Ricardo Reis (Fernando Pessoa)

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Transcrição:

IMSI 16 Ricardo Reis (Fernando Pessoa) Trabalho grupo realizado por: Eduardo Encarnação Hugo Gomes Miguel Albino Ricardo Festeira Rui Fonseca 26 DE JUNHO 2014

Índice Introdução... 1 Biografia... 2 Obra... 2 Poemas (Ricardo Reis)... 2 Temas... 3 Epicurismo... 3 Estoicismo... 4 Aspetos temáticos... 4 Aspetos formais... 5 Excertos de algumas das suas obras... 5 Conclusão... 6 Bibliogafia... 6 Webgrafia... Erro! Marcador não definido.

Introdução No nosso trabalho de grupo, vamos falar sobre Ricardo Reis, heterónimo de Fernando Pessoa, um dos melhores poetas portugueses. Falamos sobre as suas obras (Ricardo Reis), a vida e crenças do heterónimo Ricardo Reis, o estilo e os aspetos contidos nas suas obras, e por fim transcreveremos alguns excertos dos seus poemas. Ricardo Reis (Fernando Pessoa) Aí por 1912, salvo erro (que nunca pode ser grande), veio-me à ideia escrever uns poemas de índole pagã. Esbocei umas coisas em verso irregular (não no estilo Álvaro de Campos, mas num estilo de meia regularidade), e abandonei o caso. Esboçara-se-me, contudo, numa penumbra mal urdida, um vago retrato da pessoa que estava a fazer aquilo. (tinha nascido, sem que o soubesse, o Ricardo Reis). Fernando Pessoa na carta, de 13 de Janeiro de 1935, a Adolfo Casais Monteiro, conta que Ricardo Reis nasceu em 1887, no Porto. Descreve-o como sendo um pouco mais baixo, mais forte e seco que Caeiro e usando a cara rapada. Ricardo Reis (19 de setembro de 1887) é um dos quatro heterónimos mais conhecidos de Fernando Pessoa, tendo sido imaginado de relance pelo poeta em 1913 quando lhe veio à ideia escrever uns poemas de índole pagã. Nasceu no Porto, estudou num colégio de jesuítas, formou-se em medicina e, por ser monárquico, expatriou-se espontaneamente desde 1919, indo viver no Brasil. Era latinista por formação clássica e semi-helenista por autodidatismo. Fernando Pessoa atribui a este heterónimo um purismo que considera exagerado e refere que escreve em nome de Ricardo Reis, depois de uma deliberação abstrata, que subitamente se concretiza numa ode. Na sua biografia não consta a sua morte, no entanto José Saramago faz uma intervenção sobre o assunto em seu livro O Ano da Morte de Ricardo Reis, situando a morte de Reis em 1936. Página 1 de 8

Biografia Nascido no Porto, no dia 19 de setembro de 1887. Recebeu uma forte educação clássica num colégio de jesuítas e formou-se em Medicina, profissão que não exercia. Viveu no Brasil desde 1919, pois se expatriou espontaneamente por ser monárquico, na sequência da derrota da rebelião monárquica da Monarquia do Norte contra o regime republicano. É um latinista por educação, e um semi-helenista por educação própria. Carta astral de Ricardo Reis Obra As primeiras obras foram publicadas em 1924, na revista Athena, fundada por Fernando Pessoa. Mais tarde foram publicados oito odes, entre 1927 e 1930, na revista Presença, de Coimbra. Os restantes poemas e prosas são de publicação póstuma. Poemas (Ricardo Reis) Segue o Teu Destino Segue o teu destino, Rega as tuas plantas, Ama as tuas rosas. O resto é a sombra De árvores alheias. A realidade Sempre é mais ou menos Do que nós queremos. Só nós somos sempre Iguais a nós-próprios. Suave é viver só. Grande e nobre é sempre Viver simplesmente. Deixa a dor nas aras Como ex-voto aos deuses. Vê de longe a vida. Nunca a interrogues. Ela nada pode Dizer-te. A resposta Está além dos deuses. Mas serenamente Imita o Olimpo No teu coração. Os deuses são deuses Porque não se pensam. Quer Pouco: Terás Tudo Quer pouco: terás tudo. Quer nada: serás livre. O mesmo amor que tenham Por nós, quer-nos, oprime-nos. Página 2 de 8

