EDUCAÇÃO E COMUNICAÇÃO: NOVAS PRÁTICAS PARA PROMOVER INSERÇÃO SOCIAL E DIGITAL



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Transcrição:

EDUCAÇÃO E COMUNICAÇÃO: NOVAS PRÁTICAS PARA PROMOVER INSERÇÃO SOCIAL E DIGITAL Nadir Rodrigues Pereira (nadir@cnptia.embrapa.br) Faculdade de Educação/UNICAMP - Embrapa Informática Agropecuária Sérgio Ferreira do Amaral (amaral@unicamp.br) Faculdade de Educação/UNICAMP Resumo: As tecnologias de informação e comunicação (TICs) estão cada vez mais presentes nas práticas dos cidadãos. No Brasil, o acesso às novas tecnologias é crescente, com uma média de 1,1 aparelho celular por habitante, de acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). E, no primeiro trimestre de 2011, o Brasil ficou em terceiro lugar entre os países que mais venderam computadores. Este avanço favorece a aplicação da tecnologia na educação e a aprendizagem a distância. Entretanto, faz-se necessária a adoção de novas práticas pedagógicas que estimulem o compartilhamento e promovam inclusão social e digital. Palavras-chave: educação, comunicação, tecnologia, aprendizagem, plataformas móveis. EDUCATION AND COMMUNICATION: NEW WAYS TO PROMOTE SOCIAL AND DIGITAL INCLUSION Abstract. Information and communications technologies (ICTs) are increasingly present in the practices of citizens. In Brazil, access to new technologies is growing, with an average of 1.1 mobile phones per inhabitant, according to the National Telecommunications Agency (Anatel). And in the first quarter of 2011, Brazil ranked third among the countries that sold computers. This advance facilitates the integration of technology in education and e-learning. However, it is necessary to adopt new teaching practices that encourage sharing and promote social and digital inclusion. Keywords: education, communication, technology, learning, mobile platforms.

Introdução As tecnologias de informação e comunicação (TICs) estão cada vez mais presentes nas práticas cotidianas dos cidadãos. No Brasil, o acesso aos computadores e aos telefones móveis tem sido crescente, ao ponto de o número de aparelhos de celular ser maior do que a população. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel, 2011) registrou em 2011 uma média de 1,1 aparelhos por habitante, totalizando 220 milhões de telefones móveis no país. Além disso, no primeiro trimestre de 2011, o Brasil ficou em terceiro lugar entre os países que mais venderam computadores (IDC Brasil, 2011). Este avanço das TICs também vem se refletindo no aumento dos cursos de ensino a distância, contribuindo para a democratização do conhecimento e para a inserção social e digital. Com a preocupação de estimular os professores a adotarem novas práticas usando o potencial das TICs em seu planejamento pedagógico, o Laboratório de Novas Tecnologias Aplicadas à Educação (Lantec) da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desenvolve pesquisas focadas no conceito de educomunicação, entendido como um campo de diálogo, espaço para o conhecimento crítico e criativo, para a cidadania e a solidariedade (Soares, 2000, p. 12). Entende-se que a adoção das TIC nas práticas de ensino deve ser planejada e coordenada, para que efetivamente envolva os alunos por meio do diálogo e do estímulo à participação colaborativa. Dessa maneira, não basta apenas transpor o conteúdo ministrado na sala de aula presencial para o ambiente virtual. As novas tecnologias, pautadas por recursos de interatividade, portabilidade e mobilidade, oferecem o potencial para o rompimento da lógica difusionista de transmissão de conhecimento para um novo paradigma onde os sujeitos são atores partícipes que compartilham e constroem novos saberes. A educação problematizadora está fundamentada sobre a criatividade e estimula uma ação e uma reflexão verdadeiras sobre a realidade, respondendo assim à vocação dos homens que não são seres autênticos senão quando se comprometem na procura e na transformação criadora (Freire, 1980, p. 81). Portanto, a participação, a troca de experiências e o fazer coletivo são elementos fundamentais para essa nova prática pedagógica que busca despertar a consciência crítica por meio da reflexão, promovendo a transformação dos sujeitos. Sob a perspectiva da educomunicação, as interações sociais são vistas como resultados 172

