UNESC ENFERMAGEM SAÚDE DO ADULTO PROFª.: FLÁVIA NUNES O Diabetes Mellitus configura-se hoje como uma epidemia mundial, traduzindo-se em grande desafio para os sistemas de saúde de todo o mundo. O envelhecimento da população, a urbanização crescente e a adoção de estilos de vida pouco saudáveis como sedentarismo, dieta inadequada e obesidade são os grandes responsáveis pelo aumento da incidência e prevalência do diabetes em todo o mundo. Segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde, o número de portadores da doença em todo o mundo era de 177 milhões em 2000, com expectativa de alcançar 350 milhões de pessoas em 2025. No Brasil são cerca de 10 milhões de portadores. As conseqüências humanas, sociais e econômicas são devastadoras: são 4 milhões de mortes por ano relativas ao diabetes e suas complicações (com muitas ocorrências prematuras), o que representa 9% da mortalidade mundial total. A expectativa de vida é reduzida em média em 15 anos para o diabetes tipo 1 e em 5 a 7 anos na do tipo 2; os adultos com diabetes têm risco 2 a 4 vezes maior de doença cardiovascular e acidente vascular cerebral; é a causa mais comum de amputações de membros inferiores não traumática, cegueira irreversível e doença renal crônica terminal. Em mulheres, é responsável por maior número de partos prematuros e mortalidade materna. No Brasil, o diabetes junto com a hipertensão arterial, é responsável pela primeira causa de mortalidade e de hospitalizações, de amputações de membros inferiores e representa ainda 62,1% dos diagnósticos primários em pacientes com insuficiência renal crônica submetidos à diálise. 1
DEFINIÇÃO É um grupo de distúrbios heterogêneos caracterizado por níveis elevados de glicose no sangue, ou hiperglicemia. A glicose é formada no fígado a partir de alimentos ingeridos; A insulina é um hormônio produzido no pâncreas que controla o nível de glicose no sangue regulando a produção e armazenamento de glicose. DEFINIÇÃO O diabetes é um grupo de doenças metabólicas caracterizadas por hiperglicemia e associadas a complicações, disfunções e insuficiência de vários órgãos, especialmente olhos, rins, nervos, cérebro, coração e vasos sanguíneos. Pode resultar de defeitos de secreção e/ou ação da insulina envolvendo processos patogênicos específicos, por exemplo, destruição das células beta do pâncreas (produtoras de insulina), resistência à ação da insulina, distúrbios da secreção da insulina, entre outros (MS/2006) TIPOS DE DIABETES Tipo I: 10% dos casos Tipo II: 90% dos casos Diabetes mellitus associado a outras condições ou síndromes: (defeitos genéticos da função das células beta, defeitos genéticos da ação da insulina, doenças do pâncreas exócrino, endocrinopatias, efeito colateral de medicamentos, infecções e outras síndromes genéticas associadas ao diabetes). Diabetes mellitus gestacional (DMG) Tipo I -Autoimune O termo tipo 1 indica destruição da célula beta que eventualmente leva ao estágio de deficiência absoluta de insulina, quando a administração de insulina é necessária para prevenir cetoacidose, coma e morte. A destruição das células beta é geralmente causada por processo auto-imune. O desenvolvimento do diabetes tipo 1 pode ocorrer de forma rapidamente progressiva, principalmente, em crianças e adolescentes (pico de incidência entre 10 e 14 anos), ou de forma lentamente progressiva, geralmente em adultos. Tipo II Diabetes gestacional O termo tipo 2 é usado para designar uma deficiência relativa de insulina. A administração de insulina nesses casos, quando efetuada, não visa evitar cetoacidose, mas alcançar controle do quadro hiperglicêmico. A cetoacidose é rara e, quando presente, é acompanhada de infecção ou estresse muito grave. É a hiperglicemia diagnosticada na gravidez, de intensidade variada, geralmente se resolvendo no período pós-parto, mas retornando anos depois em grande parte dos casos. 2
