IDENTIDADE VIRTUAL: REFLEXÕES SOBRE A MULTIPLICIDADE DO CARÁTER IDENTITÁRIO NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO



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Transcrição:

1 IDENTIDADE VIRTUAL: REFLEXÕES SOBRE A MULTIPLICIDADE DO CARÁTER IDENTITÁRIO NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO Monica Cristina Celano Cavalcante (UNIGRANRIO) rio129983@oi.com.br Cleonice Puggian (UNIGRANRIO) 1. Introdução A intenção de estudar as variações identitárias numa sociedade requer a compreensão de aspectos históricos, sociais e políticos. A própria definição do que seja identidade e de como ela pode ser construída já gera alguma polêmica e muitos estudos são feitos buscando o entendimento do conceito. A identidade está associada a vários aspectos e categorias. Sejam os aspectos referentes ao lugar e ao pertencimento, conceitos importantes para a estrutura identitária, sejam nas formas de relacionamento interpessoal, políticas sociais e culturais e questões econômicas que influenciam na vida em grupo. Aqui, o que se pretende é compreender a identidade virtual e por que ela é múltipla. Onde essa identidade virtual se aplica? Como ela é elaborada? Que tipo de linguagem serve como fundamentação e característica de representatividade de grupo? A partir da análise do cenário mundial onde se nota o surgimento da sociedade da informação e os motivos que levaram a adoção e ao surgimento de conexões em rede de computadores, buscar-se-á refletir sobre uma questão: a internet proporciona uma variação e/ou inovação na identidade de seus usuários face ao distanciamento provocado pela globalização? Trabalhar-se-á esse distanciamento, como ele é visto por alguns teóricos, que repercussão esse distanciamento provocou na formação da sociedade da informação. Após trabalhar a sociedade da informação, os aspectos identitários serão objeto de análise, assim como a linguagem virtual será vista como forma de representar identidades.

2 O internetês será abordado de forma bastante sutil, ele servirá como forma de entendimento das variações advindas da linguagem virtual. As redes sociais servirão como forma de exemplificação e de emprego da linguagem virtual. 2. Refletindo sobre a globalização O mundo na atualidade passa por constantes mudanças, tudo se transforma numa velocidade tão grande que muitas vezes nem é possível perceber as etapas que antecederam ou que originaram tais mudanças. Segundo Bauman (2005) vivemos numa modernidade líquida, onde tudo muda de forma, à medida que novas situações e contextos se apresentam. Essa modernidade/contemporaneidade é resultado de um processo de proporção mundial a globalização. Um processo capaz de gerar modificações e novas posturas a nível mundial é uma etapa da história da humanidade que precisa ser apreciada com atenção, pois fundamenta e caracteriza uma série de inovações e comportamentos humanos. Com a globalização não existe a personificação de um para todos, a falta de uma liderança, de um estado gestor ou de até mesmo de um referencial mais próximo das pessoas gera uma insegurança e uma busca por novas categorias que indiquem algum suporte, alguma identidade. (...) o significado mais profundo transmitido pela ideia de globalização é o caráter indeterminado, indisciplinado e de autopropulsão dos assuntos mundiais; a ausência de um centro de um painel de controle, de uma comissão diretora, de um gabinete administrativo. (BAUMAN, 1999, p. 67) O alargamento das distâncias provocado pela globalização e enfatizado na obra de Bauman (1999) refere-se ao fato dos proprietários e detentores do poder de decisão estarem sempre bem distantes da força de ação. A virtualidade das informações e o acesso a redes de comunicação cada vez mais sofisticadas promovem um afastamento entre quem manda e quem executa. Essa virtualidade é uma característica básica da sociedade da informação. Uma sociedade formada para enfatizar e servir aos moldes e características da globalização. Uma sociedade onde o conhecimento e a

