Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. GT0123. Anais do V Congresso da ANPTECRE Religião, Direitos Humanos e Laicidade ISSN:

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Transcrição:

Anais do V Congresso da ANPTECRE Religião, Direitos Humanos e Laicidade ISSN:2175-9685 Licenciado sob uma Licença Creative Commons CARTA ABERTA À SOCIEDADE BRASILEIRA: DISCUSSÕES DO RETROCESSO EDUCACIONAL DO ENSINO RELIGIOSO À FRENTE DA INCONSTITUCIONALIDADE DO ACORDO BRASIL-SANTA SÉ Mirinalda Alves Rodrigues dos Santos Mestre em Ciências das Religiões Universidade Federal da Paraíba UFPB mirirodrigues2@gmail.com Thalisson Pinto Trindade de Lacerda Graduado em Ciências das Religiões Universidade Federal da Paraíba UFPB thalisson_pinto@hotmail.com Wellida Karla Bezerra Alves Mestre em Ciência das Religiões Universidade Federal da Paraíba - UFPB W.karlajp.@gmail.com GT 01 RELIGIÃO E EDUCAÇÃO. Resumo: O presente estudo é atual, pois apresenta discussões da carta aberta elaborada pelo Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso (FONAPER), Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Teologia e Ciências da Religião (ANPTECRE) e a Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (SOTER) em repúdio à inconstitucionalidade do Acordo Brasil-Santa Sé aprovado pelo decreto - Nº. 7.107, de 11 (onze) de fevereiro de 2010. Uma vez que esse decreto da ênfase ao ensino confessional católico e deixa às margens as outras religiões, como também dos não religiosos. Diante desse impasse acerca do Ensino Religioso, o nosso objetivo é analisar as implicações da carta aberta, bem como as contribuições dessas referidas entidades em prol da proposta da diversidade religiosa no Ensino Religioso ER escolar. Para tal análise, nós utilizamos metodologicamente a análise documental dos cinco documentos o primeiro é o decreto do acordo entre o Brasil-Santa Sé de 2010, o segundo, a referida carta aberta à sociedade brasileira no ano de 2011, o terceiro é a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, o quarto é a lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de nº 9.394/96 e o quinto são os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Religioso (PCNER) produzido pelo FONAPER em 1997. Foram feitas também interlocuções bibliográficas com os autores; Junqueira, Correia e Holanda (2007), Pozzer (2010), Sena e Carniato (2010), entre outros e outras autores e autoras que contribuíram na elaboração e análise desse estudo. Contudo, podemos afirmar que ao identificar na carta analisada que há uma inconstitucionalidade e que a mesma contribuiu e contribui para mostrar a relevância do ER enquanto disciplina escolar não proselitista, pois essa perspectiva esta também presente nas políticas públicas nacionais e locais que a ele se destina. E nesse decreto de 2010, podemos afirmar que é um retrocesso ao que essas entidades FONAPER, ANPTECRE e SOTER, construíram ao longo do tempo para que o Ensino Religioso paute à diversidade religiosa. Palavras-chave: Ensino Religioso. Carta aberta. Acordo Brasil-Santa Sé. Diversidade religiosa.

