Atualidades no Circovírus Suíno Tipo 2 (PCV2)

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Transcrição:

Sanidade Atualidades no Circovírus Suíno Tipo 2 (PCV2) Atualidades no Circovírus Suíno Tipo 2 (PCV2) Dra. Maria Fort M. Veterinária e Doutora mariafort@gmail.com Introdução Histórico do PCV2 e da circovirose suína (PCVD) Em 1974 Tisher e colaboradores descobriram um vírus que contaminava uma linhagem de células renais de suínos PK-15 (ATTC- CCL33), morfologicamente similar ao picornavírus (182). Mais tarde demonstrou-se que o agente contaminante era um vírus do tipo filamento circular de DNA simples (ssdna), o qual passou a ser denominado circovírus suíno (PCV) (183). Embora pesquisas sorológicas tenham revelado a presença de anticorpos anti-pcv na população de suínos, nenhuma infecção pode ser atribuída ao vírus (184, 41, 2), o qual, consequentemente, foi considerado não patogênico. Em 1991 uma nova doença emergente, denominada síndrome do emagrecimento progressivo pósdesmame (sigla em inglês, PMWS), foi relatada no oeste canadense (20, 97). Essa nova síndrome caracterizavase, clinicamente, por perda de peso progressiva, dificuldade respiratória e palidez da pele. Do ponto de vista da patologia, os suínos doentes apresentavam um acometimento multissistêmico, caracterizado por linfoadenopatia generalizada, pneumonia intersticial, hepatite, esplenomegalia e úlceras gástricas (20, 97). Um ano mais tarde um agente semelhante ao PCV foi isolado de tecidos de suínos afetados pela PMWS, nos EUA e na Europa (03, 43). A comparação entre o PCV original não patogênico e o recém descoberto circovírus, associado aos surtos de PMWS, revelou serem esses agentes virais genética e antigenicamente distintos (03, 120). Por isso, o PCV foi, subsequentemente, dividido em dois tipos: o vírus não patogênico derivado da célula PK-15 foi denominado PCV do tipo 1 (PCV1), e o circovírus isolado de suínos acometidos pela PMWS passou a ser denominado PCV do tipo 2 (PCV2) (65, 120). Além da PMWS, o PCV2 tem sido associado a outras doenças, como a síndrome de dermatite e nefropatia suína (sigla em inglês, PDNS), falhas reprodutivas e o complexo da doença respiratória suína (sigla em inglês, PRDC). Em 2002, Allan e colaboradores propuseram o termo circovirose suína (sigla em inglês, PCVD) para agrupar todas as doenças e síndromes associadas ao PCV2. De modo similar, em março de 2006, a Associação Norte-americana de Veterinários Especialistas em Suínos (AASV) propôs uma nomenclatura semelhante: doenças associadas ao circovírus suíno (sigla em inglês, PCVAD). Atualmente ainda não há um consenso relativo a essa nomenclatura e ambos os termos, PCVD e PCVAD, são usados na Europa e nos EUA, respectivamente. Até os dias de hoje, dados experimentais têm demonstrado uma ligação efetiva entre o PCV2 e o desenvolvimento de doenças apenas com relação à PMWS (05, 16) e a falhas reprodutivas (159, 115). A associação entre o PCV2 e as demais condições tem sido baseada em estudos retrospectivos e/ou casos clínicos, não havendo evidências experimentais dessas conexões, até o momento (165). Taxonomia O PCV2 é membro de uma família de vírus ssdna não envelopados, pequenos e icosaédricos (família Circoviridae), que afeta os vertebrados (104). Em função da descrição contínua de novos agentes semelhantes ao circovírus nos últimos anos, a classificação da família Circoviridae tem sido e deverá ser submetida a uma reorganização (35). No momento, de acordo com o Comitê Internacional de Taxonomia Viral (sigla em inglês, ICTV) (www.ictvonline.org), essa família está dividida com base no tamanho de seus vírus e de sua dimensão gênica nos gêneros Circovírus e Gyrovirus (Figura 1.1). Além do PCV, sete vírus aviários têm sido descritos com sendo do gênero Circovírus: o vírus da doença do bico e penas (150), o circovírus dos pombos (201), o circovírus dos canários (143), o circovírus dos gansos (187), o circovírus dos patos (69), o circovírus dos tentilhões (171) e o circovírus das gaivotas (173). Embora ainda não incluídos na lista de taxonomia do 26 Suínos & Cia Ano VI - nº 35/2010

Figura 1.1. Classificação taxonômica do PCV2 ICTV, casos recentes de circovirose acometendo corvos (177), estorninhos (74) e cisnes (64) têm sido relatados. O vírus da anemia dos frangos é a única espécie incluída no gênero Gyrovirus (186). Morfologia e organização molecular O PCV2 é um dos menores vírus conhecidos, com uma partícula viral icosaédrica não envelopada de 17 ± 1,3 nm de diâmetro (183). A molécula do genoma é do tipo ssdna circular covalentemente fechada, com aproximadamente 1,76 a 1,77 kilobases (120). Após a infecção da célula pelo PCV2 o ssdna converte-se em um DNA de filamento duplo intermediário (dsdna), também conhecido como forma replicativa (sigla em inglês, RF). A RF é considerada um genoma codificado por dupla polaridade (positivo para o DNA viral e negativo para o complementar). Os genes do PCV2 estão organizados em 11 supostos quadros de leitura abertos (sigla em inglês, ORFs) (65). Entretanto, a expressão protéica é descrita por apenas três deles. ORF1, também conhecido por gene Rep, localiza-se no filamento positivo, orientado no sentido horário; ele codifica as proteínas replicases não estruturais Rep e Rep, de 314 e 178 aminoácidos (aa) de comprimento, respectivamente (111, 24). ORF2 ou gene Cap, localizado no filamento complementar e orientado no sentido anti-horário, codifica a única proteína estrutural (233-234 aa), o capsídeo (Cap) (112, 124). ORF3 está completamente sobreposto ao gene ORF1 e localiza-se no filamento complementar, orientado no sentido anti-horário; ele codifica uma proteína não estrutural de 105 aa de comprimento. In vitro, a proteína ORF3 parece estar implicada na apoptose das células PK15, induzida por vírus (99). Muito recentemente foi demonstrado que leitões inoculados com um PCV2 mutante ORF3 deficiente manifestavam viremia decrescente e menos lesões patológicas associadas ao PCV2, em comparação a suínos inoculados com o PCV2 do tipo selvagem. Por essa razão foi sugerido que a proteína ORF3 pode ter um papel essencial na replicação e na patogenicidade viral (79). Propriedades biológicas e físicoquímicas O PCV2 é muito estável em condições ambientais; entretanto, sua infectividade pode ser reduzida pela exposição viral a altas temperaturas. Deste modo, após pasteurização a 60º C por 10 minutos, seu poder de infecção decresce 1,6 log; após tratamento por calor seco (80º C por duas