Não só quem nos odeia ou nos inveja Não só quem nos odeia ou nos inveja Nos limita e oprime; quem nos ama Não menos limita. Que os Deuses me concedam que, despido De afetos, tenham a fria liberdade Dos píncaros sem nada. Quem quer pouco, tem tudo; quem quer nada É livre; quem não tem, e não deseja, Homem, é igual aos Deuses. Aos Deuses peço só que me concedam Aos Deuses peço só que me concedam O nada lhes pedir. A dita é um jugo E o ser feliz oprime Porque é um certo estado. Não quieto nem inquieto meu ser calmo Quero erguer alto acima de onde os homens Têm prazer ou dores. Temas Reis, também discípulo de Caeiro, admira a serenidade e a calma com que este encara a vida, por isso, inspirado pela clareza, pelo equilíbrio e ordem do seu espírito clássico greco-latino, procura atingir a paz e o equilíbrio sem sofrer, através da autodisciplina e das seguintes doutrinas gregas: Fresco de Luca Giordano Epicurismo Doutrina baseada num ideal de sabedoria que "busca a tranquilidade" da alma através das seguintes regras: Temer a morte - Levando o poeta ao Fatalismo, tendo a morte como única certeza na vida. Procurar os simples prazeres da vida em todos os sentidos, sem preocupações com o futuro (carpe diem), mas sem excessos - Deste modo aprende a viver cada instante como se fosse o último; e faz da vida simples campestre um ideal (áurea mediocritas). Fugir à dor - Como defesa contra o sofrimento, sobrepõe a razão sobre a emoção. Página 3 de 8

Estoicismo Doutrina que tem como ideal ético a "apatia" - ausência de envolvimento emocional excessivo que permite a liberdade E que propõe as seguintes regras para alcançar a felicidade (relativa, pois não pretende um estado de alegria mas sim de um contentamento inconsciente): Dominar as paixões Suscita uma atitude de indiferença; Recusa o amor para evitar ter desilusões, de modo a que nada perturbe a serenidade e a razão, e porque este é uma inutilidade e está já condenado, uma vez que tudo na vida tem um fim. Aceitar a ordem universal das coisas, incluindo a morte - Revela a faceta conformista, considerando a vida como efémera, um fluir para a morte e essa consciência não lhe gera nem angústia nem revolta. Porém, Reis "admite a limitação e a fatalidade desta condição humana", e pretende chegar à morte de mãos vazias de modo a não ter nada a perder; e inspirado na mitologia clássica, considera a vida como uma viagem cujo fluir e fim é inevitável. Estilo Poesia com muitas alusões mitológicas, com uma linguagem culta e precisa, sem qualquer espontaneidade. Estilo neoclássico influenciado pelo poeta latino Horácio. Uso de um vocábulo culto e alatinado com principal recurso ao hipérbato. Emprego do gerúndio e do imperativo (ou conjuntivo com valor de imperativo) com carácter exortativo, ao serviço do tom sentencioso e do carácter moralista presentes nos seus poemas. Fresco de Francisco Bayeu Aspetos temáticos Harmonia entre o epicurismo e o estoicismo; Autodisciplina, renunciando às fortes emoções; Procura da ataraxia; Renúncia da vida através da recusa do amor e da consciência da inutilidade do esforço de mudança; Elogio do carpe diem; Elogio da vida campestre (áurea mediocritas); Fatalismo o destino é força superior ao homem; Aceitação calma do destino; Página 4 de 8

Obsessão da efemeridade da vida; Consciência da fugacidade do tempo; Aparente tranquilidade, na qual se reconhece a angústia existencial do ortónimo; Neopaganismo os deuses também estão sujeitos ao Fado e alusões mitológicas; Intenção didática dos seus versos; Elogio à carência das ideias dogmáticas e filosóficas como meio de manter-se puro e tranquilo; Aspetos formais Uso de vocabulário erudito e preciso; Recurso a arcaísmos; Formas estróficas e métricas de influência clássica Ode. Influência latina através da anástrofe e do hipérbato; Predomínio da subordinação; Uso frequente de advérbios de modo; Recurso ao gerúndio; Uso do imperativo como manifestação de atitude filosófica; Diálogo permanente com um "tu" coloquialidade. Excertos de algumas das suas obras "Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos, se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias, mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro ouvindo correr o rio e vendo-o." (1914) "Ah! Sob as sombras que sem querer nos amam, com um púcaro de vinho ao lado, e atentos só à inútil faina do jogo do xadrez" (1916) Assinatura de Ricardo Reis Página 5 de 8

Conclusão A realização deste trabalho foi muito interessante, principalmente por se tratar de um poeta português e importante pela pesquisa feita sobre o heterónimo de Fernando Pessoa, Ricardo Reis. O conhecimento adquirido sobre as obras deste heterónimo, o seu pensamento e estilo de vida e literário foi igualmente muito interessante. Bibliogafia Prefiro Rosas, Meu Amor, à Pátria (Guimarães Editores, SA 2009) Web grafia http://pt.wikipedia.org/wiki/ricardo_reis http://casafernandopessoa.cm-lisboa.pt/index.php?id=4290 http://www.prof2000.pt/users/jsafonso/port/reis.htm http://www.citador.pt/poemas/a/ricardo-reisbrheteronimo-de-fernando-pessoa Trabalho Realizado: Eduardo Encarnação Hugo Gomes Miguel Albino Ricardo Festeira Rui Fonseca Avaliação: Muito Bom Sílvia Alfaiate Página 6 de 8