1. Introdução Não é recente a luta pela legitimidade do Ensino Religioso como componente curricular na Educação Brasileira. De fato, vários entraves foram travados desde a própria história da educação do país que era atrelada a educação religiosa. Desde o período colonial até os dias atuais. O qual o Ensino Religioso ao longo desse processo histórico, social e cultural teve ganhos; da Laicidade da República, a negação da Ditadura. E é em meio a toda efervescência política e ideológica, que surge um novo olhar sobre esse componente curricular. Buscando uma autenticidade como disciplina e construção de uma proposta de currículo. Sem dúvidas, no contexto atual que estamos inseridos, o acordo Brasil anta Sé, representa um retrocesso a todas as conquistas alcançadas pela militância comprometida de professores do Ensino Religioso, grupos religiosos e sociedade como um todo, a qual busca valorização da diversidade cultural e a luta contra a intolerância religiosa em todos os âmbitos da sociedade. Focando a sala de aula, como importante condutor nesse processo de cidadania, transcendência e laicidade autêntica. O posicionamento dessas três entidades: O FONAPER, o SOTER, e a ANPTECRE, vem estabelecer significativamente o sentimento real daqueles que lutaram e acreditaram numa proposta de Ensino religioso ante-dogmático e proselitista na inserção da educação brasileira. Esse estudo é atual e relevante, pois direciona para a reflexão das discussões acerca do Ensino Religioso, bem como as lutas de ter um ensino não proselitista, para tal reflexão esse estudo primeiramente aborda o que as entidades: O FONAPER, o SOTER, e a ANPTECRE, vem contribuindo e potencializando a luta em prol do Ensino Religioso. E por fim finalizaremos com a análise da carta aberta, feitas pelas referidas entidades o qual repudia o Acordo Brasil-Santa Sé, o considerando como um retrocesso do Ensino Religioso. 2. A contribuição das entidades em prol do Ensino Religioso

Como já destacamos anteriormente, na Educação Brasileira o Ensino Religioso sempre foi alvo de discussões e controvérsias curriculares, por estar profundamente ligada à Religião Católica, desde a formação da sociedade Brasileira. Entretanto, em um contexto atual, o Ensino Religioso é compreendido pelas políticas públicas nacionais e Locais como uma disciplina no componente curricular escolar, porém, ainda há resquícios de uma educação religiosa na prática pedagógica de professores que não estão habilitados para atuarem de maneira não confessional e, em contraponto a esse ensino proselitista, existem entidades que contribuem com a formação inicial e continuada voltada para um ensino que respeite à diversidade cultura e religiosa Brasileira. Dentre essas entidades, destacam-se: O FONAPER, o SOTER, e a ANPTECRE. O Fórum Nacional Permanente de Ensino Religioso FONAPER é uma entidade instalada em 26 de setembro de 1995, em Florianópolis (SC), que congrega educadores e instituições que se preocupam com a questão do ER em nível nacional. O FONAPER é regido por uma carta de princípios e por um estatuto próprio. A Sociedade de Teologia e Ciências da Religião SOTER foi fundada em julho de 1985 por um grupo de teólogos e cientistas da religião e tem a sede em Belo Horizonte MG/BR. Essa entidade sem fins lucrativos tem como objetivo principal promover pesquisas de cunho no campo da Teologia e das Ciências da Religião e por fim, a referida Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Teologia e Ciências da Religião ANPTECRE, foi fundada em 20 de junho de 2007 na cidade de Goiás, essa entidade atualmente é reconhecida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CAPES, assim como pelo Ministério da Educação MEC, essa entidade tem como objetivo principal, promover pesquisas que trabalham o fenômeno religioso nas pós-graduações de Ciência (s) da (s) Religião (ões) no Brasil. Diante de inúmeras discussões acerca do Ensino Religioso promovido por essas referidas entidades a favor de um ensino voltado para a pluralidade religiosa, no entanto, nos deparamos atualmente a mais um desafio e retrocesso educacional desse ensino em que no ano de 2010 foi elaborado o Decreto nº 7.107, de 11 de fevereiro de 2010. Esse decreto foi firmado na Cidade do Vaticano, em que apresenta o acordo entre o Governo Brasileiro e a Santa Sé, segundo o Estatuto Jurídico da Igreja Católica

