PREPARAÇÃO PARA TESTE DE AVALIAÇÃO FERNANDO PESSOA HETERÓNIMO: RICARDO REIS I TEXTO A. Lê atentamente o texto que se segue e responde às questões.

Transcrição

1 Português 12º ano PREPARAÇÃO PARA TESTE DE AVALIAÇÃO FERNANDO PESSOA HETERÓNIMO: RICARDO REIS I TEXTO A Prefiro rosas, meu amor, à pátria, E antes magnólias amo Que a glória e a virtude. Logo que a vida me não canse, deixo Que a vida por mim passe Logo que eu fique o mesmo. Que importa àquele a quem já nada importa Que um perca e outro vença, Se a aurora raia sempre, Se cada no com a Primavera Aparecem as folhas E com o Outono cessam? E o resto, as outras coisas que os humanos Acrescentam à vida, Que me aumentam na alma? Nada, salvo o desejo de indif rença E a confiança mole Na hora fugitiva. Após a leitura atenta do poema, responde, assinalando a resposta correcta. 1. A pátria surge no poema como: a) símbolo da serenidade e da felicidade. b) busca do prazer e da liberdade. c) imagem do esforço e da ambição do poder. d) representação do que é natural. 2. A preferência pelas rosas e pelas magnólias permite ao sujeito poético: a) encontrar o fluir temporal. b) mostrar a importância da pátria. c) definir a ataraxia. d) rejeitar o que não é natural. Pág. 1

2 3. Nas duas últimas estrofes, o sujeito poético considera que: a) qualquer compromisso com a vida é inútil. b) as coisas que os humanos acrescentam à vida só trazem desgostos. c) deve passar pela vida deixando as suas marcas. d) é necessário ser estóico para viver. 4. A intenção desta mensagem é mostrar ao seu amor que a) a comunicação e o estreitamento de laços são vitais. b) os sentimentos e a sensualidade são fundamentais na vida. c) tudo é efémero e só interessa aproveitar a vida em cada dia. d) tudo se consegue ultrapassar se soubermos gozar as paixões. 5. Classifica a atitude filosófica de perante o mundo. Reis segue o ideal ético da apatia que permite a ausência da paixão. Por isso, fala da indiferença e da necessidade de gozar o momento presente. Procura a calma e recusa o esforço que a glória ou a virtude podem exigir. 6. Identifica o que se opõe às coisas que os humanos / Acrescentam à vida. O que se opõe às coisas que os humanos / acrescentam à vida é a própria Natureza com os seus ciclos. Em cada ano há Primavera e Outono, as folhas aparecem e cessam, a aurora raia sempre e a vida é efémera. 7. Explicita os elementos semânticos que remetem para a efemeridade da vida. A efemeridade da vida encontra-se traduzida em expressões como a vida por mim passa, a aurora raia sempre, cada ano com a Primavera / As folhas aparecem / E com o Outono cessam, hora fugitiva. TEXTO B Cada dia sem gozo não foi teu Foi só durares nele. Quanto vivas Sem que o gozes, não vives. Não pesa que ames, bebas ou sorrias: Basta o reflexo do sol ido na água De um charco, se te é grato. Feliz o a quem, por ter em coisas mínimas Seu prazer posto, nenhum dia nega A natural ventura! De entre as afirmações seguintes, identifica aquela que completa a frase de modo adequado ao sentido do texto. 1. aconselha a a) durarmos em cada dia. b) aproveitarmos os momentos, mesmo sem gozo. c) evitarmos o gozo para termos cada dia. d) saborearmos o encanto de cada dia. Pág. 2

3 2. A sequência nos versos Basta o reflexo do sol ido na água / De um charco exprime a) a longevidade da vida. b) o desfrute do afecto alheio. c) o culto da simplicidade. d) a importância do sol a reflectir-se no charco. 3. Há, no poema, a defesa do carpe diem a) no comportamento estóico, aceitando voluntariamente um destino involuntário, que se percebe ao dizer Foi só durares nele. b) na atitude epicurista, da busca do prazer e da ataraxia, sabendo que Não pesa que ames, bebas ou sorrias. c) na apatia ou indiferença perante as coisas mínimas, sem se apegar demasiado ao momento presente. d) no gozo do dias presente, indiferente ao reflexo do sol ido na água, pois não sabemos o dia de amanhã. 4. A natural ventura vem a) do saber aproveitar o prazer das coisas mínimas. b) de durar em cada dia. c) de sofrer por amar, beber e sorrir. d) do destino natural que nega cada dia. TEXTO C Anjos ou deuses, sempre nós tivemos A visão perturbada de que acima De nós e compelindo-nos Agem outras presenças. Como acima dos gados que há nos campos O nosso esforço, que eles não compreendem, Os coage e obriga E eles não nos percebem. Nossa vontade e o nosso pensamento São as mãos pelas quais outros nos guiam Para onde eles querem E nós não desejamos. 1. Identifica a convicção humana e a razão da sua visão perturbada. A convicção de que há forças ocultas ( Anjos ou deuses ) a agir sobre os homens, que aparecem sob a forma de visão perturbada algo pouco consistente, mas que preocupa por dizer respeito a um aspecto fundamental a liberdade; daí que os homens se sintam contrariados. Pág. 3

