Rheider Abe Marçal Universidade Estadual de Londrina rheiderline@gmail.com Jéssica Costa Pizaia Universidade Estadual de Londrina jessicacpizaia@gmail.com O USO DE GEOTECNOLOGIAS NO ENSINO DA CATEGORIA PAISAGEM INTRODUÇÃO Com a evolução das tecnologias e a disseminação do uso da internet a partir dos anos 1990, a sociedade transforma-se de uma maneira jamais vista antes. A tecnologia acaba modificando as relações da sociedade, e por consequência, transformando o cotidiano do aluno e a forma como este concebe o mundo. Deste modo, é preciso admitir que o perfil do aluno mudou, a tecnologia criou dependências e estes alunos não conseguem ver-se em um outro cenário. Então de que forma o professor de Geografia pode se apropriar das tecnologias e aprimorar suas práticas pedagógicas em sala de aula? Essa discussão está presente tanto na disciplina de Geografia, quanto no próprio sistema educacional brasileiro, pois com a nova Lei de Diretrizes e Bases da educação (9394/96) e de acordo com o art. 35, há a necessidade de se trabalhar nas escolas com contéudos, linguagens e recursos que garantam ao cidadão uma formação que o possibilite a viver nesta nova sociedade moderna e tecnológica. Trata-se, agora, de preparar para um novo mundo do trabalho. Não mais preparar o jovem tecnicamente, mas valorizar a sua capacitação tecnológica, atualizando o Ensino Médio aos ajustes ocorridos nos sistemas produtivos em nível internacional, isto é, não se trata mais de criar trabalhadores que operam máquinas, mas profissionais que dominem linguagens e tecnologias associadas à Revolução Informacional em curso. (SPOSITO & SPOSITO, 2007, p.320) Assim, pode-se perceber para qual lado caminham as mudanças na educação, e que a nova ordem social considera a necessidade de compreender e saber fazer uso das
novas tecnologias. O que acarreta e configura um novo papel para o professor de Geografia, que terá de contribuir para o aprendizado de seus alunos integrando as tecnologias e as práticas pedagógicas, porém, para exercer esta prática, o professor necessita do conhecimento das tecnologias disponíveis para o ensino e da compreensão de como didatizar este contéudo. Desta forma utilizando-se das tecnologias no ensino o aluno conseguirá se identificar na sociedade a qual pertence. Assim, o presente artigo apresenta uma possibilidade de inclusão das tecnologias no ensino de Geografia a partirda utilização do software Google Earth, que de acordo com o site da empresa Google (2013), é um programa cuja função apresenta um modelo tridimensional do globo terrestre, além da visualização de imagens aéreas, as quais são construídas a partir de um mosaico de imagens de satélite obtidas de fontes diversas e também imagens de um espaço em tempos diversos. Desta forma, se propõe analisar o espaço geográfico com o software Google Earth, utilizando-se da ferramenta popularmente conhecida como reloginho que possibilita trabalhar diversos temas na Geografia, enfocando principalmente a categoria paisagem. O entendimento da categoria paisagem a ser trabalhada neste artigo, se baseiana concepção adotada pela Geografia Crítica, a qual entende esta categoria como uma forma de representação do espaço geográfico, como uma forma simbólica do espaço, como os mapas são representações cartográficas. Assim, por não ter uma existência em si, mas ser a essência do espaço geográfico que representa, a paisagem seria tudo aquilo que a nossa vista abarca, além de ser representada de várias formas. Esta representação se transformou durante a história adquirindo várias maneiras de se materializar, desde as pinturas rupestres, gravuras, fotografias e por fim as imagens de satélites (SANTOS, 2006). O USO DAS GEOTECNOLOGIAS NO ENSINO DE GEOGRAFIA Primeiramente, para se trabalhar com geotecnologias é necessário entender o que são as mesmas. De acordo com a literatura, a Geotecnologia é a utilização da informação para a análisedo espaço geográfico atravésdo uso de tecnologias, e como
