Duplicata Aulas 30 a 32
1. NORMATIZAÇÃO: O regime cambial das duplicatas é norteado pela Lei 5.474/68 (doravante, LD, e a menção de artigo sem a indicação da Lei, significará referência à LD). Decreto-lei 436/69 que fez algumas alterações na Lei 5.474/68 e também, de forma subsidiária (naquilo que for omissa a lei específica), pelo Código Civil.
3. CONCEITO: Ensina Amador Paes (2005, p. 74) que a duplicata, num enunciado simples, pode ser conceituada como um título de crédito que emerge de uma compra e venda mercantil ou da prestação de serviços, na forma do que dispõem os artigos 2º e 20 da Lei 5.474/68
A DUPLICATA É: COMPRA E VENDA MERCANTIL ORDEM DE PAGAMENTO OU PRESTAÇÃO DE SERVIÇO
2. ESTRUTURA: Sua estrutura é idêntica a uma letra de câmbio cujo sacador é a mesma figura do tomador. Porém, ela possui uma grande vantagem em relação a LC, em face da obrigatoriedade do aceite.
SACADOR vendedor/presta dor de serviço Dá uma ordem SACADO (quem compra ou recebe a prestação do serviço) pagar a ele mesmo TOMADOR/BENEFICIÁRIO vendedor/prestador de serviço
Lei 5.474/68. Art. 2º. No ato da emissão da fatura, dela poderá (???) ser extraída uma duplicata para circulação como efeito comercial, não sendo admitida qualquer outra espécie de título de crédito para documentar o saque do devedor pela importância faturada ao comprador (...) A LD proíbe que se emita letra de câmbio nos casos em que se pode emitir duplicata.
Na verdade, a Lei proíbe que o vendedor emita qualquer outro título para documentar a dívida e, no caso, o único possível seria a letra de câmbio. Mas nada impede que um devedor emita outro título, como uma nota promissória ou um cheque.
A duplicata é um título de crédito causal, no sentido de que a sua emissão somente pode ocorrer na hipótese autorizada pela lei: a documentação de crédito nascido da compra e venda mercantil ou da prestação de serviços.
3. FATURA É uma nota do vendedor, descrevendo a mercadoria, discriminando a sua qualidade e quantidade, fixando-lhe o preço. É uma prova do contrato de compra e venda mercantil. A fatura também pode ser emitida na prestação de serviço, sendo que, nesse caso, a fatura deverá discriminar a natureza dos serviços prestado
só ATENÇÃO a duplicata mercantil pode ser emitida em razão de contrato de compra e venda mercantil e o contrato tem que ter prazo de pagamento igual ou superior a trinta dias nos termos do que dispõe o art. 1º LD.
Art. 1º Em todo o contrato de compra e venda mercantil entre partes domiciliadas no território brasileiro, com prazo não inferior a 30 (trinta) dias, contado da data da entrega ou despacho das mercadorias, o vendedor extrairá a respectiva fatura para apresentação ao comprador.
Realizado o contrato, nas condições da LD, o vendedor emite a fatura. No momento em que realiza este ato, da fatura poderá ser extraída uma duplicata mercantil.
Da causalidade decorrente da extração da duplicata, não decorre qualquer outra limitação à circulação do crédito. Criada as condições de extração de uma duplicata, ela poderá ser endossada tal quais os outros títulos de crédito. O princípio da abstração continuará a existir.
A duplicata, é de modelo vinculado e o modo de circulação é sempre à ordem. Suas modalidades de vencimento só poderão ser data certa ou à vista.
No que diz respeito ao endosso e ao aval, a LD dispõe muito pouco e devem ser observadas as regras gerais que vimos anteriormente. Então vamos ao aspecto mais peculiar da duplicata, que é o aceite obrigatório.
5. ACEITE: A mecânica do aceite desenvolve-se da seguinte maneira: após a emissão da duplicata, o SACADOR (VENDEDOR) dever remetê-la ao SACADO (COMPRADOR) em trinta dias (art. 6º, 1º) ou, se a remessa for feita por instituição financeira, em dez dias após o recebimento na praça de pagamento (art. 6º, 2º).
EM QUE PRAZO O SACADO DEVE DEVOLVER A DUPLICATA?
Art. 7º A duplicata, quando não fôr à vista, deverá ser devolvida pelo comprador ao apresentante dentro do prazo de 10 (dez) dias, contado da data de sua apresentação, devidamente assinada (aceite) ou acompanhada de declaração, por escrito, contendo as razões da falta do aceite.
No caso de instituição financeira, com a expressa autorização desta, o comprador poderá retê-la até o vencimento, desde que comunique por escrito (idem, 1º). Esta comunicação substitui a duplicata para fins de protesto ou execução judicial (idem, 2º).