no Brasil e consolidado na Cidade do Vaticano no dia 13 de novembro de 2008. Sendo assim, diante dessa realidade, o FONAPER, o SOTER, e a ANPTECRE, elaboraram uma carta de repúdio a inconstitucionalidade dessa concordata em que apresenta uma controvérsia desse acordo o qual diz respeito à formação do educando. O artigo 11dispõe da seguinte forma o Acordo Brasil-Vaticano: A República Federativa do Brasil, em observância ao direito de liberdade religiosa, da diversidade cultural e da pluralidade confessional do País, respeita a importância do ensino religioso em vista da formação integral da pessoa. 1º. O ensino religioso, católico e de outras confissões religiosas, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, em conformidade com a Constituição e as outras leis vigentes, sem qualquer forma de discriminação. (BRASIL, 2010) Há quatro controvérsias que foram identificadas por essas entidades supracitadas diante do Acordo Brasil-Santa Sé na carta aberta. A primeira diz respeito à inconstitucionalidade perante a Constituição Federal Brasileira de 1988, em que, no seu referido 1º do art. 210, apresenta esse ensino como: I - disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental. (BRASIL, 1988). Conforme foi ressaltado na Constituição acima, o Ensino Religioso reafirma à laicidade do Estado a partir de uma prática educativa não confessional. A segunda diz respeito à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDB de Nº. 9394/96. Continuada a análise da carta, essa segunda aborda o Ensino Religioso como: II - parte integrante da formação básica do cidadão, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo, sendo que os conteúdos e as normas para a habilitação/admissão de seus professores devem ser definidos e regulamentados pelos sistemas de ensino, que poderão ouvir entidade civil constituída pelas diferentes denominações religiosas (Cf. Lei nº 9.475/97, que altera o Art. 33 da LDB nº 9.394/96); Essa lei representa uma conquista de inúmeras lutas em prol do E.R na escola pública, em que assegura o E.R enquanto disciplina do componente curricular ao qual

deslumbram suas referidas normas para admissão de professores e de conteúdos que abordem questões da diversidade, bem como a participação de forma não proselitista das entidades não religiosas. O terceiro diz respeito às Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica e Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de nove anos. Em que envolve as questões educacionais a respeito da diversidade cultural religiosa que são acobertados por essas diretrizes, segundo esses dois documentos: IV - uma das áreas de conhecimento a integrar a base nacional comum da Educação Básica, a qual é constituída por conhecimentos, saberes e valores produzidos culturalmente, compreendidos como essenciais ao desenvolvimento das habilidades indispensáveis ao exercício da cidadania (Cf. art. 14 da Resolução CNE/CEB nº 4, de 13 de julho de 2010, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica); V - componente curricular e área de conhecimento obrigatória do Ensino Fundamental, de matrícula facultativa ao aluno, assegurado o respeito à diversidade cultural e religiosa do Brasil e vedadas quaisquer formas de proselitismo (Cf. Art. 15 da Resolução CNE/CEB n 7/2010, que Fixa Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos). Essas diretrizes acima reafirmam que há a necessidade do Ensino Religioso ser contemplado nas políticas públicas Nacionais e Locais voltadas ao Ensino básico do Indivíduo, ou seja, que os conteúdos (os saberes), se direcionem para a formação do cidadão que reconhece, e respeita a individualidade religiosa, como também, não religiosa de cada indivíduo. E for fim, a última implicação refere-se aos Parâmetros curriculares Nacionais para o Ensino Religioso PCNER, elaborada pelo FONAPER no ano de 1997. Observando o fragmento do documento abaixo o qual foi exposto na carta: Enquanto componente curricular, o Ensino Religioso deve atender à função social da escola, em consonância com a legislação do Estado Brasileiro, proporcionando o conhecimento dos elementos básicos que compõem o fenômeno religioso, a partir de uma abordagem pedagógica que estuda, pesquisa e reconhece a diversidade cultural-religiosa brasileira, vedadas quaisquer formas de proselitismos (Cf. Parâmetros Curriculares Nacionais de Ensino Religioso (FONAPER, 1997).