afirma Fitz (2005), esta é entendida como a nova tecnologia ligada a Geografia, além de ser um avanço significativo no que se refere à pesquisas, ações de planejamento e em tantos outros aspectos de análise que remetem à questão espacial. Desta maneira, o processo de ensino-aprendizagem das geotecnologias ocorre por meio dos pressupostos da teoria histórico-cultural, o qual de acordo com Oliveira (1993), o conhecimento e todo o processo de ensino-aprendizagem acontecem de forma interpessoal e depois de modo intrapessoal, ou seja, por meio de instrumentos mediadores que no caso são as geotecnologias. Desta forma o aluno pode ter contato direto com estas ferramentas, que vão auxiliar no processo de conhecimento do espaço geográfico. Com a disseminação das ferramentas geotecnológicas, o professor tem o papel de enriquecer as atividades desenvolvidas em sala de aula, podendo fazer a análise e interpretação dos dados contidos no espaço geográfico por meio do Google Earth, o qual permite acesso a diversas imagens de satélite de diferentes épocas e lugares, podendo demonstrar como ocorrem as transformações econômicas, socais e ambientais no espaço geográfico. Assim, o professor passa a ter como objetivo ultrapassar o simples papel de intermediar a explicação dos mapas e, se tornar um leitor e mapeador. Com isto o docente poderá proporcionar uma aula mais dinâmica, com a incorporação dos recursos que a geotecnologia oferece (SILVA, 2012). Segundo Santos (2011) as imagens de satélite são recursos para a compreensão do processo, uso e ocupação do espaço geográfico, podendo-se valorizar o local do espaço vivido por meio de sua visualização, bem como os recursos naturais existentes. A quantidade de detalhes que é possível abstrair destas imagens é imensa, promovendo a compreensão dos fenômenos geográficos. As imagens de satélite apresentam os lugares, as paisagens, os elementos construídos pela sociedade os quais foram e estão sendo inseridos no espaço geográfico através de um processo histórico, os quais fazem parte de nossa realidade e que podem ser entendidos a partir das transformações da paisagem, percebidas pela sequência histórica de imagens de satélite. Assim, por meio das geotecnologias o aluno tem
condições de análisar as transformações realizadas pela ação antrópica no e do espaço geográfico. METODOLOGIAS Neste capítulo serão apresentados os materiais e métodos utilizados. Primeiramente foi utilizado o Parâmetro Curricular Nacional (1998) e as Diretrizes Curriculares da Educação Básica (2008), para a definição de qual ano as atividades seriam realizadas. Após análise, chegou-se a conclusão que seria necessário inicia-las no 5º ano do Ensino Fundamental, e persistir nas séries posteriores, pois ambos abordam a necessidade de análises e compreensões sobre as transformações do espaço geográfico, algo que requer tempo e amadurecimento intelectual. Além disso, por todas as séries necessitarem de um trabalho com a utilização de diferentes fontes de informações e recursos tecnológicos na construção do conhecimento geográfico, a utilização dessas geotecnologias no ensino fundamental pode contribuir para a melhoria na qualidade da educação geográfica, e consequentemente, na formação da sociedade. Na próxima etapa foi definido o conceito que seria articulado com a geotecnologia, sendo escolhida a categoria paisagem, já que esta permite aos alunos entenderem os processos de construção do espaço geográfico. Desta forma, conhecer a paisagem é perceber seus elementos sociais, culturais e naturais e a interação que existe entre eles, e antes de tudo, também compreender como estes se dão e como estão em um permanente processo de transformação, e como ela está repleta de múltiplos espaços e tempos. Na última etapa foi escolhido o software, o qual deveria ser um sistema amplamente utilizado, de fácil aquisição, gratuito,que estivesse disponibilizado na rede mundial de computares internet, e que a interface e as ferramentas fossem amigáveis. Assim, o sistema escolhido foi o Google Earth por abarcar todas as características citadas anteriormente. E como proposta de elaboração de material didático, devem ser levadas em conta porções da superfície terrestre que melhor representem os conceitos escolhidos que se queiram trabalhar.
