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EMPRESAS MODELO X EMPRESAS NÃO MODELO DE RESPONSABILIDADE SOCIAL: UM ESTUDO COMPARATIVO DE INDICADORES ECONÔMICO- FINANCEIROS NO PERÍODO DE 2001 A 2004 1. INTRODUÇÃO O agravamento dos problemas sociais e principalmente ambientais à escala mundial tem levado as empresas à um constante questionamento sobre o atingimento de objetivos financeiros e preservação ambiental, o que gerou uma corrente denominada desenvolvimento sustentável. Nos últimos anos, as discussões sobre o desenvolvimento sustentável tem sido alvo de empresas, governos, escolas e institutos de pesquisa. Os aspectos ambientais têm participado intensamente da agenda de discussão dos diversos agentes da sociedade, como por exemplo na convenção mundial sobre mudança climática na ECO-92, no Protocolo de Kioto em 1997, no Pacto Global lançado pela ONU no Fórum Econômico em Davos em 1999 e recentemente com um ex-vice-presidente dos Estados Unidos ganhando o Prêmio Nobel da Paz de 2007 com a divulgação mundial do documentário Uma verdade inconveniente, sobre o aquecimento global. Neste contexto, a legislação ambiental tem-se tornado cada vez mais restritiva, exigindo a responsabilização das pessoas, singulares e coletivas, pelos danos ambientais causados ao planeta. Além disso, nota-se uma crescente pressão social para que as empresas, principais agentes poluidores, internalizem os impactos negativos das suas atividades sobre o meio ambiente, bem como a uma crescente procura por produtos e processos de produção verdes e por investimentos ambientalmente e socialmente responsáveis. Tem se observado também, através dos meios de comunicação, uma crescente preocupação das empresas divulgarem suas ações sociais e ambientais, em propagandas de massa, mídia, televisão, revistas, jornais, etc. Tais fatores estão dando fortes indícios de que as organizações têm assumido posturas mais

2 responsáveis quanto às questões ambientais, marcando o surgimento e consolidação do conceito de Responsabilidade Social Empresarial (RSE), que, a nível mundial, tem exigido das empresas uma atuação, foco e, conseqüentemente prestação de contas nas esferas ambiental e social. Neste contexto, a RSE tem passado cada vez mais pela integração voluntária das preocupações ambientais na estratégia empresarial, através da implementação de Sistemas de Gestão Ambiental (SGA) e da sua certificação de acordo com as normas internacionais ISO 14001 ou européias EMAS, bem como pela elaboração e divulgação de informação sobre a atuação, a performance e os impactos ambientais das atividades empresariais, tais como Balanço Social, Demonstração de valor adicionado, demonstrações com base na GRI, dentre outras formas de apresentação. Uma inquietação acadêmica há já algum tempo, tem questionado se estas atividades de natureza ambiental têm impactos consistentes, negativos ou positivos, na performance econômica-financeira das empresas. Embora muitos estudos científicos, em nível mundial, procuraram identificar a relação entre responsabilidade social corporativa e desempenho financeiro, não encontraram uma resposta definitiva à esta questão. A este respeito, duas correntes de pensamento têm sido distinguidas: A corrente tradicional defende que as iniciativas tendentes a melhorar a performance ambiental impõem elevados custos às empresas, contribuindo, desta forma, para deteriorar a performance financeira das mesmas. Contrariamente, a corrente contemporânea defende que aquelas iniciativas contribuem para aumentar a eficiência e melhorar a imagem da empresa face aos seus stakeholders, podendo constituir um fator de diferenciação e de competitividade e culminar na melhoria da performance financeira. Define-se stakeholder com o grupo formado por acionistas, empregados e outros indivíduos com uma participação nas atividades empresariais que têm interesse no desempenho financeiro, na entrega dos resultados pretendidos e na manutenção e viabilidade dos produtos e serviços da mesma. Na perspectiva tradicional, acredita-se que, dados os custos de muitas iniciativas ambientais, as empresas enfrentam um trade-off, pelo menos no curto prazo, entre a performance ambiental e financeira. Os defensores desta linha de pensamento argumentam que os investimentos na melhoria da performance ambiental representam custos que geralmente não conferem os benefícios correspondentes às