A discussão acima reconhece que os PCNER são referenciais pedagógicos, construídos com a finalidade de dar aos professores de E.R subsídios teóricos e metodológicos para a prática educativa. Isso, indica, portanto, que a escola não é espaço para doutrinação de uma ou mais determinações religiosas (POZZER, 2010, p.88). Diante dessa afirmativa, o Ensino Religioso não pode ser compreendido como apenas um ensino de ordem confessional como retrata o Acordo Brasil-Santa Sé, em detrimento dá diversidade religiosa. Nesse contexto, a escola tem um papel fundamental à formação moral, cidadã e plural, ao assumir o papel de construtora da aprendizagem humana. Conforme Junqueira; Corrêa e Holanda (2007, 23) o conhecimento moral e religioso, elevando a personalidade individual e social, pela união com Deus. Partindo desse pressuposto, a perspectiva de Ensino Religioso pautado tanto pelo FONAPER, como também SOTER e ANPTECRE, desconstrói o padrão catequético com a proposta pedagógica inserida no âmbito da reflexão científica e social do Ensino Religioso. Portanto, diante do cenário educacional que temos hoje: a valorização e o respeito à diversidade é uma reivindicação recente e tem sido uma conquista árdua e persistente da sociedade humana (SENA e CARNIATO, 2010, p. 178). Assim, não podemos desconsiderar essas conquistas que foram concretizadas através das lutas e reivindicações de todos que contribuíram para um modelo de ensino Religioso que temos hoje, não proselitista. Portanto, a contribuição das referidas entidades na carta aberta, foram fundamentais para reafirmar o Ensino Religioso plural na educação Brasileira. 3. Conclusão A partir das discussões que foram levantadas nesse estudo, podemos concluir que o Acordo Brasil-Santa Sé, nos reafirma que, no contexto brasileiro, há muito a si (re) pensar o conceito de laicidade, o qual o Estado se apresenta ser. Assim, deve-se também (re) pensar acerca das práticas aplicadas dentro do âmbito escolar, o qual o Ensino Religioso como uma disciplina escolar obrigatória deve - se contemplar as legislações curriculares que regem esse ensino, o qual direciona se para a formação

do cidadão o qual respeita as diversas religiões existentes no contexto das relações sociais em que estamos inseridos. Diante do exposto, a carta aberta a qual foi analisada nesse estudo, e que foi elaborada pelo Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso (FONAPER), Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Teologia e Ciências da Religião (ANPTECRE) e a Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (SOTER) em repúdio à inconstitucionalidade do Acordo Brasil-Santa Sé esclarece à sociedade brasileira o papel hábil do E.R nas legislações que se direcionam o currículo escolar, bem como uma relevância social no que diz respeito à formação da cidadania e diversidade, assim como o Ensino Religioso enquanto modalidade de ensino que deve promover esses princípios norteadores para a educação brasileira. Referências BRASIL, Decreto nº 7.107, de 11 de fevereiro de 2010. Promulga o Acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e a Santa Sé, relativo ao Estatuto Jurídico da Igreja Católica no Brasil, firmado na Cidade do Vaticano, em 13 de novembro de 2008. Brasília, Diário Oficial da União, 12 de fevereiro de 2010.. Lei nº 9.394/96 estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília: Diário Oficial da União, 20 de dezembro de 1996, seção I.. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Nº. 9394/96. Brasília: Senado Federal, 1996.. Lei nº 9.475, de 22 de julho de 1997. Dá nova redação ao Art. 33 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília: Diário Oficial da União, 23 de julho de 1997.. Constituição da República Federativa do Brasil 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em 25 abril de 2015. JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo. CORRÊA, Rosa Lydia Teixeira. HOLANDA, Ângela Maria Ribeiro. Ensino Religioso: aspectos legal e curricular. 1ed. São Paulo: Paulinas, 2007. PASSOS, João Décio. Ensino Religioso: construção de uma proposta. São Paulo: Paulinas, 2007.

POZZER, Adeciret al. (Org.). Diversidade religiosa e ensino religioso no Brasil. Memórias, propostas e desafios. In: FONAPER. Capítulo V Concepções de Ensino Religioso no FONAPER. São Leopoldo: Editora Nova Harmonia, 2010. SENNA, Luzia M. de Oliveira. CARNIATO, Maria Inês. Capitulo XI Diálogo Educação para a diversidade: Comemoração dos 15 anos da revista diálogo e do FONAPER. In: FONAPER: Diversidade religiosa e ensino religioso no Brasil. (Org) POZZER, Adeciret al. São Leopoldo: Editora Nova Harmonia, 2010 Endereço eletrônico FONAPER. Carta Aberta à sociedade brasileira sobre oferta do Ensino Religioso na escola pública. Disponível em<http://www.fonaper.com.br/noticia.php?id=1237> Acesso em 25 Abril de 2015.