O USO DO GOOGLE EARTH COMO PROPOSTA DE ENSINO-APRENDIZAGEM DA CATEGORIA PAISAGEM O maior desafio dos professores atualmente é conseguir desenvolver atividades que prendam a atenção dos alunos, não somente no ensino de Geografia, mas em todas disciplinas do ensino fundamental e médio. Sendo assim, uma das ferramentas que pode ser utilizada como recurso didático é o Google Earth. A geotecnologia para o ensino de Geografia pode ser utilizada em diversos estudos, como: estabelecimento de relações dialéticas entre o local e o global, a percepção da transformação do espaço geográfico utilizando-se da contextualizaçao das mudanças a partir da abordagem da categoria paisagem, que vai permitir entender as transformações causadas pela atividade antrópica, tanto no trabalho em escala local do cotidiano do aluno, como em escala regional, nacional e global. Para a realização desta atividade na escola, será necessário um laboratório de informática e a instalação do software Google Earth,o qual pode ser adquirido gratuitamente no link: http://www.google.com/earth/download/ge/agree.html, Em uma primeira etapa, o professor deve questionar à sala de aula se algum aluno já tem conhecimento do software Google Earth, posteriormente, ele deve apresentar a interface, bem como as ferramentas básicas. Após isto, realizar uma dinâmica com os alunos utilizando as imagens de satélite obtidas através do programa, onde o objetivo desta atividade seria reconhecer pontos conhecidos de sua cidade em diferentes escalas, e que os mesmos passassem a ter uma nova percepção da superfície terrestre, o espaço visto de cima (FRICK, 2012). Conforme o exemplo contido na Figura 1 e na Figura 2. Figura 1 Imagem de Londrina em escala 1:3000
Fonte: Google Earth, 2013. Figura 2 Imagem de Londrina em escala 1:600 Fonte: Google Earth, 2013. Após a dinâmica, o professor deve avaliar os alunos, para saber se eles conseguiram reconhecer os pontos escolhidos, e deve trabalhar o conceito de escala e avaliar o mesmo respectivamente. Após esta etapa, o professor deve construir o conhecimento teórico da categoria paisagem com os alunos. Feito isto, o docente, através de uma ferramenta popularmente conhecida como reloginho, pode regular o ano da imagem que esta sendo exibida, permitindo que se trabalhe diversos temas da Geografia, como a transformação do espaço geográfico, por exemplo, podendo diferenciar a paisagem do espaço urbano do rural, tentando compreender as diversas configurações do espaço geográfico e suas transformações e como o homem tem participação na transformação do mesmo. Um exemplo de como se trabalhar estes temas é a Figura 3 e 4. Figura 3 Imagem de Londrina da região da Gleba Palhano do dia 03/09/2004
Fonte: Google Earth, 2013. Figura 4 Imagem de Londrina da região da Gleba Palhano do dia 26/03/2013 Fonte: Google Earth, 2013. A partir da visualizaão das imagens é possivel observar um intenso processo de urbanização e transformação do espaço geográfico, no qual o homem atua intensamente na modificação da paisagem, observa-se que de 2004 para 2013 houve um aumento significativo no número de prédios nesta região e uma diminuição na mata do Lago Igapó. Assim, o professor pode questionar aos alunos com perguntas destacadas nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica (2008): Onde fica este lugar? Por que este lugar ficou assim? Por que aqui e não em outro lugar? Por que as coisas estão dispostas desta maneira no espaço geográfico? Qual o significado do ordenamento espacial? Quais as consequências deste ordenamento espacial? Por que e como esses ordenamentos se distiguem de outros? Outra possibilidade de se trabalhar com o Google Earth, com o objetivo de avaliar o aprendizado da categoria paisagem, é usar as imagens do bairro onde os
estudantes moram. Em uma primeira atividade, seria pedido que os alunos individualmente elaborassem um mapa com imagens do Google Earth do ano atual com escala, legenda e símbolos que representem os locais conhecidos por eles, como mercado, casa, igreja, posto de saúde etc, sendo que todas estas ferramentas estão disponíveis no próprio Google Earth. Dessa forma, com a ferramenta adicionar polígonos, os alunos poderiam delimitar a área do bairro, e também criar uma legenda para representar esta delimitação. A segunda atividade envolveria a multitemporalidade, porém neste caso, na escala do bairro do aluno, em que o professor poderia imprimir o mapa feito pelo aluno na primeira atividade e ter uma imagem do atual