horas) decresce 0,75 log e 1,25 log após tratamento por calor extremo (120º C por 30 minutos) (Welch et. al., 2006). A titulação viral pode ser reduzida também por desinfetantes comerciais à base de álcalis (ex.: hidróxido de sódio), agentes oxidantes (ex.: hipoclorito de sódio) ou amônia quaternária (157, 114). Variação genética e antigênica A homologia genética entre os isolados de PCV2 é relativamente alta (112, 121, 91), embora exista diversidade entre as populações do mesmo. A análise filogenética mais recente mostrou que isolados de PCV2, de diferentes origens geográficas, variavam em sua sequência genômica (65, 49, 112, 121). Mais tarde, com base na sequência de aa/genômica do PCV2 ou no polimorfismo de restrição ao comprimento dos fragmentos, foram identificados dois genogrupos (36,180, 18, 56, 129, diferenciados do PCV2 61). Dependendo do autor e da técnica laboratorial empregada, diferentes nomenclaturas foram usadas, inicialmente, para se referir aos genogrupos do PCV2 (Tabela 1.1). Os dois grupos filogenéticos foram comumente referidos como genótipos 1 e 2 na Europa e PCV2a e PCV2b na América do Norte. Atualmente a nomenclatura norte-americana tem sido adotada, consequentemente, os genótipos europeus 1 e 2 foram finalmente designados como PCV2a e PCV2b, respectivamente (167). Recentemente, um novo genótipo foi identificado em amostras dinamarquesas arquivadas (42) e identificado, após acordo, como PCV2c (167). Na Dinamarca conclui-se que o PCV2c cir- Ano VI - nº 35/2010 Suínos & Cia 27

Sanidade Tabela 1.1. Nomenclaturas publicadas referentes aos dois principais genogrupos do PCV2 Autor Grupo de Boisseson et al., 2004 Timmusk et al., 2005 Olvera et al., 2007 Grau-Roma et al., 2008 Gagnon et al., 2007 I SG3 Modelo tipo 321 Grupo biológico 1 Genótipo 1 PCV2b II SG1/SG2 Modelo tipo 422 Grupo biológico 2 Genótipo 2 PCV2a culou predominantemente nos anos 80, o PCV2a durante os anos 90 e o PCV2b entre 2001/2002 em diante, sugerindo uma mudança potencial no genótipo dos isolados do PCV2 ao longo do tempo(42). Nesse mesmo estudo, a análise das sequências de PCV2 disponíveis no Centro Nacional de Informação Biotecnológica (sigla em inglês, NCBI), banco de dados de fevereiro/2007, evidenciou que o PCV2b tornou-se predominante ao longo do tempo em vários países, apontando para uma mudança no genótipo global, de PCV2a para PCV2b. Essa distribuição temporal dos genótipos do PCV2 e a atual predominância do PCV2b a campo são amparadas por vários estudos epidemiológicos, realizados em nível global(10, 26, 56, 178, 181, 29). A detecção de cepas distintas de PCV2 no mesmo suíno, seja pertencendo ao mesmo genótipo ou a genótipo diferente, tem sido também relatada(36,26, 56, 61,71). Estudos recentes trouxeram evidências do potencial homólogo de recombinação entre cepas do PCV2 que estejam coinfectando o mesmo animal(42) ou, simultaneamente, se replicando em cultivo celular(96). Os autores desses estudos sugerem que o surgimento de novos isolados e a mudança potencial de PCV2a para PCV2b pode ser o resultado da recombinação entre cepas coexistentes no mesmo animal. Com base na capacidade de reação similar entre anticorpos monoclonais e policlonais às diferentes cepas de PCV2(06, 119), pensou-se inicialmente que não haveria diferenças antigênicas entre as mesmas. Entretanto, estudos recentes nos levaram a concluir o oposto. Suínos & Cia Carman et al., 2006 Lefebvre et. al. (2008) descobriram que quatro entre 16 anticorpos monoclonais (em inglês, mabs) produzidos contra a proteína Cap da cepa PCV2a não reagiram com cepas do PCV2b, nem demonstraram uma afinidade reduzida em comparação a cepas do PCV2a, quando submetidos a provas realizadas com uma imunoperoxidase monocamada (em inglês, IPMA) ou com neutralização viral. Adicionalmente, nenhum dos mabs testados foi capaz de neutralizar todos as sete cepas incluídas no estudo. Caracterização adicional relativa à diversidade antigênica dos isolados de PCV2 foi fornecida por Shang et. al. (2009). Nesse estudo, mabs específicos contra a proteina Cap do PCV1 e do PCV2 foram usados para mapear epítopos comuns e tipo-específicos entre PCV1 e PCV2, além de identificar diferenças antigênicas entre cepas de PCV2 de genótipos distintos. Dois epítopos de célula linear B, específicos para a proteína Cap do PCV2 e dois epítopos compartilhados pelas proteínas Cap do PCV1 e PCV2 foram identificados. A análise da diversidade antigênica destes epítopos revelou três fenótipos antigênicos do PCV2 com diferentes comprimentos de genoma, denominados PCV21766, PCV21767 e PCV21768. Apesar da existência de diferenças antigênicas, a imunidade induzida após a infecção de suínos com um genótipo conferiu proteção contra o desafio subsequente com outro genótipo(136). A infecção pelo PCV2 e a síndrome do emagrecimento progressivo pós-desmame A infecção pelo PCV2 não é igual à PMWS. No campo, a grande maioria das infecções por PCV2 são subclínicas e apenas uma pequena proporção de suínos infectados pelo PCV2 desenvolve a forma clínica da doença. Atualmente a expressão plena da PMWS é tida como dependente de um co-fator (ou co-fatores) ainda não claramente identificado(s), o qual desencadearia a progressão do PCV2 no sentido da doença(165). Características clínicas e epidemiológicas Embora a PMWS não tenha sida relatada anteriormente a 1991(19), estudos retrospectivos realizados com amostras arquivadas evidenciaram a infecção pelo PCV2 na Alemanha, em 1962(73), na Bélgica, em 1969(158), no Reino Unido, em 1970(63), na Irlanda, em 1973(195), e no Canadá e na Espanha em 1985(108, 153). Nos dias de hoje a infecção por PCV2 está tão espalhada na população de suínos domesticados que quase nenhuma criação soronegativa poderia ser encontrada, no caso de um estudo epidemiológico(92, 103, 62). Em contraste, a prevalência da PMWS é geralmente baixa, variando entre 4% e 30%, embora uma morbidade de mais de 60% tenha sido relatada em algumas granjas(162). Desde a sua primeira descrição, no Canadá, até os dias de hoje, a PMWS tem sido diagnosticada em países de todos os cinco continentes, sendo considerada, atualmente, uma doença endêmica e de alto impacto econômico, na maioria dos países produtores de carne suína. A infecção por PCV2 pode ocorrer durante toda a vida produtiva Ano VI - nº 35/2010 28 Anuncio