4 2. Procede à divisão do poema, indicando as ideias fulcrais de cada uma das partes. Primeira parte (1ª estrofe): surgimento da convicção de que existem forças ocultas, que actuam acima do homem compelindo-o. Segunda parte (2 estrofes seguintes): justificação da tese proposta, recorrendo a uma comparação: relação homens / animas; relação seres superiores / homens. 3. Explicita o processo usado por para fazer a confirmação da convicção do homem. Através da comparação, defende, que tal como se passa com os animais, assim se passa com os homens. Assim como o gado é guiado pelos homens, estes são guiados pelos deuses. 4. Mostra que há uma diferença de reacção entre os animais e os seres humanos. A superioridade do ser humano em relação ao animal: os animais são coagidos pelo esforço humano, que eles não compreendem e por isso resignam-se; os homens são também coagidos por um ente superior que não compreendem, mas essa certeza da existência de forças ocultas aparece sob a forma da visão perturbada. 5. Explica a relação que existe entre os seres superiores e os homens. A convicção de que os seres superiores sempre agiram sobre os homens os deuses actuam de forma mais eficiente, manobrando o querer humano e anulando a sua liberdade. Operam no interior do homem, servindo-se da sua vontade e pensamento. E os homens embora contrariados submetem-se. II COMPOSIÇÃO A. Perene flui a interminável hora Que nos confessa nulos. No mesmo hausto Em que nós vivemos, morreremos. Colhe O dia, porque é dele. Com base na informação contida no excerto, redige, para cada um dos tópicos, um parágrafo, com um mínimo de 40 palavras, sobre a importância do desfrutar a vida, de acordo com : - epicurismo e carpe diem ; - efemeridade da vida. Tópicos de resposta: - epicurismo filosofia moral de Epicuro que defende o prazer como caminho da felicidade. - aproveitamento do presente antes que seja passado. - defesa do prazer do momento, do carpe diem como necessário à felicidade. - busca da felicidade com tranquilidade ataraxia. - desfrutar da vida em todos os sentidos, sem preocupações com o futuro. - não cedência ao impulso dos instintos. - seguir o ideal ético da apatia que permite a ausência da paixão e a liberdade (sobre estas pesa o Fado). - aceitação da relatividade e efemeridade das coisas. - a vida é breve, e beleza perecível e a morte uma certeza. - a vida é muito curta e deve ser vivida quotidianamente. Pág. 4

5 B. Só esta liberdade nos concedem Os deuses: submetermo-nos Ao seu domínio por vontade nossa. Mais vale assim fazermos Porque só na ilusão da liberdade A liberdade existe. Partindo da leitura do extracto transcrito e dos conhecimentos adquiridos no estudo de Fernando Pessoa, aborda, criticamente, o posicionamento de Ricardo Reis perante a liberdade e o destino. Tópicos de resposta: - aceitação do destino com naturalidade. - paganismo crença nos deuses que se confundem connosco quando os imitamos. - deuses indiferentes, mas omnipresentes. - deuses como homens, apenas mais perfeitos ou aperfeiçoados. - ideia de altivez e nobreza clássicas. - concepção do Destino acima dos próprios deuses. - necessidade de nos portarmos altivamente como donos de nós mesmos, gerindo o próprio destino. - procura da calma e da liberdade ou, pelo menos, da sua ilusão. - construção de uma margem de liberdade. - ideal ético da apatia que permite ausência de paixão e liberdade. - busca de felicidade relativa. C. A relação Homem/Deus/Destino determina a filosofia de vida proposta na poesia de. Num texto de 200 a 300 palavras, desenvolve esta ideia, a partir das tuas impressões de leitura da obra de, cem como de outras lidas. considera que o homem só constrói uma felicidade se encarar com lucidez o mundo e tiver consciência das leis do destino que são semelhantes para os deuses. A vida é efémera e o futuro imprevisível. Amanhã não existe, afirma. Estas certezas levam-no a estabelecer uma filosofia de vida, de inspiração horaciana e epicurista, capaz de conduzir o homem numa existência sem inquietações nem angústias. A morte é uma realidade nas mãos do destino. Só o instante nos pertence, passamos como o rio. Devemos, portanto, aproveitar o prazer do momento ( carpe diem ). Poeta de estilo neoclássico e apresentando-se discípulo de Caeiro pelo paganismo, Reis acredita nos deuses, afirmando que os homens se devem considerar deidades exiladas, com direito a vida própria, Perante a ameaça implacável do Destino ( fatum ), que dita as leis do universo e a que não pode fugir, deve o homem procurar, voluntariamente, submeter-se, ainda que só possa ter a ilusão da liberdade. E se sobre os deuses pesa o Fado, o mesmo acontece aos humanos que o devem aceitar com altivez. Defensor de uma disciplina moral, propõe um esforço de autodisciplina que evite dor ou os prazeres violentos ( Vem sentar-te comigo, Lídia ) e que contribui para enfrentar as contrariedades e passar na vida com serenidade. Para, o homem, dono de si próprio, e semelhante aos deuses, consegue a felicidade pela ataraxia (tranquilidade, sem perturbação) e pela aceitação da morte e do destino como se de um acto voluntário se tratasse. Pág. 5