e outra mais antiga com pelo menos 10 anos de diferença uma da outra. Esta atividade exigiria a comparação entre as duas imagens para identificar as possíveis mudanças ocorridas no espaço. Essas mudanças devem ser marcadas na imagem mais antiga, com o intuito de perceber o que existe atualmente que não se percebe na imagem antiga e o que ainda persiste. Após feita esta atividade criar discussões com os alunos referente as transformações ocorridas na área nos últimos dez anos, e mesmo ainda nos objetos que ainda persistem na paisagem, levantar discussões para entender se a função do objeto ainda é a mesma. Como terceira atividade, utilizar-se-ia a imagem impressa mais recente. O professor deveria pedir que os alunos sobrepusessem a imagem do Google Earth com um papel vegetal, e assim, passassem com canetas por cima das principais ruas, rios e lagos. Após feito isto, os alunos deveriam atuar na escolha das legendas para as ruas, rios e lagos. E com uma quarta atividade, os alunos poderiam mapear os diferentes usos e coberturas do solo os elementos naturais: o relevo, a vegetação, o rio e áreas que sofreram desmatamento da região, e depois criar os símbolos para compor a legenda. Assim, através desta atividade, o professor poderia trabalhar com conceitos de paisagem, e aproveitar para trabalhar alguns conceitos relativos ao relevo, a vegetações existentes naquele bairro, trabalhar as questões dos rios e bácias hidrográficas e também aproveitar para trabalhar com a educação ambiental, através das áreas que sofreram desmatamento na região.
De acordo com Florenzano (2002) o uso de imagens de satélite com diferentes datas é um meio de se compreender o processo de organização e transformações dos arranjos espaciais. Assim através das respostas dos alunos por meio do conhecimento do cotidiano, o professor pode construir o conhecimento junto dos alunos ao confrontar com o conhecimento científico. Baseado nestas discussões feitas durante todo o estágio inicial da pesquisa e nos materiais didáticos elaborados, inicia-se a fase de aplicação das atividades propostas e a avaliação dos resultados obtidos da mesma. Espara-se assim em trabalhos futuros poder estar contribuindo ainda mais para o avanço das discussões acerca do uso das geotecnologias no ensino da categoria paisagem, baseado nas experiências obtidas durante a aplicação das atividades que seria o próximo passo a ser tomado. BIBLIOGRAFIA BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. 1998. Disponível em:<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/geografia.pdf>. Acesso em 20 set. 2013 FITZ, P. R. Novas tecnologias e os caminhos da Ciência. Geográfica. Diálogo Tecnologia, v. 6, p. 35-48, 2005. FLORENZANO, T. G. Imagens de satélite para estudos ambientais. São Paulo: Oficina de Textos, 2002. 97 p. FRICK, E. C. L. As novas fronteiras de ensino. Curitiba, 26 out. 2012. Seminário proferido na Universidade Federal do Paraná para graduandos do curso de Geografia e docentes das escolas públicas do município de Curitiba. GOOGLE. O que é o Google Earth?. Disponível em:< https://support.google.com/earth/answer/176145?hl=pt-br&ref_topic=2376010>. Acesso em 15 de set. 2013. GOOGLE. Faça o download da versão mais recente do Google Earth para PC, Mac ou Linux. Disponível em: <http://www.google.com/earth/download/ge/agree.html>. Acesso em 15 de set. 2013.
OLIVEIRA, M. K. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento - um processo sóciohistórico. São Paulo: Scipione, 1993. PARANÁ, Secretaria do Estado da Educação do Paraná. Diretrizes Curriculares Da Educação Básica. 2008. Disponível em:<http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/file/diretrizes/dce_geo.pdf>. Acesso em 20 set. 2013. SANTOS, Marcio Pereira. O espaço humanizado, a paisagem humanizada e algumas reflexões sobre a paisagem em São Paulo no século XVIII e XIX. 2006, 192 f. Tese(Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Departamento degeografia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. SANTOS, V. M. N. dos. Educar no ambiente: Construção do olhar geocientífico e cidadania. São Paulo: Annablume, 2011. SILVA, C. N. da. O ensino de cartografia na era da (geo) informação. Revista Geografia, São Paulo: Escala. Educacional, Ed. 40, p. 24-27, jan, 2012. SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão; SPOSITO, Eliseu Savério. Geografia. Disponível em:<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/12geografia.pdf>. Acesso em 15 de set. 2013..