Nos termos do art. 8º, o comprador só poderá não aceitar a duplicata nos seguintes casos, nos quais, as razões deverão ser encaminhadas ao vendedor por escrito:
I - Avaria ou não recebimento das mercadorias, quando não expedidas ou não entregues por sua conta e risco. II - Vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou na quantidade das mercadorias, devidamente comprovados. III - Divergência nos prazos ou nos preços ajustados.
Assim, o aceite poderá ocorrer de três modos: a) o aceite por comunicação à instituição financeira (art. 7º, 2º); b) o aceite ordinário, no qual o comprador assina e devolve a duplicata; e
c) o aceite presumido, quando, mesmo não devolvendo a duplicata, recebe as mercadorias, sem recusa, mediante recibo.
7. PROTESTO: O art. 13 da LD, art. 13, informa que a duplicata poderá ser protestada por: falta de pagamento; falta de aceite; ou falta de devolução.
Na realidade, tanto importa a modalidade, pois qualquer protesto supre o outro e as regras não variam muito do que já vimos. ATENÇÃO: depois do vencimento do título só cabe PROTESTO POR FALTA DE PAGAMENTO.
É possível execução de uma duplicata SEM ACEITE? O que é protesto por indicação?
Se o comprador não devolve a duplicata (aceite presumido) e, ante este fato, a cobrança torna-se impossível?
Ele pode protestá-la por indicações. Para o empresário que emite duplicatas, é obrigatório a escrituração do Livro de Registro de Duplicatas.
Com os dados contidos neste livro, ele poderá extrair boleto com todas as indicações exigidas para o protesto, encaminhando-as ao cartório que as reduzirá a termo (art. 13, 1º).
Na posse deste termo e do comprovante de entrega e recebimento das mercadorias, o vendedor poderá ajuizar ação cambial tal qual tivesse uma duplicata aceita. É o que diz o art. 15 LD.
Art 15 - A cobrança judicial de duplicata ou triplicata será efetuada de conformidade com o processo aplicável aos títulos executivos extrajudiciais, de que cogita o Livro II do Código de Processo Civil,quando se tratar:
Art 15 - II - de duplicata ou triplicata não aceita, contanto que, cumulativamente: a) haja sido protestada; b) esteja acompanhada de documento hábil comprobatório da entrega e recebimento da mercadoria; e c) o sacado não tenha, comprovadamente, recusado o aceite, no prazo, nas condições e pelos motivos previstos nos arts. 7º e 8º desta Lei.
Então se eu posso executar duplicada sem aceite, eu também posso com essa duplicata pedir falência?
Súmula 248 STJ: Comprovada a prestação dos serviços, a duplicata não aceita, mas protestada, é título hábil para instruir pedido de falência.
7. PRESCRIÇÃO Os prazos são os mesmos da letra de câmbio e da nota promissória, com exceção da ação de regresso, cujo prazo é de um ano (art. 18). Na perda do prazo prescricional, igualmente poderá ser intentada ação causal, como vimos anteriormente (art. 16).
Devemos fazer uma nota sobre as chamadas duplicatas virtuais.
A duplicata pode nem chegar a materializar-se, principalmente se a cobrança for feita por intermédio de instituição financeira. O vendedor saca a duplicata em formato digital, envia à instituição, que remeterá ao comprador um boleto.
Se ele pagar, não haverá problemas. Caso não pague, o boleto, o recibo de entrega das mercadorias e o protesto por indicações suprirão o título em papel.
Esta possibilidade é reconhecida pelos Tribunais Superiores e, como exemplo, temos a decisão proferida no Recurso Especial nº 1.024.691/PR, de relatoria da Ministra Nancy Andrighi, do qual transcrevemos a ementa:
EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. DUPLICATA VIRTUAL. PROTESTO POR INDICAÇÃO. BOLETO BANCÁRIO ACOMPANHADO DO COMPROVANTE DE RECEBIMENTO DAS MERCADORIAS. DESNECESSIDADE DE EXIBIÇÃO JUDICIAL DO TÍTULO DE CRÉDITO ORIGINAL.
8. PRESTAÇÃO DE SERVIÇO Quanto à duplicata de prestação de serviços e a carta de serviços, estão reguladas nos art. 20 a 22 da LD, não diferindo muito da duplicata mercantil. Porém, elas não obtiveram a mesma popularidade da duplicata mercantil, pois, no caso da prestação de serviços, aquele que dá recibo está disposto a pagar.
No caso de um adquirente de serviços de má-fé, caso não esteja disposto a pagar, dificilmente dará recibo de quitação da prestação, após efetuado o serviço, impossibilitando a cobrança da duplicata sem aceite ordinário.
Lei 5.474/68. Art. 20. As empresas, individuais ou coletivas, fundações ou sociedades civis, que se dediquem à prestação de serviços, poderão, também, na forma desta Lei, emitir fatura e duplicata.