3 empresas, na medida em que tendem a repercutir-se na forma de preços mais elevados dos bens e serviços para os consumidores, desvantagens competitivas face à concorrência e, conseqüentemente, menor retorno para os acionistas. Nesta perspectiva, os investimentos ambientais são vistos como custos extra para as empresas. Como tal, o comportamento racional dos gestores das empresas levá-losia a minimizar os custos discricionários, os gastos ambientais que não são explicitamente exigidos pela lei, com o intuito de proteger os interesses dos acionistas e maximizar a sua riqueza. Assim, dado que se acredita que a performance ambiental só pode ser melhorada em contrapartida de maiores custos e menores lucros para os acionistas, o nível ótimo de performance ambiental seria o preconizado pela legislação ambiental. Estudos têm apontado que problemas como miséria e destruição ambiental estão tomando proporções alarmantes. O desenvolvimento da consciência ecológica em diferentes camadas e setores da sociedade mundial acaba por envolver também o setor empresarial. Os assuntos ligados à gestão ambiental estão crescendo em importância para a comunidade de negócios, em termos de responsabilidade social, do consumidor e do desenvolvimento de produtos. Além disso, a crescente concentração de renda e o agravamento de outros problemas sociais produzidos ao longo do século sensibilizaram os consumidores, que passaram a exigir, cada dia mais, a adoção de padrões de conduta ética que valorizem o ser humano e a sociedade. Conseqüentemente, as empresas passam a se preocupar com a legitimidade social de sua atuação. Uma questão que já vem sendo levantada há algum tempo é se as empresas que se preocupam com tais questões teriam um melhor desempenho econômico-financeiro em comparação às socialmente não responsáveis. Para contextualizar o problema, temos um breve histórico da responsabilidade social desde os seus primeiros passos até a sua difusão por todo o mundo. De maneira geral, as empresas sempre tiveram como objetivo o lucro. Os sócios faziam os seus investimentos e esperavam obter um retorno. Então, não havia

4 grande preocupação com o que acontecia externamente, a menos que isso influísse no lucro. Mas com o passar dos anos, essa visão foi se modificando, perdendo força, e preocupações começaram a surgir. Alguns fatos ocorridos pelo mundo influenciaram nessa mudança de pensamento com mais intensidade. Um marco importante nessa história ocorreu em 1916, quando Henry Ford deixou de distribuir parte dos lucros aos acionistas, revertendo esses lucros em prol da realização de objetos sociais, através de capacitação de produção, aumento de salários e em fundo de reserva para diminuição esperada de receita devido à redução dos preços dos carros. A revolta e a resistência por parte dos acionistas foram grandes, chegando a processos judiciais. Outras ações parecidas foram sendo feitas por outras empresas pelo mundo inteiro. Já na década de 80, depois de alguns alarmes sobre a degradação e os impactos da ação do homem no meio ambiente, surge um novo conceito de atuação das empresas: O desenvolvimento sustentável ou sustentabilidade, que segundo definição feita pelas Nações Unidas é aquele que atende às necessidades das presentes gerações sem comprometer a capacidade de as futuras gerações satisfazerem suas próprias necessidades. A partir da tragédia de Chernobyl, na ex-união Soviética, ocorrida em 1986, quando um reator nuclear explodiu na usina, matando instantaneamente 31 pessoas e provocando várias mortes futuras por câncer devido à exposição à radiação e causando um grande impacto ambiental, esse conceito de sustentabilidade ganhou ainda mais força. Surgiu por todo planeta uma preocupação por parte dos empresários que abrangia além dos funcionários, o meio ambiente e a população em geral. No Brasil, o processo foi mais lento que na Europa e nos Estados Unidos. O movimento de apoio à responsabilidade social, ganha impulso a partir dos anos 90 com o surgimento de muitas ONG s (Organizações Não Governamentais) e em face de uma crescente cobrança por transparência, não bastando atuar de forma responsável, mas sim mostrando resultados. Por isso, as empresas que realizam

5 ações sociais, demonstram sua performance social em relatórios corporativos e balanços sociais, aliando responsabilidade social e transparência. Como destaque tem-se o impulso dado por Herbert de Souza (Betinho), a partir de 1996, sobre a campanha pela atuação das empresas com responsabilidade social, convocando os empresários a um maior engajamento por meio da divulgação do Balanço Social, como um instrumento de demonstração deste envolvimento. Em 1998, foi fundado o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social pelo empresário Oded Grajew. O Instituto serve de ponte entre os empresários e as causas sociais. Seu objetivo é disseminar a prática da responsabilidade social empresarial por meio de publicações, experiências, programas e eventos para os interessados na temática. O objetivo principal de todas essas ações seria, obviamente, a diminuição da pobreza e das injustiças sociais, através da construção de uma cidadania empresarial, ou seja, desenvolver uma sólida e profunda responsabilidade social nos empresários e nas empresas, na busca por desenvolvimento humano, social e ambiental mais justo. Por isso, a expansão dessas campanhas é muito importante, para garantir que todas as pessoas tenham direito as necessidades fundamentais para sobrevivência. Segundo o Relatório Estado do Mundo, publicado pelo Worldwatch Institute (2004), dos 6,2 bilhões de habitantes do planeta, apenas 1,7 consegue consumir além de suas necessidades básicas; 1/3 da população não tem acesso à energia, como eletricidade e combustíveis fósseis. No Brasil, verifica-se que 24,7 milhões de pessoas são considerados indigentes, vivendo com menos de R$ 75 de renda familiar por mês. O país é o quarto país em desigualdade de renda no mundo depois da Namíbia, Lesoto e Serra Leoa. Essa é uma realidade que precisa ser mudada. Supõe-se que o comportamento socialmente responsável das empresas seja um fator que, além de ajudar a melhorar a situação do país, pode contribuir para a sua evolução no processo que inclui o fortalecimento da imagem, da reputação e da longevidade da empresa, podendo também gerar melhores resultados.