Fatores de risco Idade >45 anos. Sobrepeso (Índice de Massa Corporal IMC >25). Obesidade central (cintura abdominal >102 cm para homens e >88 cm para mulheres, medida na altura das cristas ilíacas). Antecedente familiar (mãe ou pai) de diabetes. Hipertensão arterial (> 140/90 mmhg). Colesterol HDL <35 mg/dl e/ou triglicerídeos >150 mg/dl. História de macrossomia ou diabetes gestacional. Diagnóstico prévio de síndrome de ovários policísticos. Doença cardiovascular, cerebrovascular ou vascular periférica definida. Principais sintomas de diabetes Poliúria, Polidipsia, Polifagia e Perda involuntária de peso (os 4 Ps ). Outros sintomas que levantam a suspeita clínica são: Fadiga, fraqueza, letargia, prurido cutâneo e vulvar, balanopostite e infecções de repetição. Algumas vezes o diagnóstico é feito a partir de complicações crônicas como: Neuropatia, retinopatia ou doença cardiovascular aterosclerótica. Diagnóstico Classificação Glicemia em jejum (mg/dl) <100 Glicemia 2h após TTG-75g (mg/dl)<140 Glicemia de jejum: nível de glicose sangüínea após um jejum de 8 a 12 horas; Teste oral de tolerância à glicose (TOTG-75g): O paciente recebe uma carga de 75 g de glicose, em jejum, e a glicemia é medida antes e 120 minutos após a ingestão; Glicemia casual: tomada sem padronização do tempo desde a última refeição. Hiperglicemia intermediária: Glicemia de jejum alterada 100-125 mg/dl (alto risco para o desenvolvimento do diabetes.) Tolerância à glicose diminuída 140-199 mg/dl Diabetes mellitus: 126-200 mg/dl Quando a glicemia de jejum estiver entre 100-125 mg/dl, a classificação será de glicemia de jejum alterada; Quando a glicemia de 2h no TOTG-75g estiver entre 140-199 mg/dl, a classificação será de tolerância à glicose diminuída. CURVA GLICÊMICA CURVA GLICÊMICA COMO É REALIZADO ESTE EXAME? 1- Coleta de sangue em jejum. 2- Depois é dado ao paciente um vidro com conteúdo açucarado, que deve ser bebido imediatamente. Após 1, 2 e 3 horas é feita a retirada de uma pequena quantidade de sangue, que é então avaliada em laboratório. 3- Recomenda-se que o exame seja feito em jejum de 8 horas. E, durante o exame, não se deve comer, nem beber nada, sendo necessário ainda ficar de repouso, sentado relaxadamente. VALORES DE REFERÊNCIA PARA A CURVA GLICÊMICA: - Inicial: 95mg/dl. - Após 1 hora: 180mg/dl. - Após 2 horas: 155mg/dl. - Após 3 horas: 140 mg/dl. 3
História Resultados de exames relacionados ao diagnóstico de diabetes ou do controle metabólico. Sintomas de diabetes (apresentação inicial, evolução, estado atual). Freqüência, gravidade e causa de cetose e cetoacidose. História ponderal, padrões alimentares, estado nutricional atual; em criança e adolescente, crescimento e desenvolvimento. Tratamentos prévios, incluindo dieta e auto-medicação, e tratamento atual. História familiar de diabetes (pais, irmãos). Infecções prévias e atuais; atenção especial à pele, pés, dentes e trato urinário. Uso de medicamentos que alteram a glicemia. História de atividade física. Fatores de risco para aterosclerose. Estilo de vida e outros aspectos que podem afetar o manejo do diabetes. História obstétrica. Presença de complicações crônicas do diabetes. Exame Físico Peso, altura e cintura. Maturação sexual (diabetes tipo 1). Pressão arterial. Fundo de olho (diabetes tipo 2). Tireóide. Coração. Pulsos periféricos. Pés (tipo 2). Pele Avaliação laboratorial de pacientes com diabetes Glicemia de jejum. Hemoglobina glicada. Colesterol total, HDL-C e Triglicerídeos. Creatinina sérica em adultos. Exame de urina. Infecção urinária. Proteinúria. Corpos cetônicos. Sedimento. Microalbuminúria (diabetes tipo 2, se proteinúria negativa). TSH (diabetes tipo 1). ECG em adultos. Prevenção Mudanças de estilo de vida reduziram 58% da incidência de diabetes em 3 anos. (redução do peso, aumento da ingestão de fibras, restrição de gordura, restrição energética moderada, aumento de atividade física regular) Intervenção farmacológica (metformina) Complicações a longo prazo e crônicas Complicações microvasculares crônicas: (doenças renais nefropatia diabética e, oculares retinopatia diabética); Complicações neuropáticas (doença nervosa); Aumento de doenças macrovasculares (infarto do miocárdio, acidentes vasculares); 4