Figura 1.2.: suíno acometido pela PMWS (A) e outro animal da mesma idade, clinicamente são (B). Notar o retardo no crescimento e a coluna vertebral marcada, no animal doente. do suíno, mas a PMWS geralmente afeta animais entre oito e 16 semanas de idade (172, 62). A síndrome caracteriza-se, clinicamente, por retardo no crescimento, perda de peso e morte. Outros sintomas clínicos como dificuldade respiratória, diarréia e palidez da pele também são descritos com frequência nos suínos acometidos. Setenta a 80% dos animais doentes morrem (162). A figura 1.2 mostra a condição de emagrecimento de um suíno acometido pela PMWS, em comparação com um companheiro de baia clinicamente sadio. Patologia associada ao PCV2 Os achados patológicos mais evidentes associados à PMWS, embora nem sempre presentes, são os linfonodos intumescidos e os pulmões não colapsados. Em menor extensão, a atrofia do timo, a presença de pontos esbranquiçados nos rins e a ulceração da porção esofágica do estomago também podem ocorrer (155). Ao contrário dos achados macroscópicos, os quais são inespecíficos e variáveis, as lesões microscópicas associadas ao PCV2 são únicas. São encontradas, tipicamente, lesões no tecido linfóide consistentes com depleção linfocitária, combinadas com infiltração de células gigantes histiocíticas e/ou multinucleadas. Corpos de inclusão basófilos intra-citoplasmáticos podem ser encontrados em células de linhagem monocíticas (155). A gravidade das lesões está diretamente relacionada ao status da doença (164, 134). Além disso, suínos acometidos pela PMWS podem ser diferenciados daqueles em condição subclínica, pela intensidade das lesões associadas ao PCV2. Diagnóstico A complexidade do diagnóstico da PMWS recai no fato de somente a detecção sérica ou tecidual do PCV2 não ser conclusiva para o estabelecimento do mesmo, ainda que na presença de sinais clínicos compatíveis com a PMWS. Deste modo, a presença de infecções subclínicas é comum, e os sinais clínicos e macroscópicos encontrados não são específicos, sendo compatíveis com muitas outras doenças dos suínos, infecciosas ou não. Atualmente, três critérios devem ser observados para o estabelecimento de um diagnóstico individual da PMWS (165) : A. Sinais clínicos compatíveis com a PMWS (retardo no crescimento e refugagem); B. Lesões histopatológicas, de moderadas a severas, caracterizadas por depleção linfocitária, juntamente com inflamação granulomatosa (Figura 1.3-A); C. Quantidade moderada a alta de genoma de PCV2 ou antígeno anti- PCV2 entre as lesões (Figura 1.3-B). Um diagnóstico de infecção subclínica por PCV2 é estabelecido quando, embora detectado no soro ou nos tecidos, a quantidade viral é pequena e associada a um número mínimo ou à ausência de lesões (134). O desempenho das técnicas de diagnóstico sorológico e virológico tem sido comparado com a intenção de se fazer uma diferenciação entre as infecções subclínicas e os casos de PMWS em suínos vivos. Pela análise quantitativa de PCV2 no soro, Olvera et. al. (2004) sugeriu 10 7 cópias de Figura 1.3.: (A) Depleção de linfócitos moderada a severa e infiltração granulomatosa em tecido linfóide, corado pelo método da hematoxilina/eosina. (B) DNA de PCV2 (quantidade de alta a moderada) detectado em tecidos linfóide por hibridização in situ (em inglês, ISH), corado pelo método fast green. 30 Suínos & Cia Ano VI - nº 35/2010

DNA/mL como o limiar potencial para se distinguir entre PMWS e infecção subclínica em suínos acometidos. O uso da mesma técnica, em combinação com testes sorológicos (IPMA ou soro neutralização) permite a confirmação ou a exclusão do diagnóstico da PMWS (54, 62). Todavia, estes estudos concluíram que estas técnicas podem ser úteis para aprimorar o diagnóstico da PMWS, mas não servem como alternativa à histopatologia e à detecção do PCV2 nos tecidos. Uma vez que casos individuais de PMWS podem ser diagnosticados em um plantel sem que haja aumento nos índices de mortalidade e sem perdas econômicas associadas à doença (125), surgiu a necessidade do estabelecimento formal da definição de casos no plantel. Por essa razão o Consórcio da União Europeia para o PCVD (www.pcvd.org, 2005) lançou uma proposta na qual dois critérios para o diagnóstico da PMWS no nível da granja foram definidos: 1. Aumento significativo na mortalidade pós-desmame. Essa situação é considerada quando a mortalidade usual (em um período de um a dois meses) for igual ou maior que a média histórica da mortalidade (em um período de, pelo menos, três meses) mais 1,66 vezes o desvio padrão. De modo alternativo, o aumento poderá ser determinado estatisticamente por meio do teste do qui-quadrado. Se os dados históricos não estiverem disponíveis, o aumento na mortalidade poderá ser determinado quando a mortalidade pós-desmame do plantel exceder o nível regional ou nacional em 50% ou mais; 2. Cumprimento da definição de casos individuais de PMWS nos animais da propriedade (é necessário haver um relato de, pelo menos, um a cada cinco suínos necropsiados). Patogenia A Figura 1.4 apresenta uma visão geral dos eventos que se sucedem no decurso da infecção pelo PCV2, além das diferenças já discutidas entre os suínos que desenvolvem PMWS e aqueles que permanecem infectados de modo subclínico. Pouco se sabe a respeito dos eventos que ocorrem nos estágios iniciais da infecção, e as células-alvo para a replicação precoce do PCV2 ainda não foram identificadas. Nos suínos infectados pelo PCV2, a quantidade mais alta de vírus encontra-se no citoplasma das células de linhagem monócitos/macrófagos (155, 160) e estudos in vitro demonstram que o PCV2 é hábil para infectar esses tipos de células, permanecendo de modo persistente por longos períodos de tempo sem nenhuma replicação ativa aparente (58, 192). Já foi sugerido inclusive que, apesar dos monócitos não serem o alvo primário da replicação do PCV2, eles poderiam representar um mecanismo de disseminação para o vírus por meio do hospedeiro (192). Adicionalmente, o PCV2 é capaz de induzir uma diminuição na capacidade funcional de células dendríticas (sigla em inglês, DC) cultivadas in vitro (193). Esse fato mais recente pode ser crítico, devido à função central desse tipo de célula na mediação das respostas imune inata e vírus-específicas. Como a imunidade inata desenvolvida pelos suínos na pós-infecção pelo PCV2 ainda não foi muito estudada, a possibilidade do dano causado pelo PCV2 na funcionalidade das DC in vitro ocorrer também in vivo permanece desconhecida. A confirmação ou não dessa teoria traria informação no sentido de esclarecer quais eventos imunológicos estariam ocorrendo no estágio inicial da infecção pelo PCV2. A viremia causada