6 A cada ano que passa aumenta o número de empresas instaladas no Brasil, nos mais diversos setores e de todos os portes, nacionais e multinacionais, deixando a concorrência acirrada. Segundo pesquisa publicada em Outubro de 2005 pelo Cadastro Central de Empresas do IBGE, entre os anos de 1996 e 2003, o número de empresas cadastradas subiu de 2,9 milhões para 4,7 milhões, um aumento de 62,1%. A responsabilidade social no Brasil é amplamente discutida nos meios acadêmicos e empresariais e seus defensores alegam que o comportamento socialmente responsável é fator diferencial que ajuda a construir e a consolidar a marca empresarial, representando um investimento para a sustentabilidade e o sucesso a longo prazo. Supõe-se que as empresas que almejam maior participação no mercado devem então assumir esse comportamento para obterem o seu diferencial. Realizando ações que beneficiem os menos favorecidos e o meio ambiente, as empresas se tornam mais próximas da população e da realidade que se encontra o país. Há uma corrente, da qual fazem parte: TOMEI (1984), GUIMARÃES (1984) e JONES (1999) que defendem que os problemas sociais devem ser resolvidos pelas instituições governamentais, mas estas, por sua vez, não resolvem todos esses problemas. E a sociedade encontra nos trabalhos sociais feitos pelas empresas, oportunidades de melhores condições de vida. A empresa precisa da sociedade, pois sem sua aceitação nenhuma empresa permanece no mercado. O trabalho propõe, então, questionar se as empresas modelo de responsabilidade social teriam um desempenho econômico financeiro superior ao das empresas não modelo, com o objetivo principal de verificar se existiria diferença nos resultados contábeis e financeiros obtidos por empresas brasileiras modelo e não modelo de diversos portes e ramos de atividade no período de 2001 a 2004. Estudos anteriores, como TSOUTSOURA (2004); ORLITZKY, SCHMIDT, RYNES (2003); ARANTES (2006); já levantaram essa hipótese de que as empresas socialmente responsáveis teriam resultados superiores aos das demais empresas em função das suas ações sociais.

7 Como objetivos específicos, apresentam-se: levantar quais são as empresas modelo de responsabilidade social, segundo o guia Exame de Boa Cidadania Corporativa, a cada ano, de 2001 a 2004; Categorizar essas empresas socialmente responsáveis por ramo de atividade ao qual cada uma delas pertence; levantar dados contábeis e índices de análise de todas as empresas por ramo de atividade, com base na revista Balanço Anual da Gazeta Mercantil, durante esse mesmo período; separar os índices das empresas socialmente responsáveis e depois compará-los com os das empresas não socialmente responsáveis. Escolheu-se abordar como tema desta pesquisa a responsabilidade social das empresas por ser um assunto atual e amplamente discutido, principalmente em meios acadêmicos. Ações sociais podem ser benéficas para pessoas de todas as classes sócio-econômicas e ainda podem trazer melhores resultados para quem as pratica. E para comprovar se realmente a responsabilidade social é um diferencial de competitividade, torna-se importante esse estudo, fazendo um comparativo embasado em dados concretos, a partir da análise dos resultados e rendimentos tanto das empresas socialmente responsáveis, quanto das não responsáveis nos mais diversos setores da economia. A partir disso, as empresas terão parâmetros para avaliar se é ou não viável assumir essa postura socialmente responsável e se vale à pena fazer investimentos dessa natureza. 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Responsabilidade Social Diante da complexidade do assunto e do processo de consolidação da definição do que é Responsabilidade Social das empresas, temos o conceito do Instituto Ethos: Responsabilidade Social é uma forma de conduzir os negócios da empresa de tal maneira que a torna parceira e co-responsável pelo desenvolvimento social. A empresa