3 informação são transmitidos de forma quase instantânea, com pouco tempo de assimilação e de discussão. Nesse momento, as pessoas se aglomeram em grupos sociais que não precisam de um espaço físico para interagirem e trocarem conversas ou informações. Segundo Levy (2009), hoje temos o ciberespaço. Grandes redes, chamadas de redes sociais, que favorecem um diálogo rápido e dinâmico, assim como as mudanças advindas da globalização na sociedade. Um código linguístico, se é que já pode ser considerado como tal, faz a ponte entre as pessoas, usuários. Através de uma linguagem rápida, fácil e informativa, assim como a globalização. O internetês oportuniza e confere uma integração e uma identidade virtual. A sociedade da informação que pode ser conhecida como sociedade do conhecimento surgiu no final do século XX. Essa sociedade é uma contribuição da e para a globalização. Aliás, ela é necessária a globalização. Sem ela não seria viável o distanciamento entre as pessoas atrelado a ideia de conexão. Dois antagonismos existentes na atualidade, uma dualidade que se mantém graças à rede virtual. Integrar um mundo num espaço acessível a todos é missão da tecnologia. A internet é a ferramenta de integração. O virtual é o espaço onde encontros são oportunizados sem a necessidade de um tempo ou de um local. A comunicação por mundos virtuais é, portanto, em certo sentido, mais interativa que a comunicação telefônica, uma vez que implica, na mensagem, tanto a imagem da pessoa como a da situação, que são quase sempre aquilo que está em jogo na comunicação (LEVY, 2009, p. 81) O encurtamento das distancias e, ao mesmo tempo a necessidade de proximidade constituem um dos problemas gerados pela globalização. A rapidez das informações e as constantes variações das mesmas só poderiam ser viabilizadas com a adoção de um sistema que permitisse a integração em larga escala. Já se percebe que uma coisa está condicionada a outra. A globalização só se expande a medida que a sociedade se informatiza e essa sociedade se utiliza da internet e de ambientes virtuais para exercer seu papel social.

4 O papel social. A inserção numa sociedade a ideia de pertencimento ou de alteridade. De onde sou? Quem sou? Pertenço ou não? Sou aceito ou não? Atualmente essas questões surgem quando se tenta compreender a formação identitária das pessoas. A identidade pode estar associada a várias categorias. Pode ser caracterizada pelo profissionalismo, pelo grupo familiar, pelo estado, pelo poder econômico e por muitos outros fatores. Não cabe identificar onde a identidade é mais ou menos enfática. Nem onde ela é constituída. Mas deve-se pensar que na atualidade, a identidade não pode ser analisada no singular. Ou seja, não existe uma identidade, mas várias identidades. Esse caráter múltiplo da identidade é uma das consequências da contemporaneidade. Vários estudiosos como Zigmunt Bauman e Stuart Hall dedicaram-se a pesquisas e reflexões sobre a identidade na pós-modernidade. Analisando sobre a perspectiva sociológica, antropológica, histórica ou cultural, a identidade é um objeto de estudo que possui vários ângulos de estudo, várias vertentes onde pensamentos e ideias se coincidem e ao mesmo tempo divergem. 3. Refletindo sobre identidade A liberdade de alterar qualquer aspecto e aparência da identidade individual é algo que a maioria das pessoas hoje considera prontamente acessível, ou pelo menos vê como uma perspectiva realista para o futuro. (BAU- MAN, 2005, p. 90) A identidade na atualidade não se prende a apenas um contexto ou a apenas um aspecto, ela varia, se reformula e vai adquirindo novas nuances a medida que novos eventos ou novas necessidades surgem. Com as inovações tecnológicas próprias da sociedade da informação, as adaptações foram imprescindíveis para conseguir atuar na sociedade. Hoje em dia, são raras as pessoas que não possuem um aparelho celular. Aquelas que nunca utilizaram um computador são bem poucas também, tendo em vista que até mesmo para se locomoverem utilizam a