pelo PCV2 é detectada, inicialmente, sete dias pós inoculação (PI) e os títulos virais aumentam, atingindo um pico entre os dias 14 e 21 PI (156, 148, 136). Nesse período o PCV2 pode estar presente em vários órgãos, embora a carga viral mais alta seja detectada, tipicamente, no tecido linfóide. Além das células de linhagem monocíticas, o PCV2 tem sido detectado em células epiteliais dos rins e do trato respiratório, em células endoteliais, linfócitos, enterócitos, hepatócitos, células da musculatura lisa e células pancreáticas (ácinais e dos dutos) (118, 155, 170, 160). Uma vez que o PCV2 não codifica o seu próprio DNA, polimerases e células na fase S são necessárias para que o vírus complete o seu ciclo de infecção (185), o que nos faz considerar que as células com as mais altas taxas de mitose sejam as mais eficazes no seu processo de replicação. Embora estudos anteriores sugiram que os linfócitos não sejam alvos para a replicação do PCV2 (58, 192), estudos recentes sugerem o oposto. Desse modo, por meio da medida do Cap mrna, a replicação do PCV2 foi revelada na população de linfócitos das células mononucleares do sangue periférico (sigla em inglês, PBMC) e dos linfonodos brônquicos de suínos experimentalmente inoculados com PCV2 (202). Adicionalmente, estudos in vitro demonstraram que PBMC estimuladas pela Concanavalina A (ConA)* são suscetíveis à replicação do PCV2 (202, 95, 98). A caracterização adicional de subpopulações de leucócitos infectadas pelo PCV2 indicou que, principalmente, células T circulantes (CD4 + e CD8 + ) e, em menor extensão, linfócitos B (IgM + ), podem apoiar a replicação do PCV2, enquanto monócitos derivados das PBMC aparentemente não (203, 95, 98). Entre a segunda e a terceira semanas PI desenvolveram-se respostas imunes específicas ao PCV2 (144, 148, 122). A Habilidade do suíno em montar uma resposta imune adaptativa adequada tem sido sugerida como determinante para evitar o progresso * lecitina com efeito hemaglutinante, extraída de uma espécie de feijão. Ano VI - nº 35/2010 Suínos & Cia 31

Figura 1.4. Revisão dos eventos associados no decurso da infecção pelo PCV2, em um modelo experimental. Fatores potenciais envolvidos nessa progressão, tanto em PMWS como em infecções subclínicas, estão indicados nas linhas destacadas. MDA = imunidade passiva; DC = células dendríticas; MO = macrófagos. da infecção pelo PCV2, no sentido da PMWS. Deste modo, o início do desenvolvimento dos anticorpos anti- PCV2 é tipicamente seguido pelo decréscimo nos títulos virais, os quais usualmente levam à resolução do processo de viremia (148, 122, 54, 136). Naqueles suínos acometidos subclinicamente a quantidade de PCV2 detectada nos tecidos é baixa, resultando em menores ou em nenhuma alteração no sistema imunológico, normalmente levando à recuperação. É importante notar, entretanto, que a viremia de longa duração causada pelo PCV2 e/ou a detecção viral nos tecidos têm sido relatadas em suínos infectados experimentalmente de modo subclínico, a despeito da presença de altos títulos de anticorpos anti-pcv2 (05, 144, 148). Em termos de conversão, respostas humorais pobres (16) e, em particular, a ausência de anticorpos neutralizantes (em inglês, NA) específicos anti- PCV2 (123) estão relacionadas com um aumento na replicação viral, o que resulta em severas lesões no tecido linfóide e em mudanças significativas no sistema imunológico. Esses eventos levam os suínos ao estado de depressão característico da PMWS. Como já visto em condições experimentais, estudos a campo realizados em granjas infectadas ou não pela PMWS também revelam diferenças importantes entre os eventos que ocorrem durante episódios de infecções clínicas e subclínicas devidas ao PCV2. Da fase de lactação ao período de engorda/terminação, a proporção de suínos positivos para o PCV2 e a carga viral aumentam gradualmente e coincidentemente com o desmame, fase de anticorpos antipcv2 de origem materna (em inglês, MDA). A mais alta pressão de infecção ocorre no momento em que surge a doença (17, 62). Suínos doentes mostram alta carga viral no soro e em locais de excreção em potencial, juntamente com uma resposta de anticorpos mais fraca, comparada a animais com infecção subclínica (54, 62, 128). Naqueles suínos subclinicamente infectados, a duração da viremia é variável, entre cinco e 21 semanas. Uma alta proporção de suínos pode se apresentar virêmica e, ao mesmo tempo, ter altos níveis de anticorpos antipcv2 (172). Fatores que influenciam a progressão da infecção por PCV2 para PMWS Até os dias de hoje, os mecanismos pelos quais os suínos desenvolvem a PMWS ou permanecem subclinicamente infectados com o 32 Suínos & Cia Ano VI - nº 35/2010

PCV2 continuam desconhecidos. Inúmeros fatores têm sido identificados como influenciadores no progresso da infecção pelo PCV2 em direção à PMWS (Figura 1.4.) e, consequentemente, a patogenia da doença ainda não é totalmente compreendida. Sua complexidade é adicionalmente influenciada pela falta de um modelo experimental universal para a doença que possa ser reproduzido. Tentativas de reproduzir a PMWS somente com o PCV2 renderam resultados bemsucedidos em um número limitado de estudos (05, 83, 16, 67). Na maioria das ocasiões a simples inoculação com o PCV2 resulta em infecções subclínicas (13, 45, 107, 144, 01). As chances de se chegar à doença clínica aumentam quando o PCV2 é inoculado em combinação com outro patógeno que acometa o suíno, como o parvovírus suíno (PPV) (05, 45, 68), o vírus da síndrome respiratória e reprodutiva dos suínos (PRRSv) (07, 156) ou o Mycoplasma hyopneumoniae (131). Crescimento da replicação do PCV2 e desenvolvimento da PMWS têm sido induzidos também após a estimulação do sistema imunológico, tanto pela injeção (87, 89, de produtos imunoestimulantes 60, 197), ou pela vacinação (130). Baseado em todos esses dados, tem sido postulado que o estímulo ao tecido linfóide seja por infecções concomitantes ou por qualquer outro fator imunoestimulante promova um ótimo ambiente para a replicação do PCV2. De modo interessante, a indução de um estado de imunossupressão nos suínos, por meio da injeção de ciclosporina ou dexametasona, também resultou em regulação posterior da replicação do PCV2 nos tecidos dos animais infectados (88, 80, 122). Nesse contexto, o aumento na carga viral foi atribuído ao enfraquecimento induzido à resposta imune dos suínos tratados. Para aumentar o esclarecimento sobre a patogenia da doença, vários experimentos e estudos a