8 socialmente responsável é aquela que possui a capacidade de ouvir os interesses das diferentes partes (acionistas, funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio-ambiente) e conseguir incorporá-los no planejamento de suas atividades, buscando atender às demandas de todos e não apenas dos acionistas ou proprietários. (ETHOS, 2000) (CERTO; PETER, 1993, p.279) definem responsabilidade social como o grau em que os administradores de uma organização realizam atividades que protejam e melhoram a sociedade além do exigido para atender aos interesses econômicos e técnicos da organização". (OLIVEIRA, 1984, p.205) aponta responsabilidade social como:...a capacidade de a empresa colaborar com a sociedade, considerando seus valores, normas e expectativas para o alcance de seus objetivos. No entanto, o simples cumprimento das obrigações legais, previamente determinadas pela sociedade, não será considerado como comportamento socialmente responsável, mas como obrigação contratual óbvia, aqui também denominada obrigação social. Segundo Melo Neto e Froes (2004), o objetivo da responsabilidade social corporativa é desenvolver a sociedade e a comunidade a partir de novas inserções e parcerias envolvendo outros agentes, tais como: empresas, ONG's, entidades filantrópicas, associações comunitárias e o próprio Estado. A ênfase é no exercício da cidadania empresarial, sob a ótica da empresa-cidadã, socialmente responsável. O foco é nos direitos humanos, sociais, políticos, culturais e econômicos, envolvendo funcionários e seus familiares, fornecedores, acionistas, clientes, parceiros, membros da sociedade e da comunidade. Ainda na visão do Instituto ETHOS (2000), a responsabilidade social traduz-se na prática pedagógica de levar as empresas de qualquer tamanho e/ou setor a compreenderem e incorporarem um comportamento empresarial socialmente responsável em suas gestões, assumindo suas responsabilidades através de critérios éticos para o retorno a longo prazo sobre seus investimentos.

9 No Brasil, a participação de empresas em ações de responsabilidade social aumentou entre 2000 e 2004, passando de 59% para 69%. Em outras palavras, em 2004, cerca de 600 mil empresas atuavam socialmente de forma voluntária no país. As conclusões são da Pesquisa Ação Social das Empresas, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), ligado ao Ministério do Planejamento. De acordo com a pesquisa realizada pelo Instituto Ação Empresarial pela Cidadania (AEC-PE) em Maio de 2006, 65% dos brasileiros acham que as empresas têm feito bons esforços para construir uma sociedade melhor e mais justa, ou seja, o brasileiro confia mais nas empresas que praticam ações de responsabilidade social. Isso mostra que cada vez mais os consumidores se conscientizam da importância que é a busca por melhores condições de vida para sociedade como também a preservação do meio ambiente, que colaboram para que todos tenham uma vida com mais qualidade. É uma forma da empresa se adaptar ao que o mercado pede. A esse respeito, DUARTE (1986) acredita que a empresa é moldada pelo contexto no qual está inserida: Deve-se notar que as organizações são entidades concretas, planejadas, criadas, estruturadas e dirigidas para o desempenho de determinadas tarefas e não meras abstrações formais ou construtos teóricos. Também não funcionam no vácuo. Inseridas no ambiente, interagem nele e com ele, afetando-o e sendo por ele afetadas (DUARTE, 1986. p. 37). As empresas que, estrategicamente, estão voltadas à gestão da responsabilidade social assumem uma função de relevante interesse social tratando de questões que englobam o meio ambiente, portadores de necessidades especiais, educação, saúde, idoso, criança e outros. Para MELO NETO e FRÓES (1999, p.78), os principais vetores da responsabilidade social são: apoio ao desenvolvimento da comunidade onde atua; preservação do meio ambiente; investimento no bem estar dos funcionários e seus dependentes, em um ambiente de tratamento agradável, e em comunicações transparentes; retorno aos acionistas; sinergia com os parceiros; e satisfação dos consumidores.

10 Todos esses componentes envolvidos nesse contexto da responsabilidade social, ou seja, todos os públicos com os quais a organização possa interagir como clientes, funcionários, fornecedores, acionistas, governo, sociedade e meio ambiente são chamados os seus stakeholders 1. As empresas, por meio das práticas sociais, ampliam as formas de relacionamentos com seus stakeholders, buscando obter um diferencial competitivo. Segundo Berkowitz et al. (2003, p.112), a responsabilidade social para com o stakeholder se concentra nas obrigações que uma organização tem para com aqueles que podem afetar a realização de seus objetivos. E se tratando de objetivos, Melo Neto e Fróes (2001, p.40), acham que o exercício da responsabilidade social tem por objetivo a melhoria da imagem institucional da empresa, o que se traduz na melhoria da sua reputação. São os ganhos institucionais da condição de empresa cidadã que justificam os investimentos em ações sociais. E essa é uma questão sempre levantada, de quais seriam os motivos que levariam uma empresa a agir de forma socialmente responsável, se isso traria algum retorno. Muitos autores defendem a tese de que a responsabilidade social é um diferencial competitivo no mercado. Segundo De Luca (2005, p.25): no atual ambiente empresarial, a responsabilidade social é vista como uma estratégia para aumentar o lucro e potencializar o desenvolvimento das empresas a longo prazo, considerando as novas exigências da sociedade. Montana e Charnov (2000) afirmam que é do interesse das empresas melhorar a comunidade na qual estão localizadas e fazem negócios já que tal melhoria implicaria em benefícios para a própria empresa. Uma atuação socialmente 1 Stakeholder ou, em Português, parte interessada, refere-se a todos os envolvidos em um processo, por exemplo, clientes, colaboradores, investidores, fornecedores, comunidade, etc.