5 tecnologia. Usam cartão magnético de pagamento de passagem. São possuidoras de cartões magnéticos para atuação em agências bancarias e precisam de uma série de números e senhas que as qualificam diante dos mais variados órgãos. A identidade passou a ter uma característica comum ao mundo que vivemos, passou a ser, também virtual. Na identidade virtual, as pessoas criam perfis, nomes e possibilidades de acesso. Atualmente, é possível até mesmo fazer um diário virtual, uma página onde as pessoas acessam e postam informações de sua vida. Tais informações virtuais são postas numa rede que tem a proporção mundial. A desterritorialização do presente, conforme diz Levy (1996) reflete essa superação de limites e barreiras geradas pela sociedade de consumo e pela vontade cada vez maior de se concretizar uma identidade mundial com características que podem ser forjadas a qualquer momento. Um dos questionamentos desse artigo é: a internet proporciona uma variação e/ou inovação na identidade de seus usuários face ao distanciamento provocado pela globalização? Antes de buscar responder tal questão é importante compreender o que é a sociedade da informação, pois é graças a ela que a identidade, mais diretamente a identidade virtual se relaciona. A sociedade da informação surgiu em decorrência da globalização. Da necessidade de mecanismos de comunicação eficazes e rápidos. Da busca pelo consumo numa economia pautada na oscilação e na inovação. Segundo Castells (1999), a sociedade da informação ou sociedade em rede alicerçada no poder da informação e contida num processo de variação constante, resultantes da ciência e da tecnologia. A geração, processamento e transmissão de informação torna-se a principal fonte de produtividade e poder (CASTELLS, 1999, p. 21). Esse trecho extraído da obra de Castells nos remete ao fato das mudanças, da sociedade da informação, das novas identidades, da virtualidade constante e crescente serem resultados de um processo de cunho político (globalização) com refinamento e associação econômica.

6 As formas de comunicação numa sociedade assim requereu mudanças. Algumas estratégias que visassem a maior acessibilidade e a inclusão cada vez maior de usuários. A velocidade das informações e a necessidade de fazer essa velocidade cada vez mais intensa se associaram a procura de reconhecimentos na rede de computadores, provocando a criação de uma linguagem própria o internetês. Chega-se ao outro questionamento estabelecido por este trabalho: o internetês é um traço visível e concreto de um novo perfil linguístico e identitário? O que é o internetês? Para que ele serve? É uma linguagem usada pelos usuários das redes sociais, onde a principal característica é a redução do número de caracteres das palavras. Com o intuito de criar um diálogo mais dinâmico e rápido, percebe-se uma despreocupação quanto ao uso da norma culta da língua portuguesa e uma preocupação com objetividade das respostas. Se é possível compreender a mensagem, para que refina-la e coloca-la nos moldes da normatização de escrita? O que se escreve nas redes sociais e no ambiente virtual é passível de mudanças tão rápidas, quase instantâneas. Corre-se o risco daquilo que se escreve nesse momento ser deletado e desaparecer no mesmo instante ou imediatamente após ser lido. O internetês é a linguagem usada nas redes sociais, visando facilitar o entendimento e rapidez da conversa. Se ele é ou não é um gênero textual, não é uma preocupação presente nos diálogos travados nas salas de bate-papo, no facebook, no skype ou em quaisquer outras redes sociais. Vários estudos vêm sendo feitos com a intenção de esclarecer esse ponto. Mas até o momento as opiniões ainda não apontam uma conclusão. O e-mail é a forma de comunicação mais utilizada mundialmente na atualidade. Várias são as vantagens em sua utilização: facilidade de envio para mais de um destino, anexação de arquivos, baixo custo, velocidade, e vários outros. Os e-mails (...) têm sido chamados de fala escrita, um cruzamento entre conversa e carta e uma estranha mistura de escrita com conversa. (CRYSTAL, 2005, p. 76) Nos e-mails a oralidade se aproxima da escrita. Nas redes sociais essa aproximação é muito maior, pois a intenção nesse caso é substituir uma presença pessoal por uma presença virtual.

7 A identidade virtual se concretiza também pela escrita. Não se fundamenta apenas nas características do usuário, da sua profissão, do seu grupo social, mas também pela forma em que manifesta o seu pensamento e pela forma como quer ser reconhecido na rede. A forma de comunicação repercute nessa identidade virtual. A pergunta que se busca compreender traz como resposta uma dualidade. É clara a utilização de abreviações e reduções de caracteres típicos do internetês nas escritas virtuais. Ele facilita, agiliza e estabelece uma relação menos informal entre usuários. Torna a conversa mais agradável e próxima do que seria uma conversa real. Contudo, a norma culta da linguagem e as outras formas de comunicação escrita não sumiram na atualidade. Elas existem e se mantém atuantes em diversos outros documentos que também servem para comunicar e informar. O internetês assemelha-se a uma nova forma de abreviar a escrita, ainda em fase experimental. A abreviação no ambiente virtual. Ele tem uma relação com a identidade dos usuários tendo em vista que só é utilizado entre pessoas que sabem compreender o seu significado. Ele se propaga entre as pessoas que compreendem o que recebem e acreditam que outras pessoas também saberão o que emitem. A comunicação mediada por computador não é idêntica à fala ou à escrita, mas exibe certas propriedades seletivas e adaptáveis presentes em ambas. (CRYSTAL, 2005, p. 90) A linguagem utilizada no computador, nas redes sociais ou nas outras formas de comunicação virtual são linguagens que mesclam a oralidade com a norma culta. Elas substituem a ausência da presença física e viabilizam um diálogo simples e informal. A linguagem virtual promove uma diversidade identitária em seus usuários pois, segundo Ramal (2002), já no hipertexto temos uma aproximação muito grande entre os nossos esquemas mentais e as formas de leitura e escrita, onde há conexão entre assuntos e há navegação por múltiplas vias que não são expressas em páginas, mas em superposições que se interpenetram, possibilitando composições e variações de leitura. Quando uma língua se espalha, ela muda. O simples fato de que partes do mundo diferem tanto umas das outras, física e culturalmente, significa que os falantes têm inúmeras oportunidades de adaptar a língua, para satisfazer suas necessidades de comunicação e adquirir novas identidades. A parte principal da adaptação será no vocabulário não apenas novas palavras, mas novos sig-