de um processo comunicativo focado no compartilhamento de informações, na cooperação e na autonomia do ser humano. 1. Inclusão social e digital: desafios Apesar do avanço que temos visto com relação às iniciativas de promover a inserção digital da população brasileira, amparadas por planos do governo que buscam favorecer o acesso tecnológico, a informatização escolar ainda se depara com problemas que vão além das questões técnicas. Sabemos que não é somente a falta de acesso que caracteriza a exclusão digital, mas esta exprime-se também na capacidade do usuário de retirar, a partir de sua capacidade intelectual e profissional, o máximo proveito das potencialidades oferecidas por cada instrumento de comunicação e informação (Sorj, 2003, p. 59). De acordo com o Censo Escolar de 2010 (Inep, 2011), por meio de uma pesquisa feita em cerca de 500 escolas públicas brasileiras, constatou-se que 64% dos professores se sentem inseguros com relação ao uso das TICs, pois acreditam que os alunos conhecem melhor do que eles os recursos tecnológicos. Existe aí, portanto, um grande desafio a ser superado, que é maior do que introduzir o uso das TICs no espaço educativo. Trata-se de levar uma nova visão, propondo uma integração de conhecimentos entre alunos e professores para a construção coletiva de novos saberes, a partir de um processo cooperativo. A inclusão passa pela capacitação dos atores sociais para o exercício ativo da cidadania, através do aprendizado tecnológico, do uso dos equipamentos, assim como pela produção de conteúdo e de conhecimentos gerados dentro da realidade de cada grupo envolvido para ser disponibilizado na rede (Barbosa Filho & Castro, 2005). Neste sentido, a linha de pesquisa conduzida pelo Laboratório de Novas Tecnologias Aplicadas à Educação (Lantec) da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) busca estabelecer uma nova proposta de ensino que considera o potencial das TICs como canais que colaboram com o processo educativo voltado à formação de cidadãos conscientes, atuantes e integrados à sociedade digital. Por meio de pesquisas desenvolvidas nas modalidades de cursos de pós-graduação em mestrado e doutorado, o Lantec realiza estudos que buscam contribuir para a produção de conhecimento sobre as práticas de ensino mediatizadas pelas novas tecnologias. 173

Esses estudos estão fundamentados nas ideias centrais da teoria epistemológica de Piaget (1998), segundo a qual a autonomia moral e intelectual do indivíduo ocorre a partir da construção do conhecimento surgida pelas interações e trocas intelectuais, que levam ao desenvolvimento do pensamento, à cooperação e à reflexão sobre as ações e contradições, até a tomada de consciência. 2. Comunicação colaborativa Uma das pesquisas em desenvolvimento no Lantec é intitulada Desenvolvimento da comunicação colaborativa dentro do referencial educação e comunicação aluno-professor mediada pela linguagem digital. Com base na convergência de três vertentes: a educação, a comunicação e a tecnologia, busca-se aproximar o referencial teórico a práticas de ensino em ambientes virtuais para entender como os conceitos da comunicação podem ser aplicados para que o processo educativo se torne mais eficiente. Sob uma abordagem focada na aprendizagem construtivista, entendemos que os recursos tecnológicos das TICs oferecem possibilidades reais de apropriação, baseadas na cooperação e na autonomia, incluindo a criação, a autoria, a inovação e o desenvolvimento do ser humano. Os ambientes colaborativos contribuem para estimular as interações sociais e pressupõem mudanças no processo de ensino. De acordo com o Informe Horizon para Iberoamérica 2010 (Garcia et al., 2010), a descentralização do conhecimento é a principal tendência que provocará um grande impacto na educação superior na América Latina, Espanha e Portugal, a curto prazo. Os autores destacam que a produção e a difusão de conteúdos em múltiplos formatos vai implicar uma mudança de percepção e de valorização da produção de conhecimentos, afetando as relações entre professores e estudantes. Assim, é importante destacar que a comunicação colaborativa deve impactar profundamente as práticas de aprendizagem, pois mais do que capacitar, os ambientes virtuais de aprendizagem vão se tornar espaços de comunicação e de relações onde se configuram novas formas de produção e construção de saber em redes horizontais e interconectadas. A educação é uma produção de si por si mesmo, mas essa autoprodução só é possível pela mediação do outro e com sua ajuda. (...) Ninguém poderá educar-me se eu não consentir, de alguma maneira se eu não colaborar; uma educação é impossível se o sujeito a ser educado não investe pessoalmente no processo que o educa. Inversamente, porém, eu só posso educar-me numa troca 174