campo têm sido realizados no sentido de identificar os fatores que influenciam o efeito da PMWS. Desse modo, fatores inerentes ao individuo, ao vírus e fatores influenciadores da interação vírus/ hospedeiro têm sido relatados. Com relação a fatores hospedeiro-dependentes, tem-se afirmado que a susceptibilidade à PMWS poderia ser determinada geneticamente, uma vez que alguns dados de campo ou experimentais indicam certos cruzamentos ou linhagens genéticas como mais frequentemente acometidos (102, 132, 133). Adicionalmente, o fato dos suínos com antecedentes genéticos idênticos poderem expressar diferentes sintomas clínicos após a inoculação experimental do PCV2, também sugeriu a existência de variabilidade genética interindividual. Muito recentemente foi relatado que o cromossomo suíno 13 poderia conter genes que confeririam suscetibilidade à PMWS, e um gene candidato em potencial chegou a ser identificado (78). Esse gene codifica para a proteína MyRIP, a qual está envolvida no tráfico citoplasmático de vesículas e na exocitose. Os autores especularam que a persistência do PCV2 nas vesículas celulares do sistema imune inato poderia estar relacionada com a falta de tráfico citosólico, mediado por meio da MyRIP. Entretanto, a suscetibilidade à PMWS poderia não estar relacionada a nenhum polimorfismo na codificação de parte da proteína MyRIP, tampouco com a expressão diferencial desse gene entre suínos sãos e doentes. A respeito dos fatores vírusdependentes, demonstrou-se que suínos inoculados experimentalmente com um PCV2 submetido a um alto número de passagens em cultivo celular apresentaram tanto viremia, como lesões associadas ao PCV2 reduzidas, em comparação com suínos inoculados com a cepa selvagem do PCV2 (52). Estas diferenças foram atribuídas a duas mutações aa na proteína Cap, sugerindo que mudanças mínimas no genoma do PCV2 poderiam contar como causadoras de diferenças na virulência e na patologia associadas ao mesmo. Tem sido afirmado também que o genoma do PCV2 poderia influenciar o progresso da infecção pelo vírus. Vários estudos epidemiológicos demonstraram que isolados do PCV2 estavam associados à ocorrência de PMWS numa frequência maior, comparados com isolados pertencentes ao genótipo PCV2a, o que sugere a existência de diferenças na virulência (18, 26, 56, 61, entre os genótipos do PCV2 199). Essa associação, entretanto, não pode ser reproduzida em um estudo controlado, delineado com esse propósito, usando isolados de PCV2 de cada genótipo (136). A presença de anticorpos anti- PCV2 passivos (adquiridos) no momento da exposição ao vírus é também um importante fator a considerar. Muitos estudos conduzidos com suínos, natural e experimentalmente infectados com o PCV2, revelaram que a replicação viral e a expressão da PMWS são altamente influenciadas pela presença de anticorpos anti-pcv2. Sob condições de campo, tem sido demonstrado que os suínos geralmente não desenvolvem PMWS antes de quatro semanas de idade (152, 62) nem se infectam enquanto os anticorpos anti-pcv2 de origem materna (MDA) estão presentes (62). Os autores desses estudos sugerem que a imunidade materna deveria conferir proteção contra a infecção por PCV2 e a doença. Sob condições experimentais, o efeito protetor dos MDA tem sido provado e demonstrado como dependente do título de anticorpos obtido por meio da ingestão do colostro (117, 139). Ano VI - nº 35/2010 Suínos & Cia 33

A implementação do plano de Madec reduz significativamente as perdas associadas à PMWS. Além dos fatores dependentes do hospedeiro e do vírus, outros fatores principalmente relacionados às rotinas de manejo implementadas no plantel, têm sido relatados como responsáveis pelo aumento do risco da aquisição da PMWS (154, 103). Não há dados científicos disponíveis, relativos ao fato do manejo influenciar no surgimento da doença. Entretanto, sabe-se que certas rotinas, como a mistura de suínos com idades diferentes ou baias muito extensas, podem aumentar o nível de estresse entre os animais. Baixas no sistema imune relacionadas a fatores estressantes podem explicar a alta ocorrência de PMWS, seguida de certas medidas de manejo. Apesar de toda a pesquisa realizada, o exato mecanismo pelo qual todos os fatores anteriormente mencionados desencadearia o desenvolvimento da PMWS não é conhecido. No entanto, quando todos os dados acumulados são considerados, torna-se evidente que suínos acometidos pela PMWS diferem daqueles com infecção subclínica, tanto na carga viral do PCV2 quanto na extensão dos danos causados ao sistema imune (Figura 1.4.). Ambos os fatos apontam para o equilíbrio entre a capacidade do suíno em produzir uma resposta imune eficaz contra o PCV2 e a habilidade viral em evadir-se/ deprimir o controle imunológico, como pontos chave na patogenia da PMWS. Medidas de controle Antes da disponibilidade de vacinas contra o PCV2, as medidas de prevenção contra a PMWS focalizavam-se no controle dos fatores de risco envolvidos no progresso da doença. Um plano de recomendações contendo 20 pontos importantes foi proposto, no sentido de ajudar os produtores a identificar e ajustar práticas de manejo que favoreciam o aparecimento da mesma (105). Eram recomendações focalizadas principalmente na redução da pressão de infecção do PCV2 e de outros agentes infecciosos e na minimização do estresse nos suínos. Os pontos principais do plano de Madec incluem: 1) limitação do contato entre suínos de leitegadas distintas; 2) redução do estresse; 3) otimização das condições de higiene, por meio de procedimentos de limpeza e desinfecção e 4) boa nutrição. A implementação do referido plano reduziu significativamente as perdas associadas à PMWS, sendo o mesmo ainda considerado nos dias de hoje um modelo de estratégias de intervenção para o controle da referida doença. Atualmente, além de controlar os fatores desencadeantes da PMWS, a prevenção de surtos da doença pode ser obtida de modo efetivo pelo controle do PCV2 por meio da vacinação. A informação sobre vacinas comerciais disponíveis contra o PCV2 está revista na seção 3.2.2.1. O PCV2 e o sistema imune Imunopatogenia da infecção pelo PCV2 Atividade imunomoduladora do PCV2 A noção de que suínos acometidos pela PMWS padecem de uma imunodeficiência adquirida (33) levou à especulação de que a infecção pelo PCV2 poderia modular a defesa imune do hospedeiro. Recentemente, muitos estudos in vitro têm apoiado essa hipótese e esclarecido alguns aspectos do complexo de interação entre o PCV2 e as células do sistema imune. A infecção pelo PCV2 induz a uma diminuição na atividade funcional das células dendríticas (DC), dependendo da subpopulação envolvida (193). Nas DC mielóides (mdc) a infecção pelo PCV2 não altera a habilidade das mesmas em processar e apresentar o antígeno aos linfócitos T, não interferindo também em sua maturação (192, 193). Reciprocamente, a interação do PCV2 com as DC plasmocitóides (pdc) também conhecidas por cé- 34 Suínos & Cia Ano VI - nº 35/2010