11 responsável seria bem aceita em nossa sociedade pautada por valores judaicocristãos que encorajam a prática da caridade. Uras (1999) afirma que, mesmo num momento de crise, a Responsabilidade Social deve ser enfocada na gestão empresarial, cada vez com mais ênfase, não somente por considerações de natureza ética, mas também porque é um bom negócio. O autor cita os benefícios advindos de uma orientação empresarial ética e com Responsabilidade Social: Uma organização ética ganha confiança do mercado e, no cenário atual globalizado a reputação e confiança são grandes vantagens competitivas. As organizações confiáveis atraem a lealdade de clientes, que deve ser um dos fatores mais procurados em qualquer relacionamento. Internamente uma organização ética e com Responsabilidade Social possibilita a criação de um ambiente que suporta e estimula a criatividade e a ausência de medo para assumir responsabilidades, podendo responder mais rápida e eficientemente às demandas dos clientes. Quanto às organizações estão perdendo com as táticas que seus funcionários usam para proteger-se motivados pela falta de transparência da alta direção e de confiança na gestão empresarial? (URAS, 1999. p.59) Ainda pertencendo a esse grupo, Rico (2000) acredita na importância da Responsabilidade Social empresarial e, para a autora, existem alguns motivos que estão mobilizando os investidores no Brasil: a exclusão social no País que acaba atingindo os negócios das empresas; maior visibilidade das empresas; Imagem Institucional e estabelecimento de um diferencial em relação às outras empresas; o investimento educacional que proporciona em médio e longo prazo uma mão-deobra qualificada, de acordo com as exigências da economia global. As empresas podem contribuir para que os governos elaborem estruturas normativas e institucionais destinadas a eliminar obstáculos para o investimento responsável do setor privado e desenvolvimento econômico local, emprego e meio ambiente. Mas nem todos os autores concordam que as empresas devem incorporar a responsabilidade social à sua política administrativa, que isso não é uma coisa

12 importante e muito menos uma obrigação. Essa corrente diz que isso teria altos custos e prejudicaria os lucros da empresa. Segundo Friedman 2, citado por Tomei (1984), só há uma e apenas uma Responsabilidade Social da empresa: utilizar recursos (para produção) e colocá-los em atividades a fim de maximizar os lucros. De acordo com este ponto de vista, a Responsabilidade Social é um comportamento de antimaximização de lucros, assumido para beneficiar outros que não são acionistas da empresa. Procedendo com Responsabilidade Social, acredita o autor, a empresa está se autotributando e, ao invés de ser elogiada, deveria ser processada. Ainda nesse sentido, (GUIMARÃES, 1984. p.209), sustenta a opinião de que... somente as organizações monopolistas, aquelas que têm o domínio completo do mercado, é que podem desenvolver programas sociais. Só elas poderiam manter seus lucros elevados, transferindo gastos para o consumidor. Outro argumento contrário a essas ações baseia-se no conceito da função institucional. (LEAVITT, 1958 citado por JONES, M. 1999) assume que outras instituições como o governo, sindicatos, igrejas, organizações civis existem para realizar o tipo de função requerida pela responsabilidade social. Outro ponto é que os gestores de empresas de mercado não possuem habilidades e/ou tempo para implementar ações de cunho público. Alguns estudos semelhantes trazem resultados sobre assumir esse papel de empresa com responsabilidade social corporativa. Segundo pesquisa realizada por Tsoutsoura (2004), da Universidade de Berkeley, na Califórnia, em 2004, analisando através de estudos empíricos a relação entre a responsabilidade social incorporada e o desempenho financeiro das empresas entre os anos de 1996 e 2000, num total de 422 companhias, chegou-se à conclusão que a relação é positiva. O desempenho financeiro depende também de um bom 2 FRIEDMAN, Milton. Capitalismo e liberdade. São Paulo: Arte Nova,1977.