com os outros e com o mundo; a educação é impossível, se a criança não encontra no mundo o que lhe permite construir-se (Charlot, 2000, p. 54). A educação é uma ciência que se preocupa com a formação e a constituição do ser humano como sujeito, isto é, um ser que pensa a sua realidade, reflete e age sobre ela, transformando o meio em que vive. A aproximação dos campos da educação, da comunicação e da tecnologia favorece múltiplos olhares sobre a condição humana, permitindo a construção compartilhada de informações, conhecimento e experiências num contexto de trocas e interações sociais que podem estimular o exercício da cidadania. Por isso, a proposta é estudar o papel do sujeito e sua ação comunicacional em um ambiente mediado pelas TICs, sob a perspectiva da educação, que está focada na apropriação do conhecimento pelos cidadãos, num processo que envolve a intencionalidade e favorece a aprendizagem como forma de transformação social Conclusão O avanço das TICs vem produzindo profundas mudanças em todos os setores da sociedade. As transformações nas práticas sociais também vão se refletindo no espaço escolar. Com os recursos de compartilhamento de informações propiciados pelos ambientes virtuais de aprendizagem, estimula-se a produção colaborativa e a interação social entre alunos e professores. Nos ambientes virtuais de aprendizagem, os conteúdos pedagógicos devem ser integrados sob uma lógica comunicacional, além de estruturados/organizados em formatos diversos para permitir que os alunos exercitem sua autonomia e construam novas significações e sentido a partir deles (Gâmbaro, Pereira & Torres, 2011, p. 3). Embora ainda existam muitos desafios a serem superados, que incluem a integração da tecnologia nas práticas de ensino, a compreensão da linguagem da comunicação audiovisual e, principalmente, a mudança de paradigma rumo à produção de conhecimento, de forma participativa e não hierarquizada, a inserção das TICs na educação pode favorecer a tomada de consciência e estimular os cidadãos a se tornarem agentes ativos, produtores e autônomos, capazes de refletir e de transformar a realidade em que vivem. 175

Referências bibliográficas Anatel Agencia Nacional de Telecomunicações (2011). Recuperado em 27 agosto, 2011, de www.anatel.gov.br. Barbosa Filho, A.; Castro, C. (2005). A inclusão digital como forma de inclusão social. In: Barbosa Filho, A.; Castro, C.; Takashi, T. (Orgs.). Mídias Digitais: convergência tecnológica e inclusão social. São Paulo: Paulinas. p. 273-293. Charlot, B. (2000). Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Porto Alegre: Artes Médicas Sul. Freire, P. (1980). Conscientização: teoria e prática da libertação uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. 3 ed. São Paulo: Moraes. Gâmbaro, B.; Pereira, N. R.; Torres, T. Z. (2011). Organização pedagógica de espaços colaborativos de aprendizagem. In: Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 34, Recife. Anais... Recife: Intercom. p.1-15. García, I. P. L. et. al. (2010). Informe Horizon: Edición Iberoamericana 2010. Austin, Texas: The New Media Consortium. Recuperado em 10 julho, 2011, de http://www.nmc.org/pdf/2010-horizon-report-ib.pdf. IDC Brasil (2011). Recuperado em 28 agosto, 2011, de http://www.idcbrasil.com.br /default2.asp?ctr=bra. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (2011). Recuperado em 27 agosto, 2011, de http://portal.inep.gov.br. Piaget, J. (1998). Sobre pedagogia. São Paulo: Casa do Psicólogo. Soares, I. de O. (2000). Educação e comunicação: um campo de mediações. Revista Comunicação & Educação. São Paulo, set./dez. p. 12-24. Sorj, B. (2003). Brasil@povo.com: a luta contra a desigualdade na sociedade da informação. Rio de Janeiro, Jorge Zahar/Unesco. 176

Biografias Nadir Rodrigues Pereira Mestranda em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Pesquisadora do Laboratório de Novas Tecnologias Aplicadas na Educação (LANTEC/UNICAMP). Bacharel em Comunicação Social pelas Faculdades Integradas Alcântara Machado. Especialista em Jornalismo Científico pelo Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (LABJOR), da UNICAMP. Jornalista da Embrapa Informática Agropecuária, Campinas, SP, Brasil. e-mail: nadir@cnptia.embrapa.br Sérgio Ferreira do Amaral Professor Doutor da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Doutor em Engenharia Elétrica pela Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da UNICAMP. Pós-doutor pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. Líder do Laboratório de Novas Tecnologias Aplicadas na Educação (LANTEC/UNICAMP), Campinas, SP, Brasil. e-mail: amaral@unicamp.br 177