lulas produtoras naturais de interferon ou NIPC (sigla em inglês) induziu a sinais inadequados de resposta ao perigo. Deste modo, a inibição induzida pelo PCV2 ao interferon alpha (em inglês, IFN-α) e o fator de necrose tumoral alpha (em inglês, TNF-α), normalmente produzidos pelo NIPC a partir da interação com oligodeoxinucleotídeos (em inglês, ODNs) com motivos centrais CpG (em inglês, CpG-ODN), consequentemente interferem com a maturação das NIPC, do mesmo modo que com a maturação parácrina das mdc (193). Devido à importância das DC na mediação das defesas inatas, a habilidade do PCV2 em interferir com o seu funcionamento poderia representar uma grande barreira ao desenvolvimento de uma resposta imune adequada, seja contra o próprio PCV2 como a qualquer outro patógeno (194). Quando o PCV2 é adicionado, in vitro, a uma cultura de macrófagos alveolares (em inglês, AM), observa-se uma produção alterada de certas citocinas e/ou quimiocinas. Desse modo, a infecção pelo PCV2 diminui a produção de O 2, radicais livres e H 2 O 2 e aumenta a produção de TNF-α, interleucina 8 (IL-8), fatores quimiotáticos derivados de macrófagos alveolares-ii (em inglês, AMCF- II), fatores estimuladores de colônias de granulócitos (G-CSF) e proteínas quimiotáticas de monócitos I (em inglês, MCP-I) (21). Especula-se que essa alteração na funcionalidade dos AM infectados pelo PCV2 possa favorecer a sua disseminação, tornando também os suínos mais suscetíveis a infecções pulmonares oportunistas e secundárias. A adição do PCV2 a células mononucleares do sangue periférico (PBMC), obtidas tanto de suínos doentes quanto saudáveis, suprimiu a resposta da IL-4 e da IL-2 frente à fitohemaglutinina (em inglês, PHA) e promoveu a secreção das IL-10, IL- 1β e IL-8 (31). De modo interessante, ao contrário do que foi observado para as pdc, o PCV2 induziu a produção de IFN-α nas PBMC (200). Adicionalmente, o PCV2 parece modular a resposta imune específica desenvolvida pelos suínos frente a outros patógenos (82). Desse modo, IL-12, IFN-α, IFN-γ e IL-2 revertem os efeitos das PBMC, após o estímulo do vírus da pseudoraiva ser dessensibilizado pelo PCV2. O efeito inibitório nas reações frente a IL-12, IFN-α e IFN-γ foi mediado pela liberação do IL-10 induzido pelo PCV2. O aumento do nível sérico dessa citocina, in vivo, em suínos infectados pelo PCV2 foi associado ao desenvolvimento da PMWS (176). A implicação de diferentes componentes do PCV2 na modulação da resposta imune tem sido também investigada. Vincent et. al. (2007) concluiu que a diminuição da capacidade funcional das DC induzida pelo PCV2 não requer a replicação viral, sendo mediada pelo DNA do vírus. Os mesmos autores demonstraram que uma concentração mínima de dsdna (forma replicativa) foi necessária para mediar a referida inibição. No caso de PBMC, a supressão da IL-2 e do IFN-γ induzida pelo PCV2, liberada mediante o retorno do antígeno, está associada ao vírus total e a certos CpG-ODNs derivados de seu genoma. Em contrapartida, partículas virais PCV2 like (em inglês, VLP) não demonstram nenhum efeito supressor e não modulam, tampouco, as respostas ao IFN-α (81). De fato, a modulação da produção de IFN-α pela PBMC poderia ser atribuída à presença do CpG-ODN no genoma do PCV2. Sequências com ambas as atividades, IFN-α indutoras e inibidoras foram detectadas, mas os indutores do IFN-α predominaram (200, 81). A maioria dos CpG-ODN inibitórios foram encontrados dentro do gene Rep (81). Com relação à habilidade do PCV2 em induzir a IL-10, ela é mantida apenas desde que o vírus total seja usado no estímulo às células. Nem VLPs, tampouco nenhum dos CpG-ODNs estudados foram identificados como indutores da IL-10 (81). Todos esses dados juntos sugerem que o PCV2 tem o potencial de evadir-se do controle imunológico e de mediar a imunossupressão, por meio do enfraquecimento dos mecanismos de defesa do hospedeiro. Nos dias de hoje ainda não se sabe por que apenas uma pequena proporção de suínos acometidos pelo PCV2 tem o seu sistema imunológico comprometido e incapaz de antagonizar o efeito imunomodulador do PCV2. Imunossupressão em suínos acometidos pelo PCV2 A evidência mais contundente da imunossupressão corresponde à extensa lesão observada no tecido linfóide de suínos acometidos pela PMWS. Ela inclui a depleção dos linfócitos B e T combinada com um aumento no número de macrófagos e a perda ou a redistribuição das células dendríticas interfoliculares (28). No tecido linfóide a depleção dos linfócitos T envolve, principalmente, células CD4 + e, em menor extensão, células CD8 +(161). Outra característica da imunossupressão em suínos acometidos pela PMWS é a alteração dos subconjuntos das PBMC. Em um estudo transversal, no qual casos naturais de PMWS foram comparados com suínos sadios, foi relatado no caso da doença um decréscimo nas subpopulações de IgM +, CD8 + e CD4 + / CD8 +(30). A cinética dessa linfopenia, assim como o fenótipo das células envolvidas, foi adicionalmente caracterizada por Nielsen et. al. (2003), sob condições experimentais e usando suínos livres de doenças específicas (em inglês, SPF). Deste modo, a depleção dos linfócitos B (CD21 + ) e T (CD3 + ) foi observada somente em Ano VI - nº 35/2010 Suínos & Cia 35