13 desempenho socialmente responsável. As companhias socialmente responsáveis têm uma imagem realçada e uma reputação positiva entre consumidores; têm também a habilidade de atraírem mais empregados hábeis e sócios para seus negócios. As companhias que adotam os princípios da responsabilidade social corporativa são mais transparentes e têm menos riscos de eventos negativos como, por exemplo, corrupção. Outro estudo feito por Orlitzky, Schmidt, Rynes (2003), diz que podemos ter confiança nessa associação entre desempenho financeiro e responsabilidade social corporativa, mas justifica que elas se afetam mutuamente através de um ciclo vicioso. As companhias mais bem sucedidas financeiramente gastam mais porque têm recursos para isso, mas a responsabilidade social ajuda-lhes também a transformar-se numa empresa mais bem sucedida. Arantes (2006), em estudo sobre o Investimento em Responsabilidade Social e sua relação com o desempenho Econômico das Empresas baseada na valorização das ações de empresas segundo o índice Dow Jones de Sustentabilidade (DJSI) em comparação ao índice Dow Jones geral (DJGI), no período de Dezembro de 1993 a Dezembro de 2005, concluiu sobre uma maior a valorização de ações das empresas que investem em ações socialmente responsáveis, além de adotarem a sustentabilidade como prática inserida no negócio. A conquista de mercados internacionais e a preferência do consumidor por produtos fabricados por empresas socialmente responsáveis são exemplos do retorno positivo e dos benefícios que o investimento em responsabilidade social proporciona. Segundo a autora, ao investir em responsabilidade social e no desenvolvimento sustentável, as empresas contribuem não somente para reduzir as desigualdades sociais existentes e minimizar os impactos negativos que suas atividades podem causar para o meioambiente, mas também garantem a perenidade do próprio negócio ao conquistar a preferência dos investidores e consumidores. Tinoco e Costeira (2006, p.141-142) estudaram o desempenho econômico, financeiro e social de empresas do setor alimentício brasileiro no período de 2000 a 2004. Os autores buscaram relacionar indicadores de desempenho, tais como

14 Retorno sobre o Patrimônio Líquido RSPL; Retorno sobre o Ativo - RSA, Margens Líquidas e Brutas; Estrutura, tais como: Participação de Capitais de Terceiros, Endividamento, Índice de Cobertura de Pagamento, Imobilização de Recursos Não Correntes; Indicadores de Liquidez; Indicadores de Atividade; outros indicadores financeiros, como EBITDA, Alavancagem e a Demonstração do Valor Adicionado com indicadores sociais. Como principal conclusão, evidenciou que a qualidade das decisões de investimento e financiamento é que efetivamente determina a riqueza dos proprietários. O exercício da responsabilidade corporativa gera retorno para a empresa, aprimora os relacionamentos com seus diversos usuários e promove o desenvolvimento sustentável do local onde a empresa está instalada. Santana, Périco e Rebelatto (2006) estudaram a importância dos investimentos em responsabilidade sócio-ambiental para o desempenho financeiro corporativo de doze empresas distribuidoras de energia elétrica em 2003 e 2004. Os autores utilizaram a ferramenta Análise por Envoltória de Dados (DEA) para calcular a eficiência das empresas, sendo que um dos principais inputs utilizados foi o investimento em responsabilidade sócio-ambiental. Os resultados alcançados identificam forte correlação entre faturamento corporativo e investimento em responsabilidade socioambiental, sendo possível concluir que o faturamento das empresas pode ter, como um dos fatores explicativos, os investimentos em responsabilidade sócioambiental. Nas conclusões, os autores reconhecem que investimentos em RSE não são o único fator determinante de sucesso. Ressaltam que tais investimentos são relevantes, mas é necessário considerar outros fatores também, de forma a explicar o êxito de corporações. Há um mix de inputs que deve estar equilibrado para que a

15 empresa obtenha bons resultados financeiros. Contudo são fortes os indícios que há associação entre RSE e o desempenho financeiro das empresas. Borger (2001) estudou a influência da adoção dos conceitos e ferramentas da RSE na gestão empresarial de três empresas brasileiras. A autora avaliou vários aspectos ligados à gestão das empresas. Com relação ao desempenho econômico, encontrou evidências de que o resultado econômico das empresas avaliadas foi afetado positivamente pela atuação orientada pela RSE, e a autora supõe existir uma relação positiva entre o desempenho financeiro e as práticas de RSE, conforme ilustra o relato: A inserção da RSE na estratégia geral e nas estratégias setoriais é um fator que diferencia as empresas e seu desempenho econômico. As três empresas incluíram a RSE na sua estratégia geral, pois é um diferencial competitivo, mas a Natura foi além,incluindo-a na sua estratégia de inovação, de comunicação e marketing, o que indica que a inclusão nas estratégias das empresas é um fator que afeta o desempenho econômico, senão no curto prazo, a longo prazo. (BORGER, 2001, p.243). Kitahara (2007) pesquisou a existência de relações significativas entre o desempenho financeiro de empresas e o seu nível de investimento em ações de responsabilidade social no período de 2000 a 2004. O autor coletou informações de 897 Balanços Sociais publicados por 298 empresas brasileiras de diversos portes e segmentos e buscou relação com indicadores de desempenho financeiro das mesmas. Como principal resultado, verificou que há relação entre os indicadores financeiros e indicadores de responsabilidade social, tanto para empresas que operam com resultado positivo ou negativo, contudo esta foi influenciada pelo ramo de atividade, porte da empresa e ano de publicação do Balanço Social.

