A saúde e as políticas públicas: conceitos e tendências Francisco Carlos Cardoso de Campos São Paulo 25 de Fevereiro de 2015
Determinantes sociais da saúde
Tendências cenário otimista Retomada do crescimento econômico do Brasil, após a crise financeira da década de 2010; níveis de emprego e taxas de desemprego serão favoráveis e o país será reconhecido globalmente como uma potência sub-regional. tendência contínua ao envelhecimento da população Melhoria das condições de vida da população acarretará na queda da mortalidade; Aumento da esperança de vida ao nascer; número de novas infecções por agravos transmissíveis como o HIV cairão, assim como a incidência de doenças cardiovasculares. Já a incidência de transtornos depressivos e de quadros de demência associados ao envelhecimento registrarão aumento.
Cenário otimista cont Eliminação das doenças preveníveis por vacinação; Disponibilidade de novas vacinas, que poderão tornar-se alternativas para o controle de doenças hoje sem tratamento efetivo, como a dengue; Neste cenário, a qualificação da ação pública orientará toda a administração do Estado e o seu poder de regulação será consolidado; Políticas públicas serão pautadas pela inovação frente às necessidades sociais e o país avançará no enfrentamento das doenças negligenciadas; O Brasil se consolidará como principal polo de referência em serviços de saúde na América Latina; Sistema Único de Saúde (SUS) com ampla legitimidade social.
Cenário inercial e provável Brasil sentirá impactos significativos da crise internacional do início do século. A adoção de instrumentos de política econômica voltados para o crescimento e a promoção do emprego será tímida e o nível de emprego e a taxa de desemprego permanecerão nos mesmos patamares da atualidade. O país sentirá os efeitos da transição demográfica sobre o mercado de trabalho, que dificilmente será capaz de absorver a população em idade laboral, particularmente as camadas mais jovens da população. As consequências serão o aumento da informalidade e a precarização nas relações de trabalho. Por outro lado, as políticas públicas para inclusão social e erradicação da pobreza terão prosseguimento e movimentarão o mercado interno o que poderá levar a uma ligeira queda da mortalidade e ao aumento da esperança de vida ao nascer. O SUS terá magnitude importante e será utilizado por parcela expressiva da população. No entanto, mais de 30% dos brasileiros dentre eles, a nova classe média, terão planos privados de saúde ou pagarão diretamente por serviços privados.
Cenário inercial e provável A mortalidade infantil manterá sua tendência de declínio, atingindo níveis baixos no componente pós-neonatal e redução no componente neonatal. A mortalidade por doenças cardiovasculares manterá sua tendência declinante e a incidência e a mortalidade por câncer seguirão estáveis, com mudanças nos tipos de tumor e no aumento da sobrevida de pacientes em acompanhamento continuado. Como consequência direta do envelhecimento da população, o país registrará o aumento dos índices de incidência e prevalência de transtornos mentais, sobretudo os depressivos e os quadros de demências que acometem a terceira idade. Também será maior o número de portadores de incapacidades múltiplas, com necessidade de cuidados prolongados. Todas as doenças preveníveis por vacinação manterão a tendência atual de declínio. Haverá melhorias no controle da dengue e a vacina poderá vir a ser uma alternativa para o país. Espera-se que o programa de acesso universal ao controle e tratamento do HIV/Aids leve à diminuição da incidência de novas infecções. No âmbito internacional, o país preservará sua situação atual no contexto mundial, com um modelo de desenvolvimento que articula as dimensões econômica, ambiental, social e política. Apesar de todas as dificuldades, se consolidará como principal polo de serviços de saúde na América Latina.
Cenário pessimista e plausível Depois de atravessar com dificuldade a crise financeira de 2010 e sem retomar seu crescimento econômico, o Brasil desenhado no cenário pessimista e plausível é um país que terá refletido seu desempenho econômico negativo em aspectos que influenciarão também o seu desenvolvimento social. Algumas consequências possíveis desta trajetória são a queda da taxa de emprego e o aumento dos índices de desemprego, resultando no empobrecimento da população e na má distribuição de renda. Com 216 milhões de habitantes em 2030, a tendência ao envelhecimento se manterá e será registrada uma ligeira queda da mortalidade e um aumento da esperança de vida ao nascer. O número de óbitos por doenças cardiovasculares cairá e sua incidência se concentrará em grupos populacionais de idade mais avançada. Os transtornos mentais surgirão como agravos de destaque, principalmente os transtornos depressivos e os quadros de demência associados ao envelhecimento.
Cenário pessimista e plausível A ação do Estado privilegiará as políticas neoliberais e ficará limitada em relação aos desafios na esfera da proteção social. Na área da saúde, a capacidade institucional para conduzir as políticas de saúde para a consolidação do SUS será fragilizada por restrições político-econômicas e o setor privado aumentará sua participação no gasto total em saúde. Aspectos relacionados à força de trabalho irão restringir a atuação do Ministério da Saúde e entidades vinculadas e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) também apresentará limitações. A vigilância epidemiológica terá foco maior nas doenças infecciosas e os sistemas de informação estarão fragmentados. Uma crise financeira mundial trará, entre outras consequências, frustração de expectativas da cooperação internacional na área de saúde e prejudicará a continuidade de projetos em andamento.
Desafios para alcançar o cenário mais favorável os principais desafios ao alcance de um cenário mais favorável para a saúde pública brasileira em 2030 são o fortalecimento da capacidade de planejamento em saúde e a regulação do setor pelo Estado. Também se fazem necessárias a garantia de estabilidade das fontes de financiamento da Saúde, a ampliação dos recursos federais e da participação no gasto público e no Produto Interno Bruto (PIB) e a consolidação do Complexo Econômico e Industrial da Saúde, como forma de absorver internamente produção direta de serviços e de insumos (Fiocruz, 2012)
Perspectivas/oportunidades de intervenção Nível da sociedade/sistema de saúde Democratização das relações sociais Ação intersetorial (planejamento, gestão compartilhada; monitoramento e avaliação das políticas públicas) uso intensivo das Tecnologias da Informação (TI) Fomento às Redes de Proteção Social Desenvolvimento dos dispositivos de regulação dos serviços privados e públicos Ampliação do financiamento público em saúde Utilização da informação (armazém de dados, B.I.) Alocação racional de recursos (investimento, custeio) Ampliação dos controles públicos, participação social e combate à corrupção Nível dos serviços de saúde Integração dos serviços Redes de Atenção Coordenação do cuidado pela Atenção Primária Desenvolvimento dos modelos de atenção na Atenção Especializada Melhoria da qualidade da atenção Gestão do cuidado (Gestão de doenças/gestão de casos) Profissionalização da gestão Nível dos indivíduos Comportamentos saudáveis: atividade física, dieta com frutas e verduras, redução do tabagismo etc. Educação para a saúde Autocuidado Dispositivos de comunicação com pacientes e familiares