DE DEDUÇÃO COM DESPESAS DE EDUCAÇÃO NO IMPOSTO DE RENDA

PROGRAMA DE DISCIPLINA

Cód. barras: STJ (2012)

Imunidade Tributária Religiosa e a liberdade religiosa

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO TRIBUTÁRIO Aula Ministrada pelo Prof. Rubens Kindlmann 19/10/2017

FACULDADE DE DIREITO DE CAMPOS

Lei remuneração de dirigentes: Uma discussão sobre a nova realidade do Terceiro Setor

A CAPACIDADE CONTRIBUTIVA SOB O ENFOQUE DO STF

Imunidade e Isenção Tributária. Professor Ramiru Louzada

Sistema Tributário Nacional

CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM DIREITO TRIBUTÁRIO ª SEMESTRE

CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM DIREITO TRIBUTÁRIO ª SEMESTRE

AS IMUNIDADES DAS SANTAS CASAS DE MISERICÓRDIA

A ISENÇÃO TRIBUTÁRIA PARA PESSOAS DEFICIENTES

CONTABILIDADE E PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

Este Plano de Curso poderá sofrer alterações a critério do professor e / ou da Coordenação.

O ICMS, A SELETIVIDADE E SUAS REPERCUSSÕES NA TRIBUTAÇÃO DA ENERGIA ELÉTRICA

Princípios Constitucionais Tributários Vigentes no Brasil

PROGRAMA DE DISCIPLINA

ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DA CONTRIBUIÇÃO PARA O CUSTEIO DO SERVIÇO DE ILUMINAÇÃO PÚBLICA.

Regra Matriz de Incidência Tributária. O antecedente normativo / descritor da norma

Desafios da Tributação das Telecomunicações

AULA 03. Conteúdo da aula: Tributo; Classificação Qualitativa; Impostos; Conceito.

Norma Genérica ElisivavsNorma Específica no Direito Tributário. Charles William McNaughton Mestree Doutor-PUC/SP

CONTABILIDADE E PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

ICMS-IMPORTAÇÃO _ PROPOSTA DE RECLASSIFICAÇAO E SUAS APLICAÇÕES ' São Paulo

DECRETO Nº 3.699, De 09 de Novembro de 2016

CURSO DE INTRODUÇÃO E ATUALIZAÇÃO EM DIREITO TRIBUTÁRIO

Contribuições profissionais e a legalidade na visão do STF. Prof. Dr. Luís Eduardo Schoueri

FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO DEPARTAMENTO DE DIREITO ECONÔMICO, FINANCEIRO E TRIBUTÁRIO

DIREITO TRIBUTÁRIO. NÍVEL DE ENSINO: Graduação CARGA HORÁRIA: 80h PROFESSOR-AUTOR: Evandro Sérgio Lopes da Silva APRESENTAÇÃO

Planejamento Tributário Empresarial

Direito Tributário. Aula 04. Os direitos desta obra foram cedidos à Universidade Nove de Julho

A SEGURANÇA JURÍDICA ATRAVÉS DO PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE TRIBUTÁRIA E A MODULAÇÃO DOS EFEITOS DA DECISÃO

BuscaLegis.ccj.ufsc.br

BuscaLegis.ccj.ufsc.br

DIREITO TRIBUTÁRIO. Professor: Mauro Moreira

O REGIME JURÍDICO DAS TAXAS

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO TRIBUTÁRIO Aula Ministrada pelo Prof. Pedro Bonifácio 10/10/2017 IMUNIDADES X ISENÇÕES

Transcrição:

ARTIGO: Da inconfundível natureza dos institutos da imunidade e da isenção Luís Fernando de Souza Pastana 1 RESUMO: A doutrina trabalha com os institutos da imunidade e da isenção com realidades distintas. No entanto, muitos trabalhos apenas apontam que a imunidade deita em território constitucional e a isenção em território legal, quando, na verdade, a diferença entre tais institutos é mais profunda e complexa. Este artigo visa trabalhar com tais conceitos, separando-os de maneira mais adequada (e aprofundada). PALAVRAS-CHAVE: Imunidade. Isenção. Natureza jurídica. Regra-matriz de incidência. Tributo. 1 Introdução Quando a doutrina aborda o tema imunidade e isenção, quase sempre se traça uma diferença entre os dois institutos afirmando-se que um é tema constitucional (imunidade) enquanto o outro é tema infraconstitucional (isenção). 1 Bacharel em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Procurador do Município de Diadema. E-mail do autor: lufernando00@hotmail.com.

2 No entanto, as diferenças entre tais institutos são mais profundas, como se pretende demonstrar. 2 Os institutos da imunidade e da isenção no direito brasileiro Neste artigo iremos contrapor os conceitos de imunidade e de isenção, observando os pontos estruturais e de atuação em que se diferenciam. Para iniciar, vamos a apresentar nossos conceitos sobre tais institutos. Temos que imunidade tributária é a regra de estrutura, expressa ou implicitamente disposta no texto constitucional, que delimita uma realidade, apresentando a composição deôntica proibido obrigar para excepcionar a regra que autoriza a tributação e, juntamente com esta, formar a norma de competência tributária. De outro modo, temos que isenção é regra de conduta que atua excepcionando a regra de tributação em um ou alguns de seus elementos, recortando-a parcialmente para formar a própria regra-matriz de incidência, impedindo que esta incida sobre a realidade isenta. Logo se percebe que o modo de atuação das duas regras é muito semelhante: a imunidade irá atuar na regra de atribuição de poder de tributar para, juntamente com esta, formar a norma de competência tributária; a isenção, por sua

3 vez, irá atuar na regra de tributação para, com esta, formar a regra-matriz de incidência. Ambas são normas que excepcionam as regras gerais (de competência e de tributação), sendo que, sem estas, aquelas não fazem sentido no ordenamento. Estes são os pontos em que a imunidade se assemelha da isenção: forma de atuação e a natureza de regra de exceção. No mais, distinguem-se. Enquanto a imunidade é norma de estrutura, a isenção é norma de conduta. A imunidade atua para excepcionar típica norma de estrutura, que é aquela que atribui poder para tributar, formando com esta a competência tributária. Neste sentido, a imunidade ordena um proibido obrigar direcionado ao legislador, o qual deverá seguir tal parâmetro no momento em que for construir a norma de tributação. Já a isenção atua para excepcionar típica norma de conduta, que é a regra de tributação, formando com esta a regra-matriz de incidência. Neste sentido, a isenção ordena um proibido ao sujeito ativo de tributar. Observamos outra diferença contida na composição deôntica destes dois institutos. A ordem que se encontra por trás da norma de imunidade é formada por dois modalizadores ( proibido obrigar ), já a norma de isenção é formada por um único modalizador ( proibido ).

4 Assim ocorre porque a imunidade disciplina a forma como se dará a construção de uma outra norma. Nos dizeres da Professora Misabel Derzi: É que a Constituição Federal, ao partilhar o poder tributário entre as pessoas estatais que integram a Federação, utiliza-se da técnica de atribuição e de denegação (ou supressão parcial). De um lado, encontramos atribuições de poder para instituir tributo, concedidas em caráter positivo (arts. 145, 148, 149, 153, 155 e 156) e dispositivos que reduzem, diminuem, suprimem parcialmente a abrangência dos primeiros, realizando a informação ou a modelagem da competência, constitucionalmente delimitada. A imunidade é, portanto, regra de exceção, somente inteligível se conjugada à outra, que concede o poder tributário, limitando-lhe a extensão, de forma lógica e não sucessiva no tempo. Portanto, não dizemos que os cidadãos proprietários são imunes à instituição, pela União, do imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana porque falece a ela competência para criar a exação. Entretanto, dizemos que o templo é imune ao mesmo imposto se instituído pelo Município, porque essa pessoa estatal tem poder para criar o tributo. (DERZI, Misabel Abreu Machado. Imunidade, isenção e não incidência. In: MARTINS, I. G. S.; MARTINS, R.G.S.; NASCIMENTO, C.V. (Coordenadores). Tratado de direito tributário, volume 2, São Paulo: Saraiva, 2011, p. 343). O legislador fará uma norma na qual poderá obrigar, permitir ou proibir. A imunidade, que é norma que irá disciplinar a construção desta outra norma, é dirigida ao legislador que, segundo a imunidade, estará proibido de obrigar pela tributação. A norma de tributação traz um obrigar, ou seja, dada uma conduta, o Estado deve obrigar ao pagamento (a incidência gera a obrigação tributária). Já a norma de