16 O estudo de Bernardo et al (2007) evidenciou, por meio de modelo econométrico, que os investimentos em responsabilidade social criaram valor econômico agregado (EVA) para empresas brasileiras de capital aberto que publicaram o Balanço Social modelo IBASE, de 2000 a 2003, gerando indícios que os investimentos sociais internos e ambientais representaram uma relação direta com a criação de valor para o acionista. Nesta mesma linha o estudo de Borba (2005) verificou a relação entre os desempenhos financeiro e social de empresas brasileiras no período de 2000 a 2002. Como principais resultados verificou a existência de correlação entre as duas variáveis supra citadas. 2.2 Indicadores Econômico-Financeiros Os indicadores econômico-financeiros procuram relacionar elementos afins das demonstrações contábeis de forma a melhor extrair conclusões sobre a situação da empresa. Existem diversos índices úteis para o processo de análise, sendo metodologicamente classificados nos seguintes grupos: liquidez, operacional, rentabilidade, endividamento e estrutura, análise de ações, dentre outros. Neste trabalho procurou-se usar os seguintes indicadores: EBITDA, Giro dos Ativos, NCG Necessidade de Capital de Giro, Incidência Tributaria, Margem de Lucro, Endividamento, e Retorno sobre o Capital. A justificativa para utilização dos mesmos, reside no fato de que tais índices são calculados anualmente no periódico Balanço Anual da Gazeta Mercantil no qual há uma classificação de empresas e grupos/segmentos econômicos. Através da análise desses indicadores foi possível obter um panorama da situação econômico-financeira das empresas modelos ou não em responsabilidade social, traçando um paralelo entre elas, para testificar se a prática da responsabilidade social influencia na obtenção de resultados. A seguir são definidos cada um dos indicadores utilizados.

17 1 EBITDA (Earning Before Interests, Taxes, Depreciation and Amortization) (%) Em português, significa Lucro Antes dos Juros, Impostos, Depreciação e Amortização, também conhecido como LAJIDA. O Ebitda ou Lajida leva em conta apenas o desempenho operacional da empresa e não reflete o impacto no resultado, dos itens extraordinários, das despesas com investimentos e das mudanças havidas no capital de giro. O cálculo do EBITDA é muito simples: ao Lucro Operacional Líquido antes dos impostos adicionam-se os juros, depreciação e amortização. (BALANÇO ANUAL, 2004) Segundo ASSAF NETO (2001, p.207) o EBITDA revela, em essência, a genuína capacidade operacional de geração de caixa de uma empresa, ou seja, sua eficiência financeira determinada pelas estratégias operacionais adotadas. Quanto maior o índice, mais eficiente se apresenta a formação de caixa proveniente das operações (ativos), e melhor ainda, a capacidade de pagamento aos proprietários de capital e investimentos demonstrada pela empresa. 2 Giro dos Ativos (%) Quociente entre receita líquida e ativo total, como expressão da eficiência com a qual os ativos são utilizados para gerar vendas de produtos e serviços. Mostra o tamanho do ativo comprometido para sustentar um nível específico de vendas, ou seja, os valores de vendas gerados por cada unidade monetária de ativos. (BALANÇO ANUAL, 2004) Para GITMAN (2001, p.138) o giro dos ativos indica a eficiência com a qual a empresa usa seus ativos para gerar vendas. Geralmente, quanto maior for o giro do ativo total, mais eficiente será o seu uso. Já HELFERT (2000, p.86) diz que o giro dos ativos é indica o tamanho do ativo comprometido para sustentar um nível específico de vendas ou, reciprocamente, os valores de vendas gerados por cada unidade monetária de ativos. 3 NCG (Necessidade de Capital de Giro) (%) As saídas de caixa ocorrem antes das entradas de caixa, criando uma necessidade permanente de aplicação de fundos, evidenciada pela diferença entre o valor das contas operacionais do ativo circulante e das contas operacionais do passivo

18 circulante. Essas contas operacionais são também conhecidas como contas cíclicas. O ativo circulante operacional (ACO) é o investimento que decorre automaticamente das atividades de compra / produção / estocagem / venda, enquanto o passivo circulante operacional (PCO) é o financiamento, também automático, que decorre dessas atividades. Essas contas mantêm estreita relação com a atividade operacional da empresa. São diretamente influenciados pelo volume de negócios (produção e vendas) e características das fases do ciclo operacional. O cálculo da NCG é feito através da equação: NCG = ACO PCO. (BALANÇO ANUAL, 2004) Segundo MATARAZZO (2003), a Necessidade de Capital de Giro é não só um conceito fundamental para a análise da empresa do ponto de vista financeiro, ou seja, análise de caixa, mas também de estratégias de financiamento, crescimento e lucratividade. 4 Incidência Tributária (%) É a forma pela qual o ônus do imposto é dividido entre os participantes do mercado. Quociente entre lucro líquido e lucro operacional, com base na premissa de que, através de seu planejamento tributário, a empresa faria um esforço para conservar a maior proporção possível de seu lucro operacional sob a forma de lucro líquido. (BALANÇO ANUAL, 2004) 5 Margem de Lucro (%) A margem de lucro indica qual a porcentagem de lucro contida em cada unidade de mercadoria vendida ou de serviço prestado. É o quociente entre lucro operacional e receita líquida, para reconhecer a importância da rentabilidade das operações básicas da empresa para o nível de retorno sobre o capital aplicado. (BALANÇO ANUAL, 2004) De acordo com REIS (2003, p. 156), a margem de lucro indica qual a porcentagem de lucro contida em cada unidade monetária de mercadoria vendida ou de serviço prestado e, por complemento aritmético, o custo respectivo.