8 nificados para as palavras, e novas expressões idiomáticas. (CRYSTAL, 2005, p. 36) A linguagem virtual assume um papel de destaque naquilo que diz respeito a identidade virtual. Ela reúne as características de grupos de usuários e permite a compreensão da diversidade que existe nesses grupos. As adaptações linguísticas realçadas pela necessidade de construir uma forma de comunicação rápida constituem uma nova forma de analisar grupos sociais. Quando Crystal (2005) diz que a linguagem muda ao se espalhar, percebe-se que as pessoas criam formas de se identificar com essa linguagem. Formas de se reconhecerem diante da multiplicidade de grupos. Ao afirmar que as adaptações da linguagem visam a satisfação de necessidades e que a possibilidade de uma nova significação são possíveis, percebe-se que nada se consolida. A passividade diante de constantes mudanças e a informalidade asseguram que a identidade virtual analisada pela linguagem é tão instável quanto aos modismos da atualidade. Os modismos que surgem, causam alvoroço e mudanças e depois vão desaparecendo como é o caso de alguns acessos as redes sociais como o ICQ e o ORKUT. 4. Conclusões Vivemos numa sociedade marcada pela necessidade de comunicação com o mundo. Numa sociedade pautada no consumo e na produção. Onde as oscilações e variantes são visíveis e enfáticas. Essa sociedade está unida por uma rede, onde as pessoas se caracterizam e se identificam por afinidades, reconhecendo formas de linguagem e costumes. A linguagem virtual fornece um caminho para uma identidade virtual quando permite aos seus usuários uma percepção de um grupo, onde a comunicação e a informação são propagadas de forma compreensiva. A propriedade dessa linguagem virtual auxilia a definição de um grupo e essa definição promove a construção da identidade virtual, que já é forjada com brechas para novas mudanças e adaptações.

9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, M. L. O. Textos construídos na internet: oralidade ou escrita? In: SILVA, Luiz Antônio (Org.). A língua que falamos: português: história, variação e discurso. São Paulo: Globo, 2005. BAUMAN, Zigmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.. Identidade. Entrevista de Bauman a Benedetto Vecci. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.. Globalização. As consequências humanas. Rio de Janeiro: Zahar, 1999. BISOGNIN, Tadeu Rossato. Sem medo do internetês. Porto Alegre. Age. 2009. CANCLINI, Nestor. Latino-americanos à procura de um lugar nesse século. São Paulo: Iluminuras, 2008. CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede: a era da informação: economia, sociedade e cultura. São Paulo: Paz e Terra, 1999. CRYSTAL, David. A revolução da linguagem. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência. Trad. Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993. LÉVY, Pierre. O que é o virtual? Trab. Paulo Neves. São Paulo: Editora 34, 1996. LÉVY, Pierre. Cibercultura. Trad. Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Editora 34, 1999. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. São Paulo: Cortez, 2003.. O hipertexto como um novo espaço de escrita em sala de aula. Linguagem & ensino, vol. 4, nº 01, p. 79-111, ano 2001.. Hipertexto e gêneros textuais. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004. RAMAL, A. C. Educação na cibercultura: hipertextualidade, leitura, escrita e aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2002.