5 isenção traz um proibido, ou seja, dada uma certa conduta, o Estado estará proibido de obrigar (a não-incidência não pode gerar obrigação). Quando observamos a regra-matriz, formada pelo conjunto da tributação e da isenção, não costumamos olhá-la notando o proibido, já que é o obrigado que se destaca e gera consequências jurídicas, mas ali se encontra o proibido, atuando como um dever para o Estado e como um direito para o cidadão. A conduta que a isenção regulamenta é justamente a conduta que a própria regra de tributação regulamenta, no entanto, excepcionando-a: se sob a conduta da norma de tributação se encontra a forma de realização a, b e c, a isenção surge para regulamentar a conduta a, retirando-a do campo de incidência da regramatriz 2. A isenção atua na norma, atua retirando uma realidade contida na norma. A isenção não incide sobre fatos, já que quem irá incidir não é nem a regra de isenção e nem a regra de tributação, mas somente a norma regra-matriz. A isenção estabelece, assim, os contornos de uma conduta, disciplinando conduta e não criação de norma. 2 Não se trata da adoção da teoria do professor Souto Maior, para o qual a isenção regulamenta uma realidade não contida na regra de tributação, atuando diretamente sobre os fatos regra de tributação não se confunde com a regra-matriz, a qual é norma e formada pela interpretação das regras de isenção e tributação. Trata-se, sim, da adoção da teoria do professor Paulo de Barros, pois entendemos que a isenção atua dentro da norma de tributação, decepando-a, no entanto, não percebemos que a regra de isenção seja norma de estrutura, já que, a nosso ver, a isenção irá regulamentar uma conduta, a qual estará contida dentro da regra de tributação. Para nós, a isenção atuará na formação da conduta descrita na regra-matriz, da mesma forma que atuará nesta formação a regra de tributação. Não é a norma formada pela interpretação da regra ou de regras? Assim, a conduta descrita na regra-matriz é conduta descrita, também, pela própria isenção, daí ser esta uma norma de conduta.

6 Com isso não se quer afirmar que a regra de isenção, quando recorta a regra de tributação, somente atua no seu elemento material (onde se encontra o verbo da conduta a sofrer a incidência). Quer se afirmar, sim, que todos os elementos da tributação (material, espacial, temporal, pessoal e quantitativo) estão interligados, sendo que, no momento em que a isenção decepa a regra através de um desses elementos, podemos afirmar que a conduta (que é justamente o proceder à realização do verbo diante das circunstâncias apresentadas pelos demais elementos) será atingida. Por fim, depreende-se da contraposição entre os conceitos que a imunidade atua em plano diferente do da isenção. Enquanto a imunidade atua no plano constitucional, compondo a norma de competência, a isenção atua no plano infraconstitucional, compondo a regra-matriz 3. É por este motivo que a imunidade não pode ser considerada hipótese de não-incidência da norma de tributação e a isenção o pode, pois enquanto aquela atua em plano cuja incidência/não-incidência da regra-matriz é tema impertinente, esta atua no próprio plano da regra-matriz, onde é pertinente tais fenômenos em relação a este objeto (regra-matriz). Concluímos que a imunidade e a isenção, não obstante serem regras de exceção e institutos de atuação semelhante, possuem destinatários diferentes (legislador e sujeitos da relação tributária), conteúdos diferentes (norma de estrutura 3 Interessante notar que, se a imunidade determina a incompetência, a isenção, que atua na formação da regra-matriz, nunca poderá atuar sobre realidade que a imunidade atua. Isso se dá porque a isenção excetua da tributação uma realidade, tributação esta que pressupõe a competência tributária para criação de tributo sobre essa realidade. Assim, nunca teremos, no ordenamento jurídico brasileiro, uma realidade que, ao mesmo tempo, é imune e isenta.