suínos inoculados com o PCV2 que, mais tarde, desenvolveram PMWS a qual se iniciou no sétimo dia pósinfecção, tornando-se severa no momento da ocorrência dos sinais clínicos. Mudanças nos subconjuntos de células T envolveram, principalmente, CD3 + CD4 + CD8 + células de memória T. De modo oposto, naqueles suínos inoculados com o PCV2 que não manifestaram sinais clínicos, o número de linfócitos T citotóxicos (CD3 + CD4 - CD8 + ) e linfócitos T γδ (CD3 + CD4 - CD8 - ) aumentou, em comparação com o grupo controle de suínos, sugerindo, em consequência, uma resposta ativa à infecção pelo PCV2. Depleção linfóide e leucopenia são características consistentes de suínos acometidos pela PMWS. Entretanto, ainda não se sabe se a perda de linfócitos é um efeito direto da infecção pelo PCV2 ou uma consequência indireta das respostas à mesma. Alguns autores afirmaram ser a depleção linfóide um resultado da apoptose induzida pelo vírus (170, 84 ). No entanto, resultados contraditórios foram encontrados por outros autores (110, 149). Em um estudo recente observou-se que PBMC infectada por PCV2 apresentou mudanças morfológicas típicas de degeneração celular. Estas mudanças foram correlatas com um aumento no título viral, sugerindo que a infecção da PBMC pelo PCV2 poderia levar à morte celular (95). Foi demonstrado, in vivo, que os linfócitos B e T dão suporte à replicação do PCV2 (141, 202). Ainda que este último fato esteja implícito, a depleção severa observada em suínos acometidos pela PMWS necessita ser elucidada. Imunidade protetiva desenvolvida frente à infecção pelo PCV2 Respostas humorais A maioria dos inquéritos sorológicos publicados, relativos ao PCV2, baseiam-se na detecção do total de anticorpos anti-pcv2 (em inglês, TA), sem que haja determinação de sua atividade neutralizante. No campo, a soro conversão para o TA ocorre em ambos os casos: suínos acometidos pela PMWS e casos de infecção sub-clínica (152, 92, 172, 62). Enquanto alguns estudos não encontraram diferenças entre suínos acometidos ou não pela PMWS, relativas a títulos de TA (92), outros trabalhos relataram respostas fracas em suínos doentes (122, 62). Sob condições experimentais, respostas lentas ou baixos títulos de TA têm sido relatados, com (16, 90, relação à expressão da PMWS 156, 127, 123). Muitos estudos, a campo e experimentais, têm demonstrado que o PCV2 poderia persistir no sangue e nos tecidos, na presença de altos títulos de TA (152, 92, 172, 116, 86, 107) ; entretanto, estes estudos não descriminam anticorpos neutralizados ou não. Tem sido demonstrado que suínos infectados pelo PCV2 desenvolvem anticorpos neutralizantes (NAs) específicos, frente ao mesmo (144, 123,54). Sob condições experimentais, NAs se desenvolveram entre dez e 28 dias pós-infecção (144, 123, 54) e baixos títulos têm sido relatados para um aumento da replicação do PCV2 e desenvolvimento da PMWS (123). Amostras de soro longitudinais de dois estudos a campo distintos, um deles concluído na Bélgica e o outro na Dinamarca, foram analisadas para a presença de NA. Demonstrou-se que NA de origem maternal foi transferido, de modo passivo, a todos os leitões. Os títulos de NA de origem maternal desapareceram gradativamente, até aproximadamente dez semanas de idade nos suínos da Bélgica e três semanas pós-combinação dos lotes nos suínos dinamarqueses. Em ambos os casos, nenhum dos suínos que desenvolveu PMWS soroconverteu para NA. Adicionalmente, outro estudo demonstrou que os níveis de NA foram correlatos com o estado clínicopatológico dos suínos naturalmente infectados (54). Desse modo, suínos positivos para o PCV2, com títulos NA iguais ou acima de 1:512 foram mais considerados como infectados subclínicamente e aqueles com títulos 1:16 tiveram grande probabilidade de adquirir a PMWS.É importante notar que nem todos os suínos com baixos títulos de NA apresentaram baixos níveis de TA (123, 54). Este último fato sugere que alguns animais desenvolvem resposta humoral com baixos NAs ou que NA desenvolve-se mais tarde que a ausência de NA. Um atraso na resposta do NA tem sido relatado em suínos infectados subclínicamente pelo PCV2 (144, 54). Adicionalmente, há um estudo relatando a coexistência de altos títulos de NA e de uma alta carga viral sérica e tecidual (54). Considerados em conjunto, esses dados sugerem que a simples presença de anticorpos anti-pcv2 não garante totalmente a eliminação viral, quando a infecção já se instalou e aponta para um sistema composto por outros mecanismos imunológicos distintos das respostas humorais. Respostas mediadas por células Os preceitos das respostas adaptativas mediadas por células no controle da infecção e da doença causadas pelo PCV2 ainda carecem de um estudo mais profundo. Entretanto, o fato dos suínos acometidos pelo PCV2 apresentarem uma diminuição em suas respostas relativas às células T (30, 126), é sugestivo da sua contribuição no processo de proteção imunitária contra a infecção causada pelo vírus. Adicionalmente, tem sido demonstrado que a imunossupressão artificialmente induzida pode potencializar a replicação viral (88, 80, 122). Em suínos gnotobióticos, o tratamento 36 Suínos & Cia Ano VI - nº 35/2010

Vacinas contra o PCV2 Ingelvac CircoFLEX Tabela 1.2. Vacinas comerciais contra o PCV2 Suvaxyn PCV2 One Dose Empresa Boehringer Ingelheim Fort Dodge Antígeno Regulamentada para uso em Dose e Posologia * IM = intramuscular Cap proteína do PCV2 Leitões (duas semanas e mais velho) 1 ml via IM* dose única Quimera inativada dos PCV1 e 2 Leitões (quatro semanas e mais velho) 2 ml via IM* dose única Porcilis PCV Circumvent Intervet-Schreing Plough Cap proteína do PCV2 Leitões Porcilis PCV : três dias e mais velho Circumvent : três semanas e mais velho 2 ml via IM* Porcilis PCV : duas doses (três dias e três semanas de idade) / dose única (três semanas de idade) Circumvent : duas doses (três e seis semanas de idade) CIRCOVAC Merial PCV2 inativado Fêmeas suínas em idade de reprodução 2 ml via IM* Primeira vacinação: duas doses (três a quatro semanas entre elas), pelo menos duas semanas pré-cobertura (marrãs) ou parto (porcas) Revacinação: uma dose a cada gestação, pelo menos de duas a quatro semanas pré-cobertura com ciclosporina A (CyA), antes da inoculação do PCV2, resultou em aumento da replicação viral. Sugeriuse que esse efeito tenha sido parcialmente mediado por uma diminuição na capacidade de resposta celular, causada pela CyA (88, 122). Ademais, os níveis de expressão do mrna do IFN-γ, em PBMC de suínos inoculados experimentalmente com o PCV2, foram considerados correlatos com a replicação viral e o estado imunossupressor induzido pela CyA. Desse modo, uma expressão mais acentuada do mrna do IFN-γ aparentemente tornou os suínos menos suscetíveis à replicação do PCV2 (22). Outro estudo, no qual os suínos foram imunodeprimidos com dexametasona, mostrou resultados semelhantes. Deste modo, a inoculação do PCV2 em suínos tratados com dexametasona induziu a replicação viral e as lesões virais associadas ao processo, visto que nem o genoma do PCV2, tampouco as lesões associadas ao mesmo, foram detectadas em suínos inoculados somente com o PCV2 (80). Imunidade protetiva conferida pela vacinação contra o PCV2 Vacinas comerciais disponíveis Pelo menos quatro vacinas