19 6 Endividamento (%) Indica o grau de endividamento da empresa, ou seja, quanto do capital existente no ativo está comprometido com o pagamento das dívidas. Quociente entre ativo total e patrimônio líquido, como indicador do grau pelo qual a administração da empresa conseguiu alavancar favoravelmente os níveis de rentabilidade e eficiência das operações, ampliando assim o retorno sobre o capital. (BALANÇO ANUAL, 2004) Na opinião de HELFERT (2000, p. 103), esse índice descreve a proporção de dinheiro de terceiros em relação ao total de direitos contra os ativos da empresa. Quanto maior o índice, maior o risco provável para o credor. Sobre esse mesmo índice, GITMAN (2001, p. 139) diz: a posição do endividamento de uma empresa indica o montante de recursos de terceiros sendo usado com o intuito de gerar lucros. 7 Retorno Sobre o Capital (%) O retorno sobre o capital é um indicador que mede quanto o acionista receberá por cada unidade monetária investida na empresa. Ele é obtido dividindo-se o lucro/prejuízo líquido pelo PL (Patrimônio Líquido). (BALANÇO ANUAL, 2004) GITMAN (2001, p. 143) afirma que a taxa de retorno sobre o capital mensura o retorno sobre o investimento dos proprietários na empresa. Quanto maior for esse retorno, melhor para os proprietários. 3. ASPECTOS METODOLÓGICOS A abordagem metodológica utilizada nesse trabalho baseia-se na pesquisa de avaliação quantitativa, pois utilizou dados contínuos. È também a descritiva, pois registrou, classificou e interpretou dados e fatos da realidade sobre um determinado assunto, evidenciando esses dados, mas sem interferir ou modificar essa realidade.

20 Foram objetos desta pesquisa as empresas citadas como modelo de responsabilidade social no Guia de Boa Cidadania Corporativa da Revista Exame no período de 2001 a 2004. Essas empresas foram escolhidas através da análise dos indicadores do instituto Ethos. Esses indicadores são uma ferramenta de aprendizado e avaliação da gestão no que se refere à incorporação de práticas de responsabilidade social empresarial ao planejamento estratégico e ao monitoramento e desempenho geral da empresa. Na coleta de dados foi utilizado a técnica de pesquisa documental. Como critério de amostragem, foi feito um censo, limitado às informações do periódico Balanço Anual, pois foram consideradas todas as empresas que tiveram os seus indicadores publicados no referido periódico. Depois de selecionadas, as empresas foram separadas pelo ano em que foram citadas e por setor de atividade a qual pertenciam. Feito isso, foram retirados do periódico Balanço Anual da Gazeta Mercantil os indicadores econômico-financeiros para se fazer uma comparação entre as empresas consideradas ou não modelo de responsabilidade social. Esses indicadores foram apurados pelo periódico através de uma avaliação que é feita com base nos demonstrativos contábeis do último exercício das empresas. As análises dessas demonstrações contábeis foram elaboradas consoantes às práticas pertinentes à Legislação Societária e normas da Comissão de Valores Mobiliários. Conforme indicado anteriormente, os indicadores utilizados foram: o EBITDA ou LAJIDA (Lucro Antes dos Juros, Impostos, Depreciação e Amortização), a Necessidade de Capital de Giro, a Incidência Tributária, a Margem de Lucro, o Giro dos Ativos, o Endividamento e o Retorno Sobre Capital. Para efeito de comparação, foi aplicado o teste t de Student, (TRIOLA 1999; FREUND & SIMON 2000). Esse teste é feito para testar afirmações sobre parâmetros populacionais, relativos a Médias de Pequenas Amostras, ou seja, amostras menores que 30 (trinta). Foi utilizado, pois analisa especificamente uma amostra para distinguir entre os resultados que podem ocorrer facilmente e os que dificilmente ocorrem. Podendo explicar a ocorrência de resultados altamente improváveis dizendo que ocorreu efetivamente um evento raro, ou que as coisas não são como supúnhamos.