7 e norma de comportamento), atuam em planos jurídicos diferentes (constitucional e infraconstitucional), e somente a última tem relação com a incidência/não-incidência da regra-matriz. 3 Conclusão Iniciamos o artigo com o objetivo de observar a natureza da imunidade e da isenção, traçando as diferenças de conceito e de atuação que cada um desses institutos apresenta na ordem jurídica brasileira. Definimos imunidade tributária como a regra de estrutura, expressa ou implicitamente disposta no texto constitucional, que delimita uma realidade, apresentando a composição deôntica proibido obrigar para excepcionar a regra que autoriza a tributação e, juntamente com esta, formar a norma de competência tributária. Após, abordamos a isenção. Definimos isenção como a regra de conduta que atua excepcionando a regra de tributação em um ou alguns de seus elementos, recortando-a parcialmente para formar a própria regra-matriz de incidência, impedindo que esta incida sobre a realidade isenta. Colocando frente à frente os conceitos desses institutos, anotamos suas diferenças e semelhanças (tanto conceitual quanto de atuação).

8 Concluímos que a imunidade e a isenção, não obstante serem regras de exceção e institutos de atuação semelhante, possuem destinatários diferentes (legislador e sujeitos da relação tributária), conteúdos diferentes (norma de estrutura e norma de comportamento), atuam em planos jurídicos diferentes (constitucional e infraconstitucional), e somente a última tem relação com a incidência/não-incidência da regra-matriz. A utilidade pretendida por este artigo foi a de aprimorar a conceituação e a análise de atuação desses institutos, o que esperamos ter realizado, se não para dar um passo além, ao menos para trazer discussão e debate, exercícios fundamentais para o aprofundamento da matéria. 4 Referências AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro, 13ª edição, São Paulo: Saraiva, 2007. BORGES, José Souto Maior. Teoria geral da isenção tributária, 3ª edição, 3ª tiragem, São Paulo: Malheiros, 2011. CARVALHO, Aurora Tomazini. Teoria geral do direito (o constructivismo lógico-semântico). São Paulo: Noeses, 2013 3ª edição.

9 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário: Fundamentos jurídicos da incidência, 8ª edição, São Paulo: Saraiva, 2010. CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário: Linguagem e método, 3ª edição, São Paulo: Noeses, 2009. Código Tributário Nacional Constituição Federal de 1988 COSTA, Regina Helena. Imunidades tributárias: Teoria e análise da jurisprudência do STF, 2ª edição, São Paulo: Malheiros, 2006. DERZI, Misabel Abreu Machado. Imunidade, isenção e não incidência. In: MARTINS, I. G. S.; MARTINS, R.G.S.; NASCIMENTO, C.V. (Coordenadores). Tratado de direito tributário, volume 2, São Paulo: Saraiva, 2011. SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito tributário,1ª edição, São Paulo: Saraiva, 2011. SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. São Paulo: Malheiros, 2012 8ª edição.

STURTZ, Gabriel Pinós. Natureza jurídica da imunidade e demais formas de não tributação: evolução doutrinária e jurisprudencial. In: DIFINI, Luiz Felipe Silveira (Org.). Imunidades tributárias e direitos fundamentais, Rio Grande do Sul: Livraria do advogado, 2010. 10