comerciais, para uso nos suínos em fase de crescimento e para animais em idade de reprodução, estão disponíveis no momento nas maiores regiões produtoras de suínos ao redor do mundo (Tabela 1.2.). A primeira vacina no mercado foi a CIRCOVAC (Merial), uma vacina inativada contra o PCV2 e com adjuvante oleoso, para uso em marrãs e porcas entre duas e quatro semanas pré-cobertura. CIR- COVAC foi a primeira a ser usada na Europa, sob licença temporária em 2004 e já disponível para a maioria dos países europeus e o Canadá, a partir de 2006/2007. Os outros três produtos comerciais são vacinas recombinantes, desenvolvidas para uso nos suínos em crescimento, ao redor da terceira/quarta semanas de idade. Suvaxyn PCV2 One Dose (Fort Dodge) é produzida com base em um vírus quimérico da infecção, que contém o gene imunogênico ORF2 Cap do PCV2, inserido na estrutura genômica central não patogênica do PCV1 (50). Ingelvac CircoFLEX (Boehringer Ingelheim) e as vacinas da Intervet-Schreing Plough (Porcilis PCV e Circumvent ) são vacinas de subunidade baseadas em um produto do ORF2 expresso no baculovírus. Todas as quatro vacinas são baseadas em linhagens do PCV2a. Dados de campo têm demonstrado que todas as vacinas citadas demonstram eficácia notável. Uma drástica redução nas perdas reprodutivas associadas ao PCV2 tem sido observada nos suínos em crescimento, sejam vacinados ou originários de 38 Suínos & Cia Ano VI - nº 35/2010

plantéis vacinados. Desse modo, melhoras nos índices de ganho médio de peso diário e na conversão alimentar, decréscimo nos níveis de mortalidade e redução nos custos com medicação são alguns dos benefícios observados em lotes vacinados (85, 46). A vacinação das fêmeas tem demonstrado efeito benéfico no desempenho dos plantéis reprodutivos. Deste modo, a vacinação de marrãs e porcas tem revelado um aumento no número de leitões nascidos vivos e no número de terminados/porca/ano, além de reduzir o número de mumificados por porca (179, 191). Recentemente, o efeito potencial protetor da vacinação de reprodutoras na prevenção da infecção fetal pelo PCV2 e das falhas reprodutivas, foi investigado sob condições experimentais (160). Porcas-sentinela para o PCV2 e prenhas, foram vacinadas ou receberam placebo no 28º dia de gestação, tendo sido inoculadas com um isolado de PCV2b ao redor do 56º dia. Falhas reprodutivas não puderam ser reproduzidas, mas a infecção das porcas-sentinela prenhas pelo PCV2 resultou em infecção fetal, da qual a vacinação das porcas não foi suficiente para proteger. A vacinação de reprodutoras não preveniu a veiculação do PCV2 por meio do colostro, sugerindo que a vacinação da porca pode não prevenir a transmissão vertical. Até os dias de hoje, poucos estudos têm lidado com o(s) mecanismo(s) subjacente da proteção induzida pela vacina. É comum assumir que o princípio básico da eficácia da vacinação se baseia no efeito protetor dos anticorpos anti-pcv2, seja por aquisição passiva (vacinação das porcas) ou por indução ativa (vacinação dos leitões). Entretanto, baixa resposta de anticorpos ou falta de desenvolvimento dos mesmos após a vacinação nem sempre impede a proteção. Fenaux et. al. (2004a) afirmam que após a imunização com um vírus quimérico PCV1-2, mesmo nem todos os suínos soroconvertendo contra o PCV2, ainda assim estarão protegidos de manifestar viremia pelo referido agente e sinais clínicos após o desafio com o PCV2. Os autores desse estudo sugeriram haver um sistema de controle potencial da imunidade mediada por células, na proteção induzida pela vacinação. Recentemente, foi relatado que o colostro de porcas SPF vacinadas continha células secretoras interferon-gama (em inglês, IFN-γ-SC) PCV2 específicas (59). A transferência das mesmas à sua leitegada foi provada, mas o efeito protetor das mesmas não pôde ser elucidado, uma vez que IFN-γ-SC foram apenas detectadas em leitões neonatos e durante um período de tempo muito curto. Protótipos de vacinas experimentais Além das vacinas comerciais, outros protótipos de vacinas têm sido delineados e testados em diversos modelos in vivo. Estes incluem vacinas inativadas (45), vacinas produzidas a partir de DNA (14, 77, 11, 47, 169) e vacinas de subunidade recombinantes com expressão de proteínas virais do PCV2 (101, 14, 76,197, 47, 196, 12). Dados de estudos realizados com as vacinas anteriormente mencionadas permitem a compreensão de detalhes intrínsecos relativos às respostas imune geradas a partir de diferentes ORFs do PCV2 e suas correspondentes proteínas codificadas. Blanchard et. al. (2003) descobriram que a proteína Cap ORF2-codificada era um potente imunógeno, induzindo a proteção contra o desafio subsequente com o PCV2, ao passo que a proteína Rep, produto de ORF1 era fracamente imunogênica. Proteção imunitária foi atribuída à forte resposta precoce de anticorpos induzida pela Cap, mas não pela Rep. No mesmo estudo, a proteção induzida pelo DNA e por vacinas de subunidade também foi comparada. Interessante notar que enquanto a resposta imune obtida pela vacina de subunidade neutralizou a infecção pelo PCV2, a vacinação com o DNA pareceu promover a replicação do agente nos suínos (15). Em contraste, utilizando como modelo um trabalho realizado com roedores, Shen et. al. (2008) concluiu que a imunização com uma vacina produzida a partir de um plasmídeo de ORF2 (ORF2p) resultou em maior eficácia diante do desafio com o PCV2, comparativamente à proteína Cap. Adicionalmente, ainda que ambos os sistemas tenham eficácia comparável na indução de respostas linfo proliferativas e Cap específicas para células T CD4 +, a ORF2p foi superior à proteína Cap no desencadeamento de células T CD8 + e restauração das respostas dos anticorpos à neutralização viral. Foi sugerido, por essa razão, que as células T CD8 + e as respostas NA teriam papel crucial na indução da proteção vacinal contra o PCV2. Outros estudos, realizados com vetores virais vivos, mostraram que viroses recombinantes que expressam Cap podem induzir repostas humorais específicas e/ou respostas de proliferação de linfócitos ao PCV2 (76, 197, 196, 175, 47, 140, 197). Entretanto, a imunogenicidade desses produtos foi testada na maioria das vezes em ratos, sendo a eficácia em suínos demonstrada uma única vez e em apenas um deles (197). Confira na próxima edição a segunda parte do trabalho de atualização sobre Circovírus Suino - PCV2. Referências Bibliográficas estão disponíveis no site: www.suinosecia.com.br Ano VI - nº 35/2010 Suínos & Cia 39