Complicações agudas COMPLICAÇÕES AGUDAS Cetoacidose diabética (ausência ou quantidade acentuadamente inadequada de insulina, resultando em distúrbios do metabolismo de carboidratos, proteínas e gordura, causando desidratação, perda de eletrólitos e acidose). Hipoglicemia é a diminuição dos níveis glicêmicos com ou sem sintomas para valores abaixo de 60 a 70 mg/dl. Geralmente essa queda leva a sintomas neuroglicopênicos (fome, tontura, fraqueza, dor de cabeça, confusão, coma, convulsão) e as manifestações de liberação do sistema simpático (sudorese, taquicardia, apreensão, tremor). PLANO TERAPÊUTICO DiabetesTipo1 Insulina - NPH (Neutral Protamine Hagedorn) - REGULAR DiabetesTipo2 Hipoglicemiantes orais Insulinas??? Diabetesgestacional Insulina TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DA HIPERGLICEMIA NO DIABETES TIPO 2 Metformina 500mg a 850mg, fracionada em 1 a 3 vezes ao dia, nas refeições.(maioria dos ptes) Sulfoniluréias Glibenclamida 2,5mg a 20mg, 1 a 2 vezes ao dia, nas refeições. Glicazida 40mg a 320 mg, 1 a 2 vezes ao dia, nas refeições. Insulina NPH 10 U NPH ao deitar (ou 0,2 U/kg), aumento gradual de 2U; Se necessário, adicionar 1 a 2 injeções diárias. Regular em situações de descompensação aguda ou em esquemas de injeções múltiplas (única que pode ser feita Via EV). Atribuições do enfermeiro no PSF ao portador de DM 1) Desenvolver atividades educativas, por meio de ações individuais e/ou coletivas, de promoção de saúde com todas as pessoas da comunidade; desenvolver atividades educativas individuais ou em grupo com os pacientes diabéticos. 2) Capacitar os auxiliares de enfermagem e os agentes comunitários e supervisionar, de forma permanente, suas atividades. 3) Realizar consulta de enfermagem com pessoas com maior risco para diabetes tipo 2 identificadas pelos agentes comunitários, definindo claramente a presença do risco e encaminhado ao médico da unidade para rastreamento com glicemia de jejum quando necessário. 4) Realizar consulta de enfermagem, abordando fatores de risco, estratificando risco cardiovascular, orientando mudanças no estilo de vida e tratamento não medicamentoso, verificando adesão e possíveis intercorrências ao tratamento, encaminhando o indivíduo ao médico, quando necessário. 5) Estabelecer, junto à equipe, estratégias que possam favorecer a adesão (grupos de pacientes diabéticos). 6) Programar, junto à equipe, estratégias para a educação do paciente. 7) Solicitar, durante a consulta de enfermagem, os exames de rotina definidos como necessários pelo médico da equipe ou de acordo com protocolos ou normas técnicas estabelecidas pelo gestor municipal. 5
8) Orientar pacientes sobre automonitorização (glicemia capilar) e técnica de aplicação de insulina. 9) Repetir a medicação de indivíduos controlados e sem intercorrências. 10) Encaminhar os pacientes portadores de diabetes, seguindo a periodicidade descrita neste manual, de acordo com a especificidade de cada caso (com maior freqüência para indivíduos não-aderentes, de difícil controle, portadores de lesões em órgão salvo ou com co-morbidades) para consultas com o médico da equipe. 11) Acrescentar, na consulta de enfermagem, o exame dos membros inferiores para identificação do pé em risco. Realizar, também, cuidados específicos nos pés acometidos e nos pés em risco. 12) Perseguir, de acordo com o plano individualizado de cuidado estabelecido junto ao portador de diabetes, os objetivos e metas do tratamento (estilo de vida saudável, níveis pressóricos, hemoglobina glicada e peso). 13) Organizar junto ao médico, e com a participação de toda a equipe de saúde, a distribuição das tarefas necessárias para o cuidado integral dos pacientes portadores de diabetes. 14) Usar os dados dos cadastros e das consultas de revisão dos pacientes para avaliar a qualidade do cuidado prestado em sua unidade e para planejar ou reformular as ações em saúde. SOMOS LIVRES PARA ESCOLHER, PORÉM PRISIONEIROS DAS CONSEQUÊNCIAS DAS ESCOLHAS!! 6